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domingo, 8 de julho de 2018

Eu sou a vida-Dehonianos


9 Julho 2018
Tempo Comum – Anos Pares
XIV Semana – Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Oseias 2. 16. 17b-18. 21-22
Eis o que diz o Senhor: «É assim que a vou seduzir: ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração. 17Aí, ela responderá como no tempo da sua juventude, como nos dias em que subiu da terra do Egipto». 18Naquele dia – oráculo do Senhor ela me chamará: «Meu marido» e nunca mais: «Meu Baal.» 21Então, te desposarei para sempre; desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com amor e misericórdia. 22Desposar-te-ei com fidelidade, e tu conhecerás o Senhor.
Oseias é o único profeta escritor do reino do Norte. Escreve no tempo de Jereboão III (713-743 a. C.), um período próspero para Israel, mas minado pela prostituição do povo a Baal e a Anat, deuses cananeus da sexualidade, da fecundidade e da vegetação. Embora contemporâneo de Amós e de Isaías, profetas originários de Judá, mas que também actuam em Israel, Oseias exerce o seu ministério de um modo próprio. Enquanto os dois profetas do Sul pregam, diríamos, do púlpito, Amós integra-se nas vivências dos seus ouvintes e, a partir delas, transformando os elementos, oferece-lhes um autêntico testemunho de vida, muito mais eloquente do que todos os sermões. Por isso, casa com uma das prostitutas cultuais, que ama extremosamente. Esta mulher dá-lhe dois filhos, cujos nomes são uma mensagem para Israel, mas atraiçoa-o voltando à prostituição num templo de Baal. De coração despedaçado, Oseias é introduzido no significado mais profundo daquele adultério: também Israel é adúltero na relação com Deus. Por mandato divino, o profeta retoma a esposa infiel para manifestar o drama de um Deus de tal modo fiel a Israel, que não hesita em atraí-lo novamente para si, para o renovar num encontro de profunda intimidade.
Evangelho: Mateus 9, 18-26
Naquele tempo, estava Jesus a falar aos seus discípulos, quando um chefe se prostrou diante dele e disse: «Minha filha acaba de morrer, mas vem impor-lhe a tua mão e viverá.» 19Jesus, levantando-se, seguiu-o com os discípulos. 20Então, uma mulher, que padecia de uma hemorragia há doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe na orla do manto, 21pois pensava consigo: ‘Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada.’ 22Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse-lhe: «Filha, tem confiança, a tua fé te salvou.» E, naquele mesmo instante, a mulher ficou curada. 23Quando chegou a casa do chefe, vendo os flautistas e a multidão em grande alarido, disse: 24«Retirai-vos, porque a menina não está morta: dorme.» Mas riam-se dele. 25Retirada a multidão, Jesus entrou, tomou a mão da menina e ela ergueu-se. 26A notícia espalhou-se logo por toda aquela terra.
A ressurreição da filha de Jairo e a cura da mulher que sofria de um fluxo de sangue, dois episódios embutidos na página evangélica, que hoje escutamos, mostram-nos que Jesus tem poder sobre a morte, que é o vencedor da morte, que é a ressurreição e vida. Sendo o Messias, vem trazer o reino de Deus, onde a morte não tem a última palavra. O Reino de Deus é vida. A existência de Jesus é uma parábola em acção: caminha para a morte, para a vencer na ressurreição. A fé em Jesus faz passar da morte à vida.
Jairo chega a casa de Mateus, onde Jesus fala de núpcias, de pano novo e de vinho novo (cf. 9, 16s.). As palavras do «chefe» da sinagoga (cf. Mc 5, 35; Lc 8, 41) introduzem o lamento pela morte da filha de 12 anos, e a súplica a Jesus para que lhe dê novamente a vida. Jesus levanta-se e vai a caminho da casa da defunta, quando uma mulher, que sofria de hemorragias, lhe toca na borla do manto. A sua fé dizia-lhe que isso bastava para ser curada. Efectivamente, Jesus diz-lhe: «Filha, tem confiança, a tua fé te salvou» (v. 22). Se perder sangue significa risco de morte, a cura da mulher preludia a vitória da Vida, em casa de Jairo: «a menina não está morta: dorme» (v. 24). Jesus é o vencedor da morte. É a Vida. Acreditar n´Ele, dar-Lhe espaço em nós, acolher a sua pessoa, é acolher a Vida, porque Jesus que, por nós experimentou a morte, a tragou pela sua ressurreição (cf. 1 Cor 15, 55). Para o crente, a morte corporal é como um simples sono e, deixar-se «tocar» por Jesus, é certeza de ressurreição. A vida, como caminho para a plenitude das núpcias de amor eterno, confiando em Jesus, tem nesta página uma exemplar interpretação. Viver é caminhar na fé, tocar e deixar-se tocar por Cristo vivo na Palavra, na eucaristia e no próximo.
Meditatio
A fidelidade do Senhor é a nossa esperança. Também nós, como os israelitas, podemos deixar-nos seduzir pelos ídolos de morte denunciados por Oseias: o dinheiro, os bens materiais, o culto da imagem, o sexo, o hedonismo e mesmo o subtil domínio do egoísmo que, ainda quando fazemos o bem, nos leva a buscar-nos a nós próprios e aos nossos interesses, mais do que a glória de Deus e o seu Reino. E o nosso coração permanece profundamente insatisfeito e inquieto. É preciso escutá-lo quando grita o vazio que o preenche, e a desolação daquele adultério que consiste em esquecer a Deus no frenesim de um activismo exacerbado, no afã de se prostituir aos ídolos supramencionados. E é preciso deixar-se conduzir novamente, pelo Senhor, ao deserto. A meditação pode abrir-nos os olhos para a idolatria da vida comprometida com as lógicas deste mundo, verdadeiro insulto ao Senhor, mas também progressiva perda da vida, como acontecia com a mulher, antes de tocar na borla do manto de Jesus. Pouco a pouco, perde-se o gosto pela oração, a alegria de fazer o bem, a sensibilidade em fazer-nos próximos dos que precisam da nossa ajuda. Pouco a pouco, apaga-se a vida espiritual. E tornamo-nos mortos ambulantes, mesmo mergulhados no activismo e na aparência de fazer o bem.
Mas «o Senhor é clemente e cheio de compaixão», como canta o salmo responsorial. Há-de transformar «o vale de Acôr em porta de esperança» (Os 2, 17). Acôr fora o lugar do acto de infidelidade duramente punido por Deus. Mas, graças ao amor eterno do Senhor, tornara-se porta de entrada na terra santa.
Quando o amor humano se perde, é muito difícil voltar ao tempo do namoro, ao tempo do encanto, quando se pensa que o dom recíproco jamais irá desaparecer. Mas, com Deus, não é assim. Jesus venceu a morte, e vence toda a morte. Tudo pode ser renovado, porque Deus é fiel e o seu amor é eterno: «vou seduzir-te… vou falar-te ao coração… vou desposar-te com fidelidade, e tu conhecerás o Senhor». Estas palavras vêm-nos à mente e ao coração, com mais intensidade, quando desconfiamos de nós mesmos e temos confiança n´Ele, no seu poder purificador, capaz de fazer reflorir o mais belo amor.
A vida cristã, e particularmente a vida religiosa dehoniana, exige momentos de recolhimento,
de deserto, para nos renovarmos e crescermos na intimidade com o Senhor. É fundamental darmos espaço a Jesus na nossa vida, mesmo no meio das mais intensas actividades. É o tempo de oração comunitária e pessoal, é o tempo da meditação ou da lectio divina, é o tempo da adoração. São os brevíssimos momentos das jaculatórias, a que recorrem as almas fervorosas, porque ajudam a pessoa, o religioso, a não se deixar absorver a cem por cento pelas ocupações, pelo trabalho, pelo estudo, quando sessenta por cento são suficientes para cumprir com diligência o próprio dever. O espaço que sobra deve pertencer unicamente a Jesus. Então também o trabalho, o estudo, o descanso, serão de Jesus, serão permeados pela Sua presença, pelo Seu amor. Então seremos curados das nossas perdas de vida, como a mulher de que nos fala o evangelho, ou ressuscitados do torpor espiritual em que tivermos caído, pior que o «sono» da filha de Jairo.
Oratio
Senhor, quanto me reconheço idólatra e adúltero. Mas Tu falas-me ao coração, com grande amor. Quero escutar-te e voltar ao fervor da minha juventude, ao fervor do meu baptismo, da minha primeira profissão religiosa… Infunde em mim o teu Espírito, para que me deixe seduzir e levar ao deserto interior que, de lugar de horrível vazio e de morte, se torne lugar de intimidade nupcial Contigo. Aumenta a minha fé, a experiência de tocar-te e deixar-me tocar por Ti na oração, na eucaristia, no próximo carente dos meus cuidados. E aquela perda de forças, e aquela sensação de morte, que experimento quando me afasto de Ti, serão vencidas. Amen.
Contemplatio
O Coração de Jesus é a fonte da nossa vida sobrenatural. – Jesus comunica-nos a sua vida divina unindo-se a nós pela graça: «Eu sou a vida, diz, e vim para a espalhar nas almas» (Jo 10, 10). – «Eu vivo e vós viveis da minha própria vida» (Jo 4, 19). – «Quem tem o Filho de Deus em si, tem a vida» (Jo 5, 12).
É pelo seu Coração que Jesus nos comunica a sua vida divina. «Este Coração sagrado, diz o Padre Eudes, é o princípio da vida não só do Homem-Deus, mas da mãe e dos filhos de Deus. O Coração espiritual de Jesus, isto é, a sua alma santíssima, unido à sua divindade, é o princípio da sua vida espiritual e moral. É também o princípio da vida da Mãe de Deus. O Filho-Deus recebia de Maria a vida material e transmitia-lhe a vida espiritual e sobrenatural. O Coração de Jesus é também o princípio da vida sobrenatural de todos os filhos de Deus. Como é a vida da cabeça, é também a vida dos membros. Em Jesus, diz S. Tomás, está a plenitude da graça ou da vida das almas. Ela está depositada no seu Coração, como num reservatório universal, de onde ela corre para a humanidade a fim de a santificar». Nosso Senhor disse-nos isso várias vezes: «Se alguém me ama, o meu Pai amá-lo-á, e nós viremos a ele, e faremos nele a nossa morada» (Jo 14, 23). Jesus habita em nós pela sua graça, e o seu Coração une-se ao nosso coração para aí se tornar o princípio vivo da vida espiritual e divina em nós. (Leão Dehon, OSP 3, p. 508).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra
«Tem confiança, a tua fé te salvou» (Mt 9, 22).
| Fernando Fonseca, scj |

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