ANO C
20º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 20º Domingo do Tempo Comum
20º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 20º Domingo do Tempo Comum
TEMA
A primeira leitura apresenta-nos a figura do profeta Jeremias. O
profeta recebe de Deus uma missão que lhe vai trazer o ódio dos chefes e a
desconfiança do Povo de Jerusalém: anunciar o fim do reino de Judá. Jeremias
vai cumprir a missão que Deus lhe confiou, doa a quem doer. Ele sabe que a
missão profética não é um concurso de popularidade, mas um testemunhar, com
verdade e coerência, os projectos de Deus.
O Evangelho reflecte sobre a missão de Jesus e as suas implicações.
Define a missão de Jesus como um “lançar fogo à terra”, a fim de que
desapareçam o egoísmo, a escravidão, o pecado e nasça o mundo novo – o “Reino”.
A proposta de Jesus trará, no entanto, divisão, pois é uma proposta exigente e
radical, que provocará a oposição de muitos; mas Jesus aceita mesmo enfrentar a
morte, para que se realize o plano do Pai e o mundo novo se torne uma realidade
palpável.
A segunda leitura convida o cristão a correr de forma decidida ao
encontro da vida plena – como os atletas que não olham a esforços para chegar à
meta e alcançar a vitória. Cristo – que nunca cedeu ao mais fácil ou ao mais
agradável, mas enfrentou a morte para realizar o projecto do Pai – deve ser o
modelo que o cristão tem à frente e que orienta a sua caminhada.
LEITURA I – Jer 38,4-6.8-10
Naqueles dias, os ministros disseram ao rei de Judá: «Esse Jeremias
deve morrer,
porque semeia o desânimo entre os combatentes que ficaram na cidade
e também todo o povo com as palavras que diz.
Este homem não procura o bem do povo, mas a sua perdição». O rei
Sedecias respondeu: «Ele está nas vossas mãos; o rei não tem poder para vos
contrariar». Apoderaram-se então de Jeremias
e, por meio de cordas, fizeram-no descer à cisterna do príncipe
Melquias, situada no pátio da guarda.
Na cisterna não havia água, mas apenas lodo, e Jeremias atolou-se
no lodo. Entretanto, Ebed-Melec, o etíope, saiu do palácio e falou ao rei:
«Ó rei, meu senhor, esses homens procederam muito mal tratando
assim o profeta Jeremias:
meteram-no na cisterna, onde vai morrer de fome, pois já não há pão
na cidade».
Então o rei ordenou a Ebed-Melec, o etíope: «Leva daqui contigo
três homens e retira da cisterna o profeta Jeremias, antes que ele morra».
AMBIENTE
A época em que Jeremias exerce a sua missão profética (a partir de
627 e até bem depois da queda de Jerusalém, em 586 a.C) é uma época muito
complicada em termos históricos… Após o reinado de Josias (morto em Meggido em
combate contra os egípcios, em 609 a.C.), o reino de Judá, servido por reis
medíocres, conheceu um período de grande instabilidade. A inconsciência dos
líderes e seu aventureirismo político (que os leva a alianças efémeras e pouco
consistentes com as potências da época) preparam a ruína da nação.
O texto que nos é proposto situa-nos em Jerusalém, durante o
reinado de Sedecias, por volta de 586 a.C.. Algum tempo antes (588 a.C.),
Sedecias, pressionado pelo partido egiptófilo de Jerusalém, negara o tributo
aos babilónios. Na sequência, Nabucodonosor pôs cerco a Jerusalém. Um exército
egípcio, vindo em socorro da cidade, provocou grande euforia; mas Jeremias
apressou-se a avisar que essa euforia não tinha qualquer razão de ser, pois o
cerco iria recomeçar, em condições ainda mais duras. De facto, o exército
babilónio refez o assédio à cidade; e Jeremias, convencido de que tinha chegado
o castigo para o pecado de Judá e de que Deus tinha entregado Jerusalém nas
mãos dos babilónios, aconselhou a não resistência aos invasores e a rendição.
MENSAGEM
Os chefes do partido da resistência (quatro dos nomes desses chefes
são referenciados em Jer 38,1) mobilizam-se para se opor ao discurso derrotista
do profeta e propõem a sua eliminação. Sedecias, o rei, parece hesitante; mas,
prisioneiro do poder dos seus generais, consente que o profeta seja silenciado.
Colocado numa cisterna cheia de lodo e sem nada para comer, Jeremias chega a
correr risco de vida; é um escravo núbio – Ebed-Melec – que morava no palácio
real, que intercede por Jeremias e o salva.
Toda a vida de Jeremias é um arriscar a vida por causa da Palavra
de Deus e da missão profética. De natureza cordial e sensível, Jeremias não foi
feito para o confronto, para a agressão, para a violência das palavras ou dos
gestos… Mas Jahwéh chama-o nessa fase dramática da história de Judá e
confia-lhe a missão de “arrancar e destruir, arruinar e demolir” (Jer 1,10),
predizer desgraças e anunciar violência e morte; e o profeta, assaltado pela
força de Deus, procura concretizar a sua missão com uma força e uma convicção
que nos impressionam. Deus seduziu Jeremias e o profeta pôs-se,
incondicionalmente, ao serviço da Palavra, mesmo que isso tenha significado
violentar a sua própria maneira de ser, viver à margem, afastarse dos
familiares, dos amigos, dos conhecidos, afrontar o ódio dos poderosos.
Jeremias é o protótipo do profeta que dá a sua vida para que a
Palavra de Deus ecoe no mundo e na vida dos homens. Ele não pensa em si, no seu
comodismo, no seu bem-estar, no seu êxito social ou profissional, no seu
triunfo diante da opinião pública; ele pensa, apenas, em anunciar com
fidelidade os projectos de Deus aos homens, a fim de que os homens possam
construir a história na perspectiva de Deus.
Na parte final deste texto, cumpre-se a promessa de Deus, expressa
no relato da vocação de Jeremias: “não tenhas medo, Eu estarei contigo para te
libertar” (Jer 1,8). Através do sentido de justiça e da coragem de um escravo
estrangeiro, Deus intervém e salva Jeremias. Desta forma, mostra-se como Deus
está sempre ao lado daqueles que anunciam fielmente a sua Palavra e como não abandona
os profetas perseguidos e marginalizados pelo mundo e pelos poderosos.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes linhas:
¨ A história de Jeremias não é um caso isolado, mas é, um pouco, a
história de todos aqueles a quem Deus chama a testemunhar, com fidelidade, os
seus projectos e os seus valores. Ser profeta não é um percurso fácil, nem uma
carreira recheada de êxitos humanos, nem um caminho atapetado pelo entusiasmo e
pelas palmas das multidões; mas é um caminho de cruz, de sofrimento, de
incompreensão e, tantas, vezes, de morte. Implica o confronto com a injustiça,
com a alienação, com a opressão, com o poder daqueles que pretendem construir o
mundo sobre valores de egoísmo, de prepotência, de orgulho, de morte. O mundo
de hoje – o mundo de sempre – continua a não saber lidar com a profecia… Basta
pensar em D. Óscar Romero, em Gandhi, em Martin Luther King, ou em tantos
profetas anónimos que, todos os dias, continuam a ser vilipendiados,
insultados, perseguidos, marginalizados, por uma opinião pública que pretende
salvaguardar a sua liberdade construindo o mundo à margem dos valores de Deus.
No entanto, o profeta, convocado e enviado por Deus, pode renunciar à missão e
deixar que o mundo continue a construir-se, alegremente, sobre valores efémeros
que apenas geram sofrimento, escravidão e morte?
¨ A história de Jeremias mostra claramente que, mesmo
incompreendido, humilhado, esmagado, abandonado, o profeta não está só; Deus
está sempre ao seu lado, como presença amiga e reconfortante, como garantia de
que a missão profética não está condenada ao malogro e ao fracasso. A garantia
de Deus (“estarei contigo para te libertar”) deve dar ao profeta a confiança e
a coragem para levar até ao fim a missão que Deus lhe confiou, em benefício dos
homens e do mundo.
¨ Sinto-me profeta, investido por Deus da missão de construir um
mundo de justiça e de paz? Sou coerente com a minha vocação profética e
procuro, com fidelidade, ser testemunha de Deus e dos seus valores? Tenho
consciência – sobretudo nos momentos mais dramáticos – de que não estou
sozinho, e de que Deus luta ao meu lado?
¨ Como são tratados e escutados aqueles que na minha comunidade se
esforçam por tornar realidade os valores do Evangelho e que dão um testemunho
coerente e sincero daquilo em que acreditam?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 39 (40)
Refrão: Senhor, socorrei-me sem demora.
Esperei no Senhor com toda a confiança e Ele atendeu-me. Ouviu o
meu clamor e retirou-me do abismo e do lamaçal, assentou os meus pés na rocha e
firmou os meus passos.
Pôs em meus lábios um cântico novo, um hino de louvor ao nosso
Deus. Vendo isto, muitos hão-de temer e pôr a sua confiança no Senhor.
Eu sou pobre e infeliz:
Senhor, cuidai de mim.
Sois o meu protector e libertador: ó meu Deus, não tardeis.
LEITURA II – Heb 12,1-4
Irmãos:
Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas, ponhamos
de parte todo o fardo e pecado que nos cerca e corramos com perseverança para o
combate
que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, guia da
nossa fé e autor da sua perfeição. Renunciando à alegria que tinha ao seu
alcance, Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia, e está sentado à
direita do trono de Deus. Pensai
n’Aquele que
suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos
deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue, na
luta contra o pecado.
AMBIENTE
A Carta aos Hebreus dirige-se a cristãos (de origem judaica ou que,
ao menos, estavam bastante marcados pelo influxo cultural dos judeo-cristãos)
em situação difícil, que vivem mergulhados num ambiente hostil e que sofrem a
forte oposição dos seus concidadãos. Por isso, são também cristãos expostos ao
desalento e ao desânimo, na sua fé e na sua vida cristã… Alguns dados da carta
sugerem também que se trata de cristãos cansados, sem o entusiasmo dos inícios
e instalados no comodismo e na mediocridade. Há, ainda, referências à cedência
a doutrinas estranhas, pouco consentâneas com a fé original, recebida dos
apóstolos.
O texto que nos é proposto pertence à quarta parte da carta (cf.
Heb 11,1-12,13). Aí, temos um apelo à fé e à constância ou perseverança – o que
se entende perfeitamente, no contexto em que estes cristãos vivem.
MENSAGEM
Nos versículos anteriores (cf. Heb 11,1-40), o autor apresentou uma
galeria de figuras – desde Abraão a Moisés – que, pela firmeza e fortaleza da
sua fé, tiveram êxito e deixaram uma memória imorredoira, apesar das
dificuldades que tiveram de vencer; agora, o autor da carta convida os cristãos
a imitar tais exemplos e a perseverar na fé. Em concreto, os quatro versículos
que a leitura nos apresenta contêm uma exortação à constância ou perseverança.
A exortação começa com a imagem (clássica, na catequese cristã dos primeiros
tempos – veja-se 1 Cor 9,24-27; Ga 2,2; Flp 2,16; 3,1314; 2 Tim 2,5) da corrida
(vers. 1): os cristãos devem ser como atletas que correm de forma decidida e
empenhada e que dão provas de coragem, de força, de vontade de vencer; as
figuras antes nomeadas como modelos de fé são os espectadores que, nas bancadas
do estádio, observam e animam o esforço e a perseverança dos crentes… Para que
nada atrapalhe essa “corrida” para a vitória, os cristãos devem despojar-se do
fardo do pecado (o egoísmo, o comodismo, a auto-suficiência), pois esse peso
acrescido será um obstáculo que impedirá o atleta de chegar vitorioso à meta.
Nessa “corrida”, o modelo fundamental do crente é Cristo (vers. 2). Ele,
renunciando a um caminho de facilidade e de triunfo humano, enfrentou a cruz e
venceu a morte; como resultado, foi exaltado e “sentou-Se à direita do trono de
Deus”. Dessa forma, Ele abriu para os crentes o caminho e mostrou-lhes como
proceder. O seu exemplo deve estimular continuamente os cristãos na sua
caminhada em direcção à vitória (vers. 3).
ACTUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, as seguintes linhas:
¨ O caminho do cristão não é um passeio fácil e descomprometido,
mas um caminho duro e difícil, que não se compadece com “meias tintas” nem com
compromissos mornos e a “meio gás”. Exige coragem para vencer os obstáculos,
capacidade de luta para enfrentar a oposição, compromissos profundos e
radicais. Muitas vezes, os obstáculos que é preciso vencer resultam de factores
internos: a nossa preguiça, o nosso egoísmo, o nosso comodismo desarmam a nossa
vontade de vivermos, com coerência, a nossa fé e as exigências do Evangelho;
outras vezes, os obstáculos que temos de enfrentar resultam de factores
externos: são os ataques injustificados e irracionais, os insultos, a
incompreensão de um mundo que cultiva o comodismo e a facilidade e que, tantas
vezes, se sente incomodado com o testemunho dos profetas… Quais são os
principais obstáculos que eu tenho de vencer para viver, com fidelidade e
coerência, a minha fé? Como é que eu respondo a essas dificuldades: com coragem
e decisão ou com cedências e facilidades?
¨ O cristão é convidado a não perder de vista o exemplo de Cristo.
Apesar da tentação, ele nunca cedeu ao mais fácil, ao mais cómodo, ao mais
agradável… Para ele, o critério fundamental era o plano do Pai; e o caminho do
Pai passava pelo amor radical, pelo dom da vida, pela cruz. No entanto, ele
demonstrou que o caminho da entrega da vida não conduz ao fracasso, mas à vida
plena… É este o quadro que o cristão deve ter sempre diante dos olhos.
ALELUIA – Jo 10,27 Aleluia. Aleluia.
As minhas ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as
minhas ovelhas e elas seguem-Me.
EVANGELHO – Lc 12,49-53
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se
acenda? Tenho de receber um baptismo e estou ansioso até que ele se realize.
Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra?
Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora,
estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três.
Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a
mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora
contra a sogra».
AMBIENTE
Os “ditos” que o Evangelho de hoje nos apresenta são dos textos
mais obscuros e difíceis de interpretar de todo o Novo Testamento. Particular
dificuldade oferece o vers. 49, formado com palavras estranhas ao vocabulário
de Lucas. Poderia ser um “dito” independente, recolhido por Lucas…
Desconhecendo-se o contexto primitivo deste “dito” e as circunstâncias em que
Jesus o pronunciou, é impossível determinar o seu significado e saber qual o
“fogo” de que Jesus falava.
De qualquer forma, Lucas apresenta este material no contexto do
“caminho para Jerusalém” – esse caminho que conduz Jesus ao dom total da vida.
No horizonte próximo está, cada vez mais, o confronto final com a instituição
judaica e a morte na cruz. Na perspectiva de Lucas, estes “ditos” fazem parte
da catequese que prepara os discípulos para entender a missão de Jesus, a
radicalidade do “Reino” e as exigências que daí brotam para quem adere às
propostas de Jesus.
MENSAGEM
A caminho de Jerusalém e da cruz, Jesus dá aos discípulos algumas
indicações para entender a missão que o Pai Lhe confiou (missão que os
discípulos devem, aliás, continuar nos mesmos moldes). O texto divide-se em
duas partes:
Na primeira parte (vers. 49-50), entrelaçam-se os temas do fogo e
do baptismo. Jesus começa por dizer que veio trazer o fogo à terra. Que quer
isto dizer?
O “fogo” possui um significado simbólico complexo… No Antigo
Testamento começa por ser um elemento teofânico (cf. Ex 3,2; 19,18; Dt 4,12;
5,4.22.23; 2 Re 2,11), usado para representar a santidade divina. A
manifestação do divino provoca no homem, simultaneamente, atracção e temor;
ora, explorando a relação entre o fogo e o temor que Deus inspira, a catequese
de Israel vai fazer do fogo um símbolo da intransigência de Deus em relação ao
pecado… Por isso, os profetas usam a imagem do fogo para anunciar e descrever a
ira de Deus (cf. Am 1,4; 2,5). O fogo aparece, assim, como imagem privilegiada
para pintar o quadro do castigo das nações pecadoras (cf. Is 30,27.30.33) e do
próprio Israel. No entanto, ao mesmo tempo que castiga, o fogo também faz
desaparecer o pecado (cf. Is 9,17-18; Jer 15,14; 17,4.27): o fogo aparece,
assim, como elemento de purificação e transformação (cf. Is 6,6; Ben Sira 2,5;
Dan 3). Na literatura apocalíptica, o fogo é a imagem do juízo escatológico (Is
66,15-16): o “dia de Jahwéh” é como o fogo do fundidor (cf. Mal 3,2); será um
dia, ardente como uma fornalha, em que os arrogantes e os maus arderão como
palha (cf. Mal 3,19) e em que a terra inteira será devorada pelo fogo do zelo
de Deus (cf. Sof 1,18; 3,8). Desse fogo devorador do pecado, purificador e
transformador, nascerá o mundo novo, sem pecado, de justiça e de paz sem fim.
O símbolo do fogo, posto na boca de Jesus, deve ser entendido neste
enquadramento. Jesus veio revelar aos homens a santidade de Deus; a sua
proposta destina-se a destruir o egoísmo, a injustiça, a opressão que desfeiam
o mundo, a fim de que surja, das cinzas desse mundo velho, o mundo novo de
amor, de partilha, de fraternidade, de justiça. Como é que isso vai acontecer?
Através da Palavra e da acção de Jesus, certamente; mas Lucas estará,
especialmente a pensar no Espírito enviado por Jesus aos discípulos – e que
Lucas vai, aliás, representar através da imagem das línguas de fogo.
Quanto à imagem do baptismo: ela refere-se, certamente, à morte de
Jesus (cf. Mc
10,38, onde Jesus pergunta a João e Tiago se estão dispostos a
beber do cálice que Ele vai beber e a receber o baptismo que Ele vai receber).
Para que o “fogo” transformador e purificador se manifeste, é necessário que
Jesus faça da sua vida um dom de amor, até à cruz. Só então nascerá o mundo
novo.
Na segunda parte (vers. 51-53), Jesus confessa que não veio trazer
a paz, mas a divisão. Lucas deixou expresso, frequentemente, que “a paz” é um
dom messiânico (cf. Lc 2,14.29; 7,50; 8,48; 10,5-6; 11,21; 19,38.42; 24,36) e
que a função do Messias será guiar os passos dos homens “no caminho da paz” (Lc
1,79). Que sentido fará, agora, dizer que Jesus não veio trazer a paz, mas a
divisão?
O “dito” faz, certamente, referência às reacções à pessoa de Jesus
e à proposta que Ele oferece. A proposta de Jesus é questionante,
interpeladora, e não deixa os homens indiferentes. Alguns acolhem-na
positivamente; outros rejeitam-na. Alguns vêem nela uma proposta de libertação;
outros não estão interessados nem em Jesus nem nos valores que Ele propõe… Como
consequência, haverá divisão e desavença, às vezes mesmo dentro da própria
família, a propósito das opções que cada um faz face a Jesus. Este quadro devia
reflectir uma realidade que a comunidade de Lucas conhecia bem…
Jesus veio trazer a paz, mas a paz que é vida plena vivida com
exigência e coerência; essa paz não se faz com “meias tintas”, com meias
verdades, com jogos de equilíbrio que não chateiam ninguém, mas também não
transformam nada. A proposta de Jesus é exigente e radical; assim, não pode
deixar de criar divisão.
ACTUALIZAÇÃO
Reflectir a partir das seguintes questões:
¨ O Evangelho mostra que o objectivo de Jesus não passava por
conservar intacto o que já existia, pactuando com essa paz podre que não
questiona o mal, a injustiça, a escravidão; mas o objectivo de Jesus passava
por “incendiar o mundo”, pondo em causa tudo aquilo que escraviza o homem e o
priva de vida. Como é que eu me situo face a tudo aquilo que põe em causa o
projecto de Deus para o mundo? Como é que eu me situo face a tudo aquilo que
cria opressão, injustiça, medo e morte? Com o conformismo e a indiferença de
quem, acima de tudo, não está para se chatear com coisas que não lhe dizem
directamente respeito, ou com a coragem e o empenho de quem se sente profeta e
enviado de Deus a construir o novo céu e a nova terra?
¨ O “fogo” que Jesus veio atear – fogo purificador e transformador
– já atingiu o meu coração e já transformou a minha vida? Animado pelo Espírito
de Jesus ressuscitado, eu já renunciei, de verdade, à vida de egoísmo, de
fechamento em mim próprio, de comodismo, para fazer da minha vida um
compromisso com o “Reino”, se necessário até ao dom da vida?
¨ A proposta de Jesus não passa pela manutenção de uma paz podre,
que não questiona nem incomoda ninguém, mas por opções radicais, que interpelam
e que obrigam a decisões arriscadas. No entanto, a Igreja de Jesus aceita
muitas vezes abençoar as ideologias que escravizam e oprimem, para manter uma
certa paz social (a paz dos cemitérios?), para “defender a civilização cristã”
(como se pudessem ser cristãos aqueles que constroem máquinas de injustiça e de
morte) ou para manter determinados privilégios. Quando isto acontece (e tão
acontecido demasiadas vezes, ao longo da história), a Igreja estará a ser fiel
a esse Jesus, que veio lançar o fogo à terra e que não veio trazer a paz, mas a
divisão?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 20º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 20º Domingo do Tempo Comum,
procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma
leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação
comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo
de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a
semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
BILHETE DE EVANGELHO.
Jesus era um apaixonado de Deus, seu Pai, e dos homens, seus
irmãos. Como qualquer apaixonado, vem abrasar os que estão à sua volta com o
fogo da sua paixão: as suas palavras aquecem, os seus gestos queimam, o seu
projecto de mundo novo destrói o mundo antigo. Então, Ele gostaria tudo se
iluminasse, que tudo se abrasasse, que tudo aquecesse. Porém, Ele encontra o
tédio; alguns gostariam de apagar este fogo mesmo antes de ser acendido. O
baptismo de que fala é a sua Passagem, a sua Páscoa, este momento em que dará a
maior prova do seu amor. Alguns gostariam de O impedir de falar ou de agir, mas
Ele prosseguirá o seu caminho, este caminho que o levará ao calvário. Então,
compreendemos quanto lhe custa esperar para dizer e manifestar até onde pode ir
o Amor de Deus pela humanidade…
ESCUTA DA PALAVRA.
Como é estranho este Jesus, cuja missão consiste em fazer a paz e
em reconciliar os homens com Deus e entre eles, este Jesus que dirá aos seus
apóstolos “deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz” e que, aparecendo aos seus
discípulos na tarde de Páscoa, dir-lhes-á: “Paz para todos”. E eis que hoje Ele
declara: “Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que
vim trazer a divisão”. Reconheçamos, primeiro, que Jesus não pensava
necessariamente segundo a lógica cartesiana. A sua mentalidade semítica
ignorava certas “nuances”, não tinha receio daquilo que nós chamamos
contradições. Na realidade, tal maneira de falar obriga-nos a ultrapassar as
aparentes contradições, a encontrar o “ponto nodal” do nosso pensamento.
Segundo os homens, a paz pode ser um equilíbrio do medo, ou uma ordem que o
mais forte impõe ao mais fraco (“pax romana”, imposta pelas armas romanas), ou
ainda a paz dos cemitérios. Ela pode ser também a obra da justiça e esta paz já
é bem mais difícil de realizar. Quando fala de paz, Jesus precisa que não é a
paz como a compreendemos muitas vezes. A sua paz, não a dá como o mundo a dá.
Ultrapassa os critérios humanos. A sua paz é, a realidade, o fruto do amor, mas
de um amor desconcertante pelas suas exigências: “amai os vossos inimigos”. O
amor que Jesus nos veio revelar e dar é o amor do Pai. Na medida em que
aceitamos ir até aí, podemos entrever a paz segundo Jesus. Dito de outro modo,
diante de Jesus, é preciso escolher: ou acolher o seu amor que faz saltar todas
as nossas estreitezas, ou fecharmo-nos em nós mesmos pelo egoísmo ou pela
indiferença. Na realidade, Jesus vem pôr a nu o nosso coração. Escolher por ou
contra Jesus: inevitavelmente, surgirão conflitos. O fogo que Jesus traz à
terra é o fogo do amor que desmascara as nossas recusas e, ao mesmo tempo, as
purifica.
ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística da Reconciliação nº 2.
PALAVRA PARA O CAMINHO
Deus, meu libertador. Com a confiança do salmista, podemos pedir
esta semana a Deus para nos ajudar a libertar de tudo aquilo que entrava a
nossa liberdade, tudo aquilo que nos impede de ser simplesmente felizes ao
longo dos dias… A oração do Salmo 39, retomada todos os dias, pode ser um meio…
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehnianos.org – www.dehonianos.org
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehnianos.org – www.dehonianos.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário