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de Julho – Ano B
Após o “discurso da missão” e o envio dos
discípulos ao mundo para continuarem a obra libertadora de Jesus, Mateus coloca
no seu esquema de Evangelho uma seção sobre as reações e as atitudes que as
várias pessoas e grupos tomam frente a Jesus e à sua proposta de “Reino”.
Nos
versículos anteriores ao texto que nos é hoje proposto, Jesus havia dirigido
uma veemente crítica aos habitantes de algumas cidades situadas à volta do lago
de Tiberíades, porque foram testemunhas da sua proposta de salvação e
mantiveram-se indiferentes. Estavam demasiado cheios de si próprios, instalados
nas suas certezas, calcificados nos seus preconceitos e não aceitavam
questionar-se, a fim de abrir o coração à novidade de Deus.
Agora, Jesus
manifesta-se convicto de que essa proposta rejeitada pelos habitantes das
cidades do lago, encontrará acolhimento entre os pobres e marginalizados,
desiludidos com a religião “oficial” e que anseiam pela libertação que Deus tem
para lhes oferecer.
Hoje estamos
diante de duas “sentenças” que, provavelmente, foram pronunciados em ambientes
diversos deste que Mateus nos apresenta.
A primeira sentença é uma oração de louvor que Jesus dirige ao Pai,
porque Ele escondeu estas coisas aos sábios e inteligentes e as
revelou aos pequeninos. Os “sábios e inteligentes” são certamente
esses “fariseus” e “doutores da Lei”, que absolutizavam a Lei, que se
consideravam justos e dignos de salvação porque cumpriam escrupulosamente a
Lei, que não estavam dispostos a deixar pôr em causa esse sistema religioso em
que se tinham instalado e que – na sua perspectiva – lhes garantia
automaticamente a salvação. Os “pequeninos” são os discípulos, os primeiros a
responder positivamente à oferta do “Reino”; e são também esses pobres e
marginalizados, ou seja, os doentes, os publicanos, as mulheres de má vida, o
“povo da terra” que Jesus encontrava todos os dias pelos caminhos da Galiléia,
considerados malditos pela Lei, mas que acolhiam, com alegria e entusiasmo, a
proposta libertadora de Jesus.
A segunda sentença relaciona-se com a anterior e explica o que é que
foi escondido aos “sábios e inteligentes” e revelado aos
“pequeninos”. Trata-se, duma “experiência profunda e íntima” de Deus. Os
“sábios e inteligentes” estavam convencidos de que o conhecimento da Lei lhes
dava o conhecimento de Deus. A Lei era uma espécie de “linha direta” para Deus,
através da qual eles ficavam a conhecer Deus, a sua vontade, os seus projetos
para o mundo a para os homens; por isso, apresentavam-se como detentores da
verdade, representantes legítimos de Deus, capazes de interpretar a vontade e
os planos divinos.
Jesus deixa
claro que quem quiser fazer uma experiência profunda e íntima de Deus tem de
aceitar Jesus e segui-lO. Ele é “o Filho” e só Ele tem uma experiência profunda
de intimidade e de comunhão com o Pai. Quem rejeitar Jesus não poderá
“conhecer” Deus: quando muito, encontrará imagens distorcidas de Deus e
aplicá-las-á depois para julgar o mundo e os homens. Mas quem aceitar Jesus e O
seguir, aprenderá a viver em comunhão com Deus, na obediência total aos seus
projetos e na aceitação incondicional dos seus planos.
Na verdade,
os critérios de Deus são bem estranhos, vistos de cá de baixo, com as lentes do
mundo. Nós, homens, admiramos e incensamos os sábios, os inteligentes, os
intelectuais, os ricos, os poderosos, os bonitos e queremos que sejam eles a
dirigir o mundo, a fazer as leis que nos governam, a ditar a moda ou as idéias,
a definir o que é correto ou não é correto. Mas Deus diz que as coisas
essenciais são muito mais depressa percebidas pelo “pequeninos”: são eles que
estão sempre disponíveis para acolher Deus e os seus valores e para arriscar
nos desafios do “Reino”. Quantas vezes os pobres, os pequenos, os humildes são
ridicularizados, tratados como incapazes, pelos nossos “iluminados” fazedores
de opinião, que tudo sabem e que procuram impor ao mundo e aos outros as suas
visões pessoais e os seus pseudo-valores. A Palavra de Deus ensina: a sabedoria
e a inteligência não garantem a posse da verdade; o que garante a posse da
verdade é ter um coração aberto a Deus e às suas propostas.
Como é que
chegamos a Deus? Como percebemos o seu “rosto”? Como fazemos uma experiência
íntima e profunda de Deus? É através da Filosofia? É através de um discurso
racional coerente? É passando todo o tempo disponível na igreja a mudar as
toalhas dos altares? O Evangelho responde: “conhecemos” Deus através de Jesus.
Jesus é “o Filho” que “conhece” o Pai; só quem segue Jesus e procura viver como
Ele pode chegar à comunhão com o Pai. Há católicos que, por serem Padres como
eu, por terem feito catequese, por irem à missa ao domingo e por fazerem parte
do conselho pastoral da paróquia, acham que conhecem Deus. Atenção: só
“conhece” Deus quem é simples e humilde e está disposto a seguir Jesus no
caminho da entrega a Deus e da doação da vida aos homens. É no seguimento de
Jesus – e só aí – que nos tornamos “filhos” de Deus.
Pai, que a arrogância dos sábios e doutos jamais
contamine meu coração. E, fazendo-me pequenino, que eu esteja em condições de
acolher a Tua revelação na pessoa do Teu Filho Jesus Cristo.
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