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Setembro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXVI Semana - Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: Job 3, 1-3.11-17.20-23
1Job abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento. 2Tomou a palavra e
disse: 3«Desapareça o dia em que nascie a noite em que foi dito: 'Foi concebido
um varão!' 11Porque não morri no seio da minha mãe ou não pereci ao sair das
suas entranhas? 12Porque encontrei joelhos que me acolheram e seios que me
amamentaram? 13Estaria agora deitado em paz, dormiria e teria repouso 14com os
reis e os grandes da terra, que constroem mausoléus para si; 15com os príncipes
que amontoam ouro e enchem de dinheiro as suas casas. 16Ou como um aborto
escondido, eu não teria existido, como um feto que não viu a luz do dia. 17Ali,
os maus cessam as suas perversidades, ali, repousam os que esgotaram as suas
forças. 20Por que razão foi dada luz ao infeliz, e vida àqueles para quem só há
amargura? 21Esses esperam a morte que não vem e a procuram mais do que um
tesouro; 22esses saltariam de júbilo e se alegrariam por chegar ao sepulcro.
23Porque vive um homem cujo caminho foi barrado e a quem Deus cerca por todos
os lados?
Depois de atingido por todas as provações, Job permanece sete dias e sete
noites em grande prostração, acompanhado pelos três amigos, todos em silêncio.
Por fim: «Job abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento» (v. 1).
Amaldiçoou o dia em que nasceu e lamentou que não lhe tivesse sido tirada a
vida nesse momento. O sofrimento prolongado pode levar ao desespero. Job
resistiu com docilidade à violência da provação durante sete dias e sete
noites. Não amaldiçoou a Deus nem pediu a morte. Mas, agora, explode em
imprecações e lamentos que não é fácil encontrar na Sagrada Escritura. Encontramos
algo de semelhante em Jeremias (20, 14).
Há neste texto um novo modo de enfrentar o sofrimento. Ele já não é visto
simplesmente como uma prova para a gratuidade da nossa fé, mas como uma
experiência que nos leva a penetrar no mais profundo do abandono, da angústia e
da noite escura do Filho de Deus Crucificado. Encontrar estas expressões na
Sagrada Escritura, portanto como palavra revelada, dá-nos consolação. Deus
aceita quem, na obscuridade e na desolação da prova, fala sem saber o que diz.
Os lamentos têm sentido, não são inúteis. Chegam mesmo a ser oração, «oração de
lamentação». Job, em plena lamentação, não se afasta de Deus, não se esconde do
seu rosto, não procura outro Deus que não o oprima, que não o esmague. Pelo
contrário, entrega-se plenamente ao Deus que o desiludiu. A lamentação agita o
coração e liberta-o.
Evangelho: Lc 9, 51-56
51Como estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo, Jesus dirigiu-se
resolutamente para Jerusalém 52e enviou mensageiros à sua frente. Estes
puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de lhe
prepararem hospedagem. 53Mas não o receberam, porque ia a caminho de Jerusalém.
54Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos
que desça fogo do céu e os consuma?» 55Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os. 56E
foram para outra povoação.
Depois do ministério na Galileia, com todas as suas palavras, a sua mensagem,
os seus milagres e o testemunho do seu amor, Jesus caminha decididamente para
Jerusalém, para a realização do seu destino. O caminho de Jerusalém levará
Jesus até à cruz e à ressurreição. É a sua «hora» (cf. Jo 12, 23;16, 32). A
hora manifesta a vontade de Jesus e dar a vida. Essa vontade acompanhou-o toda
a vida. Nele tudo tendia para o momento do dom. Nessa hora, Jesus acolhe todo o
sofrimento dos homens e dá a vida para os salvar. A primeira parte do evangelho
de Lucas (ministério na Galileia) visa a "compreensão" do Reino; a
segunda visa a "realização" do Reino. Na primeira parte, o Reino é
apresentado em parábolas, como um mistério que cresce no escondimento, um
crescimento atribulado e fatigante; agora revela-se mais claramente como o
mistério da morte e da ressurreição de Cristo. Ao falar deste itinerário, Lucas
escreve que Jesus «se dirigiu resolutamente» (v. 51) para Jerusalém.
Literalmente, «endureceu o rosto». É uma expressão do cântico do Servo: «Tornei
o meu rosto duro como pedra» (Is 50, 7). Jesus vê claramente os sofrimentos que
vai enfrentar. Mas abandona-se completamente à vontade do Pai.
Meditatio
As palavras de Job expressam sentimentos comuns a quem sofre intensamente.
Provavelmente também já experimentámos sentimentos idênticos. O grito dramático
de Job é certamente semelhante aos gritos que nós próprios já libertamos em
situações de grande sofrimento. Pode-se chegar mesmo ao sinistro desejo da
morte. Mas é passando por semelhante provação que podemos encontrar Deus, ou
perdê-lo! É Job quem o diz: «Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti, mas
agora vêem-te os meus próprios olhos». (42, 5). Agora que Job está
"nu" diante de Deus, pode conhecê-lo e amá-lo. É certo que se lamenta
e grita. Mas fá-lo diante de Deus. É significativo que a Bíblia não tenha
expurgado estas expressões, mas as tenha assumido e tornado oração de
lamentação, de súplica e de súplica angustiada a Deus.
O capítulo terceiro de Job ensina-nos a distinguir a lamentação da lamúria.
Somos levados a lamuriar-nos muitas vezes e de tudo. Não somos capazes de nos
lamentar com Deus, de chorar diante d´Ele. Nem sempre somos capazes de nos
dirigir a Deus.
Mas o terceiro capítulo de Job também nos ensina a olhar de frente as
provações, para lhe quebrarmos o aguilhão. Quando chegamos à conclusão de que
não podemos mais, então chegou o momento de exprimirmos a nossa gratuidade de
amor. Jesus mostrou-nos a gratuidade do seu amor na cruz, no auge do sofrimento
e do seu grito que, por um lado, exprime a suprema desolação mas, por outro, a
total confiança no Pai (cf. Mc 15, 34).
Lembram-nos as nossas Constituições: «A vida reparadora será, por vezes, vivida
na oferta dos sofrimentos suportados com paciência e abandono, mesmo na noite
escura e na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos e
com a morte de Cristo pela redenção do mundo» (n. 24). O Pe. A. Carminati, de
modo muito sintético e eficaz, comenta assim este número das novas
Constituições: «A nossa cooperação na obra da redenção, além de se chamar
"apostolado", mais cedo ou mais tarde há-de chamar-se
"sofrimento", solidão, noite escura, imolação, cruz, morte...».
Então a nossa vida será reparadora na oferta, na paciência, no abandono, quer
dizer, na disponibilidade da "vítima" para a imolação, em comunhão
com a paixão e a morte redentora do Senhor..., e entregaremos voluntariamente a
nossa vida em favor dos irmãos, olhando para Cristo trespassado, que nos
precedeu neste amor redentor (cf. 1 Jo 3, 16).
Oratio
Senhor, diante do teu amor crucificado, contemplo o infinito amor com que me
falaste ao coração. Também queria amar-te, como tu me amaste. A minha alma tem
sede de Ti. Mas não consigo chegar a Ti. Dá-me a graça de Te compreender e de
compreender o teu amor, mesmo na tribulação, como o compreendeu o teu servo
Job, verdadeiro crente, ainda que pagão. Ajuda-me a compreender as provações de
Job, a entrar no seu sofrimento, para poder penetrar nas provações e no
sofrimento de Jesus. Tu, Senhor, quiseste assumir os nossos sofrimentos para os
purificar. Por isso me podes ajudar a contemplar a cruz, e a ler no Coração
trespassado de Cristo todas as riquezas do mistério que Tu és. Amen.
Contemplatio
A lamentação de uma alma que geme por não amar Nosso Senhor como quereria toca
tão profundamente o seu Coração e inclina-O para ela.
Estas disposições fazem apelo aos dons da graça. Têm também a vantagem de
manter a alma em união com Nosso Senhor. É esta união de corações com o seu que
Ele tanto deseja obter. É para consegui-lo que quer espalhar o reino do seu
Coração.
Mas este género de orações (as jaculatórias) não se aplica somente aos dardos
ardentes do amor. Com elas pedimos a Nosso Senhor o seu socorro nas provações,
pedimos a sua graça para suportar os sofrimentos. Um «Fiat voluntas tua!;
faça-se a tua vontade!» escapado de um coração angustiado pelo sofrimento é uma
oração de enorme preço aos seus olhos e aos do seu Pai. Quando o santo homem
Job conheceu todas as infelicidades que o atingiam, exclamou: «Meu Deus, o que
vós me tínheis dado, vós o retomastes, que o vosso santo nome seja bendito!»
Uma provação muito penosa, recebida assim com uma oração saída do coração vale
mais para a alma do que todos os tesouros da terra.
É na provação que se sente mais vivamente a necessidade de conversar com Nosso
Senhor, de lhe dizer a sua mágoa, de lhe pedir uma graça de força. Um impulso
do coração estabelece num instante esta comunicação íntima com o seu Coração.
Era a prática de todos os santos. Não demoravam a invocá-lo, com medo que Ele
mesmo não tardasse a socorrer-lhes. (Leão Dehon, OSP 2, p. 101).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Chegue até vós, Senhor, a minha oração» (Sl 87, 3))
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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