1 Outubro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXVI Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Job 19,
21-27
Job tomou a palavra e disse: 21Compadecei-vos! Compadecei-vos de mim, vós, meus
amigos, porque a mão de Deus me feriu. 22Porque me perseguis como Deus, e vos
mostrais insaciáveis da minha carne? 23Quem me dera que as minhas palavras se
escrevessem e se consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo com estilete
de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre! 25Eu sei que o meu redentor
vive e prevalecerá, por fim, sobre o pó da terra; 26e depois de a minha pele se
desprender da carne, na minha própria carne verei a Deus. 27Eu mesmo o verei,
os meus olhos e não outros o hão-de contemplar! As minhas entranhas consomem-se
dentro de mim. 21Compadecei-vos! Compadecei-vos de mim, vós, meus amigos,
porque a mão de Deus me feriu. 22Porque me perseguis como Deus, e vos mostrais
insaciáveis da minha carne? 23Quem me dera que as minhas palavras se
escrevessem e se consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo com estilete
de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre! 25Eu sei que o meu redentor
vive e prevalecerá, por fim, sobre o pó da terra; 26e depois de a minha pele se
desprender da carne, na minha própria carne verei a Deus. 27Eu mesmo o verei,
os meus olhos e não outros o hão-de contemplar! As minhas entranhas consomem-se
dentro de mim..
O diálogo entre Job e os três amigos chega ao auge no capítulo 19. Os amigos
não se tinham cansado de repetir que as provações que atingiam Job eram prova
evidente das suas culpas diante de Deus. Job, pelo contrário, teimava em
afirmar a sua inocência. O seu maior sofrimento era, agora, resistir às
palavras dos amigos. Sentia-se e dizia-se inocente, mas não conseguia prová-lo,
nem diante de Deus, nem diante dos amigos. Estava completamente extenuado:
«Grito contra essa violência e ninguém responde, levanto a voz e não há quem me
faça justiça. Deus fechou-me o caminho, para eu não passar, e encheu de trevas
as minhas veredas» (19, 7-8).
Então Job pensa escrever a sua defesa para que, um dia, alguém, talvez nós que
lemos as suas palavras, pudesse fazer-lhe justiça: «Quem me dera que as minhas
palavras se escrevessem e se consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo
com estilete de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre!» (v 23 s.). Mas
esta solução não o convence. Então apela para o supremo "vingador"
para que lhe faça justiça: «Eu sei que o meu redentor vive» (v. 35). Depois de
ter insultado a Deus, chama-o "Vingador, Redentor". Nós, que
conhecemos o Evangelho, apelamos para o amor, para a caridade, para Deus
omnipotente, misericordioso, salvador.
Evangelho: Lucas 10, 1-12
1Naquele tempo, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os
dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir.
2Disse-lhes:«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai,
portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe. 3Ide!
Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge,
nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho. 5Em qualquer
casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!' 6E, se lá
houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para
vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador
merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. 8Em qualquer cidade em que
entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que
nela houver e dizei-lhes: 'O Reino de Deus já está próximo de vós.' 10Mas, em
qualquer cidade em que entrardes e não vos receberem, saí à praça pública e
dizei: 11'Até o pó da vossa cidade, que se pegou aos nossos pés, sacudimos,
para vo-lo deixar. No entanto, ficai sabendo que o Reino de Deus já chegou.'»
12«Digo-vos: Naquele dia haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela
cidade.
O sim cordial dos discípulos a Cristo torna-se a força da missão evangélica.
Jesus manda os discípulos a fazer o que Ele mesmo fez. É o que a Igreja
continua, ainda hoje, a fazer. Os Doze são o fundamento da missão da Igreja.
Mas Jesus escolheu ao longo dos séculos, e continua a escolher hoje, muitos
outros. A messe é grande e os operários são poucos. Os 72 de que nos fala o
evangelho anunciam a mensagem do Reino. O número "Doze" evoca as doze
tribos de Israel. O número "Setenta e dois" evoca os 72 povos da
terra elencados em Gn 10. A missão dos discípulos é universal, destinada a toda
a terra. Os Setenta e dois são sinal de todos quantos o Senhor da messe chama
para o anúncio do Evangelho. Trata-se de uma empresa divina, do Reino, que só é
possível realizar com a força de Deus, e não com as simples forças humanas.
O verdadeiro operário do Reino, não é aquele que o anuncia, mas o próprio Jesus
Cristo. É Ele que envia, que toma a palavra, que actua. Mais do que fazer, é
preciso deixar Jesus fazer. O mais importante é ser como Ele, adoptar o seu
estilo, com as suas vicissitudes e os seus frutos - e por isso com alegria.
"Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos» (v. 3). Não há que
lamentar-se sobre as dificuldades da missão. Elas são o sinal do Reino. São
obra do Espírito Santo. Jesus pede aos discípulos que não se preocupem: «Não
vos preocupeis com o que haveis de dizer... Não sois vós a falar, mas é o
Espírito do Pai que falará por vós» (10, 19 s). O Mestre não nos quer ver
ansiosos. A missão é sempre um milagre do Senhor.
Meditatio
A atitude de Job deixa-nos espantados. Depois de falar contra Deus, depois de
ter amaldiçoado o dia em que nasceu, proclama, agora, a sua esperança: «Eu sei
que o meu redentor vive ...Eu mesmo o verei, os meus olhos e não outros o
hão-de contemplar» (vv. 25-27). Primeiro foi a lamentação, o choro diante de
Deus. Agora é o grito de vitória.
Como chegou Job a este acto de fé tão profunda e de esperança em Deus? Como
passou da angústia e do desejo de morrer a esta confiança em Deus? A resposta
é: Job nunca deixou de lutar na oração: adorou, pediu, suplicou. No meio das
maiores tribulações, manteve um diálogo íntimo e profundo com Deus. Lutou no
meio da noite escura. Experimentou a Deus como desumano, como Aquele que leva a
carne e os ossos, como Aquele que rouba mas, por fim, reconheceu-O como o tudo
da sua vida. Do nada, ao tudo. Só nesta noite escura, nesta luta desumana é
possível chegar a Deus. Em Job, verificamos como é espantoso atravessar o nada.
Mas é através da noite que entramos no «mistério da luz infinita».
A oração dos salmos de lamentação confirma esta experiência. O Sl 21 começa com
um grito de desespero: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Como estais
longe da minha oração?...» E termina com um grito de esperança:
«Para Ele viverá a minha alma». Para chegar à ressurreição, é preciso passar
pelo Getsémani. Para entrar na comunhão com Deus, é preciso não afastar-se
d´Ele, continuar na sua presença, qualquer seja a situação, o vale tenebroso
que tenhamos de passar.
. O sofrimento e a provação são tempos privilegiados na vida de vítima (cf. Cst
68). Para além de todo o sentimentalismo devocional, a experiência da dor é
perturbadora e difícil de viver. O próprio Cristo foi perturbado (cf. Lc 7, 13;
Jo 11, 33-34) e profundamente chocado com ela (cf. Mt 26, 37-38; Mc 14, 33-34;
Lc 22, 43-44).
Ao absurdo da dor e da morte, para a razão, a fé responde com um mistério: o de
Cristo crucificado.
A fé não responde ao porquê de cada um dos sofrimentos, mas dá-lhes um sentido,
infunde-lhes uma luz e força, que permitem viver como amor a dura realidade do
sofrimento.
O sofrimento é uma das possíveis realidades da nossa vida. É preciso falar dele
com realismo e com discrição. Às vezes encontram-se pessoas com uma fé
maravilhosa que, embora sofrendo, consolam e dão força a quem as quer consolar.
É real nelas, com simples heroísmo, a «oferta dos sofrimentos suportados com
paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, como eminente e
misteriosa comunhão com os sofrimentos e com a morte de Cristo pela redenção do
mundo» (Cst 24).
Oratio
«Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio
da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em
ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. Eu
dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um. Eu
neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo
reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim» (Jo 17, 20s.).
Senhor Jesus, agradeço-te porque rezaste por mim, que acreditei na palavra dos
teus apóstolos. Que eu me mantenha unido a Ti, confiante na tua oração. Se ela
me tivesse faltado, não estaria certamente aqui, junto de Ti; não poderia
louvar-te, dar-Te graças e dar testemunho de Ti. Que, pelas minhas palavras e
pela minha vida, eu dê testemunho de que estás sempre connosco e não nos
abandonas, que, se lutas connosco, é para Te render e nos abençoar. Graças à
tua oração, posso e quero agora adorar-Te. Obrigado, Senhor!
Contemplatio
As palavras não impotentes para dizer os sofrimentos da Paixão do Salvador. Por
uma inversão das coisas, era Jesus, o justo, que era arrastado pelos culpados
aos tribunais e ao suplício.
Os sofrimentos da sua alma e do seu coração ultrapassavam os do seu corpo. Os
seus apóstolos eram ingratos. O sacerdócio mosaico acabava a sua carreira num
acto de suprema loucura. O povo esquecia os benefícios de Cristo e deixava-se
levar pelos seus ódios brutais.
As bofetadas, os escarros e os insultos tomavam o lugar das honras que eram
devidas à divindade do Salvador.
Os chicotes rasgavam o seu corpo até esgotarem as suas forças. O seu pudor era
ofendido para reparar as nossas imodéstias.
A loucura humana insultava a sua sabedoria revestindo-lhe o manto dos loucos.
Pilatos achincalhava a sua realeza coroando-o de espinhos e cobrindo-a com uma
púrpura de escárnio para o mostrar ao povo.
Como Isaac levava o madeiro do seu sacrifício, mas era para ser aí realmente
sacrificado.
Não havia uma palavra, um passo, um pormenor deste drama que não ferisse todos
os seus sentimentos no mais profundo do seu coração. A justiça, a verdade, a
doçura, a piedade, a modéstia, o reconhecimento, o respeito, tudo o que Ele
ama, era desprezado. Toda a sua alma era partida enquanto o seu corpo era
rasgado pelos chicotes e furado pelos cravos.
As três horas da crucifixão são as da sua suprema dor. Condensou lá todos os
seus sofrimentos para oferecer o preço infinito ao seu Pai. Revia todos os
nossos pecados e assumia a sua expiação. Era rebaixado ao nível dos ladrões,
era despojado de tudo, traído pelos seus amigos e abandonado pelo seu Pai. Todo
o seu corpo era uma chaga e consumava a doação da sua vida por nós. (Leão
Dehon, OSP 2, p. 67).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«O meu Redentor está vivo... Eu mesmo O verei» (cf. Job 19, 25-27)
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
ResponderExcluirDEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.