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Setembro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXVI Semana - Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Job 9, 1-12.14-16
1Job tomou a palavra e respondeu aos seus amigos: 2«Na verdade, eu sei que é
assim: Como poderia o homem justificar-se diante de Deus? 3Se quisesse discutir
com Ele, não lhe responderia uma vez entre mil. 4Quem é sábio de coração, forte
e poderoso para lhe poder resistir impunemente? 5Ele desloca os montes, sem se
dar por isso, e desmorona-os na sua cólera. 6Ele sacode a terra do seu lugar, e
abala-lhe as colunas. 7Ordena ao sol e o sol não nasce, e guarda as estrelas
fechadas com o selo. 8Ele sozinho formou a extensão dos céus e caminha sobre as
ondas do mar. 9Ele criou a Ursa Maior, o Orion, as Plêiades e os segredos do
céu austral. 10Ele fez grandes e insondáveis maravilhas, prodígios
incalculáveis. 11Passa diante de mim e eu não o vejo, afasta-se de mim e não me
apercebo. 12Se apanha uma presa, quem lha arrebatará? Quem lhe poderá dizer:
'Porque fazes isso?' 14Quem sou eu para lhe replicar e rebuscar argumentos
contra Ele? 15Ainda que tivesse razão não lhe responderia; imploraria
misericórdia para a minha causa. 16Se o chamasse e Ele me respondesse, não
acreditaria que tivesse ouvido a minha voz.
Job responde às palavras de consolação de Bildad de Chua (cf. c. 8) que, tendo
apontado a desproporção entre Deus e o homem, concluíra que não era possível
uma discussão entre eles. A razão está sempre do lado de Deus. Job rebate as
palavras do amigo, elogiando a sabedoria e a omnipotência de Deus que se
contempla na criação. Se Deus é tão grande e inacessível nas suas obras - pensa
Job - mais o será na ordem sobrenatural e moral: «Na verdade, eu sei que é
assim: Como poderia o homem justificar-se diante de Deus?» (vv. 1s.). Depois,
Job volta a lamentar-se da maneira arbitrária e prepotente de Deus na sua
relação com os homens: «Se apanha uma presa, quem lha arrebatará? Quem lhe
poderá dizer: 'Por que fazes isso? '» (v. 13). Para Job, é inútil discutir com
Deus: «Quem sou eu para lhe replicar e rebuscar argumentos contra Ele?» (v. 14).
Job fala como é próprio de um homem que sofre e protesta porque nem consegue
saber o que é ou não justo. Não aceita soluções que sejam simples reduções ao
passado: seria preguiça e facilitismo. Job quer ver claramente. Mas, será isso
possível? A questão continua em aberto, enquanto durar a nossa peregrinação
sobre a terra. Mas, temos a cruz de Cristo e o seu grito ao Pai: «Meu Deus, meu
Deus, porque me abandonaste?» (Mc 15, 33). Ao morrer, Jesus precipita-se no
abismo da maldade humana. Jesus não suprime o sofrimento, mas projecta luz
sobre o seu valor salvífico.
Evangelho: Lucas 9, 57-62
Naquele tempo, 57Enquanto iam a caminho, disse-lhe alguém: «Hei-de seguir-te
para onde quer que fores.» 58Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as
aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.»
59E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro
sepultar o meu pai.» 60Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus
mortos. Quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus.» 61Disse-lhe ainda outro:
«Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha
família.» 62Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão
ao arado, não é apto para o Reino de Deus.»
Como vimos ontem, depois do ministério na Galileia, Jesus tomou a direcção de
Jerusalém. Não se trata só de mudança de caminho em sentido topográfico, mas
também em sentido teológico e místico. Este novo caminho culminará na morte
ressurreição de Jesus. É uma perspectiva paradigmática também para os
discípulos. A vida cristã passa necessariamente por um encontro com Cristo no
Calvário. Não basta contemplar a glória de Cristo; é preciso fixar o nosso
olhar também na cruz, onde Cristo atingiu perfeição e chegou à glória (cf. Heb
5, 8s.)
Os diálogos referidos no evangelho dizem-nos que, além dos Doze, havia outros
que queriam seguir Jesus, ainda que não soubessem claramente o que isso
significava. As exigências do seguimento de Cristo só se tornaram claras depois
da Páscoa. Lucas não nos diz quem são os três interlocutores. Mateus diz-nos
que um era um escriba e outro, um discípulo (8, 19.21). Em Lucas, os três
retraem-se atemorizados pela "nudez" exigida por Jesus a quem O quer
seguir. O primeiro apresentou-se por sua iniciativa. Jesus mostra-lhe o
esvaziamento que segui-l´O significa: «o Filho do Homem não tem onde reclinar a
cabeça» (v. 58). O segundo já é discípulo, como nos informa Mateus. Jesus
ordena-lhe que O siga. Mas ele pede licença para ir enterrar o pai. Jesus
responde-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos» (v. 60). Para o
Senhor, está morto tudo o que não seja o Deus vivo (cf. Jo 14, 6). O terceiro
fez um programa que apresenta a Jesus: «Eu vou seguir te, Senhor, mas primeiro
permite que me despeça da minha família» (v. 61). Mas Jesus diz-lhe: «Quem olha
para trás, de¬pois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus»
(v. 62).
Não sabemos como acabaram estes episódios. O evangelho apenas refere o que
Jesus oferece a quem o segue, isto, o caminho da cruz. É preciso coragem!
Meditatio
Job ensina-nos um profundo respeito por Deus. Ninguém pode tentar resistir a
Deus dirigindo-Lhe palavras de crítica, ou de recusa: «Quem lhe poderá dizer:
'Por que fazes isso? ' Quem sou eu para lhe replicar e rebuscar argumentos
contra Ele?». Pelo contrário, temos que confiar-nos a Ele e aceitar a sua
grandeza infinita. Mas o Deus forte de que nos fala o Antigo Testamento fez-se
homem, assumiu a nossa condição mortal e revelou-se no rosto pequeno, frágil e
vulnerável de Jesus.
De facto, no evangelho de hoje, contemplamos Jesus que, agindo com toda a
autoridade de Deus, o faz com uma humildade que nos impressiona. Ao mesmo tempo
que diz: «Segue-me... vai... deixa...», pede-nos para escolhermos corajosamente
uma vida pobre e sofredora semelhante à d´Ele: «As raposas têm tocas e as aves
do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça» (v.
58). Vive a sua autoridade no máximo despojamento, como quem nada possui. Quem
ousaria falar de uma tal autoridade e duma tal humilhação juntas na mesma
Pessoa? Atingimos o coração da fé pedida ao discípulo. Como S. Paulo, podemos
dizer: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10b). Isto
enche-nos de alegria. Todo o avanço no caminho do Espírito depende de uma
renovada adesão à vida de Jesus.
A misteriosa figura do Servo de Javé preparou-nos para o mistério de Cristo.
Para Jesus, o tempo da paixão é o tempo mais puro e
mais perfeito da sua oblação de amor ao Pai pelos homens. É também o tempo em
que melhor se manifesta a Sua total confiança, o seu abandono, a sua
disponibilidade. A oblação de amor de Cristo cresce no silêncio da paixão, até
ao momento culminante do impressionante grito na Cruz: "Meu Deus, Meu
Deus, porque Me abandonaste?" (Mc 15, 34; Mt 27-45), grito que manifesta a
dolorosa experiência da reprovação do pecado pelo Pai, que envolve Cristo por
causa da Sua solidariedade com os pecadores. A humanidade de Cristo é arrasada
pela dilacerante separação de Deus, que o pecado realiza no homem. Mas S. Lucas
também nos recorda o supremo grito de confiança de Jesus, na Cruz: "Pai,
nas Tuas mãos entrego o Meu espírito!" (Lc 23, 46). Esse grito manifesta a
união de amor entre o Pai e o Filho, união que nunca foi quebrada, mesmo nas
horas mais dramáticas, na sua "hora".
A adaptação da grandeza e do poder de Cristo à nossa fraqueza humana, pela
escolha da humildade e da fraqueza, revela-se magnificamente na Eucaristia. Sob
as espécies eucarísticas, Jesus consuma a Sua "Kénosis" ou
aniquilamento. Este despojar-se das prerrogativas divinas, esta humilhação de
Si mesmo, já Cristo a tinha realizado na Sua Incarnação, Paixão e Morte (cf.
Fil 2, 6-8). Todavia esse esvaziamento não retirou à humanidade de Cristo
aquele fascínio que encanta as multidões e atrai discípulos. Da Sua humanidade,
desprende-se a infinita beleza da divindade, ou também a força divina dos Seus
milagres, mesmo que não seja de modo extraordinário, tal como aconteceu na Transfiguração.
A Sua incomensurável caridade, a delicada bondade do Seu coração, manso e
humilde, aberto a todos, aos pequenos e aos grandes, aos ignorantes e aos
dotados, aos pobres e aos ricos deixa entrever a grandeza do Seu Coração, que é
o Coração de Deus.
Oratio
Senhor Jesus, tal como os Apóstolos, também nós imaginamos que seguir-Te é
coisa fácil, inebriante, sem dificuldades nem tropeços. Por isso recusamos o
caminho que nos ofereces e entramos em crise à primeira dificuldade, à primeira
luta.
Quero hoje pedir-te que nos dês sabedoria e força para conhecer os teus
projectos e aderir ao caminho de fé que Tu, com tanto amor, nos apresentas.
Ajuda-nos a compreender bem o que queres de nós. Sabes como temos dificuldade
em compreender a tua ciência de amor. Custa-nos aceitar a cruz e, mais ainda, a
ver nela um sinal do teu amor e da tua presença na nossa vida. Ajuda-nos a não
desistirmos de descobrir nela a presença activa do teu amor. Acende em nós o
desejo de aderirmos a Ti, Senhor Crucificado. E, se também isso for difícil
para nós, ajuda-nos a deixar-nos acolher por Ti, sem duvidarmos do teu infinito
amor. Amen.
Contemplatio
É na meditação dos sofrimentos de Nosso Senhor que havemos de colher sobretudo
as forças necessárias para praticar o abandono nas provações da vida. A
contemplação da sua Paixão desenvolve o amor que lhe temos, e o amor é o meio
de transformar em alegria o que seria amargura.
O desejo de se unir aos sofrimentos de Nosso Senhor adoça as penas que é
possível encontrar-se na imolação de si mesmo. Unimos as nossas penas à sua
imolação do Calvário e é um meio de nos associarmos à sua dolorosa Paixão, no
mesmo espírito no qual se ofereceu, por amor e pela glória de seu Pai e pela
salvação das almas. Esta união de intenção é-lhe muito agradável e o amor com o
qual o fazemos aumenta ainda o preço aos seus olhos. É assim que não temos
verdadeiramente senão um só coração e uma só alma com Ele.
O seu amor será assim por vós o meio de suportar facilmente todas as provações
por onde podereis passar. Aliviar-vos-á, e mesmo transformará em alegria tudo o
que sem Ele seria pena ou amargura.
Alegramo-nos por sermos flagelados com Ele quando lhe oferecemos amorosamente
as mortificações da carne e as humilhações do orgulho. Somos coroados de
espinhos com Ele e comprazemo-nos n'Ele, quando nos unimos amorosamente aos
seus sofrimentos todas as contrariedades que experimentamos. Uma alma avança
com Jesus na via dolorosa do Calvário quando segue, unida a Ele pelo amor, as
vias onde lha agrada fazê-la passar.
Somos pregados na cruz com Ele, quando unimos à sua crucifixão as situações
penosas e dolorosas onde lhe agrada colocar os seus amigos. Agonizamos com Ele
sobre a cruz, quando unimos às suas penas as angústias de uma situação na qual
quer que estejamos.
É preciso aceitar as provações sejam elas quais forem. Não é necessário que
elas se assemelhem fisicamente às suas. Quem quer que seja que O ame passa por
provações. Estas provações, sofremo-las com Ele unindo-nos aos sofrimentos da
sua Paixão. A união de amor identifica de algum modo estes sofrimentos com os
seus, que importa que estas dores não sejam materialmente idênticas às suas!
São-lhe sempre semelhantes, quando são amorosamente aceites e oferecidas em
união com as suas.
Aceitação e abandono, são as duas condições desta vida de união que é animada
por um generoso amor para com Nosso Senhor. (Leão Dehon, OSP 2, p. 81 s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Na tribulação, Senhor, não me escondais o vosso rosto» (cf. Sl 87, 3))
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
ResponderExcluirDEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.