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Setembro 2020
ANO A
26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 26º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum deixa
claro que Deus chama todos os homens e mulheres a empenhar-se na construção
desse mundo novo de justiça e de paz que Deus sonhou e que quer propor a todos
os homens. Diante da proposta de Deus, nós podemos assumir duas atitudes: ou
dizer "sim" a Deus e colaborar com Ele, ou escolher caminhos de
egoísmo, de comodismo, de isolamento e demitirmo-nos do compromisso que Deus
nos pede. A Palavra de Deus exorta-nos a um compromisso sério e coerente com
Deus - um compromisso que signifique um empenho real e exigente na construção
de um mundo novo, de justiça, de fraternidade, de paz.
Na primeira leitura, o profeta Ezequiel convida os israelitas exilados na
Babilónia a comprometerem-se de forma séria e consequente com Deus, sem
rodeios, sem evasivas, sem subterfúgios. Cada crente deve tomar consciência das
consequências do seu compromisso com Deus e viver, com coerência, as
implicações práticas da sua adesão a Jahwéh e à Aliança.
O Evangelho diz como se concretiza o compromisso do crente com Deus... O
"sim" que Deus nos pede não é uma declaração teórica de boas
intenções, sem implicações práticas; mas é um compromisso firme, coerente,
sério e exigente com o Reino, com os seus valores, com o seguimento de Jesus
Cristo. O verdadeiro crente não é aquele que "dá boa impressão", que
finge respeitar as regras e que tem um comportamento irrepreensível do ponto de
vista das convenções sociais; mas é aquele que cumpre na realidade da vida a
vontade de Deus.
A segunda leitura apresenta aos cristãos de Filipos (e aos cristãos de todos os
tempos e lugares) o exemplo de Cristo: apesar de ser Filho de Deus, Cristo não
afirmou com arrogância e orgulho a sua condição divina, mas assumiu a realidade
da fragilidade humana, fazendo-se servidor dos homens para nos ensinar a
suprema lição do amor, do serviço, da entrega total da vida por amor. Os
cristãos são chamados por Deus a seguir Jesus e a viver do mesmo jeito, na
entrega total ao Pai e aos seus projectos.
LEITURA I - Ez 18,25-28
Leitura da Profecia de Ezequiel
Eis o que diz o Senhor:
«Vós dizeis: 'A maneira de proceder do Senhor não é justa'.
Escutai, casa de Israel:
Será a minha maneira de proceder que não é justa?
Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto?
Quando o justo se afastar da justiça,
praticar o mal o vier a morrer,
morrerá por causa do mal cometido.
Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado,
praticar o direito e a justiça,
salvará a sua vida.
Se abris os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido,
há-de viver e não morrerá».
AMBIENTE
Ezequiel, o "profeta da esperança",
exerceu o seu ministério na Babilónia no meio dos exilados judeus. O profeta
fez parte dessa primeira leva de exilados que, em 597 a.C., Nabucodonosor
deportou para a Babilónia.
A primeira fase do ministério de Ezequiel decorreu entre 593 a.C. (data do seu
chamamento à vocação profética) e 586 a.C. (data em que Jerusalém foi
conquistada uma segunda vez pelos exércitos de Nabucodonosor e uma nova leva de
exilados foi encaminhada para a Babilónia). Nesta fase, o profeta preocupou-se
em destruir as falsas esperanças dos exilados (convencidos de que o exílio
terminaria em breve e que iam poder regressar rapidamente à sua terra) e em
denunciar a multiplicação das infidelidades a Jahwéh por parte desses membros
do Povo judeu que escaparam ao primeiro exílio e que ficaram em Jerusalém.
A segunda fase do ministério de Ezequiel desenrolou-se a partir de 586 a.C. e
prolongou-se até cerca de 570 a.C. Instalados numa terra estrangeira, privados
de Templo, de sacerdócio e de culto, os exilados estavam desiludidos e
duvidavam de Jahwéh e do compromisso que Deus tinha assumido com o seu Povo.
Nessa fase, Ezequiel procurou alimentar a esperança dos exilados e transmitir
ao Povo a certeza de que o Deus salvador e libertador não tinha abandonado nem
esquecido o seu Povo.
Até esta altura, Israel reflectia a sua relação com Deus em termos colectivos e
não em termos individuais. A catequese de Israel considerava que a Aliança
tinha sido feita, não com cada israelita individualmente, mas com toda a
comunidade. Assim, as infidelidades de uns (inclusive dos antepassados) traziam
sofrimento e morte a toda a comunidade; e a fidelidade de outros (inclusive dos
antepassados) era fonte de vida e de bênção para todos.
Os exilados liam à luz desta perspectiva teológica o drama que tinha caído
sobre eles. Consideravam que eram justos e bons, que não tinham pecado e que
estavam ali a expiar os pecados de toda a nação. Havia até um refrão muito
repetido por esta altura: "os pais comeram as uvas verdes, mas são os
dentes dos filhos que ficam embotados" (Ez 18,2b). Parece ser uma reprovação
velada à acção de Deus que, na perspectiva da teologia da época, fez dos
exilados o bode expiatório de todas as infidelidades da nação. É justo, isto?
Está certo que os justos paguem pelos pecadores?
É a estas questões que o profeta Ezequiel vai tentar responder.
MENSAGEM
Na verdade, os membros do Povo de Deus que
estão exilados na Babilónia não podem "sacudir a água do capote" e
presumir de justos e inocentes: não há justos e inocentes neste processo, uma
vez que todos, sem excepção, são responsáveis por atitudes de infidelidade a
Jahwéh e de desrespeito pelos seus mandamentos. Fará algum sentido que os
exilados acusem Jahwéh de ser injusto, depois de terem violado sistematicamente
a aliança e terem cometido tantos pecados e infidelidades (vers. 25)?
Para além disso, Israel não pode continuar a esconder-se atrás de uma
responsabilidade colectiva, que implica todos, mas não responsabiliza ninguém.
Chegou a altura de cada membro do Povo de Deus se sentir pessoalmente
responsável diante de Deus pelas suas acções e pelos compromissos assumidos no
âmbito da Aliança. Cada membro do Povo de Deus tem de descobrir que, quando
fizer escolhas erradas e se obstinar nelas, sofrerá as consequências; e que
quando abandonar os caminhos de egoísmo e de pecado e optar por Deus e pelos
seus valores, encontrará a vida (vers. 26-28).
Significa isto que o pecado de um membro da comunidade não afecta os outros
irmãos, membros da mesma comunidade? É claro que afecta. O pecado introduz
sempre elementos de desequilíbrio, de desarmonia, de egoísmo, de ruptura, que
atingem todos aqueles que caminham connosco... Mas o que Ezequiel aqui pretende
sublinhar é que cada homem ou mulher tem de sentir-se pessoalmente responsável
diante de Deus pelas suas opções e pelos seus actos.
Esta superação da mentalidade co
lectiva, dando lugar à responsabilidade individual, é um dos grandes progressos
na história teológica de Israel. Doravante, o Povo aprenderá a reagir em termos
individuais e não em termos de massa. Está aberto o caminho para uma Nova Aliança:
uma Aliança que não é feita genericamente com uma comunidade, mas uma Aliança
pessoal e interior, feita com cada crente.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, os seguintes
desenvolvimentos:
• Antes de mais, a leitura convida-nos a tomar
consciência de que um compromisso com Deus é algo que nos implica profundamente
e que devemos sentir pessoalmente, sem rodeios, sem evasivas, sem subterfúgios.
No nosso tempo - no tempo da cultura do plástico, do "light", do
efémero - há alguma tendência a não assumir responsabilidades, a não
absolutizar os compromissos (no mundo do futebol e da política há até uma
máxima que define a flutuabilidade, a incoerência, a contradição em que as
pessoas se movem: "o que é verdade hoje, é mentira amanhã"). Mas, com
Deus, não há meias tintas: ou se assume, ou não se assume. Como é que eu sinto
esses compromissos que assumi com Deus no dia do meu Baptismo e que ao longo da
vida, nas mais diversas circunstâncias, confirmei? Trata-se de algo que eu levo
a sério e que eu aplico coerentemente a toda a minha existência e às opções que
faço, ou de algo que eu só me lembro quando se trata de fazer uma bonita festa
de casamento na igreja ou de cumprir a tradição e baptizar os filhos?
• O profeta Ezequiel convida-nos também a
assumir, com verdade e coerência, a nossa responsabilidade pelos nossos gestos
de egoísmo e de auto-suficiência em relação a Deus e em relação aos irmãos.
Entre nós, no entanto, muitas vezes "a culpa morre solteira". Há
homens e mulheres que não têm o mínimo para viver dignamente? A culpa é da
conjuntura económica internacional... Há situações de violência extrema e de
injustiça? A culpa é do governo que não legisla nem coloca suficientes polícias
nas ruas... A minha comunidade cristã está dividida, estagnada e não testemunha
suficientemente o amor de Jesus? A culpa é do Papa, ou do bispo, ou do padre...
E a minha culpa? Eu não terei, muitas vezes, a minha quota-parte de
responsabilidades em tantas situações negativas com que, dia a dia, convivo
pacificamente? Eu não precisarei de me "converter"?
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 24 (25)
Refrão: Lembrai-Vos, Senhor, da vossa
misericórdia.
Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador:
em vós espero sempre.
Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias
e das vossas graças que são eternas.
Não recordeis as minhas faltas
e os pecados da minha juventude.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,
por causa da vossa bondade, Senhor.
O Senhor é bom e recto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.
LEITURA II - Filip 2,1-11
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos
Filipenses
Irmãos:
Se há em Cristo alguma consolação,
algum conforto na caridade,
se existe alguma consolação nos dons do Espírito Santo,
alguns sentimentos de ternura e misericórdia,
então, completai a minha alegria,
tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade,
numa só alma e num só coração.
Não façais nada por rivalidade nem por vanglória;
mas, com humildade,
considerai os outros superiores a vós mesmos,
sem olhar cada um aos seus próprios interesses,
mas aos interesses dos outros.
Tende em vós os mesmos sentimentos
que havia em Cristo Jesus.
Ele, que era de condição divina,
não Se valeu da sua igualdade com Deus,
mas aniquilou-Se a Si próprio.
Assumindo a condição de servo,
tornou-Se semelhante aos homens.
Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais,
obedecendo até à morte, e morte de cruz.
Por isso, Deus O exaltou
e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes,
para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem,
no céu, na terra e nos abismos,
e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor,
para glória de Deus Pai.
AMBIENTE
Filipos, cidade situada no norte da Grécia,
era uma cidade habitada maioritariamente por veteranos romanos do exército.
Estava organizada à maneira de Roma e era uma espécie de Roma em miniatura. Os
seus habitantes gozavam dos mesmos privilégios dos habitantes das cidades de
Itália.
A comunidade cristã de Filipos foi fundada por Paulo no verão de 49, no decurso
da sua segunda viagem missionária. Numa das estadias de Paulo na prisão (em
Éfeso?), a comunidade enviou um dos seus membros para o ajudar e uma generosa
quantia em dinheiro para prover às necessidades do apóstolo.
Apesar de ser uma comunidade viva, piedosa e generosa, a comunidade cristã de
Filipos não era uma comunidade perfeita. O desprendimento, a humildade, a
simplicidade, não eram valores demasiado apreciados entre os altivos patrícios
romanos que compunham a comunidade.
É neste enquadramento que podemos situar o texto que esta leitura nos
apresenta. Trata-se de um texto que, em termos literários, apresenta duas
partes. A primeira (vers. 1-5), em prosa, contém recomendações concretas de
Paulo aos Filipenses acerca dos valores que devem cultivar. A segunda (vers.
6-11), em poesia, apresenta aos Filipenses o exemplo de Cristo (trata-se,
provavelmente, de um hino pré-paulino, recitado nas celebrações litúrgicas cristãs
e que Paulo integrou no texto da carta).
MENSAGEM
Na primeira parte (vers. 1-5), Paulo, em tom
solene, pede aos altivos romanos que constituem a comunidade de Filipos que não
se deixem dominar pelo orgulho, pela auto-suficiência, pela vaidade, pela ambição,
que só provocam egoísmo e divisão. Recomenda-lhes que vivam unidos, que se amem
e que sejam solidários, pois foi isso que Cristo, não só com palavras, mas com
a própria vida, ensinou aos seus discípulos.
Na segunda parte (vers. 6-11), Paulo vai referir-se, com mais pormenor, ao
exemplo de Cristo. Para apresentar esse exemplo, Paulo recorre, então, ao tal
hino litúrgico, que celebrava a "Kenosis" ("despojamento")
de Cristo e a sua exaltação.
Cristo Jesus - nomeado no princípio, no meio e no fim - constitui o motivo do
hino. Dado que os Filipenses são cristãos, quer dizer, dado que Cristo é o
protótipo a cuja imagem estão configurados, têm a iniludível obrigação de
comportar-se como Cristo. Como &
eacute; o exemplo de Cristo?
O hino começa por aludir subtilmente ao contraste entre Adão (o homem que
reivindicou ser como Deus e lhe desobedeceu - cf. Gn 3,5.22) e Cristo (o Homem
Novo que, ao orgulho e revolta de Adão responde com a humildade e a obediência
ao Pai). A atitude de Adão trouxe fracasso e morte; a atitude de Jesus trouxe
exaltação e vida.
Em traços precisos, o hino define o "despojamento"
("kenosis") de Cristo: Ele não afirmou com arrogância e orgulho a sua
condição divina, mas aceitou fazer-Se homem, assumindo com humildade a condição
humana, para servir, para dar a vida, para revelar totalmente aos homens o ser
e o amor do Pai. Não deixou de ser Deus; mas aceitou descer até aos homens,
fazer-Se servidor dos homens, para garantir vida nova para os homens. Esse
"abaixamento" assumiu mesmo foros de escândalo: Ele aceitou uma morte
infamante - a morte de cruz - para nos ensinar a suprema lição do serviço, do
amor radical, da entrega total da vida.
No entanto, essa entrega completa ao plano do Pai não foi uma perda nem um
fracasso: a obediência e entrega de Cristo aos projectos do Pai resultaram em
ressurreição e glória. Em consequência da sua obediência, do seu amor, da sua
entrega, Deus fez d'Ele o "Kyrios" ("Senhor" - nome que, no
Antigo Testamento, substituía o nome impronunciável de Deus); e a humanidade
inteira ("os céus, a terra e os infernos") reconhece Jesus como
"o senhor" que reina sobre toda a terra e que preside à história.
É óbvio o apelo à humildade, ao desprendimento, ao dom da vida que Paulo faz
aos Filipenses e a todos os crentes: o cristão deve ter como exemplo esse
Cristo, servo sofredor e humilde, que fez da sua vida um dom a todos; esse
caminho não levará ao aniquilamento, mas à glorificação, à vida plena.
ACTUALIZAÇÃO
Para reflexão, podem considerar-se as
seguintes indicações:
• Os valores que marcaram a existência de
Cristo continuam a não ser demasiado apreciados em muitos dos nossos ambientes
contemporâneos. De acordo com os critérios que presidem ao nosso mundo, os
grandes "ganhadores" não são os que põem a sua vida ao serviço dos
outros, com humildade e simplicidade, mas são os que enfrentam o mundo com
agressividade, com auto-suficiência e fazem por ser os melhores, mesmo que isso
signifique não olhar a meios para passar à frente dos outros. Como pode um
cristão (obrigado a viver inserido neste mundo e a ser competitivo) conviver
com estes valores?
• Paulo tem consciência de que está a pedir
aos seus cristãos algo realmente difícil; mas é algo que é fundamental, à luz
do exemplo de Cristo. Também a nós é pedido um passo em frente neste difícil
caminho da humildade, do serviço, do amor: será possível que, também aqui,
sejamos as testemunhas da lógica de Deus?
ALELUIA - Jo 10,27
Aleluia. Aleluia.
As minhas ovelhas ouvem a minha voz, diz o
Senhor;
Eu conheço-as e elas seguem-Me.
EVANGELHO - Mt 21,28-32
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
São Mateus
Naquele tempo,
disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes
e aos anciãos do povo:
«Que vos parece?
Um homem tinha dois filhos.
Foi ter com o primeiro e disse-lhe:
'Filho, vai hoje trabalhar na vinha'.
Mas ele respondeu-lhe: 'Não quero'.
Depois, porém, arrependeu-se e foi.
O homem dirigiu-se ao segundo filho
e falou-lhe do mesmo modo.
Ele respondeu: 'Eu vou, Senhor'.
Mas de facto não foi.
Qual dos dois fez a vontade ao pai?»
Eles responderam-Lhe: «O primeiro».
Jesus disse-lhes:
«Em verdade vos digo:
Os publicanos e as mulheres de má vida
irão diante de vós para o reino de Deus.
João Baptista veio até vós,
ensinando-vos o caminho da justiça,
e não acreditastes nele;
mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram.
E vós, que bem o vistes,
não vos arrependestes, acreditando nele».
AMBIENTE
O texto que nos é proposto neste domingo
situa-nos em Jerusalém, na etapa final da caminhada terrena de Jesus. Pouco
antes, Jesus entrara em Jerusalém e fora recebido em triunfo pela multidão (cf.
Mt 21,1-11); no entanto, o entusiasmo inicial da cidade foi sendo substituído,
aos poucos, por uma recusa categórica em acolher Jesus e o seu projecto.
Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo - os líderes religiosos judaicos
- aparecem como o motor da oposição a Jesus. Eles não estão dispostos a
reconhecer Jesus como o Messias de Deus e a aceitar que Ele tenha um mandato de
Deus para propor aos homens uma nova realidade - a realidade do Reino. Há uma
tensão no ar, que anuncia a proximidade da paixão e da morte de Jesus.
No quadro que antecede o episódio que nos é hoje proposto - mas que está em
relação directa com ele - os líderes judeus encontraram-se com Jesus no Templo;
perguntaram-Lhe com que autoridade Ele agia e quais eram as suas credenciais
(cf. Mt 21,23-27). Jesus respondeu-lhes convidando-os a pronunciarem-se sobre a
origem do baptismo de João. Os líderes judaicos não quiseram responder: se
dissessem que João Baptista não vinha de Deus, tinham medo da reacção da
multidão (que considerava João um profeta); se admitissem que o baptismo de
João vinha de Deus, temiam que Jesus lhes perguntasse porque não o aceitaram...
Diante do silêncio embaraçado dos seus interlocutores, Jesus deu-lhes a entender
que não tinha uma resposta para lhes dar, enquanto eles continuassem de coração
fechado, na recusa obstinada da novidade de Deus (anunciada por João e proposta
pelo próprio Jesus).
Na sequência, Jesus vai apresentar três parábolas, destinadas a ilustrar a
recusa de Israel em acolher a proposta do Reino. Com elas, Jesus convida os
líderes da nação judaica a reflectir sobre a situação de "gueto" em
que se instalaram e a reconhecerem o sem sentido das suas posições fixistas e
conservadoras. O nosso texto é a primeira dessas três parábolas.
MENSAGEM
A parábola dos dois filhos ilustra duas
atitudes diversas diante dos desafios e das propostas de Deus.
O primeiro filho foi convidado pelo pai a trabalhar "na vinha". A sua
primeira resposta foi negativa: "não quero". No contexto familiar da
Palestina do tempo de Jesus, trata-se de uma resposta totalmente reprovável,
particularmente porque uma atitude deste tipo ia contra todas as convenções
sociais... Enchia um pai de vergonha e punha em causa a sua autoridade diante
dos familiares, dos amigos, dos vizinhos. No entanto, este primeiro filho
acabou por reconsiderar e por ir trabalhar na vinha (vers. 28-29).
O segundo filho, diante do mesmo convite, respondeu: "vou, sim,
senhor". Deu ao pai uma respos
ta satisfatória, que não punha em causa a sua autoridade e a sua
"honra". Ficou bem visto diante de todos e todos o consideraram um
filho exemplar. No entanto, acabou por não ir trabalhar na vinha (vers. 30).
A questão posta, em seguida, por Jesus, é: "qual dos dois fez a vontade do
pai?" A resposta é tão óbvia que os próprios interlocutores de Jesus não
têm qualquer pejo em a dar: "o primeiro" (vers. 31).
A parábola ensina que, na perspectiva de Deus, o importante não é quem se
comportou bem e não escandalizou os outros; mas, de acordo com a lógica de
Deus, o importante é cumprir, realmente, a vontade do pai. Na perspectiva de
Deus, não bastam palavras bonitas ou declarações de boas intenções; mas é
preciso uma resposta adequada e coerente aos desafios e às propostas do Pai
(Deus).
É certo que os fariseus, os sacerdotes, os anciãos do Povo, disseram
"sim" a Deus ao aceitar a Lei de Moisés... A sua atitude - como a do
filho que disse "sim" e depois não foi trabalhar para a vinha - foi
irrepreensível do ponto de vista das convenções sociais; mas, do ponto de vista
do cumprimento da vontade de Deus, a sua atitude foi uma mentira, pois
recusaram-se a acolher o convite de João à conversão. Em contrapartida, aqueles
que, de acordo com o "política e religiosamente correcto" disseram
"não" (por exemplo, os cobradores de impostos e as prostitutas),
cumpriram a vontade do Pai: acolheram o convite de João à conversão e acolheram
a proposta do Reino que Jesus veio apresentar (vers. 32).
Lida no contexto do ministério de Jesus, esta parábola dava uma resposta
àqueles que O acusavam de acolher os pecadores e os marginais - isto é, aqueles
que, de acordo com as "convenções", disseram não a Deus. Jesus deixa
claro que, na perspectiva de Deus, não interessam as convenções externas, mas a
atitude interior. O que honra a Deus não é o que cumpre ritos externos e que dá
"boa impressão" às massas; mas é o que cumpre a vontade de Deus.
Mais tarde, a comunidade de Mateus leu a mesma parábola numa perspectiva um
pouco diversa. Ela serviu para iluminar a recusa do Evangelho por parte dos
judeus e o seu acolhimento por parte dos pagãos. Israel seria esse
"filho" que aceitou trabalhar na vinha mas, na realidade, não cumpriu
a vontade do Pai; os pagãos seriam esse "filho" que, aparentemente,
esteve sempre à margem dos projectos do Pai, mas aceitou o Evangelho de Jesus e
aderiu ao Reino.
ACTUALIZAÇÃO
Para a reflexão, ter em conta os seguintes
desenvolvimentos:
• Antes de mais, a parábola dos dois filhos
chamados para trabalhar "na vinha" do pai sugere que, na perspectiva
de Deus, todos os seus filhos são iguais e têm a mesma responsabilidade na
construção do Reino. Deus tem um projecto para o mundo e quer ver todos os seus
filhos - sem distinção de raça, de cor, de estatuto social, de formação
intelectual - implicados na concretização desse projecto. Ninguém está
dispensado de colaborar com Deus na construção de um mundo mais humano, mais
justo, mais verdadeiro, mais fraterno. Tenho consciência de que também eu sou
chamado a trabalhar na vinha de Deus?
• Diante do chamamento de Deus, há dois tipos
de resposta... Há aqueles que escutam o chamamento de Deus, mas não são capazes
de vencer o imobilismo, a preguiça, o comodismo, o egoísmo, a auto-suficiência
e não vão trabalhar para a vinha (mesmo que tenham dito "sim" a Deus
e tenham sido baptizados); e há aqueles que acolhem o chamamento de Deus e que
lhe respondem de forma generosa. De que lado estou eu? Estou disposto a
comprometer-me com Deus, a aceitar os seus desafios, a empenhar-me na
construção de um mundo mais bonito e mais feliz, ou prefiro demitir-me das
minhas responsabilidades e renunciar a ter um papel activo no projecto criador
e salvador que Deus tem para os homens e para o mundo?
• O que é que significa, exactamente, dizer
"sim" a Deus? É ser baptizado ou crismado? É casar na igreja? É fazer
parte de uma confraria qualquer da paróquia? É fazer parte da equipa que gere a
Fábrica da Igreja? É ter feito votos num qualquer instituto religiosos? É ir
todos os dias à missa e rezar diariamente a Liturgia das Horas? Atenção: na
parábola apresentada por Jesus, não chega dizer um "sim" inicial a
Deus; mas é preciso que esse "sim" inicial se confirme, depois, num
verdadeiro empenho na "vinha" do Senhor. Ou seja: não bastam palavras
e declarações de boas intenções; é preciso viver, dia a dia, os valores do
Evangelho, seguir Jesus nesse caminho de amor e de entrega que Ele percorreu,
construir, com gestos concretos, um mundo de justiça, de bondade, de
solidariedade, de perdão, de paz. Como me situo face a isto: sou um cristão
"de registo", que tem o nome nos livros da paróquia, ou sou um
cristão "de facto", que dia a dia procura acolher a novidade de Deus,
perceber os seus desafios, responder aos seus apelos e colaborar com Ele na
construção de uma nova terra, de justiça, de paz, de fraternidade, de
felicidade para todos os homens?
• Nas nossas comunidades cristãs aparecem, com
alguma frequência, pessoas que sabem tudo sobre Deus, que se consideram família
privilegiada de Deus, mas que desprezam esses irmãos que não têm um
comportamento "religiosamente correcto" ou que não cumprem
estritamente as regras do "bom comportamento" cristão... Atenção: não
temos qualquer autoridade para catalogar as pessoas, para as excluir e
marginalizar... Na perspectiva de Deus, o importante não é que alguém se tenha
afastado ou que tenha assumido comportamentos marginais e escandalosos; o
essencial é que tenha acolhido o chamamento de Deus e que tenha aceitado
trabalhar "na vinha". A este propósito, Jesus diz algo de inaudito aos
"santos" príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo: "os
publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o Reino de
Deus". Hoje, que é que isto significa? Hoje, quem são os "vós"?
Hoje, quem são os "publicanos e mulheres de má vida"?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 26º DOMINGO
DO TEMPO COMUM
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 26º Domingo do Tempo Comum, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária
da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. DURANTE A CELEBRAÇÃO.
O rito penitencial poderá ser preparado com mais cuidado, para não ser vivido
de maneira demasiado mecânica e rotineira. As intenções penitenciais podem ser
ditas mais lentamente para melhor serem interiorizadas, os silêncios podem
permitir a cada um entrar nesta atitude de conversão à qual nos chama o Senhor.
3. PALAVRA DE VIDA.
É sempre fácil fazer belas promessas e proferir belas declarações. O que conta
são os actos. Quantas mães disseram ao seu filho de quando em vez: "Pára
de me dizer que gostas de mim... Prova-me!". Muitas vezes exprimimos a
Deus a nossa confiança através de uma bela profissão de fé, muitas vezes
reafirmamos-Lhe o nosso amor através de belas orações, mas Ele espera que Lhe
manifestemos esta confiança e este amor. Não basta dizer os actos de fé, de
esperança e de caridade. É preciso pôr em acção a nossa fé, a nossa esperança e
a nossa caridade. Então, seremos verdadeiros praticantes, pondo em prática o que
ouvimos e vivemos na missa.
4. UM PONTO DE ATENÇÃO.
O Salmo Responsorial. No interior da liturgia da Palavra, o salmo não é uma
peça mestra, pois ele exprime a mensagem da primeira leitura. Mas é muitas
vezes um tempo de meditação e de oração, é o caso de hoje. Não basta
contentar-se em ler o salmo, é preciso lê-lo bem. Salmodiar este texto não é
difícil, o cântico favorece a interiorização. O solista deve preparar-se muito
bem para cantar o salmo, cujo refrão é cantado pela assembleia. Se alguém
souber tocar flauta, poderá acompanhar a melodia do solista ou tocar algumas
notas depois do refrão, antes de cada estrofe.
5. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
Tomar parte numa acção caritativa... Procuremos tomar a nossa quota-parte numa
acção caritativa da paróquia, no bairro ou na cidade, um serviço particular a
prestar nesta semana... Não temos a tendência, muitas vezes, de deixar que as
equipas "especializadas" façam e, quanto a nós, ficarmos apenas no
dizer?
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
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Eu, Jair Ferreira da Cidade de Cruz das Almas, na Bahia da Diocese Nossa Senhora do Bom Sucesso, leio e reflito sobre as leituras diária dessa equipe(José Salviano, Helena Serpa, Olívia Coutinho, Dehoniamos, Jorge Lorente, Vera Lúcia, Maria de Lourdes Cury Macedo, Adélio Francisco) colocando em prática no meu dia-dia, obrigado a todos que doaram um pouco do seu tempo para evangelizar, catequizar e edificar o reino de Deus, que o Senhor Jesus Cristo e Nossa Mãe Maria Santíssima continue iluminando a todos. Abraços fraternos.
ResponderExcluirObrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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