14 de Julho – Ano B
Para que seus discípulos não desanimem diante das
perseguições, Jesus lembra que também ele encontrou oposição.
As exigências da missão são extremas, podendo incluir a perseguição e a
morte! Hoje, Jesus introduz no seu discurso a expressão «Não temais», que
ocorre 366 vezes na Bíblia. O nosso texto está estruturado sobre a repetição, a
modo de imperativo: “ não tenhais medo”! E depois dá razões pelas quais a
confiança deve sempre vencer. A primeira razão é: ainda que o bem esteja, por
agora, velado, e a astúcia e a virulência do mal pareçam escondê-lo, acontecerá
uma reviravolta completa e veremos, no triunfo de Cristo, a vitória dos que
escolheram praticar o bem. Eis a razão pela qual os discípulos de Jesus são
encorajados à audácia do anúncio. O que recebemos é pequeno como uma luzinha
nas trevas, como um sussurro ao ouvido, mas deve ser dado à plena luz do dia, gritado
sobre os telhados. Inicialmente, o Evangelho era algo de oculto e misterioso,
que era preciso manter em segredo, dado a conhecer a poucos e com as devidas
precauções, para não desencadear a perseguição. Mas chegou o tempo de o dar a
conhecer ao mundo inteiro! O pior que pode acontecer aos missionários do Reino
é a morte do corpo. Mas seria muito pior a morte da alma, a perda da vida. Ora,
só Deus pode tirar a vida. Mas não o faz àqueles que O amam e O temem. Jesus
conclui a sua argumentação com duas imagens muito ternas: a dos pássaros que,
valendo pouco, são amados pelo Pai, e a dos cabelos da cabeça, contados por
Ele. Não há, pois, que temer: Ide: proclamai que o Reino do
Céu está perto! (Mt 10, 7).
O temor de
Deus é uma atitude complexa em que conflui o respeito reverente, a obediência,
a adesão profunda, a adoração, o amor. Foi sentido por muitos profetas e
santos, que fizeram a experiência do encontro com Deus, três vezes santo.
Diante d´Ele, damo-nos conta da nossa condição de criaturas e da impureza da
nossa vida. Já o salmista rezava: «Senhor, nosso Deus, como é admirável o teu
nome em toda a terra! Adorarei a tua majestade, mais alta que os céus… que é o
homem para te lembrares dele, o filho do homem para com ele te preocupares?»
(Sl 8, 2.5). Mas, se nos deixarmos penetrar por esta atitude, também poderemos
ter toda a confiança na sua misericórdia. Jesus une o temor de Deus e a
confiança: «Não se vendem dois pássaros por uma pequena moeda? E nem um deles
cairá por terra sem o consentimento do vosso Pai! … Não temais, pois valeis
mais do que muitos pássaros» (vv. 29.31)
Ambas as
leituras nos falam da experiência de temor na presença de Deus, que Se nos
revela e chama a uma missão. Mas também em ambas as leituras escutamos a
palavra do Senhor que nos diz: «não tenhas medo», «não temais». Aquele que nos
ama, nos chama e nos envia, purifica-nos e está conosco: «Não temas: eu estarei
contigo»; «não temais, eu estarei convosco» (Ex 3, 12; Dt 31, 6; 31, 15; 1 Cr
28, 20; Jr 1, 17; 46, 28; 30, 11). A Virgem Maria também experimentou a sua
condição de criatura limitada e frágil perante a grandeza e poder de Deus, no
dia da Anunciação. Por isso, o Anjo lhe diz: «Não tenhas medo, Maria » (Lc 1,
30).
O medo e a
desconfiança, na relação com Deus, mas também na relação conosco ou com os
outros, paralisam-nos, transformam-nos em escravos. Mas Paulo adverte-nos: «Vós
não recebestes um espírito de escravidão para recair no medo, mas recebestes um
espírito de filhos adotivos, por meio do qual gritamos: “Abbá, Pai!”. O mesmo
Espírito atesta ao nosso espírito que somos filhos de Deus» (Rm 8, 15-16). «Se
vivemos do Espírito, caminhemos segundo o Espírito» (Gl 5, 25). Na relação com
Deus, embora conhecendo os nossos limites e os nossos pecados, temos
consciência de estar perante um Pai, cheio de amor e de misericórdia. No
exercício da missão que nos confia, na sua obra de salvação do mundo, sabemos
que não estamos sós, mas que Ele está connosco.
Senhor purifica os meus lábios, mas purifica,
sobretudo, o meu coração. Quantas vezes alimento pensamentos e desejos, que não
nascem da certeza do teu amor, da vontade de lhe corresponder, da confiança em
Ti. Quantas vezes me deixam dominar pelo temor, quando surgem dificuldades e
problemas no caminho para Ti, ou na missão que me confiaste. Faz-me escutar
novamente a tua palavra: «Não temas; Eu estou contigo!». Purifica-me, Senhor, e
dá-me coragem e confiança para aceitar a purificação! Dá-me agilidade no
combate espiritual contra as paixões, para que deseje e queira, sempre, em
tudo, e somente a tua glória. Assim encontrarei também a paz e a serenidade,
que tornarão mais felizes e plenos os breves dias da minha vida. Amén!
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