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Setembro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXIV Semana - Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: 1 Coríntios 12, 12-14.27-31a
Irmãos: 12Como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do
corpo, apesar de serem muitos, constituem um só corpo, assim também Cristo.
13De facto, num só Espírito, fomos todos baptizados para formar um só corpo,
judeus e gregos, escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito. 14O
corpo não é composto de um só membro, mas de muitos.
27Vós sois o corpo de Cristo e cada um, pela sua parte, é um membro. 28E
aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em
segundo, profetas; em terceiro, mestres; em seguida, há o dom dos milagres,
depois o das curas, o das obras de assistência, o de governo e o das diversas
línguas. 29Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres?
Fazem todos milagres? 30Possuem todos o dom das curas? Todos falam línguas?
Todos as interpretam? 31Aspirai, porém, aos melhores dons.
O Apóstolo tratou dos sacramentos do baptismo e da eucaristia, como eventos
centrais na vida dos cristãos. Agora, dedica três capítulos da sua carta à
problemática das relações entre carismas e ministérios na comunidade, questão
muito viva na comunidade de Corinto, mas sempre mais ou menos presente na vida
da Igreja.
Logo no começo do capítulo 12, Paulo afirma que a autenticidade dos carismas
depende da pureza da profissão de fé: «Ninguém, falando sob a acção do Espírito
Santo, pode dizer: «Jesus seja anátema», e ninguém pode dizer: «Jesus é
Senhor», senão pelo Espírito Santo» (vv. 1-3). Há pluralidade de carismas, mas uma
só fonte: a Trindade (vv. 4-6). Logo depois, o Apóstolo afirma que a
manifestação do Espírito, por meio dos vários carismas, é dada a cada um para o
bem de toda a comunidade. E começa o discurso mais genuinamente teológico.
Paulo quer fazer compreender que os dons que recebemos e os serviços que somos
chamados a prestar têm o seu fundamento na graça que recebemos por meio dos
sacramentos, em força dos quais formamos um só corpo, o corpo de Cristo que é a
Igreja. Todos, de facto, «fomos baptizados para formar um só corpo, judeus e
gregos, escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito» para formar um
só corpo (v. 139.
A unidade não exclui a diversidade dos membros, dos dons, dos ministérios, mas
garante-a e exalta-a reconduzindo-a à sua fonte divina, à Trindade, e
orientando-a para o bem da comunidade eclesial.
Evangelho: Lucas 7, 11-17
Naquele tempo, 11Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim, indo com Ele os
seus discípulos e uma grande multidão. 12Quando estavam perto da porta da
cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que
era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade. 13Vendo-a, o Senhor
compadeceu-se dela e disse-lhe: «Não chores.» 14Aproximando-se, tocou no
caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno:
Levanta-te!» 15O morto sentou-se e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua
mãe. 16O temor apoderou-se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu
entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!» 17E a fama deste
milagre espalhou-se pela Judeia e por toda a região.
Lucas gosta de estabelecer relações entre Jesus e o profeta Elias (cf. 1 Re 17,
10-24), entre Jesus e o profeta Eliseu (2 Re 4, 18-37). O terceiro evangelista
narra a ressurreição do filho único de uma certa mãe viúva, natural de Naim.
Prodígios idênticos foram também realizados por Elias e Eliseu. Sabemos que
Lucas também dá particular atenção às mulheres, no terceiro evangelho e nos
Actos. Também a figura da mãe viúva que perdeu o seu filho único sensibiliza
Jesus que, «Vendo a, se compadeceu¬ dela e lhe disse: «Não chores» (v. 13).
Este episódio não nos revela só um aspecto da psicologia de Jesus, a sua
sensibilidade, mas também, a sua opção em favor dos fracos e dos
marginalizados. Aquela mulher, na sociedade a que pertencia, estava incluída
nessas categorias de pessoas.
Finalmente, Jesus é aclamado como «um grande profeta» (v. 16). Para Lucas, este
título tem especial significado: Jesus é profeta, não só pelo que
"diz", mas também pelo que "faz" (acções, gestos, milagres)
e, sobretudo, pelo modo como se comporta: sente compaixão, comove-se
interiormente e partilha a dor daquela mãe. Assim se manifesta Jesus como
profeta no sentido mais integral do termo: não só traz a Palavra de Deus, mas
também se coloca ao lado dos homens.
Meditatio
Uma leitura atenta de 1 Cor 12, revela-nos a genialidade do pensamento de
Paulo. Como já dissemos, o primeiro pensamento de Paulo refere-se à relação
entre carismas e ministérios, por um lado, e à ortodoxia da fé, por outro lado.
Deve ser este o ponto de referência da ortopraxe.
Em segundo lugar, Paulo evidencia a relação entre os carismas recebidos e a sua
origem trinitária. Estamos sempre no âmbito da fé, mas é evidente que Paulo
fala, não de uma Trindade abstracta, que está acima dos céus, mas da Trindade
"económica", isto, considerada na relação com a nossa vida e com a
vida da comunidade. Depois tratará da relação entre a dimensão pessoal e a
dimensão comunitária dos carismas: isto para deitar por terra qualquer tentativa
de privatizar o dom divino ou de cada um os pôr ao serviço de si mesmo ou da
sua categoria social.
Depois da relação entre carismas, ministérios e vida sacramental, Paulo ilustra
o seu pensamento com dois apólogos: no primeiro, fazendo falar os membros do
corpo humano, leva-nos a compreender que a beleza e a harmonia de uma
comunidade se fundamenta na variedade dos seus membros, tão solícitos em
contribuir para o bem-estar da própria comunidade. Fica assim expresso o
princípio da complementaridade em ordem à unidade.
No segundo apólogo, o Apóstolo ilustra outra lei, típica do corpo humano e de
toda a comunidade, também da cristã. É o princípio da subsidiariedade, pelo
qual, todos os membros, também os mais nobres, precisam dos outros, mesmo dos
mais humildes. Por isso, não pode haver divisões na comunidade, tal como não
pode haver divisões no corpo humano (12, 15-26).
A comunidade religiosa, tal como toda a comunidade cristã, tem Cristo como
centro e constrói-se à volta do altar: é uma comunidade eucarística. Recordemos
que a eucaristia, nova Páscoa, no momento da sua instituição, realiza o
verdadeiro Êxodo e convida-nos a sair do nosso egoísmo, a ultrapassar todas as
divisões, a curar todas as feridas. A celebração eucarística, memorial da
Páscoa do Senhor, é o princípio da nossa comunh
ão fraterna e a fonte do nosso serviço apostólico, como nos diz o Pe. Dehon no
Testamento Espiritual.
Tudo aquilo que provoque divisões na comunidade, é absurdo para nós,
Oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus, que «fazemos profissão de tender à
caridade perfeita, consagrando-nos inteiramente ao amor de Deus e dos nossos
irmãos» (Cst. 14). Sem caridade nem sequer vivemos a «fé que dá fundamento à
nossa esperança, a fé que orienta a nossa vida e nos inspira a deixar tudo para
seguir a Cristo» (Cst. 9; cf. n. 42). Devemos implorar sempre ao Coração de
Jesus que renove o nosso coração: «Do Coração de Cristo, aberto na cruz, nasce
o homem de coração novo, animado pelo Espírito e unido aos seus irmãos na
comunidade de amor, que é a Igreja» (n. 3).
Os carismas são para o serviço (cf. 1 Cor 12, 7; Ef 4, 12). Daqui se compreende
o espírito de serviço que deve caracterizar todo o discípulo do Senhor, não por
sede de lucro ou por orgulho, mas unicamente animado pela oblação de amor:
«Jesus... tendo amado os Seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim» (Jo
13, 1).
Para servir, conforme o exemplo de Jesus, é preciso amar «não só com palavras e
com língua, mas com obras e em verdade» (1 Jo 3, 18; Cst n. 18).
Oratio
Senhor, ao dar-nos a vida, confiaste-nos uma missão a realizar, mas também a
defender contra quem, por ignorância ou por interesse tenta impor-nos outra.
Torna-nos fortes, Senhor!
Senhor, ao dar-nos a vida, confiaste-nos qualidades únicas e irrepetíveis, que
nos tornam idóneos o serviço, que somos chamados a realizar no mundo e na
Igreja, para a tua glória, para nossa realização pessoal e para o bem dos
irmãos. Torna-nos disponíveis, Senhor!
Senhor, ao dar-nos a vida, mergulhaste-nos no mundo que, cada um de nós, com as
suas notas características, deve contribuir para tornar melhor, conscientes de
que notas diferentes levam a uma harmonia belíssima, e são indispensáveis para
a realização do teu desígnio de salvação. Torna-nos solidários, Senhor!
Senhor, ao dar-nos a vida, tornaste-nos participantes da tua vida: tornaste-nos
ícone vivo da tua vida de amor e de comunhão, senhores da criação para tua
glória. Senhor, dá-nos um coração agradecido e humilde! Amen.
Contemplatio
O primeiro prodígio que nos impressiona no mistério da Incarnação é a habitação
de Deus connosco, como um de nós: «Emmanuel: Deus nobiscum». - «Et Verbum caro
factum est et habitavit in nobis». Pela sua omnipresença, Deus habita sempre
connosco, mas o infinito separa-o da nossa pobre humanidade. Ele não tem um
coração de homem para sentir por experiência o que é a compaixão. E eis o que o
Verbo realizou fazendo-se homem; tornou-se nosso amigo, nosso companheiro,
nosso irmão; é nosso Pai e como nosso Filho. Tais são os segredos que nos
revelaram Belém e Nazaré. Lá, vimos o Deus omnipotente, a sabedoria eterna
tornada um encantador, mas frágil menino, humilde, submisso, fazendo-se o
pequeno servo das suas criaturas e mais tarde continuando na sua vida
apostólica, por amor, esta servidão do seu Coração a respeito dos homens. Não
era Ele o nosso servidor, aquele cuja ocupação era toda curar as doenças da
nossa alma e do nosso corpo? Oh! Como é verdadeira esta palavra do nosso doce
Salvador: «O Filho do Homem veio para servir, e não para ser servido!» «Desceu
do céu e fez-se homem!» Eis os prodígios que este Coração adorável realizou!
Não pensa senão em fazer-nos subir e Ele não sonha senão em descer até nós
(Leão Dehon, OSP 2, p. 418).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Vós sois o corpo de Cristo e cada um, pela sua parte, é um membro» (1 Cor 12,
27.
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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