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Setembro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXIII Semana - Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: 1 Coríntios 9, 16-19.22b-27
Irmãos: 16Porque, se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é
antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar! 17Se
o fizesse por iniciativa própria, mereceria recompensa; mas, não sendo de
maneira espontânea, é um encargo que me está confiado. 18Qual é, portanto, a
minha recompensa? É que, pregando o Evangelho, eu faço-o gratuitamente, sem me
fazer valer dos direitos que o seu anúncio me confere. 19De facto, embora livre
em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número. Fiz-me
tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo. 23E tudo faço por causa
do Evangelho, para dele me tornar participante. 24Não sabeis que os que correm
no estádio correm todos, mas só um ganha o prémio? Correi, pois, assim, para o
alcançardes. 25Os atletas impõem a si mesmos toda a espécie de privações: eles,
para ganhar uma coroa corruptível; nós, porém, para ganhar uma coroa
incorruptível. 26Assim, também eu corro, mas não às cegas; dou golpes, mas não
no ar. 27Castigo o meu corpo e mantenho-o submisso, para que não aconteça que,
tendo pregado aos outros, venha eu próprio a ser eliminado.
Mais uma vez, Paulo se vê obrigado a defender, não tanto a sua pessoa, mas a
sua acção de apóstolo no meio da comunidade cristã de Corinto. Havia quem o
acusasse de interesse próprio no exercício do seu ministério: busca de bens
materiais, afirmação pessoal. O Apóstolo reage afirmando que, para ele,
evangelizar é "um dever". Quem livremente se põe ao serviço de um
senhor, não pode furtar-se a esse serviço. É o que acontece com Paulo. Por isso
afirma: «ai de mim, se eu não evangelizar!» (v. 16b). Sabe que está sujeito ao
juízo de Deus, e espera d´Ele um veredicto de fidelidade ou de infidelidade. A
ameaça que pende sobre ele, longe de o inibir, estimula-o a novas iniciativas
apostólicas. A única recompensa que espera é a de poder pregar gratuitamente o
Evangelho que lhe foi confiado (cf. Mt 10, 8).
A sua maior preocupação é o santo orgulho de poder dizer: «Tudo faço por causa
do Evangelho» (v. 23). Paulo está concentrado física, psíquica e
espiritualmente no seu ministério, cada vez mais generoso, mais desinteressado,
mais consagrado (cf. 2 Cor 6, 3-10; Fil 3, 7-14). Isto é para nós instrutivo e
estimulante.
Evangelho: Lucas 6, 39-42
Naquele tempo, Jesus disse lhes ainda esta parábola: 39«Um cego pode guiar
outro cego? Não cairão os dois nalguma cova? 40Não está o discípulo acima do
mestre, mas o discípulo bem formado será como o mestre. 41Porque reparas no
argueiro que está na vista do teu irmão, e não reparas na trave que está na tua
própria vista? 42Como podes dizer ao teu irmão: 'Irmão, deixa-me tirar o
argueiro da tua vista', tu que não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira
primeiro a trave da tua vista e, então, verás para tirar o argueiro da vista do
teu irmão.»
O argueiro e a trave: podia ser este o título da página evangélica de hoje.
Jesus trata desse tema e procura alertar para o perigo da presunção de que
pecavam os fariseus. A parábola não precisa de grandes explicações, pois
desmascara uma possível atitude interior de quem deve exercer o ministério de
guia dos seus irmãos. Em contraluz, emerge um forte convite de Jesus à humildade.
O verdadeiro guia não julga os irmãos, mas submete-se à correcção fraterna.
Do discurso em parábolas, Jesus passa ao discurso propositivo: «Não está o
discípulo acima do mestre» e ao discurso provocatório: «Por que reparas no
argueiro ... Como podes dizer ao teu irmão... Hipó¬crita!» (vv. 41 ss.). Jesus
quer suscitar atitudes de vida comunitária naqueles a quem confia o Evangelho,
isto é, a sua proposta de vida nova. A verdadeira espiritualidade cristã
verifica-se na prática dos mandamentos e, mais ainda, na adesão total à
novidade evangélica. Jesus convida os ouvintes a assumirem as suas
responsabilidades, e a não caírem nas ratoeiras em que estavam presos os
fariseus.
Meditatio
Impressionam, no texto evangélico de hoje, o convite a ser como o mestre e a
acusação de hipocrisia que vem logo a seguir. É a tensão em que vive - e de que
não é fácil libertar-se - todo o discípulo de Cristo.
Por um lado, é convidado a pôr os olhos no mestre Jesus como o único que merece
ser ouvido e seguido; por outro lado, é tentado a ver n´Ele um modelo
dificilmente imitável: «Não está o discípulo acima do mestre» (v. 40). Não
podemos, certamente, procurar uma perfeição divina. Seria um atrevimento
impróprio do verdadeiro discípulo. Todavia, somos chamados a seguir bem de perto,
e o mais possível, o nosso Mestre. O fundamental é que, quem é chamado a ser
guia dos outros, persevere no seguimento de Jesus, até Jerusalém, até ao
Calvário.
Depois, Jesus chama aos fariseus guias estultas e «hipócritas», termo que na
Bíblia tem amplo significado. Pode indicar dissimulação voluntária (cf. Mt 22,
18), incoerência entre o pensamento e a acção (cf. Mt 15, 7; 23, 25.27) ou,
como nesta página, falsidade mais ou menos consciente naqueles a quem Jesus se
dirige. Trata-se de uma falsidade repassada de soberba e que transpira
presunção. A advertência é clara: só sabe mandar quem aprende a obedecer; só
sabe julgar bem os outros quem se colocou docilmente à escuta do Evangelho e do
Mestre.
A lei fundamental do apostolado é: antes de "fazer", é preciso
"ser"; antes de "pregar", é preciso "viver" (cf.
Evangelii Nuntiandi, n. 21). O exemplo vem-nos de Cristo, que primeiro começa a
"fazer" e, depois, a "ensinar" (cf. Act 1, 1).
Tal como para o Pe. Dehon, a evangelização, realizada gratuitamente, generosamente,
zelosamente, é um modo privilegiado para viver «o nosso carisma
profético»" que «nos coloca ao serviço da missão salvífica do Povo de Deus
no mundo de hoje (cf. LG 12)» (Cst. 27) e nos insere no «movimento de amor
redentor» (Cst. 21) «na missão eclesial», e nos permite, de modo muito
especial, «desenvolver as riquezas da nossa vocação» (Cst. 34) de
oblatos-reparadores. Como S. Paulo, o primeiro grande missionário da Igreja, os
nossos missionários devem alegrar-se por pôr em prática o preceito do Senhor:
«Há maior alegria em dar do que em receber» (Act 20, 35). Assim mostram a sua
amizade para com os povos que evangelizam. Como S. Paulo, cada um deles deve
poder dizer: «Tenho servido o Senhor com toda a humildade e com lágrimas, no
meio das provações que as ciladas dos judeus me acarretaram. Jamais recuei
perante qualquer coisas que vos pudesse ser útil. Preguei e instrui-vos, tanto
publicamente como em vossas casas, afirmando a judeus e a gregos a necessidade
de se converterem a Deus e de acreditarem em Nosso Senhor Jesus Cristo» (Act
20, 19-21).
Oratio
Senhor, para Ti, servir o Pai foi uma manifestação do teu amor. Ensina-me o
espírito de serviço, na abnegação, na pobreza, na perseguição, na obediência,
até ao dom total de mim mesmo. Para Ti, servir os irmãos, foi a tua alegria.
Ensina-me a levar lenitivo às feridas dos outros, a consolar os aflitos, a dar
ânimo aos deprimidos, a acalmar os violentos, a instruir os ignorantes, a
pregar o Evangelho sem presunção mas com humildade. Para Ti, servir foi uma
opção que marcou a tua existência e qualificou a tua vida.
Ensina-me a compreender que, também para mim, a decisão de servir não é
opcional, mas constitutiva da minha vida cristã, da minha vida religiosa
apostólica: ajuda-me a servir para levar a Cristo o maior número possível de
irmãos e de irmãs. Amen.
Contemplatio
Amarás a Deus com toda a tua força. Isto quer dizer, em primeiro lugar, que
devendo amar a Deus com toda a força que te dá a graça actual e esta graça
aumentando sempre pelo exercício do amor, deves também de dia para dia amar a
Deus sempre mais.
Isto quer dizer ainda que deves consagrar a Deus todos os teus projectos, todos
os teus desígnios, todas as tuas acções, não tendo outra intenção senão a de
lhe agradar; cumprir por amor todos os teus deveres; empregar os teus talentos,
os teus bens, o teu crédito para o fazer amar; ter um zelo ardente pela sua
glória e procurá-la com todo o teu poder, tanto quanto a graça para aí te
incline, o teu estado o autorize e sábios conselhos te regulem e te dirijam
(Leão Dehon, OSP 2, p. 57).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a Palavra:
"Ai de mim se não pregar o Evangelho!" (1 Cor 9, 16).
| Fernando Fonseca, scj |
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