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Setembro 2020
Tema do 25º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 25º Domingo do Tempo Comum
convida-nos a descobrir um Deus cujos caminhos e cujos pensamentos estão acima
dos caminhos e dos pensamentos dos homens, quanto o céu está acima da terra.
Sugere-nos, em consequência, a renúncia aos esquemas do mundo e a conversão aos
esquemas de Deus.
A primeira leitura pede aos crentes que voltem para Deus. "Voltar para
Deus" é um movimento que exige uma transformação radical do homem, de
forma a que os seus pensamentos e acções reflictam a lógica, as perspectivas e
os valores de Deus.
O Evangelho diz-nos que Deus chama à salvação todos os homens, sem considerar a
antiguidade na fé, os créditos, as qualidades ou os comportamentos
anteriormente assumidos. A Deus interessa apenas a forma como se acolhe o seu
convite. Pede-nos uma transformação da nossa mentalidade, de forma a que a
nossa relação com Deus não seja marcada pelo interesse, mas pelo amor e pela
gratuidade.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de um cristão (Paulo) que abraçou, de
forma exemplar, a lógica de Deus. Renunciou aos interesses pessoais e aos
esquemas de egoísmo e de comodismo, e colocou no centro da sua existência
Cristo, os seus valores, o seu projecto.
LEITURA I - Is 55,6-9
Leitura do Livro de Isaías
Procurai o Senhor, enquanto se pode encontrar,
invocai-O, enquanto está perto.
Deixe o ímpio o seu caminho
e o homem perverso os seus pensamentos.
Converta-se ao Senhor, que terá compaixão dele,
ao nosso Deus, que é generoso em perdoar.
Porque os meus pensamentos não são os vossos,
nem os vossos caminhos são os meus - oráculo do Senhor –.
Tanto quanto o céu está acima da terra,
assim os meus caminhos estão acima dos vossos
e acima dos vossos estão os meus pensamentos.
AMBIENTE
O Deutero-Isaías, autor deste texto, é um
profeta anónimo da escola de Isaías, que cumpriu a sua missão profética entre
os exilados da Babilónia, procurando consolar e manter acesa a esperança no
meio de um povo amargurado, desiludido e decepcionado. Os capítulos que
recolhem a sua mensagem (Is 40-55) chamam-se, por isso, "Livro da
Consolação".
Estes quatro versículos que a primeira leitura de hoje nos propõe aparecem no
final do "Livro da Consolação". Aproxima-se a libertação e, para
muitos exilados, está perto o momento do regresso à Terra Prometida. Depois de
exortar os exilados a cumprir um novo êxodo e de lhes garantir que, em Judá,
vão sentar-se à mesa do banquete que Jahwéh quer oferecer ao seu Povo (cf. Is
55,1-3), o profeta lança-lhes agora um outro repto...
O tempo do Exílio foi um tempo de angústia e de sofrimento, mas também um tempo
de amadurecimento e de graça. Aí, Israel tomou consciência das suas falhas e
infidelidades, e descobriu que o viver longe de Deus não conduz à vida e à
felicidade; por outro lado, o tempo de Exílio ajudou Israel a purificar a sua
noção de Deus, da Aliança, do culto e até do significado de ser Povo de Deus.
O Deutero-Isaías - neste momento em que se abrem novos horizontes - convida os
seus concidadãos a percorrerem esse caminho de conversão e de redescoberta de
Deus que a experiência do Exílio lhes revelou. O Povo está prestes a pôr-se a
caminho em direcção à Terra Prometida; esse "caminho" não é uma
simples deslocação geográfica mas é, sobretudo, um "caminho"
espiritual de reencontro com o Senhor. Deixar a terra da escravidão e voltar à
terra da liberdade deve significar, para Israel, uma redescoberta dos esquemas
de Deus e um esforço sério para viver na fidelidade dinâmica aos mandamentos de
Jahwéh.
MENSAGEM
O apelo do profeta é, portanto, a um recomeço.
Nesses novos caminhos que as vicissitudes da história vão abrir aos exilados, é
preciso que este Israel renovado pela experiência do Exílio continue a procurar
o Senhor, a invocá-l'O, a cultivar laços de comunhão e de proximidade com Ele.
Fundamentalmente, Israel é convidado a converter-se ou, literalmente, a
"voltar (em hebraico: 'shûb') para Deus". Essa "conversão"
exige uma transformação radical do homem, quer em termos de mentalidade, quer
em termos de comportamento ("deixe o ímpio o seu caminho e o homem
perverso os seus pensamentos" - vers. 7).
A mentalidade, os valores, as atitudes dos "ímpio" e do "homem
perverso", estão muito longe da mentalidade, dos valores e dos esquemas de
Deus. A vida do "ímpio" e do "homem perverso" funciona numa
lógica de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de violência, de
exploração; os esquemas do "ímpio" geram sofrimento, infelicidade,
morte... Deus funciona numa lógica de amor, de serviço, de partilha, de doação;
os esquemas de Deus geram alegria, paz verdadeira, vida definitiva.
Ao Povo de Deus, pede-se que prescinda da lógica do "ímpio" e do
"homem perverso", para abraçar a lógica de Deus; pede-se-lhe que não
viva de olhos postos no chão, mas que olhe para o céu e contemple os horizontes
de Deus; pede-se-lhe que seja capaz de confiar em Deus e de compreender o
acerto dos seus caminhos. Só dessa forma o Povo poderá ser feliz nessa Terra a
que vai regressar; só dessa forma Israel poderá continuar a ser fiel à sua
missão de testemunhar Jahwéh no meio dos outros povos.
A conversão implica também (este aspecto está mais sugerido do que afirmado)
uma mudança na forma de ver Deus. O homem tem sempre tendência a construir um
deus à sua imagem, um deus previsível e domesticado que funcione de acordo com
a lógica e a mentalidade do homem. No entanto, Deus não pode ser reduzido aos
nossos esquemas humanos: os seus pensamentos não são os pensamentos do homem,
as suas reacções não são as reacções do homem, os seus caminhos não são os
caminhos do homem. "Converter-se" é, a este nível, aprender que Deus
não é redutível às nossas lógicas e esquemas humanos; e é aprender que Deus tem
os seus próprios caminhos, diferentes dos nossos... "Converter-se" é,
a este nível, prescindir das nossas certezas, preconceitos e auto-suficiências,
confiar em Deus e na bondade dos caminhos através dos quais ele conduz a
história da salvação.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar as seguintes questões:
• Antes de mais, o nosso texto apela à
conversão. O "voltar para Deus" (como diz o Deutero-Isaías)
significa, neste contexto, re-equacionar a vida, de modo a que Deus passe a
estar no centro da existência do homem.
É inflectir o sentido da existência, de forma a que Deus (e não o dinheiro, o
poder, o sucesso, os amigos, a família) ocupe sempre, na vida do homem, o
primeiro lugar. A cultura pós-moderna prescindiu de Deus... Considerou que o
homem é o único senhor do seu destino e que cada pessoa tem o direito de
construir a sua felicidade à margem de Deus e dos seus valores; considerou que
os valores de Deus não permitem ao homem potencializar as suas capacidades e
ser verdadeiramente livre e feliz... Na verdade, o que é que nos faz passar da
terra da escravidão para a terra da liberdade: o amor, a partilha, o serviço, o
dom da vida, ou o egoísmo, o orgulho, a arrogância, a auto-suficiência?
• No entanto, o homem só poderá converter-se a
Deus e abraçar os seus esquemas e valores, se se mantiver em comunhão com Ele.
É na escuta e na reflexão da Palavra de Deus, na oração frequente, na atitude
de disponibilidade para acolher a vida de Deus, na entrega confiada nas mãos de
Deus, que o crente descobrirá os valores de Deus e os assumirá. Aos poucos, a
acção de Deus irá transformando a mentalidade desse crente, de forma a que ele
viva e testemunhe Deus e as suas propostas para os homens.
• A conversão é um processo nunca acabado.
Todos os dias o crente terá de optar entre os valores de Deus e os valores do
mundo, entre conduzir a sua vida de acordo com a lógica de Deus ou de acordo
com a lógica dos homens. Por isso, o verdadeiro crente nunca cruza os braços,
instalado em certezas definitivas ou em conquistas absolutas, mas esforça-se
por viver cada instante em fidelidade dinâmica a Deus e às suas propostas.
• Finalmente, o nosso texto sugere uma
reflexão sobre a imagem que temos de Deus. Não podemos construir e testemunhar
diante dos outros homens um Deus à nossa imagem, que funcione de acordo com os
nossos esquemas mentais e que assuma comportamentos parecidos com os nossos.
Temos de descobrir, no diálogo pessoal com Ele, esse Deus que nos transcende
infinitamente. Sem preconceitos, sem certezas absolutas, temos de mergulhar no
infinito de Deus, e deixarmo-nos surpreender pela sua lógica, pela sua bondade,
pelo seu amor.
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 144 (145)
Refrão: O Senhor está perto de quantos O
invocam.
Quero bendizer-Vos, dia após dia,
e louvar o vosso nome para sempre.
Grande é o Senhor e digno de todo o louvor,
insondável é a sua grandeza.
O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.
O Senhor e justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade.
LEITURA II - Filip 1,20c-24.27a
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos
Filipenses
Irmãos:
Cristo será glorificado no meu corpo,
quer eu viva quer eu morra.
Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro.
Mas, se viver neste corpo mortal é útil para o meu trabalho,
não sei o que escolher.
Sinto-me constrangido por este dilema:
desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor;
mas é mais necessário para vós
que eu permaneça neste corpo mortal.
Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo.
AMBIENTE
Filipos, cidade situada ao norte da Grécia,
foi a primeira cidade europeia evangelizada por Paulo. Era uma cidade próspera,
com uma população constituída maioritariamente por veteranos romanos do
exército. Organizada à maneira de Roma, estava fora da jurisdição dos
governantes das províncias locais e dependia directamente do imperador. Gozava,
por isso, dos mesmos privilégios das cidades de Itália.
A comunidade cristã, fundada por Paulo, Silas e Timóteo no Verão do ano 49, era
uma comunidade entusiasta, generosa e comprometida, sempre atenta às
necessidades de Paulo e do resto da Igreja (como no caso da colecta em favor da
Igreja de Jerusalém - cf. 2 Cor 8,1-5). Paulo nutria pelos "filhos"
de Filipos um afecto especial.
No momento em que escreve aos Filipenses, Paulo está na prisão (em Éfeso?). Dos
Filipenses recebeu dinheiro e o envio de Epafrodito (um membro da comunidade),
encarregado de ajudar Paulo em tudo o que fosse necessário. Enviando Epafrodito
de volta a Filipos, Paulo confia-lhe uma carta para a comunidade. É uma carta
afectuosa, onde Paulo agradece aos Filipenses a sua preocupação, a sua
solicitude e o seu amor. Nela, Paulo agradece, dá notícias, informa a
comunidade sobre a sua própria sorte e exorta os Filipenses à fidelidade ao
Evangelho.
O texto que nos é hoje proposto faz parte de uma perícopa (cf. Flp 1,12-26), na
qual Paulo fala aos Filipenses de si próprio, da sua situação, das suas
preocupações e esperanças. Paulo está consciente de que corre riscos de vida;
mas está sereno, alegre e confiante porque a única coisa que lhe interessa é
Cristo e o seu Evangelho.
MENSAGEM
Quando escreve a carta aos Filipenses, Paulo
continua preso. Não sabe se sairá da prisão vivo ou morto mas, para ele, isso
não é importante; o que é importante é que Cristo seja engrandecido - seja
através da vida, seja através da morte do apóstolo.
Para Paulo, Cristo é que é a autêntica vida. Ele é a razão de ser e de viver do
apóstolo. Na perspectiva de Paulo, a morte seria bem vinda, não como libertação
das dificuldades e das dores que se experimentam na vida terrena, mas como
caminho directo para o encontro definitivo, imediato, sem intermediários, com
Cristo. Paulo não se importaria nada de morrer a curto prazo, porque isso
significaria a comunhão total com Cristo. Especialmente significativa, a este
propósito, é a conhecida frase (que, aliás, está escrita no seu túmulo, em
Roma): "para mim, viver é Cristo e morrer é lucro".
No entanto, Paulo está consciente de que Deus pode ter outros planos e querer
que ele continue - para benefício das comunidades cristãs - algum tempo mais na
terra, a dar testemunho do Evangelho de Cristo. Paulo aceita isso: por Cristo,
está disposto a tudo. Na verdade, não são os interesses de Paulo que contam,
mas os interesses de Cristo.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode ter em conta as seguintes
questões:
• Um dos elementos que mais impressionam e
questionam neste testemunho é a centralidade de Cristo na vida de Paulo. Diante
de Cristo, todos os interesses pessoais e materiais do apóstolo passam a um
plano absolutamente secundário. O apóstolo vive de Cristo e para Cristo; nada
mais lhe interessa. Paulo aparece, neste aspecto, como o perfeito modelo do
cristão: para os baptizados, Cristo deveria ser o centro de todas as
referências e interesses, a "pedra angular" à volta da qual se
constrói a existência cristã. Que significa Cris
to para mim? Ele é a referência fundamental à volta da qual tudo se articula,
ou é apenas mais um entre muitos interesses a partir dos quais eu vou
construindo a minha vida? Quando tenho de optar, para que lado cai a minha
escolha: para o lado de Cristo, ou para o lado dos meus interesses pessoais?
• A mesma questão - a questão da centralidade
de Cristo - pode colocar-se a propósito do testemunho que a Igreja oferece aos
homens e ao mundo... É mais importante falar de Cristo e do seu Evangelho do
que dos artigos do Código de Direito Canónico; é mais importante testemunhar
Cristo e os seus valores do que discutir a estrutura hierárquica da Igreja; é
mais importante anunciar Cristo e a sua proposta de Reino do que debater
questões de organização e de disciplina... Cristo está, verdadeiramente, no
centro desse anúncio que somos convidados a fazer aos homens do nosso tempo?
• Neste texto, impressiona também a liberdade
total de Paulo face à morte. Essa liberdade resulta do facto de a fé que anima
o apóstolo lhe permitir encarar a morte, não como o mais terrível e assustador
de todos os males, mas como a possibilidade do encontro definitivo e pleno com
Cristo. Dessa forma, Paulo pode entregar-se tranquilamente ao exercício do seu
ministério, sem deixar que o medo trave o seu empenho e o seu testemunho.
Também aqui a atitude de Paulo interpela e questiona os crentes... Para um
cristão, a morte é o momento da realização plena, do encontro com a vida
definitiva. Não é um drama sem sentido, sem remédio e sem esperança. Para um
cristão, não faz sentido que o medo da perseguição ou da morte impeça o
compromisso com os valores de Deus e com o compromisso profético diante do
mundo.
ALELUIA - cf. Actos 16,14b
Aleluia. Aleluia.
Abri, Senhor, os nossos corações,
para aceitarmos a palavra do vosso Filho.
EVANGELHO - Mt 20,1-16a
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
São Mateus
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola:
«O reino dos Céus pode comparar-se a um proprietário,
que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha.
Ajustou com eles um denário por dia
e mandou-os para a sua vinha.
Saiu a meio da manhã,
viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes:
'Ide vós também para a minha vinha
e dar-vos-ei o que for justo'.
E eles foram.
Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde,
e fez o mesmo.
Saindo ao cair da tarde,
encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes:
'Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?'
Eles responderam-lhe: 'Ninguém nos contratou'.
Ele disse-lhes: 'Ide vós também para a minha vinha'.
Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz:
«Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário,
a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros'.
Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um.
Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais,
mas receberam também um denário cada um.
Depois de o terem recebido,
começaram a murmurar contra o proprietário, dizendo:
'Estes últimos trabalharam só uma hora
e deste-lhes a mesma paga que a nós,
que suportámos o peso do dia e o calor'.
Mas o proprietário respondeu a um deles:
'Amigo, em nada te prejudico.
Não foi um denário que ajustaste comigo?
Leva o que é teu e segue o teu caminho.
Eu quero dar a este último tanto como a ti.
Não me será permitido fazer o que eu quero do que é meu?
Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?'
Assim, os últimos serão os primeiros
e os primeiros serão os últimos».
AMBIENTE
No texto que nos é proposto, Jesus continua a
instruir os discípulos, a fim de que eles compreendam a realidade do Reino e,
após a partida de Jesus, a testemunhem. Trata-se de mais uma "parábola do
Reino".
O quadro que a parábola nos apresenta reflecte bastante bem a realidade social
e económica dos tempos de Jesus. A Galileia estava cheia de camponeses que, por
causa da pressão fiscal ou de anos contínuos de más colheitas, tinham perdido
as terras que pertenciam à sua família. Para sobreviver, esses camponeses sem terra
alugavam a sua força de trabalho. Juntavam-se na praça da cidade e esperavam
que os grandes latifundiários os contratassem para trabalhar nos seus campos ou
nas suas vinhas. Normalmente, cada "patrão" tinha os seus
"clientes" - isto é, homens em quem ele confiava e a quem contratava
regularmente. Naturalmente, esses trabalhadores "de confiança"
recebiam um tratamento de favor. Esse tratamento de favor implicava,
nomeadamente, que esses "clientes" fossem sempre os primeiros a ser
contratados, a fim de que pudessem ganhar uma "jorna" completa (um
"denário", que era o pagamento diário habitual de um trabalhador não
especializado).
MENSAGEM
A parábola refere-se, portanto, a um dono de
uma vinha que, ao romper da manhã, se dirigiu à praça e chamou os seus "clientes"
para trabalhar na sua vinha, ajustando com eles o preço habitual: um denário. O
volume de tarefas a realizar na vinha fez com que este patrão voltasse a sair a
meio da manhã, ao meio-dia, às três da tarde e ao cair da tarde e que
trouxesse, de cada vez, novas levas de trabalhadores. O trabalho decorreu sem
incidentes, até ao final do dia.
Ao anoitecer, os trabalhadores foram chamados diante do senhor, a fim de
receberem a paga do trabalho. Todos - quer os que só tinham trabalhado uma
hora, quer os que tinham trabalhado todo o dia - receberam a mesma paga: um
denário. Contudo, os trabalhadores da primeira hora (os "clientes"
habituais do dono da vinha) manifestaram a sua surpresa e o seu desconcerto
por, desta vez, não terem recebido um tratamento "de favor".
A resposta final do dono da vinha afirma que ninguém tem nada a reclamar se ele
decide derramar a sua justiça e a sua misericórdia sobre todos, sem excepção.
Ele cumpre as suas obrigações para com aqueles que trabalham com ele desde o
início; não poderá ser bondoso e misericordioso para com aqueles que só chegam
no fim? Isso em nada deveria afectar os outros...
Muito provavelmente, a parábola serviu primariamente a Jesus para responder às
críticas dos adversários, que O acusavam de estar demasiado próximo dos
pecadores (os trabalhadores da última hora). Através dela, Jesus mostra que o
amor do Pai se derrama sobre todos os seus filhos, sem excepção e por igual.
Para Deus, não é decisiva a hora a que se respondeu ao seu apelo; o que é
decisivo é que se tenha respondido ao seu convite para trabalhar na vinha do
Reino. Para Deus, não há tratamento "especial" por antiguidade; para
Deus, todos os seus
filhos são iguais e merecem o seu amor.
A parábola serviu a Jesus, também, para denunciar a concepção que os teólogos
de Israel tinham de Deus e da salvação. Para os fariseus, sobretudo, Deus era
um "patrão" que pagava conforme as acções do homem. Se o homem
cumprisse escrupulosamente a Lei, conquistaria determinados méritos e Deus
pagar-lhe-ia convenientemente. Segundo esta perspectiva, Deus não dá nada; é o
homem que conquista tudo. O "deus" dos fariseus é uma espécie de
comerciante, que todos os dias aponta no seu livro de registos as dívidas e os
créditos do homem, que um dia faz as contas finais, vê o saldo e dá a
recompensa ou aplica o castigo.
Para Jesus, no entanto, Deus não é um contabilista, sempre de lápis na mão a
fazer as contas dos homens para lhes pagar conforme os seus merecimentos; mas é
um pai, cheio de bondade, que ama todos os seus filhos por igual e que derrama
sobre todos, sem excepção, o seu amor.
A parábola foi, depois, proposta por Mateus à sua comunidade (provavelmente a
comunidade cristã de Antioquia da Síria) para iluminar a situação concreta que
a comunidade estava a viver com a entrada maciça de pagãos na Igreja. Alguns
cristãos de origem judaica não conseguiam entender que os pagãos, vindos mais
tarde, estivessem em pé de igualdade com aqueles que tinham acolhido a proposta
do Reino desde a primeira hora. Mateus deixa, no entanto, claro que o Reino é
um dom oferecido por Deus a todos os seus filhos, sem qualquer excepção. Judeus
ou gregos, escravos ou livres, cristãos da primeira hora ou da última hora,
todos são filhos amados do mesmo Pai. Na comunidade de Jesus não há graus de antiguidade,
de raça, de classe social, de merecimento... O dom de Deus destina-se a todos,
por igual.
Conclusão: A parábola convida-nos a perceber que o nosso Deus é o Deus que
oferece gratuitamente a salvação a todos os seus filhos, independentemente da
sua antiguidade, créditos, qualidades, ou comportamentos. Os membros da
comunidade do Reino não devem, por isso, fazer o bem em vista de uma
determinada recompensa, mas para encontrarem a felicidade, a vida verdadeira e
eterna.
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar as seguintes linhas:
• Antes de mais, o nosso texto deixa claro que
o Reino de Deus (esse mundo novo de salvação e de vida plena) é para todos sem
excepção. Para Deus não há marginalizados, excluídos, indignos,
desclassificados... Para Deus, há homens e mulheres - todos seus filhos,
independentemente da cor da pele, da nacionalidade, da classe social - a quem
Ele ama, a quem Ele quer oferecer a salvação e a quem Ele convida para
trabalhar na sua vinha. A única coisa verdadeiramente decisiva é se os interpelados
aceitam ou não trabalhar na vinha de Deus. Fazer parte da Igreja de Jesus é
fazer uma experiência radical de comunhão universal.
• Todos têm lugar na Igreja de Jesus... Mas
todos terão a mesma dignidade e importância? Jesus garante que sim. Não há
trabalhadores mais importantes do que os outros, não há trabalhadores de
primeira e de segunda classe. O que há é homens e mulheres que aceitaram o
convite do Senhor - tarde ou cedo, não interessa - e foram trabalhar para a sua
vinha. Dentro desta lógica, que sentido é que fazem certas atitudes de quem se
sente dono da comunidade porque "estou aqui há mais tempo do que os
outros", ou porque "tenho contribuído para a comunidade mais do que
os outros"? Na comunidade de Jesus, a idade, o tempo de serviço, a cor da
pele, a posição social, a posição hierárquica, não servem para fundamentar
qualquer tipo de privilégios ou qualquer superioridade sobre os outros irmãos.
Embora com funções diversas, todos são iguais em dignidade e todos devem ser
acolhidos, amados e considerados de igual forma.
• O nosso texto denuncia ainda essa concepção
de Deus como um "negociante", que contabiliza os créditos dos homens
e lhes paga em consequência. Deus não faz negócio com os homens: Ele não
precisa da mercadoria que temos para Lhe oferecer. O Deus que Jesus anuncia é o
Pai que quer ver os seus filhos livres e felizes e que, por isso, derrama o seu
amor, de forma gratuita e incondicional, sobre todos eles. Sendo assim que
sentido fazem certas expressões da vivência religiosa que são autênticas
negociatas com Deus ("se tu me fizeres isto, prometo-te aquilo";
"se tu me deres isto, pago-te com aquilo")?
• Entender que Deus não é um negociante, mas
um Pai cheio de amor pelos seus filhos, significa também renunciar a uma lógica
interesseira no nosso relacionamento com ele. O cristão não faz as coisas por
interesse, ou de olhos postos numa recompensa (o céu, a "sorte" na
vida, a eliminação da doença, o adivinhar a chave da lotaria), mas porque está
convicto de que esse comportamento que Deus lhe propõe é o caminho para a
verdadeira vida. Quem segue o caminho certo, é feliz, encontra a paz e a
serenidade e colhe, logo aí, a sua recompensa.
• Com alguma frequência encontramos cristãos
que não entendem porque é que Deus ama e aceita na sua família, em pé de
igualdade com os filhos da primeira hora, esses que só tardiamente responderam
ao apelo do Reino. Sentem-se injustiçados, incompreendidos, ciumentos,
invejosos e condenam, mais ou menos veladamente, essa lógica de misericórdia
que, à luz dos critérios humanos, lhes parece muito injusta. Na sua
perspectiva, a fidelidade a Deus e aos seus mandamentos merece uma recompensa e
esta deve ser tanto maior quanto maior a antiguidade e a qualidade dos
"serviços" prestados a Deus. Que sentido faz esta lógica à luz dos
ensinamentos de Jesus?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 24º DOMINGO
DO TEMPO COMUM
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 24º Domingo do Tempo Comum, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária
da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. A VINHA.
Neste domingo (e nos dois próximos) temos a imagem da vinha. Embora a
comparação só apareça plenamente no 27º domingo (em que a vinha significa o
povo de Israel), pode ser interessante, a partir deste domingo: pôr em
evidência uma cepa, quer na entrada da igreja, quer dentro da igreja (é o mês
da vindima em muitas regiões); solenizar a procissão das oferendas pedindo a um
jovem para levar ao altar um belo cacho de uvas...
3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o
acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
Nós Te louvamos, Deus nosso Pai, porque Te deixas encontrar por aqueles que Te
procuram e tens piedade daqueles que vêm até Ti. Tu estás próximo de nós, és
rico em perdão e misericórdia e os teus pensamentos são tão elevados acima dos
nossos.
Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos guie, que Ele nos livre dos caminhos do
mal, que Ele eleve e inspire os nossos pensamentos.
No final da segunda leitura:
Senhor Jesus Cristo, nós Te bendizemos e com o apóstolo Paulo confessamos: a
nossa vida, a nossa alegria e a nossa felicidade, és Tu.
Nós Te pedimos por nós mesmos e por todas as nossas comunidades cristãs:
penetra-nos com o teu Espírito, para que levemos uma vida digna do teu Evangelho
e que a tua grandeza seja manifestada nas nossas vidas.
No final do Evangelho:
Deus da Aliança antiga e nova, não cessas de chamar os homens a mudar de
mentalidade. Hoje, Jesus recorda-nos isso uma vez mais na parábola da última
hora.
Abre os nossos olhos, as nossas mãos e os nossos corações, Senhor de infinita
ternura. No respeito leal pela justiça dos homens, ensina-nos, pelo teu
Espírito, a dar provas de generosidade.
4. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística II, que nos recorda que fomos
"escolhidos para servir" (2ª leitura).
5. PALAVRA PARA O CAMINHO.
"Ide também vós para a minha Vinha!" Pobreza na nossa Igreja. Falta
de vocações... Assembleias dominicais "raquíticas"... Cada vez menos
crianças na catequese... Críticas... Lamentações... Decepções... "Ide
também vós para a minha Vinha!" Compreendemos bem que Jesus não faz
selecção e que Se dirige a todos sem excepção. Cabe-nos a nós aceitar ser
"contratados". Há trabalho para todos? Vamos para a sua Vinha?
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org
Agradecemos a Deus a Liturgia Comentada, em especial, aqui, a página dos "Dehonianos" ensejando a vida nova em Cristo e a felicidade de que isto se "abarque" a todo o cosmos da solicitude do amor de Deus que quer uma vida nova para a Humanidade em sintonia feliz com toda a Vida! É feliz crermos neste Cristo Senhor, e a simplicidade que vem dEle faz novas todas as coisas e inclusive toda Teologia humana que precisa do anteparo do amor, do amor de Deus, de Cristo em função de sermos lógicos e atuantes na disposição de Sua Vontade na Igreja, seja nos Sacramentos, seja no dispor de nossa fé que tem princípios , vida e lógica a todos na renovação e cura e libertação que se faz presente, SE FAZ PRESENTE!!!!
ResponderExcluirBom dia, e adiante! Adiante com o amor de Deus e sua bondade sem fim!
Walter Antonio Rehder Filho, Teólogo.
Mococa, SP.