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Setembro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXIV Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: 1 Coríntios 15, 1-11
Irmãos: 1Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que vós recebestes,
no qual permaneceis firmes 2e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como
eu vo-lo anunciei; de outro modo, teríeis acreditado em vão. 3Transmiti-vos, em
primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados,
segundo as Escrituras; 4foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras; 5apareceu a Cefas e depois aos Doze. 6Em seguida, apareceu a mais
de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive,
enquanto alguns já morreram. 7Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os
Apóstolos. 8Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto. 9É que
eu sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado Apóstolo, porque
persegui a Igreja de Deus. 10Mas, pela graça de Deus, sou o que sou e a graça
que me foi concedida, não foi estéril. Pelo contrário, tenho trabalhado mais do
que todos eles: não eu, mas a graça de Deus que está comigo. 11Portanto, tanto
eu como eles, assim é que pregamos e assim também acreditastes.
Parece que circulavam, entre os cristãos de Corinto, dúvidas acerca da verdade
da ressurreição de Cristo, o que punha em causa a integridade da fé e a unidade
da Igreja. Paulo intervém decididamente O evento da ressurreição é objecto do
testemunho apostólico: são muitos, e dignos de fé, aqueles que viram o sepulcro
vazio e o Senhor Ressuscitado. O próprio Paulo fez experiência do Ressuscitado
e, por isso afirma: «pela graça de Deus sou o que sou» (v. 10). O evento da
ressurreição de Jesus entrou na pregação apostólica. A partir dele os
Apóstolos, não só aderiram à novidade de Cristo com todas as forças, mas
fizeram dele sua tarefa missionária. Se Cristo não tivesse ressuscitado, seria
vã a sua pregação e o seu trabalho, como afirma o Apóstolo. O mesmo evento da
ressurreição de Cristo é objecto directo e imediato da fé dos primeiros
cristãos: se Cristo não tivesse ressuscitado, seria vã a nossa fé - afirma
Paulo - e nós seríamos os mais infelizes do mundo: infelizes porque enganados e
iludidos. É, pois, claro que, ao serviço desta verdade fundante do
cristianismo, não está só a tradição apostólica, mas também o testemunho da
comunidade crente e de todo o verdadeiro discípulo de Jesus.
Evangelho: Lucas 7, 36-50
Naquele tempo, 36Um fariseu convidou Jesus para comer consigo. Entrou em casa
do fariseu, e pôs-se à mesa. 37Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como
pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco
de alabastro com perfume. 38Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a
banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os,
ungindo-os com perfume. 39Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para
consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a
mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!» 40Então, Jesus disse-lhe:
«Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» - respondeu ele. 41«Um
prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro
cinquenta. 42Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará
mais?» 43Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus
disse-lhe: «Julgaste bem.» 44E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês
esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém,
banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. 45Não
me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés.
46Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. 47Por
isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou;
mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» 48Depois, disse à mulher: «Os
teus pecados estão perdoados.» 49Começaram, então, os convivas a dizer entre
si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» 50E Jesus disse à mulher: «A tua
fé te salvou. Vai em paz.»
No evangelho de hoje, cruzam-se dois temas de fundo: em tom polémico, a
oposição de Jesus a um fariseu; em tom de proposta, a relação entre Jesus e a
pecadora. Mas, observando melhor, vemos que os dois temas se cruzam e se
iluminam mutuamente. Ao fariseu, Jesus quer ensinar que uma pessoa não se
considera só a partir do exterior, ou das suas experiências passadas. Uma
mulher, notoriamente pecadora, é sempre capaz de tomar um novo rumo. Precisa
apenas de encontrar irmãos, não hipercríticos e invejosos, mas alguém que a
compreenda e redima. Jesus veio para isso! À mulher, Jesus quer ajudar a
compreender que a vida vale, não pela soma das experiências passadas, ainda por
cima negativas e deletérias, mas pelo encontro central e decisivo com a Sua
pessoa, que não é só capaz de compreender e de perdoar, mas também de resgatar
e de renovar. Foi para isso que Ele veio!
A nós, destinatários do Evangelho, Jesus quer fazer-nos compreender que é a fé
que nos salva: a fé n´Ele, verdadeiro homem, amigos dos homens, sobretudo dos
pecadores, e verdadeiro Deus, feito homem, feito amigo dos publicanos, dos
pecadores e das meretrizes, Deus capaz de remeter todos os nossos pecados, um
Deus com uma palavra consoladora e eficaz para cada um de nós: «A tua fé salvou
te. Vai em paz.» (v. 50).
Meditatio
Vamos hoje dar particular atenção à primeira leitura. Mas não podemos deixar de
sublinhar a fé da mulher de que nos fala o evangelho. É uma fé viva na
misericórdia de Deus. O próprio Jesus a sublinha: «A tua fé te salvou. Vai em
paz» (v. 50). São muitos os obstáculos entre esta pobre mulher e Deus. Mas,
graças à sua fé, Jesus pode destruí-los e devolver-lhe a paz!
Paulo recorda o núcleo central da fé da Igreja, a Ressurreição de Jesus, que
alguns pareciam estar a pôr em causa, em Corinto. Se a Eucaristia é o centro da
fé cristã, a Ressurreição de Jesus é o culminar da vida de Jesus e de toda a
história da salvação e, portanto, também do nosso caminho de fé. Na verdade,
para usar as palavras do próprio Apóstolo, se tal evento fosse irreal, cairiam
por terra o testemunho apostólico e a nossa fé. Para aprofundar esta verdade,
podemos realçar algumas expressões da página paulina.
A ressurreição é, antes de mais, um evangelho, uma alegre notícia, porque nela
se manifesta, de modo estrondoso, o poder de Deus para salvação da humanidade.
Esta boa notícia destina-se a tornar bela a nossa história pessoal e
comunitária, e a difundir beleza e ha
rmonia no próprio universo. A ressurreição é o ponto de chegada da vida de
Jesus, e o ponto de partida da história da Igreja: é cume e fonte! Nela se
enxerta a história de Cristo e a história da Igreja, criando entre elas uma
unidade indissolúvel. Não acreditamos, pois, numa verdade abstracta, mas num
evento histórico que nos envolve pessoalmente, comunitariamente. O evento da
ressurreição de Jesus é também uma promessa, porque abre permanentemente, para
todo o homem e para toda a mulher de boa vontade, uma perspectiva de novidade
de vida e de renovação da história. Sob este aspecto, a ressurreição de Jesus
pode ser considerada também como um evento incompleto enquanto nós próprios não
ressuscitarmos.
De acordo com as nossas Constituições, é na Eucaristia que nós, dehonianos,
haurimos a inspiração e a força para anunciar a Boa Nova da Ressurreição de
Cristo, para sermos testemunho de esperança entre os homens (cf. Cst. 81). É a
Eucaristia, celebrada e adorada, que nos impele a lançar-nos «incessantemente,
pelos caminhos do mundo ao serviço do Evangelho» (Cst. 82), para sermos
testemunhas e arautos da misericórdia e do amor de Deus, «para a reconciliação
dos homens com Deus» (Cst. 83) e «para promover a unidade dos cristãos e de
todos os homens» (Cst. 84).
Oratio
Senhor, a pecadora alerta-nos, de forma forte e discreta, para um amor
incondicional. Perdoaste-lhe os pecados gratuitamente, ensinando-nos a lógica
do dom, sem razões nem interesses. É bonito dar, mas, sobretudo, dar-se!
Senhor, é eterna a tua misericórdia!
Perdoaste muito à pecadora apenas porque ela confiou no teu amor, e ignoraste a
lógica do perdão, que avalia cada um pelo dom que é. É bonito doar, mas é
bonito, sobretudo, perdoar. Senhor, é eterna a tua misericórdia!
Ofereceste à pecadora a tua paz, porque, com fé, acreditou em Ti, ensinando-nos
a lógica do abandono, que oferece compaixão a quem confia. É bonito abandonar o
supérfluo, mas é bonito, sobretudo, abandonar-se a Ti! Senhor, é eterna a tua
misericórdia! Amen.
Contemplatio
Que misericórdia o Coração sacerdotal de Jesus mostrou também pela mulher
adúltera! Ela é acusada, conforme a lei. Jesus afasta habilmente os seus
acusadores, depois diz-lhe: «Não há mais ninguém para te condenar, Eu também
não te condenarei. Vai, mas renuncia ao pecado».
Em todas estas circunstâncias, Jesus antecipava-nos no confessionário.
E Madalena? Era uma grande pecadora, conhecida em toda a região pelas suas
desordens e pelos seus escândalos. Foi ganha pela bondade de Jesus. Foi liberta
de sete demónios. Vai sem respeito humano fazer um acto público de humildade em
casa de Simão, o fariseu.
Abraça os pés de Jesus. O celeste médico lança um olhar de compaixão nesta alma
doente. Perdoa a esta penitente, que se tornará o modelo ideal do
arrependimento e da gratidão.
Ó Padres, como o nosso ministério junto dos pecadores é delicado! Como é
preciso ser bom, zeloso e dedicado para os reconduzir a Jesus Cristo! (Leão
Dehon, OSP 2, p. 563).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Cristo morreu pelos nossos pecados, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro
dia, segundo as Escrituras» (1 Cor 15, 3ss.).
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
ResponderExcluirDEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.