.

I N T E R N A U T A S-M I S S I O N Á R I O S

SOMOS CATÓLICOS APOSTÓLICOS ROMANOS

e RESPEITAMOS TODAS AS RELIGIÕES.

LEIA, ESCUTE, PRATIQUE E ENSINE.

PARA PESQUISAR NESTE BLOG DIGITE UMA PALAVRA, OU UMA FRASE DO EVANGELHO E CLICA EM PESQUISAR.

domingo, 31 de maio de 2015

O Corpo e Sangue de Cristo-Dehonianos

07/06/2015

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo - Ano B

ANO B
10.º Domingo do Tempo Comum
SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO
Nota inicial:
Não tendo sido possível preparar os habituais comentários para a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, após os textos litúrgicos colocamos algumas sugestões para valorizar a Palavra de Deus e alguns apoios para meditação: a homilia de Bento XVI para o Ano B desta Solenidade em 2012; as recentes catequeses do Papa Francisco sobre a Eucaristia.

LEITURA I – Ex 24,3-8
Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias,
Moisés veio comunicar ao povo
todas as palavras do Senhor e todas as suas leis.
O povo inteiro respondeu numa só voz:
«Faremos tudo o que o Senhor ordenou».
Moisés escreveu todas as palavras do Senhor.
No dia seguinte, levantou-se muito cedo,
construiu um altar no sopé do monte
e ergueu doze pedras pelas doze tribos de Israel.
Depois mandou que alguns jovens israelitas
oferecessem holocaustos e imolassem novilhos,
como sacrifícios pacíficos ao Senhor.
Moisés recolheu metade do sangue, deitou-o em vasilhas
e derramou a outra metade sobre o altar.
Depois, tomou o Livro da Aliança
e leu-o em voz alta ao povo, que respondeu:
«Faremos quanto o Senhor disse e em tudo obedeceremos».
Então, Moisés tomou o sangue
e aspergiu com ele o povo, dizendo:
«Este é o sangue da aliança que o Senhor firmou convosco,
mediante todas estas palavras».
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 147
Refrão 1: Tomarei o cálice da salvação
e invocarei o nome do Senhor.
Refrão 2: Elevarei o cálice da salvação,
invocando o nome do Senhor.
Como agradecerei ao Senhor
tudo quanto Ele me deu?
Elevarei o cálice da salvação,
invocando o nome do Senhor.
É preciosa aos olhos do Senhor
a morte dos seus fiéis.
Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva:
quebrastes as minhas cadeias.
Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor,
invocando, Senhor, o vosso nome.
Cumprirei as minhas promessas ao Senhor,
na presença de todo o povo.

LEITURA II – Heb 9, 11-15
Leitura da Epístola aos Hebreus
Irmãos:
Cristo veio como sumo sacerdote dos bens futuros.
Atravessou o tabernáculo maior e mais perfeito,
que não foi feito por mãos humanas,
nem pertence a este mundo,
e entrou de uma vez para sempre no Santuário.
Não derramou sangue de cabritos e novilhos,
mas o seu próprio Sangue,
e alcançou-nos uma redenção eterna.
Na verdade, se o sangue de cabritos e de toiros
e a cinza de vitela,
aspergidos sobre os que estão impuros,
os santificam em ordem à pureza legal,
quanto mais o sangue de Cristo,
que pelo Espírito eterno
Se ofereceu a Deus como vítima sem mancha,
purificará a nossa consciência das obras mortas,
para servirmos ao Deus vivo!
Por isso, Ele é mediador de uma nova aliança,
para que, intervindo a sua morte
para remissão das transgressões
cometidas durante a primeira aliança,
os que são chamados
recebem a herança eterna prometida.

SEQUÊNCIA
Terra, exulta de alegria,
Louva o teu pastor e guia,
Com teus hinos, tua voz.
Quanto possas tanto ouses,
Em louvá-l’O não repouses:
Sempre excede o teu louvor.
Hoje a Igreja te convida:
O pão vivo que dá vida
Vem com ela celebrar.
Este pão – que o mundo creia –
Por Jesus na santa Ceia
Foi entregue aos que escolheu.
Eis o pão que os Anjos comem
Transformado em pão do homem;
Só os filhos o consomem:
Não será lançado aos cães.
Em sinais prefigurado,
Por Abraão imolado,
No cordeiro aos pais foi dado,
No deserto foi maná.
Bom pastor, pão da verdade,
Tende de nós piedade,
Conservai-nos na unidade,
Extingui nossa orfandade
E conduzi-nos ao Pai.
Aos mortais dando comida,
Dais também o pão da vida:
Que a família assim nutrida
Seja um dia reunida
Aos convivas lá do Céu.

ALELUIA – Jo 6, 51
Aleluia. Aleluia.
Eu sou o pão vivo descido do Céu, diz o Senhor.
Quem comer deste pão viverá eternamente.

EVANGELHO – Mc 14, 12-16-22-26
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
No primeiro dia dos Ázimos,
em que se imolava o cordeiro pascal,
os discípulos perguntaram a Jesus:
«Onde queres que façamos os preparativos
para comer a Páscoa?»
Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes:
«Ide à cidade.
Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água.
Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa:
«O Mestre pergunta: Onde está a sala,
em que hei de comer a Páscoa com os meus discípulos?»
Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior,
alcatifada e pronta.
Preparai-nos lá o que é preciso».
Os discípulos partiram e foram à cidade.
Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito
e prepararam a Páscoa.
Enquanto comiam, Jesus tomou o pão,
recitou a bênção e partiu-o,
deu-o aos discípulos e disse:
«Tomai: isto é o meu Corpo».
Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho.
E todos beberam dele.
Disse Jesus:
«Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança,
derramado pela multidão dos homens.
Em verdade vos digo:
Não voltarei a beber do fruto da videira,
até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus».
Cantaram os salmos e saíram para o Monte das Oliveiras.

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE CRISTO
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. VALORIZAR ESPAÇOS E GESTOS EUCARÍSTICOS.
Valorizar os espaços e gestos eucarísticos, assim como os que se relacionam com a Palavra, é atitude de sempre. Mas isso pode ser relevado em particular neste domingo:
- cuidar com mais atenção da preparação do altar e seus elementos, podendo prever-se uma procissão das oferendas;
- valorizar o momento penitencial em ligação com o Batismo que nos conduz à Eucaristia;
- proclamar a oração eucarística n.º 4, que evoca as alianças sucessivas até à Nova Aliança;
- dar realce aos grandes gestos da oração eucarística, como a elevação do Corpo de Cristo e do cálice, a doxologia final, assim como a fração do pão;
- preparar hoje a distribuição da comunhão sob as duas espécies;
- prever, no momento de ação de graças, uma oração em que alguém possa testemunhar de que modo concreto a Eucaristia o faz viver no quotidiano;
- proclamar a bênção solene e o envio final, recordando a nossa missão de «dar de comer» a todos os que têm necessidade.
3. À ESCUTA DA PALAVRA.
A fé da Igreja na presença do seu Senhor ressuscitado no mistério da Eucaristia remonta à origem da comunidade cristã. São Paulo transmite o que recebeu da tradição, cerca de 25 anos depois da morte de Jesus. É a narração mais antiga da Eucaristia. A Igreja nunca abandonou esta centralidade. Também o Evangelho de Marcos dá-nos hoje um relato semelhante da instituição da Eucaristia.
A Solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo foi instituída em meados do século XIII, numa época em que se comungava muito pouco e onde se levantavam dúvidas sobre a «presença real» de Jesus na hóstia consagrada depois da celebração da Eucaristia. A Igreja respondeu, não com longos discursos, mas com um ato: sim, Jesus está verdadeiramente presente mesmo depois do fim da missa. E para provar esta fé, criou-se o hábito de organizar procissões com a hóstia consagrada pelas ruas, fora das igrejas.
Hoje, não é raro encontrar católicos que põem em dúvida esta permanência da presença Jesus no pão eucarístico. As palavras de Jesus esclarecem-nos: «Este é o meu Corpo… Este cálice é a nova Aliança no meu sangue». Estas afirmações de Jesus, na noite de quinta-feira santa, não dependiam nem da fé nem da compreensão dos apóstolos. É Jesus que se compromete, que dá o pão como sendo o seu corpo, o cálice de vinho como sendo o cálice da nova Aliança no seu sangue. Só Ele pode ter influência neste pão e neste vinho.
Hoje, é o sacerdote ordenado que pronuncia as palavras de Jesus, mas não é ele que lhes dá sentido e realidade. É sempre Jesus ressuscitado que se compromete, exatamente como na noite de quinta-feira santa. O sacerdote e toda a comunidade com ele são convidados a aderir na fé a esta ação de Jesus. Mas não têm o poder de retirar a eficácia das palavras que não lhes pertencem. A Igreja tem razão em celebrar esta permanência da presença de Jesus. Que esta seja para nós fonte de maravilhamento e de ação de graças!
4. PALAVRA PARA O CAMINHO: COMER PARA VIVER.
É a lei biológica da nossa condição humana: é preciso comer para viver. A nossa vida espiritual exige também ser alimentada e cuidada, para crescer e ser fecunda. Jesus revela todo o seu amor pelos homens e o seu desejo de os saciar com o verdadeiro alimento: a sua própria vida, o seu corpo entregue como Pão da Vida, o seu sangue derramado como sangue da Aliança.
Assim, comungar é ser alimentado pela vida de Jesus, enriquecido pelas suas próprias forças, ser capaz do seu amor. Do mesmo modo que comemos para viver, comungamos na Eucaristia para viver como discípulos de Jesus… Que fazemos das nossas comunhões? Que vidas fazem elas crescer em nós?
Para meditar estas interrogações, perguntemo-nos verdadeiramente sobre o que nos faltaria se não tivéssemos Eucaristia…
A Eucaristia é verdadeiramente «vital» para nós? Se assim não for, um período de «jejum eucarístico», um tempo de retiro espiritual para lhe descobrir o sentido, podem ajudar a reencontrar a grandeza deste sacramento. Se assim for, procuremos rezar por aqueles que são privados da Eucaristia e sofrem, e peçamos ao Senhor para lhes dar de novo a graça do seu amor.
E como andamos de adoração? Com a Festa do Corpo de Deus vem também a questão das procissões e da adoração eucarísticas. Se a ocasião se proporcionar, vivamos este tempo de adoração em ligação com a própria celebração, como prolongamento desta e para melhor nos prepararmos ao serviço dos nossos irmãos.
Na próxima sexta-feira celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Mais uma relevante coincidência que nos impele a recentrar o nosso coração no Coração de Jesus, de modo essencial na Eucaristia celebrada e adorada!

ANEXO 1
Homilia de Bento XVI para a Solenidade do Corpo de Deus em 2012 [Ano B]
Prezados irmãos e irmãs!
Esta tarde gostaria de meditar convosco sobre dois aspetos, ligados entre si, do Mistério eucarístico: o culto da Eucaristia e a sua sacralidade. É importante retomá-los em consideração para os preservar de visões incompletas do próprio Mistério, como aquelas que se relevaram no passado recente.
Antes de tudo, uma reflexão sobre o valor do culto eucarístico, em particular da adoração do Santíssimo Sacramento. É a experiência que, também esta tarde, nós viveremos após a Missa, antes da procissão, durante a sua realização e no seu encerramento. Uma interpretação unilateral do Concílio Vaticano II tinha penalizado esta dimensão, limitando praticamente a Eucaristia ao momento celebrativo. Com efeito, foi muito importante reconhecer a centralidade da celebração, no qual o Senhor convoca o seu povo, o reúne ao redor da dúplice mesa da Palavra e do Pão de vida, o alimenta e o une a Si no ofertório do Sacrifício. Esta valorização da assembleia litúrgica, em que o Senhor age e realiza o seu mistério de comunhão, permanece obviamente válida, mas ela deve ser recolocada no equilíbrio justo. Com efeito - como acontece com frequência - para ressaltar um aspeto termina-se por sacrificar outro. Neste caso, a justa evidência conferida à celebração da Eucaristia prejudicou a adoração, como gesto de fé e de oração dirigido ao Senhor Jesus, realmente presente no Sacramento do altar. Este desequilíbrio teve repercussões inclusive na vida espiritual dos fiéis. Com efeito, concentrando toda a relação com Jesus Eucaristia unicamente no momento da Santa Missa, corre-se o risco de esvaziar da sua presença o resto do tempo e do espaço existenciais. E assim compreende-se menos o sentido da presença constante de Jesus no meio de nós e connosco, uma presença concreta, próxima, no meio das nossas casas, como «Coração vibrante» da cidade, do povoado, do território com as suas várias expressões e atividades. O Sacramento da Caridade de Cristo deve permear toda a vida quotidiana.
Na realidade, é errado opor a celebração à adoração, como se uma com a outra estivessem em concorrência. É precisamente o contrário: o culto do Santíssimo Sacramento constitui como que o «ambiente» espiritual em cujo contexto a comunidade pode celebrar bem e na verdade a Eucaristia. A ação litúrgica só pode expressar o seu pleno significado e valor se for precedida, acompanhada e seguida por esta atitude interior de fé e de adoração. O encontro com Jesus na Santa Missa realiza-se verdadeira e plenamente quando a comunidade é capaz de reconhecer que no Sacramento Ele habita a sua casa, nos espera, nos convida à sua mesa e depois, quando a assembleia se dissolve, permanece connosco, com a sua presença discreta e silenciosa, e acompanha-nos com a sua intercessão, continuando a receber os nossos sacrifícios espirituais e a oferecê-los ao Pai.
A este propósito, apraz-me sublinhar a experiência que juntos viveremos também esta noite. No momento da adoração, nós estamos todos no mesmo plano, de joelhos diante do Sacramento do Amor. O sacerdócio comum e o ministerial encontram-se unidos no culto eucarístico. É uma experiência muito bonita e significativa, que vivemos várias vezes na Basílica de São Pedro e também nas inesquecíveis vigílias com os jovens - recordo, por exemplo, as de Colónia, Londres, Zagreb e Madrid. É evidente para todos que estes momentos de vigília eucarística preparam a celebração da Santa Missa e predispõem os corações para o encontro, de tal modo ele seja ainda mais fecundo. Estarmos todos em silêncio prolongado diante do Senhor presente no seu Sacramento é uma das experiências mais autênticas do nosso ser Igreja, que é acompanhado de maneira complementar pela celebração da Eucaristia, ouvindo a Palavra de Deus, cantando, aproximando-nos juntos da mesa do Pão de Vida. Comunhão e contemplação não se podem separar, pois caminham juntas. Para me comunicar verdadeiramente com outra pessoa devo conhecê-la, saber estar em silêncio ao seu lado, ouvi-la e fitá-la com amor. O amor autêntico e a amizade verdadeira vivem sempre desta reciprocidade de olhares, de silêncios intensos, eloquentes e repletos de respeito e de veneração, de tal maneira que o encontro seja vivido profundamente, de modo pessoal e não superficial. E infelizmente, se falta esta dimensão, também a própria comunhão sacramental pode tornar-se, da nossa parte, um gesto superficial. No entanto, na comunhão autêntica, preparada pelo diálogo da oração e da vida, nós podemos dirigir ao Senhor palavras de confiança, como aquelas que há pouco ressoaram no Salmo responsorial: «Senhor, sou teu servo, filho da tua serva; / quebraste as minhas cadeias. / Hei de oferecer-te sacrifícios de louvor / invocando, Senhor, o teu nome» (Sl 115, 16-17).
Agora gostaria de passar brevemente ao segundo aspeto: a sacralidade da Eucaristia. Também aqui ressentimos, no passado recente, de um determinado desentendimento a respeito da mensagem autêntica da Sagrada Escritura. A novidade cristã em relação ao culto foi influenciada por uma certa mentalidade secularista dos anos sessenta e setenta do século passado. É verdade, e permanece sempre válido, que o centro do culto já não se encontra nos ritos e nos sacrifícios antigos, mas no próprio Cristo, na sua pessoa, na sua vida e no seu mistério pascal. E todavia, desta novidade fundamental não se deve concluir que o sagrado já não existe, mas que ele encontrou o seu cumprimento em Jesus Cristo, Amor divino encarnado. A Carta aos Hebreus, que ouvimos esta tarde na segunda Leitura, fala-nos precisamente da novidade do sacerdócio de Cristo, «Sumo Sacerdote dos bens futuros» (Hb 9, 11), mas não afirma que o sacerdócio terminou. Cristo «é Mediador de uma nova aliança» (Hb 9, 15), estabelecida no seu sangue, que purifica «a nossa consciência das obras mortas» (Hb 9, 14). Ele não aboliu o sagrado, mas completou-o, inaugurando um novo culto, que é sem dúvida plenamente espiritual, mas que no entanto, enquanto estivermos a caminho no tempo, ainda se serve de sinais e de ritos, que só virão a faltar no final, na Jerusalém celeste, onde já não haverá templo algum (cf. Ap 21, 22). Graças a Cristo, a sacralidade é mais verdadeira, mais intensa e, como acontece no caso dos mandamentos, também mais exigente! Não é suficiente a observância ritual, mas exigem-se a purificação do coração e o compromisso da vida.
Apraz-me ressaltar também que o sagrado tem uma função educativa, e inevitavelmente o seu desaparecimento empobrece a cultura, em particular a formação das novas gerações. Se, por exemplo, em nome de uma fé secularizada que já não precisa de sinais sagrados, fosse abolida esta procissão urbana do Corpus Christi, o perfil espiritual de Roma ficaria «nivelado» e por isso a nossa consciência pessoal e comunitária seria debilitada. Ou então, pensemos numa mãe e num pai que, em nome de uma fé dessacralizada, privassem os próprios filhos de toda a ritualidade religiosa: na realidade, acabariam por deixar este campo livre aos numerosos sucedâneos presentes na sociedade consumista, a outros ritos e sinais, que mais facilmente poderiam tornar-se ídolos. Deus, nosso Pai, não agiu assim com a humanidade: mandou o seu Filho ao mundo não para abolir, mas para levar a cumprimento também o sagrado. No ápice desta missão, na última Ceia, Jesus instituiu o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, o Memorial do seu Sacrifício pascal. Agindo deste modo, Ele pôs-se no lugar dos sacrifícios antigos, mas fê-lo no âmbito de um rito, que ordenou aos Apóstolos que perpetuassem como sinal supremo do verdadeiro Sagrado, que é Ele mesmo. Caros irmãos e irmãs, é com esta fé que nós celebramos hoje e cada dia o Mistério eucarístico e que O adoramos como Centro da nossa vida e âmago do mundo! Amém.

ANEXO 2
Catequeses do Papa Francisco sobre a Eucaristia
Catequese 1.
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, falar-vos-ei da Eucaristia. A Eucaristia insere-se no âmago da «iniciação cristã», juntamente com o Batismo e a Confirmação, constituindo a nascente da própria vida da Igreja. Com efeito, é deste Sacramento do Amor que derivam todos os caminhos autênticos de fé, de comunhão e de testemunho.
O que vemos quando nos congregamos para celebrar a Eucaristia, a Missa, já nos faz intuir o que estamos prestes a viver. No centro do espaço destinado à celebração encontra-se o altar, que é uma mesa coberta com uma toalha, e isto faz-nos pensar num banquete. Sobre a mesa há uma cruz, a qual indica que naquele altar se oferece o sacrifício de Cristo: é Ele o alimento espiritual que ali recebemos, sob as espécies do pão e do vinho. Ao lado da mesa encontra-se o ambão, ou seja o lugar de onde se proclama a Palavra de Deus: e ele indica que ali nos reunimos para ouvir o Senhor que fala mediante as Sagradas Escrituras, e portanto o alimento que recebemos é também a sua Palavra.
Na Missa, Palavra e Pão tornam-se uma coisa só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que Ele tinha realizado, se condensaram no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antecipação do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: «Tomai e comei, isto é o meu corpo... Tomai e bebei, isto é o meu sangue».
O gesto levado a cabo por Jesus na Última Ceia é a extrema ação de graças ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia. Em grego, «ação de graças» diz-se «eucaristia». É por isso que o Sacramento se chama Eucaristia: é a suprema ação de graças ao Pai, o qual nos amou a tal ponto que nos ofereceu o seu Filho por amor. Eis por que motivo o termo Eucaristia resume todo aquele gesto, que é de Deus e ao mesmo tempo do homem, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Por conseguinte, a celebração eucarística é muito mais do que um simples banquete: é precisamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério fulcral da salvação. «Memorial» não significa apenas uma recordação, uma simples lembrança, mas quer dizer que cada vez que nós celebramos este Sacramento participamos no mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Eucaristia constitui o apogeu da obra de salvação de Deus: com efeito, fazendo-se pão partido para nós, o Senhor Jesus derrama sobre nós toda a sua misericórdia e todo o seu amor, a ponto de renovar o nosso coração, a nossa existência e o nosso próprio modo de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos. É por isso que geralmente, quando nos aproximamos deste Sacramento, dizemos que «recebemos a Comunhão», que «fazemos a Comunhão»: isto significa que, no poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística nos conforma com Cristo de modo singular e profundo, levando-nos a prelibar desde já a plena comunhão com o Pai, que caracterizará o banquete celestial, onde juntamente com todos os Santos teremos a felicidade de contemplar Deus face a face.
Estimados amigos, nunca daremos suficientemente graças ao Senhor pela dádiva que nos concedeu através da Eucaristia! Trata-se de um dom deveras grandioso e por isso é tão importante ir à Missa aos domingos. Ir à Missa não só para rezar, mas para receber a Comunhão, o pão que é o corpo de Jesus Cristo que nos salva, nos perdoa e nos une ao Pai. É bom fazer isto! E todos os domingos vamos à Missa, porque é precisamente o dia da Ressurreição do Senhor. É por isso que o Domingo é tão importante para nós! E com a Eucaristia sentimos esta pertença precisamente à Igreja, ao Povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca compreenderemos todo o seu valor e toda a sua riqueza. Então, peçamos-lhe que este Sacramento possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a plasmar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o Coração do Pai. E fazemos isto durante a vida inteira, mas começamos a fazê-lo no dia da nossa primeira Comunhão. É importante que as crianças se preparem bem para a primeira Comunhão e que cada criança a faça, pois trata-se do primeiro passo desta pertença forte a Jesus Cristo, depois do Batismo e do Crisma.
Catequese 2.
Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Na última catequese elucidei o modo como a Eucaristia nos introduz na comunhão real com Jesus e o seu mistério. Agora podemos formular algumas interrogações a propósito da relação entre a Eucaristia que celebramos e a nossa vida, como Igreja e como simples cristãos. Como vivemos a Eucaristia? Quando vamos à Missa aos domingos, como a vivemos? É apenas um momento de festa, uma tradição consolidada, uma ocasião para nos encontrarmos, para estarmos à vontade, ou então é algo mais?
Existem sinais muito concretos para compreender como vivemos tudo isto, como vivemos a Eucaristia; sinais que nos dizem se vivemos bem a Eucaristia, ou se não a vivemos muito bem. O primeiro indício é o nosso modo de ver e considerar os outros. Na Eucaristia Cristo oferece sempre de novo o dom de si que já concedeu na Cruz. Toda a sua vida é um gesto de partilha total de si mesmo por amor; por isso, Ele gostava de estar com os discípulos e com as pessoas que tinha a oportunidade de conhecer. Para Ele, isto significava partilhar os seus desejos, os seus problemas, aquilo que agitava as suas almas e vidas. Pois bem, quando participamos na Santa Missa encontramo-nos com homens e mulheres de todos os tipos: jovens, idosos e crianças; pobres e abastados; naturais do lugar e estrangeiros; acompanhados pelos familiares e pessoas sós... Mas a Eucaristia que eu celebro leva-me a senti-los todos verdadeiramente como irmãos e irmãs? Faz crescer em mim a capacidade de me alegrar com quantos rejubilam, de chorar com quem chora? Impele-me a ir ao encontro dos pobres, dos enfermos e dos marginalizados? Ajuda-me a reconhecer neles o rosto de Jesus? Todos nós vamos à Missa porque amamos Jesus e, na Eucaristia, queremos compartilhar a sua paixão e ressurreição. Mas amamos, como deseja Jesus, os irmãos e irmãs mais necessitados? Por exemplo, nestes dias vimos em Roma muitas dificuldades sociais, ou devido às chuvas, que causaram prejuízos enormes para bairros inteiros, ou devido à falta de trabalho, consequência da crise económica no mundo inteiro. Pergunto-me, e cada um de nós deve interrogar-se: eu que vou à Missa, como vivo isto? Preocupo-me em ajudar, em aproximar-me, em rezar por quantos devem enfrentar este problema? Ou então sou um pouco indiferente? Ou, talvez, preocupo-me em tagarelar: reparaste como se veste esta pessoa, ou como está vestida aquela? Às vezes é isto que se faz depois da Missa, mas não podemos comportar-nos assim! Devemos preocupar-nos com os nossos irmãos e irmãs que têm necessidade por causa de uma doença, de um problema. Hoje, far-nos-á bem pensar nos nossos irmãos e irmãs que devem enfrentar estes problemas aqui em Roma: problemas devidos à tragédia provocada pelas chuvas, questões sociais e de trabalho. Peçamos a Jesus, que recebemos na Eucaristia, que nos ajude a ajudá-los!
Um segundo indício, muito importante, é a graça de nos sentirmos perdoados e prontos para perdoar. Por vezes, alguém pergunta: «Por que deveríamos ir à igreja, visto que quem participa habitualmente na Santa Missa é pecador como os outros?». Quantas vezes ouvimos isto! Na realidade, quem celebra a Eucaristia não o faz porque se considera ou quer parecer melhor do que os outros, mas precisamente porque se reconhece sempre necessitado de ser acolhido e regenerado pela misericórdia de Deus, que se fez carne em Jesus Cristo. Se não nos sentirmos necessitados da misericórdia de Deus, se não nos sentirmos pecadores, melhor seria não irmos à Missa! Nós vamos à Missa porque somos pecadores e queremos receber o perdão de Deus, participar na redenção de Jesus e no seu perdão. Aquele «Confesso» que recitamos no início não é um «pro forma», mas um verdadeiro ato de penitência! Sou pecador e confesso-o: assim começa a Missa! Nunca devemos esquecer que a Última Ceia de Jesus teve lugar «na noite em que Ele foi entregue» (1 Cor 11, 23). Naquele pão e naquele vinho que oferecemos, e ao redor dos quais nos congregamos, renova-se de cada vez a dádiva do corpo e do sangue de Cristo, para a remissão dos nossos pecados. Temos que ir à Missa como pecadores, humildemente, e é o Senhor que nos reconcilia.
Um último indício inestimável é-nos oferecido pela relação entre a celebração eucarística e a vida das nossas comunidades cristãs. É preciso ter sempre presente que a Eucaristia não é algo que nós fazemos; não é uma nossa comemoração daquilo que Jesus disse e fez. Não! É precisamente uma ação de Cristo! Ali, é Cristo quem age, Cristo sobre o altar! É um dom de Cristo, que se torna presente e nos reúne ao redor de Si, para nos alimentar com a sua Palavra e a sua vida. Isto significa que a própria missão e identidade da Igreja derivam dali, da Eucaristia, e ali sempre adquirem forma. Uma celebração pode até ser impecável sob o ponto de vista exterior, maravilhosa, mas se não nos levar ao encontro com Jesus corre o risco de não oferecer alimento algum ao nosso coração e à nossa vida. Através da Eucaristia, ao contrário, Cristo quer entrar na nossa existência e permeá-la com a sua graça, de tal modo que em cada comunidade cristã haja coerência entre liturgia e vida.
O coração transborda de confiança e de esperança, pensando nas palavras de Jesus, citadas no Evangelho: «Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia» (Jo 6, 54). Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração, de perdão, de penitência, de júbilo comunitário, de solicitude pelos necessitados e pelas carências de numerosos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida eterna. Assim seja!

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.pt


Tomai cuidado com os doutores da Lei-Dehonianos

06/06/2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - IX Semana - Sábado

Lectio
Primeira leitura: Tobite 12, 1.5-15.20
Naqueles dias, Tobite chamou Tobias, seu filho, e disse-lhe: «Meu filho, prepara o salário que deves dar ao homem que foi contigo e vê o que será preciso juntar-lhe, como gratificação.» 5Então, Tobias chamou o anjo e disse-lhe: «Toma metade de tudo o que trouxemos como salário para ti e vai em paz.» 6Então, Rafael chamou os dois à parte, e disse-lhes: «Louvai a Deus e agradecei-lhe; exaltai-o e apregoai a todos os viventes o que fez por vós, pois é bom louvar a Deus, exaltar o seu nome e apregoar as suas obras. Não vos canseis de o confessar. 7Se é bom guardar o segredo do rei, é coisa louvável apregoar as obras de Deus. Fazei o bem e nada de mau vos acontecerá. 8É boa a oração feita com verdade e a esmola, acompanhada pela justiça. Melhor é pouco com justiça, do que muito com iniquidade. Melhor é dar esmolas do que acumular tesouros, 9pois a esmola livra da morte e limpa de todo o pecado. Os que praticam a misericórdia e a justiça serão cumulados de vida. 10Aqueles que cometem o pecado e a injustiça são inimigos da sua própria vida. 11Quero dizer-vos toda a verdade sem vos ocultar coisa alguma. Já vos disse que é bom guardar os segredos do rei, mas é glorioso proclamar as obras de Deus. 12Por isso, sabei que enquanto oravas, tu e a tua nora Sara, eu apresentava as vossas orações diante da glória do Senhor. Da mesma forma, enquanto enterravas os mortos, eu também estava contigo. 13Assim, quando, a toda a pressa, te levantaste e deixaste de comer, a fim de sepultar aquele cadáver, eu fui enviado para pôr a tua fé à prova, 14mas, ao mesmo tempo, Deus enviou-me para te curar, a ti e a Sara, tua nora. 15Eu sou Rafael, um dos sete anjos que apresentam as orações dos justos e têm lugar diante da majestade do Senhor.» 20Agora, bendizei o Senhor, aqui na terra, e louvai a Deus, porque eu volto para aquele que me enviou. Escrevei tudo o que sucedeu convosco.» Dito isto, elevou-se.
O livro de Tobite é um hino à providência de Deus, que sempre acaba por actuar em favor dos seus fiéis. Mas também é um hino à generosidade, sugerida pela palavra “esmola” repetida nesta página e em muitas outras deste livro. A esmola, a oração e o jejum, eram as colunas da espiritualidade no judaísmo tardio. As vantagens da esmola são três: liberta da morte, purifica dos pecados e faz-nos encontrar a misericórdia de Deus e a vida eterna. Mas também nos garante uma vida melhor já neste mundo: «Os que praticam a misericórdia e a justiça serão cumulados de vida». 
Jesus, quando exorta os discípulos a uma justiça superior (Mt 5, 20), e lhes ensina o modo de a praticar, utiliza exemplos que se referem a essas três virtudes: “Quando derdes esmola”, “quando orardes”, “quando jejuardes” (Mt 6, 2.5.16). 
Outro ensinamento importante da página que escutamos refere-se ao dever de confessar a benevolência de Deus, para que também outros possam alegrar-se, esperar e bendizer ao Senhor: «Louvai a Deus e agradecei-lhe; exaltai-o e apregoai a todos os viventes o que fez por vós, pois é bom louvar a Deus, exaltar o seu nome e apregoar as suas obras. Não vos canseis de o confessar» (v. 6). «O Todo-poderoso fez em mim maravilhas», proclamará a virgem de Nazaré (Lc 1, 49). Há que louvar a Deus pelos seus dons e que partilhá-los com os outros.

Segunda leitura: Marcos 12, 38-44
Naquele tempo, 38continuando o seu ensinamento, Jesus dizia: «Tomai cuidado com os doutores da Lei, que gostam de exibir longas vestes, de ser cumprimentados nas praças, 39de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes; 40eles devoram as casas das viúvas a pretexto de longas orações. Esses receberão uma sentença mais severa.»
41Estando sentado em frente do tesouro, observava como a multidão deitava moedas. Muitos ricos deitavam muitas. 42Mas veio uma viúva pobre e deitou duas moedinhas, uns tostões. 43Chamando os discípulos, disse: «Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou no tesouro mais do que todos os outros; 44porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo quanto possuía, todo o seu sustento.»
Jesus aponta duas atitudes erradas nos escribas: a vaidade e a hipocrisia. A vaidade revela-se nas longas vestes, no prazer em ser cumprimentados publicamente, na presunção de ocupar sempre os primeiros lugares. A hipocrisia revela-se em ostentarem grande devoção, prolongando os tempos de oração comum, só para darem nas vistas. A sua pretensa religiosidade torna-se ainda mais escandalosa quando não revelam qualquer pudor na opressão dos fracos e dos indefesos. Os escribas são homens impuros, incapazes de fazerem dom de si mesmos a Deus e ao próximo. Mesmo quando oferecem avultadas quantias ao templo, apenas revelam o seu egoísmo e a convicção de que são indispensáveis à causa de Deus. A viúva pobre, pelo contrário, lançou no tesouro do templo duas moedinhas, uns cêntimos. Mas «deitou tudo quanto possuía» (v. 44). Não julgava fazer uma grande oferta, nem «ajudar» a Deus. Mas tinha um coração puro. Amava a Deus e entregava-se a Ele completamente. É por isso que Jesus a apresenta aos discípulos como exemplo.

Meditatio
O Livro de Tobite mostra-nos como Deus está presente na nossa vida de modo discreto e silencioso, que só a fé pode descobrir. Apesar das maravilhas realizadas por Rafael durante a viagem de Tobias a Ecbátana, e no regresso a casa de Tobite, todos continuavam a acreditar que ele era apenas um dos parentes da tribo de Neftali e, por isso, queriam dar-lhe uma recompensa. A acção de Deus desenrola-se geralmente num clima de mistério e de silêncio. Rafael adaptou-se perfeitamente a essa pedagogia de Deus, levando a cabo a sua missão com a máxima naturalidade. Mas, agora, diz que é tempo de bendizer e proclamar as maravilhas do Senhor. E assim faz toda a família. O capítulo 13 do livro é todo um hino de louvor a Deus. Como é importante aprendermos a contemplar a presença e a acção discreta de Deus na nossa vida e nos acontecimentos que nos rodeiam, para O louvarmos e bendizermos!
Na página que escutamos, podemos encontrar outra fonte de reflexão e oração. Tobite revela uma humanidade extremamente rica. É um homem atento aos carenciados, generoso, esquecido de si. Pratica a caridade, a esmola «que salva da morte», até ao risco de ver derramado o seu sangue. Vive em atitude de permanente referência a Deus, e revela uma enorme capacidade de gratidão, com a necessidade de a traduzir em gestos concretos. Se antes não se fechou na sua dor, também agora não se deixa apagar na felicidade. A experiência pessoal de sofrimento tornou-o capaz de ser compassivo com os outros. A alegria, acolhida como dom de Deus, impele-o ao reconhecimento para com Rafael, que foi instrumento e mediador dessa alegria. Tobite e o filho agradecem a Deus, porque reconhecem os dons recebidos gratuitamente. Sabem que a nada têm direito, que tudo é dom. Sabem agradecer a Deus, mas também ao irmão, ao companheiro de viagem. Uma lição para nós, tantas vezes engolidos pela pressa e pela eficiência, e enfarinhados de superficialidade, a ponto de nos esquecermos da gratidão. E assim nos tornamos incapazes de gratuidade, uma vez que só quem está consciente de tudo receber gratuitamente, é capaz de gratuitamente oferecer a quem precisa.
O evangelho mostra-nos como havemos de unir na nossa vida de cristãos a humildade, a pobreza e a caridade. Só agrada a Deus uma caridade cheia de humildade e privada de auto-comprazimento. Quantas vezes estragamos o que oferecemos, por ficarmos à espera de reconhecimento, de recompensa!
A nossa vida, toda orientada para o serviço desinteressado, para o dom oblativo, deve provocar nos que nos rodeiam a pergunta cheia de espanto: porque fazes isso? Porque actuas sem pensar nos teus interesses, nas tuas comodidades, e mesmo, muitas vezes, contra os teus interesses e comodidades? Quem te obriga? A resposta que havemos de dar, sobretudo a nós mesmos é a seguinte: acolhi Jesus, que Se dá totalmente a mim na Eucaristia, que Se pôs totalmente ao meu serviço. Por isso, sinto como obrigação pôr-me também ao serviço dos meus irmãos. Procuro Aquele que vive, Cristo, nos viventes, isto é, nos homens, meus irmãos. Adoro neles a presença real de Cristo; sirvo-O neles. Disse “sim” ao amor de Cristo, devo dizer “sim” ao amor dos irmãos. Assim Cristo continua em mim a Sua Missa, a Sua missão de caridade e de salvação do mundo. As minhas mãos são as mãos de Cristo, os meus lábios são os lábios de Cristo, os meus pés são os pés de Cristo, os meus olhos são os olhos de Cristo, o meu coração é o coração com que Cristo quer continuar a amar a todos os homens, particularmente os mais carenciados. Com estes sentimentos, lanço-me «incessantemente, pelos caminhos do mundo ao serviço do Evangelho» (Cst 82).

Oratio
Senhor, nosso Deus, nós Te adoramos. Nós Te bendizemos pela tua presença atenta, silenciosa, solidária na nossa vida e na vida do mundo. Nós Te louvamos e cantamos pela tua inesgotável misericórdia e admirável providência. Que o teu Espírito nos abra os olhos para sabermos ler a vida e os acontecimentos na tua perspectiva, e nos abra o coração para sermos compassivos e fecundos no bem e no serviço aos irmãos. Que da nossa vida, permeada de misericórdia, suba incessantemente o louvor e a bênção para Ti, que fazes maravilhas em quem e para quem em Ti confia. Que, em todas as nossas acções, se unam a caridade e a humildade, tão agradáveis aos teus olhos. Amen.

Contemplatio
Tobias, o filho de Tobite, ao banhar-se nas margens do Tigre foi assaltado por um peixe. «Tirai-lhe os ouvidos, diz-lhe o anjo, despedaçai-o, pegai no seu coração e no fígado com o fel, tirareis deles remédios. - Mas que remédios? - diz Tobias. – Se colocarmos uma parte do coração sobre o fogo, diz o anjo, o fumo que dele sai expulsa os demónios, e o fel é bom para curar os olhos». Aqui estão remédios simbólicos. Tudo era figura no Antigo Testamento, diz S. Paulo. O peixe é Cristo, cujas entranhas são a fonte de toda a cura. O seu coração deve ser oferecido em sacrifício e consumado para expulsar o demónio. É a destruição do Coração de Jesus sobre a cruz que realiza a redenção. O relato de Tobias não pode ter outro sentido. Que importa o sacrifício do coração de um peixe para expulsar os demónios? Foi, portanto, pelo Coração de Jesus, representado simbolicamente, que Tobias e Rafael expulsaram os demónios da casa de Raguel. O Coração de Jesus mostrou-se lá verdadeiramente o vencedor do demónio, o consolador das famílias provadas, o mediador das uniões santas e segundo Deus. Se oferecêssemos a Deus com fé o sacrifício do Coração de Jesus, seríamos todo-poderosos contra o demónio. O fel do peixe também tem o seu simbolismo. Curou os olhos de Tobite, o pai de Tobias. É o símbolo das dores e da Paixão de Cristo que nos curaram da cegueira do pecado e que nos abriram os olhos à verdade evangélica. Ah! Se soubéssemos usar deste remédio da Paixão do Salvador! Deus cumulou a família de Raguel com os seus benefícios. O filho de Tobite regressa com a sua esposa e a sua fortuna. Cura o pai. Então todos, com o anjo Rafael, agradecem ao Senhor. Tobite quer recompensar o caridoso guia, que lhes tinha sido tão útil, mas o anjo Rafael recusou-se. Revelou-lhes o seu nome e a sua dignidade: «Quando rezavas derramando lágrimas, diz ao pai, quando deixavas o teu repouso para sepultar os mortos, quando rezavas de noite, era eu quem apresentava a tua oração ao Senhor… Foi Ele que me enviou para te curar e libertar do demónio a mulher do teu filho, Sara. Sou o anjo Rafael, um dos sete que estão diante do Senhor. É tempo que eu regresse para Deus. Quanto a vós, bendizei-O e publicai as suas maravilhas». Depois destas palavras, desapareceu. Tobite, a sua esposa e o seu filho prostraram-se durante três horas, com o rosto por terra, e bendisseram a Deus. O anjo Rafael tinha-lhes deixado esta graça de serem reconhecidos para com Deus por todos os seus benefícios. O anjo ia buscar ao coração simbólico do peixe os melhores dons. Donde vem a minha ingratidão? É que eu não vivo bastante da vida celeste, não estou suficientemente unido aos anjos, não vou buscar ao Coração de Jesus os sentimentos que deveriam animar o meu. (Leão Dehon, OSP 4, p. 389s.).

Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«O Todo-poderoso fez em mim maravilhas» (Lc 1, 49).


Como dizem os doutores da Lei que o Messias é filho de David?-Dehonianos

05/06/2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - IX Semana - Sexta-feira

Lectio
Primeira leitura: Tobite 11, 5-17
Naqueles dias, Ana estava sentada e olhava para o caminho, procurando descobrir o filho. 6Quando o viu, ao longe, disse ao marido: «Repara, aí vem o nosso filho, e com ele o seu companheiro.» 7Antes, porém, que Tobias chegasse junto do pai, disse-lhe Rafael: «Sei, com certeza, que os seus olhos se abrirão de novo. 8Unge-lhos com o fel do peixe: ao sentir ardor, esfregá-los-á, as cataratas desprender-se-ão e ele verá.» 9Ana deitou a correr e lançou-se ao pescoço do filho, dizendo: «Volto a ver-te, meu filho. Agora, já posso morrer!» E pôs-se a chorar. 10Tobite, tropeçando, encaminhou-se para a porta do pátio. 11Então o filho correu ao seu encontro, agarrou-o e derramou-lhe o fel nos seus olhos, dizendo: «Coragem, pai !» 12Enquanto lhe ardiam os olhos, esfregou-os, e as escamas desprenderam-se. 13Ao ver o filho, Tobite lançou-se-lhe ao pescoço e, chorando, disse: «Vejo-te, filho, tu que és a luz dos meus olhos!» 14E continuou:«Bendito seja Deus e bendito o seu grande nome! Benditos os seus santos anjos! Que seu nome esteja sobre nós e benditos sejam todos os seus anjos, pelos séculos sem fim! Ele puniu-me, mas eis que volto a ver Tobias o meu filho.»
15Tobias entrou, cheio de alegria, e glorificou a Deus. Contou ao pai todas as maravilhas que tinham acontecido na sua viagem; disse-lhe que trazia o dinheiro e que tomara Sara, filha de Raguel, por esposa: «Ela já aí vem, está muito perto das portas de Nínive. 16Ao ouvir isto, Tobite, cheio de alegria e louvando a Deus, foi às portas de Nínive, ao encontro da nora. Vendo-o andar assim, com toda a segurança e sem ninguém o guiar pela mão, os habitantes de Nínive admiraram-se. Tobite, então, anunciava-lhes em alta voz que Deus fora misericordioso para com ele e lhe abrira os olhos. 17Assim que Tobite se encontrou com Sara, esposa do seu filho Tobias, abençoou-a e disse-lhe: «Sê bem-vinda, minha filha! Bendito seja Deus, que te trouxe para junto de nós e bendito seja o teu pai! Bendito seja Tobias, meu filho, e bendita sejas tu, filha! Entra e sê bem-vinda à tua casa; entra em bênção e alegria, filha!»
A liturgia faz-nos escutar uma página edificante, que embeleza o discurso bíblico. Como outras páginas edificantes da Bíblia, tem a sua verdade e a sua poesia. O sonho faz parte da nossa relação com o mundo e com Deus. Além disso, é verdade que o justo nunca fica sem recompensa, se não do modo que esperava, de outro que Deus julga mais importante. Como cristãos, sabemos que nem sempre recebemos a recompensa da nossa fidelidade neste mundo.
Voltando ao texto, contemplamos uma família que exulta de alegria, bendiz a Deus e dá-Lhe graças pelo regresso do filho e pela cura de Tobite. Quando o Senhor põe à prova os seus fiéis, não é para os castigar, mas para os purificar e lhes dar ainda mais.

Segunda leitura: Marcos 12, 35-37
Naquele tempo, 35ensinando no templo, Jesus tomou a palavra e perguntou: «Como dizem os doutores da Lei que o Messias é filho de David? 36O próprio David afirmou, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés’. 37O próprio David chama-lhe Senhor; como é Ele seu filho?» E a numerosa multidão ouvia-o com agrado.
Terminado o diálogo com o escriba excepcionalmente honesto, o evangelista retoma a polémica com os outros escribas e fariseus para dar um ensinamento da máxima importância sobre o mistério da sua pessoa, e levantar muito discretamente o véu, que esconde o seu segredo messiânico. De acordo com a tradição judaica, fundada na promessa a Natan (2 Sam 7, 14), e confirmada pelos grandes profetas da esperança messiânica, o Messias devia ser um descendente de David. Mas, no Sl 110, 1, David chama «meu Senhor» ao Messias: «como é Ele seu filho» (v. 37). Com esta pergunta deixada em suspenso, Jesus rompe, mais uma vez, esquemas feitos e tidos por seguros, que parecem afastar o esforço por acreditar. Ao mesmo tempo incita-nos a reflectir, e a deixar-nos descobrir pelo mistério da sua pessoa, a não presumirmos saber tudo sobre Ele. Há que reflectir sempre sobre a «experiência de Deus» que já fizemos.
Jesus não recusa a ascendência davídica do Messias, quer que ultrapassemos a lógica limitada da continuidade histórica dinástica, porque a promessa de Deus vai além dos critérios da sucessão hereditária. O dom do Pai, no Filho, vai muito além de tudo quanto a mente humana possa entender, porque será sempre um dom inédito e surpreendente.

Meditatio
A história de Tobias e de Sara aproxima-se do fim. Ana, que estivera a perscrutar o horizonte, anuncia a Tobite que o filho está de volta: «Aí vem o nosso filho, e com ele o seu companheiro» (v. 6). Há grande alvoroço na família. É a festa dos pobres de Israel, que vêem realizados, para além de toda a esperança, os seus anseios. Tobias regressa com Sara libertada do mau espírito. Tobite recupera a vista. A unidade familiar recompõe-se. É uma história com um fim realmente feliz, como poucas das que nos relatam os nossos meios de comunicação social. Parece até demasiadamente feliz, para ser verdadeira, como alguém pode pensar… A oração de Tobite, enquanto os seus olhos se abrem para o filho regressado, permite-nos penetrar para além das imagens vivas e ingénuas, para colhermos o seu significado profundo. É verdade: Deus ouviu a oração de Tobite, não desiludiu a sua confiança, que foi capaz de perseverar e crescer na provação. A vida de Tobite fora sacudida por uma tempestade de acontecimentos trágicos e destrutivos. Mas ele soube vê-los como provação mandada por Deus, para verificar a sua fidelidade. Tobite não desiludiu a Deus. Batido por ondas e ventos contrários, soube acreditar e confiar. A sua boca só se abriu para louvar e bendizer o Senhor. Agora é Deus que não desilude o seu humilde servo, e o recompensa generosamente.
A vista verdadeira é-nos agora dada pelo “peixe”, que na tradição cristã é símbolo de Cristo. Também o fel entra na vida de Cristo: «Deram-lhe a beber vinho misturado com fel» (Mt 27, 34). Este fel pode representar a amargura que Jesus provou na paixão, para que os nossos olhos se abrissem à beleza da vida nova, da nova luz.
Agradeçamos ao Senhor que, cada dia, nos faz encontrar ajudas e solicitações para que nos abramos à sua luz, ao seu amor, e encontremos força para aceitar tudo da sua mão, também as provações. Estas entram no seu desígnio sobre nós. Portanto, havemos de vivê-las na fé e num confiante abandono. As nossas Constituições também chamam ao abandono “disponibilidade” para com Deus e para com os homens. É a atitude que está na raiz da oblação, termo caro ao Pe. Dehon. A palavra “abandono” exprime a atitude do crente, que caminha na presença de Deus, obedecendo aos seus apelos. O abandono confiante nas mãos de Deus Pai é a disposição fundamental de Cristo na sua obediência. Para nós, dehonianos, será busca de Deus e da sua vontade, procura do seu projecto de amor e dos novos caminhos pelos quais esse projecto se realiza. O abandono faz da nossa vida religiosa um sacrifício de amor a Deus, na paz e na alegria.

Oratio
Ó Jesus, Tu és o Caminho que leva ao Pai! Tu és o homem das dores, que bem conhece o sofrimento. Convidas-me a seguir-Te, colocando os meus passos incertos nas tuas pegadas seguras. Dá-me a graça de abraçar a cruz de cada dia, pronunciando o meu “sim”, em atitude de completo abandono, sem medos nem hesitações, para me unir inteiramente à oblação com que nos remiste, reunindo e apresentando ao Pai os filhos que andavam dispersos. Amen.

Contemplatio
Os anjos louvam a Deus e servem-n’O. «Eles são milhares de milhares, diz Daniel, à volta do trono de Deus, ocupados em servi-l’ O» (Dan 7, 10). «Anjos do céu, diz o salmo, bendizei o Senhor, vós que executais as suas ordens» (Sl 102). Deus envia-os para junto das criaturas. O seu nome significa «mensageiros». «São os enviados de Deus, diz S. Paulo, vêm ajudar os homens a realizar a sua salvação» (Heb 1, 14). Há os anjos das nações e os anjos de cada um de nós. Deus dizia ao seu povo por Moisés: «Enviarei o meu anjo diante de vós. Conduzir-vos-á, guardar-vos-á e dirigir-vos-á para a terra que vos prometi» (Ex 23). Deus acrescentava: «Honrai-o, escutai a sua voz quando vos fala por Moisés. Se lhe obedecerdes, sereis abençoados e triunfareis sobre os vossos inimigos. Se o desprezardes, sereis castigados» (Ibid.). «Deus ordenou aos seus anjos, diz o salmo, que vos guardassem em todos os vossos caminhos. Levar-vos-ão nas suas mãos para que eviteis as pedras do caminho» (Sl 90). Trata-se aqui dos anjos de cada um de nós. «Respeitai as crianças, diz Nosso Senhor, os seus anjos vêem constantemente a face de meu Pai» (Mt 18, 10). Os anjos vigiam particularmente as crianças. Quando Senaquerib cercava Jerusalém, o anjo de Deus feriu de morte um grande número de Assírios. É o anjo protector do povo de Deus (2Rs 19, 35). Mas quando David ofendeu a Deus, o mesmo anjo fez perecer de peste um bom número de Israelitas (2Sam 24, 16). Os anjos protectores conduzem Lot e os seus para fora de Sodoma (Gn 19). O anjo da guarda de Agar consola-a no deserto (Gn 21). O anjo de Elias desperta-o e mostra-lhe o pão e a água que o fortificarão (1Rs 19, 5). Transmite-lhe muitas vezes as ordens de Deus. Como a vida de Tobite e a viagem do seu filho estão cheias de mistérios e de figuras. Deus dá a esta família um poderoso protector, o arcanjo Rafael. Ele guia Tobias, salva-o dos apertos do peixe, dá a vista ao seu pai, e oferece as orações e as obras da família ao Senhor. O anjo desce com Daniel e os seus companheiros à fossa e à fornalha, e preserva-os do fogo e dos leões. Um anjo acorda Pedro, parte as cadeias e liberta-o da prisão. É o anjo S. Miguel, sem dúvida, o anjo da Igreja. Como deveríamos ser mais confiantes nos anjos! (Leão Dehon, OSP 4, p. 315s.)

Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Bendito sejais, Senhor,
que, depois de me teres provado, me curastes» (Tb 11, 17).


Qual é o primeiro de todos os mandamentos?-Dehonianos

04/06/2015
S. Norberto Tempo Comum - Anos Ímpares - IX Semana - Quinta-feira

Lectio
Primeira leitura: Tobite 6, 10-11a; 7, 1.9-17; 8, 4-9 a.
Naqueles dias, tendo eles chegado à Média, quando se aproximavam de Ecbátana, 11Rafael disse ao jovem: «Tobias, irmão!» Este respondeu: «Eis-me aqui.» Ele, então, disse-lhe: «Esta noite devemos ficar em casa de Raguel. Este homem é teu parente e tem uma filha chamada Sara» ? O anjo conduziu-o à casa de Raguel. Encontraram-no sentado à porta do pátio e cumprimentaram-no. Raguel respondeu-lhes: «Eu vos saúdo, irmãos! De todo o coração, sede bem-vindos com saúde.» E introduziu-os em casa. 9Ora, tendo-se eles lavado e sentado para comer, Tobias disse a Rafael: «Irmão Azarias, pede a Raguel que me dê por esposa, Sara, minha irmã.» 10Raguel ouviu estas palavras, e respondeu a Tobias: «Come e bebe e passa a noite tranquilo, pois não há ninguém a quem toque tomar por esposa minha filha Sara, a não ser tu, irmão, pois nem mesmo eu tenho o direito de a entregar a outro homem senão a ti, porque és o meu parente mais próximo. Devo contudo, dizer-te a verdade, filho: 11Já a dei a sete maridos, escolhidos entre os nossos irmãos, e todos morreram na mesma noite em que dela se aproximaram. Contudo, meu filho, come e bebe agora, o Senhor providenciará em vosso favor.» 12Tobias, porém, replicou: «Não comerei nem beberei antes que resolvas a minha situação.» Respondeu Raguel: «Assim o farei. Ela te é dada segundo a lei de Moisés, e já que o Céu assim o determinou, então, que ela te seja dada. Toma-a desde este momento, segundo a Lei. Doravante serás seu irmão e ela tua irmã; é-te dada a partir de hoje, por toda a eternidade. E o Senhor do céu vos faça felizes, esta noite, meu filho, e derrame sobre vós misericórdia e paz!» 13A seguir, Raguel chamou Sara, sua filha. Quando ela se aproximou, tomou-lhe a mão e entregou-a a Tobias, dizendo: «Leva-a conforme a Lei de Moisés, a qual manda que te seja dada por esposa. Toma-a, pois, e leva-a alegremente, para a casa de teu pai. Que o Deus do céu vos guie em paz!» 14Chamou depois a mãe, mandou trazer uma tabuinha e escreveu o contrato matrimonial, declarando que dava Sara por esposa a Tobias, conforme a sentença da Lei de Moisés, e selou-o. Foi então que começaram a comer e a beber. 15Mais tarde, Raguel chamou Edna, sua esposa, e disse-lhe: «Irmã, prepara outro quarto, e leva para lá Sara.» 16Edna entrou no outro aposento e preparou-o, como o marido lhe dissera, e levou sua filha para o aposento nupcial e chorava por ela. Mas, enxugando as lágrimas, dizia-lhe: 17«Coragem, filha! O Senhor do céu te dê alegria em lugar da tua tristeza! Coragem, filha!» E saiu.4Entretanto, os pais de Sara tinham saído e fechado a porta do quarto. Tobias, então, ergueu-se do leito e disse à esposa: «Irmã, levanta-te; vamos orar para que o Senhor nos conceda a sua misericórdia e salvação.» 5Levantaram-se ambos e puseram-se a orar e a implorar que lhes fosse enviada a salvação, dizendo:«Bendito sejas, Deus dos nossos pais, e bendito seja o teu nome, por todas as gerações; louvem-te os céus e todas as tuas criaturas, por todos os séculos. 6Tu criaste Adão e deste-lhe Eva, sua esposa, como amparo valioso, e de ambos procedeu a linhagem dos homens. Com efeito, disseste: Não é bom que o homem esteja só; façamos-lhe uma auxiliar semelhante a ele. 7Agora, Senhor, Tu bem sabes que não é com paixão depravada que agora tomo por esposa a minha irmã, mas é com intenção pura. Permite, pois, que eu e ela encontremos misericórdia, e cheguemos juntos à velhice.» 8E ambos responderam ao mesmo tempo: «Ámen, Ámen!» 9Depois, deitaram-se para passar a noite.

Neste texto, encontramos duas orações, uma mais breve, que acompanha a celebração do matrimónio, e outra mais longa, que é a oração dos esposos no quarto nupcial. Em Israel, o matrimónio era celebrado de modo muito simples e em família, sem a mediação de sacerdotes ou de qualquer acto litúrgico. Havia apenas uma pequena oração a implorar a paz para o novo lar. Assim foi celebrado o casamento de Tobias e Sara: «Raguel chamou Sara, sua filha. Quando ela se aproximou, tomou-lhe a mão e entregou-a a Tobias, dizendo: «Leva-a conforme a Lei de Moisés, a qual manda que te seja dada por esposa. Toma-a, pois, e leva-a alegremente, para a casa de teu pai. Que o Deus do céu vos guie em paz!» À primeira vista, o matrimónio, em Israel, era um acontecimento leigo e profano, mas, na verdade, era um evento profundamente religioso, que renovava a acção criadora de Deus. A dimensão religiosa do matrimónio não vem de ritos exteriores, mas da sua íntima estrutura criacional: o amor humano entre um homem e uma mulher é lugar do Amor de Deus.
Uma vez sós, os esposos rezam. Sabem que não estão sós, que Deus está com eles. Sabem que o projecto que querem realizar não é deles, mas de Deus. Deus não pode ser excluído da relação matrimonial. Importa que a família, comunidade de amor, também seja comunidade de oração. É interessante ver Tobias e Sara que rezam e sabem como rezam: pedem para ser salvos da morte e para que o seu amor chegue até à idade mais avançada.
O matrimónio é uma estrutura de amor: do amor dos esposos um pelo outro, mas também do amor de Deus por eles e do amor de ambos por Deus. Todo o verdadeiro amor tem origem em Deus, também aquele com que os esposos se amam.

Segunda leitura: Marcos 12, 28b-34
Naquele tempo, 28aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» 29Jesus respondeu: «O primeiro é: Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor; 30amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças. 31O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes.» 32O escriba disse-lhe: «Muito bem, Mestre, com razão disseste que Ele é o único e não existe outro além dele; 33e amá-lo com todo o coração, com todo o entendimento, com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo vale mais do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios.» 34Vendo que ele respondera com sabedoria, Jesus disse: «Não estás longe do Reino de Deus.» E ninguém mais ousava interrogá-lo.
Depois dos fariseus, herodianos e saduceus, aparece um escriba de boa vontade, que faz uma pergunta simplesmente teórica, sem armadilhas mais ou menos camufladas. Era uma questão clássica e frequentemente debatida. A resposta de Jesus também não era completamente nova. Na verdade trata-se de uma questão central para Jesus e para todos os crentes. A resposta mais completa será dada com toda a sua vida.
Jesus oferece ao escriba honesto uma resposta rigorosamente bíblica: remete-o para Dt 6, 4s. e para Lv 19, 18. Mas a compreensão plena da resposta só se obtém à luz da revelação, segundo a qual o nosso amor a Deus e ao próximo supõe um facto precedente e fundante: o amor de Deus para connosco. O amor de Deus é a medida com que se deve confrontar todo o amor humano. Se este nascer daquele, estender-se-á a toda a humanidade, a todo o homem sem distinções, e será um amor com toda a humanidade de que dispomos: o coração, a mente e a vontade. Este amor supera todo e qualquer acto de culto, sobretudo aquele que está separado do amor ao próximo. Notemos também a afirmação clara e incisiva do monoteísmo (vv. 29.32), em polémica com o ambiente pagão em que vivia a comunidade para quem Marcos escreveu o seu evangelho.

Meditatio
A primeira leitura parece nada ter a ver com os tempos actuais e com as realidades que vivemos ou verificamos à nossa volta, concretamente no que se refere ao matrimónio. Na publicidade de um qualquer produto, não falta, muitas vezes, o sexo misturado com um qualquer ingrediente, transformado em moeda, infelizmente já muito desvalorizada, de negócios e transacções. Em nome da liberdade, da maturidade e da autonomia do homem, quando se quer alcançar algum efeito “picante”, recorre-se à apresentação de imagens e cenas, no mínimo, de mau gosto.
A primeira leitura apresenta-nos um belo exemplo de educação ao amor. O amor do homem pela mulher, e da mulher pelo homem, é um dom de Deus, que pôs em nós esta profunda tendência. Mas este amor, no estado de decadência em que o pecado nos colocou, está terrivelmente viciado pelo egoísmo. O desejo sexual é um acto de amor. Mas, noutro sentido, pode tornar-se um grave obstáculo, quando se busca no outro apenas a satisfação própria. Tobias e Sara estão conscientes disso, e mostram-se fiéis ao amor. Tobias diz a Sara: «Sara, levanta-te; vamos orar ao Senhor…Somos filhos de santos, e não podemos unir-nos à maneira daqueles que não conhecem a Deus…» E, ao rezar a Deus: «Senhor, Tu bem sabes que não é com paixão depravada que agora tomo por esposa a minha irmã, mas é com intenção pura (o desejo de ter descendência). Esta história dramática mostra-nos como o dinamismo que nos leva ao amor pode precisar de purificação.
Tudo isto é verdade no amor matrimonial, mas também nas outras relações interpessoais. Temos sempre alguma tendência para instrumentalizar os outros em vista dos nossos objectivos, para os “usar” em vez de os amar, para procurar neles o que nos agrada, o que satisfaz as nossas necessidades mais ou menos conscientes.
Por outro lado, o amor precisa de ser fortalecido, diante das muitas dificuldades que se lhe opõem. Quantas vezes sentimos dificuldade em amar, porque não nos sentimos amados, compreendidos, correspondidos. Mas, se queremos amar, havemos de estar dispostos a enfrentar sacrifícios e renúncias. Precisamos de ser generosos, para enfrentarmos dificuldades e desânimos. Por isso, temos de escutar frequentemente o mandamento: «Amarás!... Amarás!... » Este mandamento, que já encontramos no Antigo Testamento, foi retomado por Jesus, que o praticou pessoalmente e no-lo deu para que os pratiquemos também. “Amar como Jesus amou” é refrão de uma conhecida canção de inspiração religiosa. Mas, para amar como Jesus amou, precisamos de um coração semelhante ao d´Ele, de um coração purificado. Amar como Jesus amou é estar disposto a viver um amor extremanete puro e forte, um amor que não hesita perante o sofrimento e a morte. Por isso, precisamos de um verdadeiro “transplante cardíaco”: renunciar ao nosso coração (de pedra) e substituí-lo pelo Coração de Jesus, coração de carne, coração novo prometido em Ezequiel, que nos foi oferecido quando da instituição da Nova Aliança, na Páscoa de Cristo. Aceitemos esse Coração, e deixemo-lo viver em nós.

Oratio
Dá-nos, Senhor, um coração novo à imagem do Teu Coração e, no mais íntimo de nós mesmos, infunde um espírito novo que nos mantenha efectivamente abertos a Deus nosso Pai, acolhendo e correspondendo ao seu amor, e disponíveis para o serviço dos nossos irmãos, que queremos amar como Tu nos amas e os amas a eles. Torna-nos instrumentos de salvação, dá-nos ardor, dá-nos força e coragem para que, com tudo aquilo que temos e somos, possamos colaborar na salvação do mundo, ateando em todos os corações o amor com que nos amas, para que todos Te amem e dêem glória ao Pai. Ámen.

Contemplatio

Bem-aventurados os que amam com o amor que foram beber ao Coração de Jesus. Nesta fonte, nesta escola, vamos encontrar todos os recursos do amor: a palavra consoladora para a alma que sofre, a palavra de encorajamento para a alma abatida ou perturbada, o sorriso do perdão para a alma culpada. O coração que ama gosta de fazer a esmola de um sorriso, de proporcionar às almas um pouco de alegria e de bondade. Sejamos como um raio de sol de primavera, entre as contrariedades, os sofrimentos, as mil mágoas da vida, que afligem os nossos irmãos; como um raio que ilumina, que aquece, que dissipa as nuvens, que alegra o pobre, o doente, o abandonado. A alma que ama penetra tudo com a sua beneficente influência: é uma força, um poder, nada lhe resiste; possui a terra, ganhando o coração daqueles que a envolvem para os levar a Deus. É um apóstolo! Com o amor e a doçura tornamo-nos melhores. Quantas almas de esposos, de irmãos, de pais, devem a sua salvação à inalterável e paciente doçura de uma companheira, de uma irmã, de uma filha! Quantas almas desencaminhadas foram ganhas pelo amor de uma alma fraterna e amiga! (cf. Pe. Dehon, OSP 4, p. 607s.).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Amarás o Senhor, teu Deus, 
e o teu próximo como a ti mesmo» (cf. Mc 12, 30-31).

...serão como anjos no Céu-Dehonianos

03/06/2015

S. Bonifácio Tempo Comum - Anos Ímpares - IX Semana - Quarta-feira

Lectio
Primeira leitura: Tobite 3, 1-11 a. 16-17 a.
Naqueles dias, eu, Tobite, 1entristeci-me, chorei, e com aflição orei, dizendo: 2«Tu és justo, Senhor! Todas as tuas obras são justas e todos os teus caminhos são misericórdia e verdade; Tu és o juiz do mundo. 3Agora, Senhor, recorda-te de mim, olha para mim. Não me castigues, por causa dos meus pecados e dos meus erros, nem pelos pecados que os meus pais cometeram contra ti. 4Violando os teus mandamentos, nós pecámos diante de ti. Por isso, Tu permitiste que nos roubassem os nossos bens e abandonaste-nos ao cativeiro e à morte. Fizeste de nós objecto de escárnio e injúria de todos os gentios, entre os quais nos dispersaste. 5Agora, trata-me segundo as minhas culpas e as culpas dos meus pais, porque todos os teus juízos são verdadeiros e porque nós não observámos os teus mandamentos, e não caminhámos diante de ti na verdade. 6Assim, faz comigo o que quiseres. Dá ordem para que a minha vida me seja tirada, de forma que eu desapareça da face da terra e me converta em pó; porque para mim é melhor morrer do que viver, pois tive de ouvir ultrajes e mentiras, e uma grande tristeza me acabrunha. Senhor, permite que eu seja libertado desta angústia, faz-me chegar à morada eterna e não afastes de mim, Senhor, a tua face, pois para mim é melhor morrer do que ter sempre diante de mim esta angústia e ter de ouvir os insultos!» 7Naquele mesmo dia, aconteceu que Sara, filha de Raguel, estando em Ecbátana, na Média, teve de ouvir também ela, injúrias de uma das escravas de seu pai. 8Ela fora dada como esposa a sete maridos. Mas Asmodeu, um demónio maligno, matara-os, antes que se pudessem aproximar dela como esposa. Disse-lhe, pois, a serva: «És tu que matas os teus maridos! Já foste dada a sete homens e com nenhum até agora ficaste casada. 9Porque nos espancas por terem morrido os teus maridos? Vai-te embora com eles, e não vejamos de ti nem filho nem filha, por toda a eternidade!» 10Naquele dia, a alma de Sara encheu-se de tristeza e ela pôs-se a chorar. Subiu, então, ao quarto de seu pai, com intenção de se enforcar. Todavia, reflectiu de novo e disse para consigo: «Não posso fazer tal coisa. Poderiam escarnecer de meu pai e dizer-lhe: ‘Tiveste uma filha única, muito querida, e ela enforcou-se, por causa das suas desgraças’. Assim, levaria eu para a região dos mortos a velhice de meu pai, consumida pelo luto. É melhor, então, que não me enforque, mas peça ao Senhor a morte, para que nunca mais ouça insultos em toda a minha vida.» 11Naquele instante, Sara estendeu os braços para a janela e orou. 16Na mesma hora, foi ouvida a oração de ambos na presença da glória de Deus. 17Por isso, foi enviado Rafael para os curar.
Enquanto o justo Tobite sofria em Nínive e invocava o Senhor, em Ecbátana, Sara, filha de Raguel, provada com a morte sucessiva dos seus sete maridos (1, 1-3, 15), ultrapassa a tentação do suicídio, e invoca confiadamente o Senhor. As orações de Tobite e de Sara são muito belas. A oração de Tobite é a prece de um homem banhado em lágrimas e desencorajado, que não enxerga futuro à sua frente, mas que se coloca diante de Deus na sua verdade, porque continua a acreditar na justiça, na misericórdia e na lealdade do Senhor. Na sua aflição, pede a Deus a única coisa que ainda lhe parece possível: a morte. Também Elias fez esse mesmo pedido (1 Rs 19). Mas Deus é capaz de ir mais além daquilo que os homens Lhe pedem. Por isso, não dá a Tobite a morte, mas a vida. Para Deus não há becos sem saída: “A Deus tudo é possível” (Mt 19, 26; Mc 10, 27). 
A oração de Sara é o grito de uma mulher desesperada e insultada, com uma vida sem futuro. Mas também ela não se deixa dominar pelo desespero. Diante do Senhor, banhada em lágrimas, pede para ser libertada da sua desgraça, daquela espécie de maldição que fez com que os sete maridos com quem casou tivessem morrido logo na noite de núpcias. Ao contrário de Tobite, não pede a morte mas a libertação.
As orações de Tobite e de Sara, apesar do aparente desespero, deixam transparecer fé, humildade, conformidade com a vontade de Deus. Deus corresponde aos seus pedidos, enviando o seu anjo para os socorrer. Tudo acaba bem. Mas nem sempre Deus responde deste modo. Muitos santos fizeram experiência do silêncio de Deus, experiência semelhante à de Jesus na Cruz.

Segunda leitura: Marcos 12, 18-27
Naquele tempo, 18vieram ter com Ele os saduceus, que negam a ressurreição, e interrogaram-no: 19«Mestre, Moisés prescreveu-nos que se morrer o irmão de alguém, deixando a mulher e não deixando filhos, seu irmão terá de casar com a viúva para dar descendência ao irmão. 20Ora havia sete irmãos, e o primeiro casou e morreu sem deixar filhos. 21O segundo casou com a viúva e morreu também sem deixar descendência, e o mesmo aconteceu ao terceiro; 22e todos os sete morreram sem deixar descendência. Finalmente, morreu a mulher. 23Na ressurreição, de qual deles será ela mulher? Porque os sete a tiveram por mulher.» 24Disse Jesus: «Não andareis enganados por desconhecer as Escrituras e o poder de Deus? 25Quando ressuscitarem de entre os mortos, nem eles se casarão, nem elas serão dadas em casamento, mas serão como anjos no Céu. 26E acerca de os mortos ressuscitarem, não lestes no livro de Moisés, no episódio da sarça, como Deus lhe falou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob? 27Não é um Deus de mortos, mas de vivos. Andais muito enganados.»
Os saduceus, frios e calculistas, querem desfazer-se de Jesus, que consideram um homem perigoso, mas não perdem a calma. Limitam-se a procurar meter Jesus a ridículo diante do povo, levando até ao absurdo as suas ideias sobre a ressurreição. Jesus aproveita para apresentar correctamente o sentido da vida para além da morte.
No tempo de Jesus, eram várias as posições diante do tema da ressurreição: os saduceus negavam-na; os rabinos fariseus afirmavam-na, mas com uma certa liberdade interpretativa: ressuscitariam só os justos, ou só os Judeus, ou todos os homens, os ressuscitados voltariam à sua corporalidade original, incluindo as enfermidades; os helenistas pagãos, influentes quando Marcos escreve o seu evangelho, preferiam falar da imortalidade do espírito, capaz de sobreviver por si mesmo ao corpo, e de se libertar da prisão. Jesus responde a todos, pondo no centro a verdade do amor de Deus: se Deus ama o homem, não pode abandoná-lo ao poder da morte, mas há-de uni-lo a Si, fonte de vida, tornando-o imortal.
Como será a vida além-túmulo? Para Jesus, será uma vida que escapa aos esquemas do mundo presente: será divina, eterna, comparável à dos anjos, de tal modo que o matrimónio e a reprodução serão supérfluos. Não será um prolongamento desta vida, mas uma existência nova, resultante de uma misteriosa transformação, fruto da fidelidade do Eterno, que envolverá o homem todo, e não só o espírito.

Meditatio
Provavelmente já todos fizemos experiências semelhantes às de Tobite e de Sara: já todos nos encontrámos em situações de grande sofrimento, quase nos limites do que julgamos possível sofrer, sem perdermos a cabeça, sem desesperarmos. Mas, talvez, nem sempre tivemos reacções semelhantes às de Tobite e de Sara. Por vezes, vivemos o sofrimento como algo que nos envolve e sufoca. Então reagimos como peixes fora da água, ou lançados na areia da praia. Gritamos, fazemos perguntas, exigimos respostas. Procuramos saídas, buscando distracções, calmantes e outras drogas, acusando presumíveis culpados da situação. Se nos lembramos de Deus, é para O interrogar, talvez mesmo para O acusar e exigir remédio. Tobite e Sara comportam-se de modo diferente. Observemo-los para aprendermos com eles. Ambos rezam, ambos se abrem a Deus, porque ambos se reconhecem criaturas limitadas e cheias de carências. Dirigem-se a Deus, em primeiro lugar, não para narrar os sofrimentos, mas para O bendizerem, para O adorarem, para manifestarem espanto pela sua grandeza e justiça. Afirmam a esperança e a confiança que os animam diante do Senhor. Confessam os seus pecados. Sabem que Deus tem um coração grande, que é o Deus da vida. Na sua oração não pensam só em si mesmos, mas têm em conta o drama do seu povo exilado. Que belo exemplo para nós, que tantas vezes nos fechamos nos nossos problemas, esquecendo ou não dando a devida atenção aos dos outros.
A oração angustiada de Tobite faz-nos compreender o verdadeiro sentido do evangelho. Faz-nos compreender que a fonte da ressurreição é a oração de Jesus. A ressurreição não é um fenómeno material, um corpo que volta a vida. É um evento de ordem espiritual. Para alcançar a ressurreição, Jesus transformou a sua morte pela oração. A sua ressurreição é fruto da sua paixão, e não o resultado de um qualquer automatismo. Como Tobite e Sara, Jesus mergulhou no sofrimento e na própria morte. O seu coração sentiu fortemente a angústia, levando-o a afundar-se na tristeza: «A minha alma está triste até à morte» (Mc 14, 34; Mt 26, 38). “Na angústia” rezava mais intensamente e o suor tornou-se-lhe como gotas de sangue que banhavam a terra (cf. Lc 22, 44). Teve de transformar a angústia, e a própria morte, pela oração, pela união ao Pai. Teve de lutar na oração para que o caminho da morte se transformasse em caminho de ressurreição e de vida. Jesus lutou contra a morte, não revoltando-se, mas transformando-a em sacrifício, em oferta, em abertura ao Espírito Santo, em acto de obediência filial ao Pai, sabendo que Ele podia transformar a morte em passagem para a vida.
Sabendo que a morte dá sentido à vida, e é a sua síntese, queremos considerá-la em relação ao «nosso carisma profético» (Cst 27), à vida de união «à oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens» (Cst 6). S. Paulo diz-nos que devemos ser conformes a Cristo «na morte com a esperança de alcançar a ressurreição dos mortos» (Fl 3, 10-11).
O Sacerdote do Coração de Jesus, que vive a sua vida «a procurar e a realizar, como o único necessário, uma vida de união à oblação de Cristo» (Cst 26), experimenta a doença, a velhice, como um tempo de «eminente e misteriosa comunhão» à oblação sofredora de Cristo, como um tempo de «disponibilidade pura» e de «pura oblação». Assim se prepara para o supremo acto de oblação, para o último apostolado, o da morte. Que Jesus nos faça penetrar nas profundezas do seu coração para que, também nós, possamos transformar o sofrimento, a “via-sacra” da nossa vida, em caminho de ressurreição.

Oratio
Pai Santo, cuja Palavra é verdade e cujo Amor é vida, Vós nos chamastes em Cristo para sermos santos e imaculados na Caridade. Vós nos atraís, pelo Coração do vosso Filho; nos unis ao seu Amor salvador, numa vida de oblação; nos associais ao mistério da sua Morte e Ressurreição e à acção reparadora que este mistério suscita na Igreja.
Santificai-nos na Verdade. Transformai-nos em Cristo, Servo dos homens, na mansidão do seu Coração. Fazei com que também nós, pelo seu exemplo e pela sua graça, sejamos oferecidos e estejamos disponíveis para anunciar a vossa misericórdia e trabalhar pelo advento do vosso Reino. Ámen.

Contemplatio
A calma na qual se encontra uma alma que escapou ao demónio pode fazer nascer uma segurança perigosa, se não estiver atenta a alimentar com cuidado as intenções sobrenaturais nas quais reside a sua força de resistência. A tentação é às vezes uma prova querida ou permitida por Nosso Senhor para provar a virtude. Foi assim que Tobias foi tentado, porque era agradável a Deus. Mas a maior parte das vezes a origem da tentação e os seus desenvolvimentos vêm da falta de vigilância. Esta tentação é a mais comum e a mais perigosa. Nosso Senhor mandou-nos rezar ao seu Pai para que nos preserve: «Não nos deixeis cair em tentação».
Nosso Senhor advertiu-nos bem: «Vigiai e rezai para que não entreis em tentação». É preciso rezar sempre e nunca desfalecer, disse ainda, porque não sabeis a que hora virá o ladrão (Mt 24, 43). Estas são advertências solenes muitas vezes repetidas pela Sagrada Escritura.
Trata-se da salvação eterna. É para a alma uma questão de vida ou de morte, porque ninguém pode prever as terríveis consequências de uma queda grave e, por mais forte razão, de uma recaída. (Pe. Dehon, OSP 4, p. 347s.).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Senhor, os teus caminhos são misericórdia e verdade!» (Tb 3, 2).

É lícito ou não pagar tributo a César?-Dehonianos

02/06/2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - IX Semana - Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: Tobite 2, 9-14
Eu, Tobite, naquela noite de Pentecostes, depois de ter enterrado o cadáver, lavei-me, entrei no pátio da casa e deitei-me junto do muro, deixando a face descoberta por causa do calor. 10Não sabia que havia pássaros no muro por cima de mim e, tendo os olhos abertos, os pássaros deixaram cair nos meus olhos excremento quente, dando origem a umas manchas brancas. Procurei os médicos para me tratarem. Contudo, quanto mais me aplicavam medicamentos, mais se me cegavam os olhos por causa das escamas, até que perdi totalmente a vista. Fiquei cego quatro anos. Todos os meus irmãos se afligiam por minha causa e Aicar sustentou-me por dois anos, antes de partir para Elimaida. 11Nessa época, Ana, minha mulher, trabalhava em labores femininos, tecendo a lã 12que depois mandava aos patrões recebendo em seguida o pagamento. Ora, no sétimo dia do mês de Distro, cortou o tecido que confeccionara e mandou-o aos que o tinham encomendado; estes pagaram-lhe o preço devido e ainda lhe ofereceram um cabrito pelo tecido. 13Quando o cabrito chegou a casa, começou a balir. Chamei, então, Ana e disse-lhe: «De onde veio este cabrito? Não terá sido furtado? Devolve-o aos seus donos, porque não nos é lícito comer coisa alguma furtada.» 14Disse-me ela: «Foi-me dado de presente, além do meu salário.» Contudo, não acreditando nela, mandei que o devolvesse aos donos, envergonhando-me do seu procedimento. Porém, ela respondeu: «Onde estão as tuas esmolas? Onde estão as tuas boas obras? Aí tens, agora, o resultado».
Apesar de ser fiel à Lei, Tobite nem sempre recebeu de Deus a correspondente recompensa. Foi mesmo submetido a duras provações: tiraram-lhe todos os bens, e o rei procurava dar-lhe a morte. A última grande provação foi a da cegueira, que durou quatro anos, e o sujeitou ao escárnio e às críticas da própria esposa, Ana. É claro o paralelismo com a figura de Job. S. Jerónimo diz que ambos são exemplos de paciência, de humildade e de mansidão, de fé e de temor de Deus no meio das humilhações e abatimentos.
É o que frequentemente acontece com o justo na provação. À dor da desgraça, junta-se a da solidão. E surge a tentação: terá sido inútil ser fiel? Os amigos, que deviam apoiá-lo, também se colocam contra ele. Mas é nestes momentos que se verifica a solidez da fé e a força da paciência. A paciência é a virtude da rocha: pode ser pisada, martelada, mas não se deixa modificar. Assim é a fé de Tobite. Por isso, morrerá em paz e cheio de anos (Tb 11 e 14). O livro de Tobite ainda não conhece a ressurreição dos mortos.

Segunda leitura: Marcos 12, 13-17
Naquele tempo, 13foram enviados a Jesus alguns fariseus e partidários de Herodes, a fim de o apanharem em alguma palavra. 14Aproximando-se, disseram-lhe: «Mestre, sabemos que és sincero, que não te deixas influenciar por ninguém, porque não olhas à condição das pessoas mas ensinas o caminho de Deus, segundo a verdade. Diz-nos, pois: é lícito ou não pagar tributo a César? Devemos pagar ou não?» 15Jesus, conhecendo-lhes a hipocrisia, respondeu: «Porque me tentais? Trazei-me um denário para Eu ver.» 16Trouxeram-lho e Ele perguntou: «De quem é esta imagem e a inscrição?» Responderam: «De César.» 17Jesus disse: «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.» E ficaram admirados com Ele.
Alguns fariseus e partidários de Herodes, que se consideravam nacionalistas, mas colaboravam com os romanos, fingindo sinceridade, fazem a Jesus uma pergunta armadilhada. Queriam embaraçá-lo, tornando-O malvisto pelas autoridades romanas ou pela multidão. Jesus evita a armadilha, e aproveita a ocasião para oferecer um importante critério para a vida cristã: «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus» (v. 17). Deus e César não se opõem, nem se colocam ao mesmo nível. O primado de Deus não retira ao Estado os seus direitos. O cristão deve obedecer a Deus, mas também aos homens. Em qualquer caso, obedece por causa de Deus e não por causa dos homens, porque toda a autoridade humana tem as suas raízes no Eterno. Este princípio está na origem da liberdade de consciência, afasta da idolatria do poder, leva a acolher a soberania da Igreja, mas também a do Estado.
Esta mensagem de liberdade surpreende os adversários de Jesus: «Ficaram admirados com Ele» (v. 17b). A opção a fazer não é entre Deus e César, mas entre Deus e todo o movimento humano, ainda que chamado libertador, ainda que seja o dos zelotas. Os movimentos libertadores, mais tarde ou mais cedo, pretendem tornar-se absolutos. É por isso que o profeta mantém a devida distância, em relação a eles.

Meditatio
Impressiona-nos a atitude de um homem, como Tobite, que, atingido pela cegueira, agradece a Deus: na «desgraça da cegueira que o tinha atingido, Tobite deu graças ao Senhor todos os dias da sua vida». É a atitude do verdadeiro crente na provação: em vez de se escandalizar com Deus, continua a dar-Lhe graças, porque sabe que o Senhor não o abandona e continua a enchê-lo de bens. Quantas vezes vemos à nossa volta pessoas boas que sofrem duramente! Quantas vezes, nós mesmos, mergulhamos na dor! Diante das nossas reacções de murmuração e revolta, diante dos nossos gritos de desânimo e de angústia, diante do vacilar da nossa fé, a resposta de Tobite desconcerta-nos. As suas palavras soam a música de outro mundo: «Deu graças ao Senhor!» Os amigos riem-se dele, a mulher insulta-o, a cegueira incapacita-o, a incompreensão e as mofa dos vizinhos atormentam-no. Mas Tobite bendiz a Deus.
Tobite é figura de Jesus que, na última ceia, antes da sua paixão, bendiz o Pai ao tomar o pão que estava para se tornar seu corpo entregue por nós. Jesus reconheceu na paixão um dom do Pai. Depois de Jesus, cada provação é uma possibilidade, uma ocasião de amor e de união a todos os que sofrem. Por isso, é justo que se dê graças a Deus pelo amor que nos quer comunicar.
A resposta de Jesus à pergunta insidiosa dos fariseus é simultaneamente simples e complexa, podendo explicar-se de várias maneiras. Hoje, sublinho o sentido de coerência que Jesus quer ensinar aos adversários, que apenas procuravam ocasião para o acusar: «Trazei-me um denário para Eu ver», diz Jesus. Trouxeram-lho. Assim mostraram que, eles mesmos, usavam a moeda romana, negociando e obtendo lucros com ela. Estavam, pois, comprometidos com a estrutura criada pelo poder dos pagãos. Por isso, deviam pagar os impostos. Ao recusar o pagamento, faziam-no por motivações religiosas, com pretextos religiosos, ou simplesmente pelo desejo de independência dos romanos. Mas Jesus evidencia-lhes a incoerência. Se aceitam a imagem de César para o que lhes interessa, deverão aceitá-la também para pagar os impostos: «Dai a César o que é de César». Mas logo acrescenta: «Dai a Deus o que é de Deus». O fundamental é dar a Deus o que a Deus pertence. Mas isso não exclui os outros deveres.
Na vida social, na vida civil, nem tudo é lógico e coerente. Os cristãos hão-de ter coragem para recusar situações e leis que não correspondem ao bem dos cidadãos. Mas também hão-de contribuir leal e rectamente para o bem do país e das pessoas, mesmo quando perseguidos. Assim participam na bondade de Deus.

Oratio
Obrigado, Senhor, pelas provações da nossa vida. Ilumina-nos e fortalece-nos com o teu Espírito, para que permaneçamos firmes na fé e na esperança. Quando o sofrimento, a solidão, o peso da vida e o cansaço nos oprimirem, ensina-nos a deixar-nos conduzir e apoiar por Ti, a unir-nos mais fortemente a Ti, sem fazermos perguntas, sem exigirmos explicações. Então, brilhará a tua luz no nosso céu escurecido e ameaçador, então florirá a esperança que não engana, então entoaremos o cântico silencioso de acção de graças a Ti, Deus bom, providente e fiel. Amen.

Contemplatio
Tobite, o pai de Tobias, estava cativo em Nínive. Fiel a Deus, assiste os seus irmãos infelizes, socorre os pobres, visita os doentes, sepulta os mortos. Duras provações o assaltam. Um dia em que tinha adormecido de fadiga junto de um muro, depois das suas corridas de caridade, dejectos caídos de um ninho cegam-no. Os seus familiares insultavam a sua infelicidade como os de Job. Já não tinha a consolação de ir assistir aos seus irmãos infelizes. A penúria fazia-se sentir em sua casa. Queria enviar o seu filho para recuperar um empréstimo em casa de um familiar no país dos Medos, mas era preciso um companheiro para ir tão longe. Tobias, o filho, sai para procurar um guia, e encontra um belo jovem que se oferece para o acompanhar. É o grande arcanjo, velado sob a aparência de um homem. Não somos nós demasiado negligentes para com o nosso anjo da guarda? Pensamos nele, invocamo-lo em todas as nossas dificuldades? (Pe. Dehon, OSP4, p. 389).

Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Bendito seja Deus e bendito o seu grande nome!» (Tb 11, 9).