9 Outubro 2016
ANO C
28º DOMINGO DO TEMPO
COMUM
Tema do 28º Domingo do
Tempo Comum
A liturgia deste
domingo mostra-nos, com exemplos concretos, como Deus tem um projecto de
salvação para oferecer a todos os homens, sem excepção; reconhecer o dom de
Deus, acolhê-lo com amor e gratidão, é a condição para vencer a alienação, o
sofrimento, o afastamento de Deus e dos irmãos e chegar à vida plena.
A primeira leitura
apresenta-nos a história de um leproso (o sírio Naamã). O episódio revela que
só Jahwéh oferece ao homem a vida e a salvação, sem limites nem excepções; ao
homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-l’O como o único salvador e
manifestar-Lhe gratidão.
O Evangelho
apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus e que através de
Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam toda a
humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus derrama a
sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui se chama a atenção para a
resposta do homem ao dom de Deus: todos os que experimentam a salvação que Deus
oferece devem reconhecer o dom, acolhê-lo e manifestar a Deus a sua gratidão.
A segunda leitura
define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de
Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega
aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.
LEITURA I – 2 Reis
5,14-17
Leitura do Segundo
Livro dos Reis
Naqueles dias,
o general sírio Naamã
desceu ao Jordão
e aí mergulhou sete
vezes,
como lhe mandara
Eliseu, o homem de Deus.
A sua carne tornou-se
tenra como a de uma criança
e ficou purificado da
lepra.
Naamã foi ter
novamente com o homem de Deus,
acompanhado de toda a
sua comitiva.
Ao chegar diante dele,
exclamou:
«Agora reconheço que
em toda a terra
não há outro Deus
senão o de Israel.
Peço-te que aceites um
presente deste teu servo».
Eliseu respondeu-lhe:
«Pela vida do Senhor
que eu sirvo,
nada aceitarei».
E apesar das insistências,
ele recusou.
Disse então Naamã:
«Se não aceitas,
permite ao menos que
se dê a este teu servo
uma porção de terra
para um altar,
tanto quanto possa
carregar uma parelha de mulas,
porque o teu servo
nunca mais há-de oferecer
holocausto ou sacrifício
a quaisquer outros deuses,
mas apenas ao Senhor,
Deus de Israel».
AMBIENTE
A primeira leitura
deste domingo situa-nos no reino do Norte (Israel), durante o reinado de Jorão
(853-842 a.C.). Os reis de Israel – preocupados em fazer do seu país um estado
moderno e em marcar o seu lugar no xadrez político do antigo Médio Oriente –
mantêm, por esta altura, um intercâmbio muito vivo com os povos da zona. Em
termos religiosos, essa política traduz-se numa invasão de deuses, de cultos e
de valores estrangeiros, que ameaçam a integridade da fé jahwista. Apesar de
Jorão ter tirado “as estátuas que seu pai tinha erigido a Baal” (2 Re 3,2), é
uma época em que os deuses cananeus assumem um grande protagonismo e Baal
substitui Jahwéh no coração e na vida de muitos israelitas.
Nesta fase, o profeta
Eliseu assume-se como o grande defensor da fé jahwista continuando, aliás, a
obra do seu antecessor Elias. Eliseu fazia parte de uma comunidade de “filhos
dos profetas” (2 Re 2,3; 4,1)… Trata-se, provavelmente, de um círculo profético
cujos membros eram os seguidores incondicionais de Jahwéh e aqueles em quem o
Povo buscava apoio, face aos abusos dos poderosos.
No capítulo 5 do
segundo Livro dos Reis, os autores deuteronomistas contam-nos a história do
general sírio Naamã: considerado um dos heróis da Síria, era leproso; mas,
informado por uma serva de que em Israel havia um profeta que podia curá-lo do
seu mal, veio ao encontro de Eliseu, carregado de presentes. Eliseu mandou,
apenas, que Naamã se banhasse sete vezes no rio Jordão (cf. 2 Re 5,1-13).
MENSAGEM
A leitura que nos é
proposta descreve a cura do sírio Naamã e as reacções das várias personagens
envolvidas; mas, mais do que apresentar uma reportagem do acontecimento, os
autores deuteronomistas quiseram tecer algumas considerações de carácter
teológico e catequético, que ajudassem os israelitas (seduzidos pelo culto de
Baal) a redescobrir os fundamentos da sua fé.
Em primeiro lugar, os
catequistas de Israel quiseram deixar claro que Jahwéh é o Senhor da vida, que
Ele tem um projecto de libertação para o homem e que só Ele pode salvar aquele
que parece condenado à morte. Deus até Se pode servir de homens para actuar no
mundo; mas é d’Ele – e apenas d’Ele – que brotam a salvação e a vida; é preciso
que os israelitas reconheçam isto, como o sírio Naamã o reconheceu.
Em segundo lugar, os
catequistas de Israel quiseram mostrar que a intervenção salvadora de Jahwéh
não é uma acção meramente circunstancial, que apenas resolve os problemas
externos, mas é uma acção que actua a um nível profundo e que transforma radicalmente
a vida do homem… Naamã não ficou só curado de uma doença física que punha em
risco a sua vida; mas a intervenção de Deus saldou-se numa transformação
espiritual que fez do sírio Naamã um homem novo e o levou a deixar os ídolos
para servir o verdadeiro e único Deus… A expressão dessa mudança radical é a
afirmação de Naamã de que “não há outro Deus em toda a terra senão o de Israel”
(vers. 15) e que nunca mais irá “oferecer holocausto ou sacrifício a quaisquer
outros deuses, mas apenas ao Senhor, Deus de Israel” (vers. 17).
Em terceiro lugar, a
história deixa claro que a oferta da salvação não é um dom exclusivo, reservado
a alguns privilegiados ou a uma raça especial: Naamã é sírio e, portanto, um
inimigo tradicional do Povo de Deus… Mas Deus não faz distinção de pessoas e
oferece a todos, sem excepção, a sua graça. O que é decisivo é o acolher o dom
de Deus e aceitar deixar-se transformar por Ele.
Em quarto lugar, a
catequese deuteronomista sublinha a “gratidão” de Naamã. Liberto dos males que
o apoquentavam, ele quis agradecer a sua cura cumulando Eliseu de presentes;
mas depressa percebeu (por acção de Eliseu, que o ajudou a ver claro) que não
era a um homem que tinha de agradecer o dom da vida, mas sim a Deus… E a sua
gratidão manifestou-se numa adesão total a Jahwéh. Os catequistas de Israel
sugerem que é essa a resposta que Deus espera do homem.
Em quinto lugar,
atente-se na atitude de Eliseu que nunca manifestou qualquer vontade de se
aproveitar da intervenção de Deus em favor de Naamã para benefício próprio. Ao
recusar aceitar qualquer presente das mãos de Naamã, Eliseu dá a entender que
não é a ele mas a Jahwéh que o general sírio deve agradecer a cura. É provável
que haja aqui uma denúncia irónica da atitude dos líderes religiosos da época,
sempre preocupados em utilizar Deus em benefício dos seus esquemas egoístas…
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão e partilha
podem fazer-se considerando os seguintes dados:
• A leitura
convida-nos, antes de mais, a tomar consciência de que é de Deus – desse Deus
que tem um projecto de salvação para o homem – que recebemos a vida plena. A
constatação desse facto atinge uma importância primordial, numa época em que
somos diariamente convidados a colocar a nossa esperança e a nossa segurança em
ídolos de pés de barro (para alguns, podem ser o “poderoso médium” ou a
“vidente/taróloga/espírita” que garantem a solução para o mau olhado, a inveja,
os males de amor, o insucesso nos negócios, etc.; para a maioria, são o
dinheiro, o poder, a moda, o comodismo, o êxito, a casa com piscina, o Ferrari
ou o último programa de televisão que faz ganhar vinte mil contos e abrir a
janela da fama…). É em Deus que eu coloco a minha esperança de vida plena, ou
há outros deuses que me seduzem, que dirigem a minha vida e que são a minha
esperança de realização e de felicidade?
• Convém também não
esquecer que a proposta de salvação que Deus faz se destina a todos os homens e
mulheres, sem excepção. O nosso Deus não é um Deus dos “bonzinhos”, dos bem
comportados, dos brancos, dos politicamente correctos ou dos que têm o nome no
livro de registos da paróquia… O nosso Deus é o Deus que oferece a vida a todos
e que a todos ama como filhos; o que é decisivo é aceitar a sua oferta de
salvação e acolher o seu dom. Daqui resultam duas coisas importantes: a
primeira é que não basta ser baptizado (e depois prescindir d’Ele e viver à
margem das suas propostas); a segunda é que não podemos marginalizar ou excluir
qualquer irmão nosso.
• A história do sírio
Naamã levanta, ainda, a questão da gratidão… É preciso que nos apercebamos que
tudo é dom do amor de Deus e não uma conquista nossa ou a recompensa pelos
nossos méritos ou pelas nossas boas obras. Estou consciente de que é de Deus
que recebo tudo e manifesto-Lhe a minha gratidão pela sua presença, pelos seus dons,
pelo seu amor?
• Aqueles que recebem
de Deus carismas para pôr ao serviço dos irmãos: sentem-se apenas instrumentos
de Deus e procuram dirigir os olhares e a gratidão dos irmãos para Deus, ou
estão preocupados em sublinhar os seus méritos e em concentrar em si próprios a
gratidão que brota dos corações daqueles a quem servem?
SALMO RESPONSORIAL –
Salmo 97 (98)
Refrão 1: O Senhor
manifestou a salvação a todos os povos.
Refrão 2: Diante dos
povos manifestou Deus a salvação.
Cantai ao Senhor um
cântico novo
pelas maravilhas que
Ele operou.
A sua mão e o seu
santo braço
Lhe deram a vitória.
O Senhor deu a
conhecer a salvação,
revelou aos olhos das
nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua
bondade e fidelidade
em favor da casa de
Israel.
Os confins da terra puderam
ver
a salvação do nosso
Deus.
Aclamai o Senhor,
terra inteira,
exultai de alegria e
cantai.
LEITURA II – 2 Tim
2,8-13
Leitura da Segunda
Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo:
Lembra-te de que Jesus
Cristo, descendente de David,
ressuscitou dos
mortos, segundo o meu Evangelho,
pelo qual eu sofro,
até ao ponto de estar
preso a estas cadeias como um malfeitor.
Mas a palavra de Deus
não está encadeada.
Por isso, tudo suporto
por causa dos eleitos,
para que obtenham a
salvação que está em Cristo Jesus,
com a glória eterna.
É digna de fé esta
palavra:
Se morremos com
Cristo, também com Ele viveremos;
se sofremos com
Cristo, também com ele reinaremos;
se O negarmos, também
Ele nos negará;
se Lhe formos infiéis,
Ele permanece fiel,
porque não pode
negar-Se a Si mesmo.
AMBIENTE
Continuamos a ler a
segunda Carta a Timóteo… Para percebermos a mensagem que o texto nos propõe,
convém recordar que esta carta (escrita por um autor desconhecido que, no
entanto, se identifica com o apóstolo Paulo) nos coloca, provavelmente, no
contexto dos finais do séc. I ou inícios do séc. II, numa altura em as
comunidades cristãs sentiam arrefecido o entusiasmo dos inícios, conheciam a
perseguição e estavam a ser perturbadas pelas heresias e pelas falsas doutrinas.
O autor exorta Timóteo (e, na pessoa de Timóteo, todos os crentes, em geral) a
perseverar na fé, a conservar a sã doutrina recebida de Jesus e a dedicar-se
totalmente ao serviço do Evangelho.
MENSAGEM
Depois de exortar
Timóteo a uma dedicação total ao ministério (cf. 2 Tim 2,1-7), o autor da carta
apresenta o motivo supremo que justifica essa entrega: o exemplo de Cristo, que
chegou à glória da ressurreição pelo caminho da cruz e do dom da vida… O
próprio Paulo seguiu esse duro caminho e é por isso que está preso; mas não
está preocupado, pois o essencial é que a Palavra de Deus continue a
transformar o mundo. Aliás, é preciso que alguns entreguem a própria vida para
que a proposta libertadora de Jesus chegue a todos os homens… Vale a pena
sofrer, a fim de que este objectivo se concretize.
O parágrafo final
(vers. 11-13) corrobora e clarifica as afirmações precedentes. O cristão é
chamado a identificar-se com Cristo na entrega da vida e no serviço aos irmãos;
essa entrega não termina no fracasso e no sem sentido, mas – a exemplo de
Cristo – na ressurreição, na vida nova. O cristão não pode é recusar fazer da
sua vida um dom de amor, se quiser identificar-se com Cristo.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar os
seguintes dados para a reflexão e partilha:
• O autor da Segunda
Carta a Timóteo recorda, aqui, algo de central para a experiência cristã: a
essência do cristianismo é a identificação de cada crente com Cristo. Isto
traduz-se, concretamente, no entregar a própria vida em favor dos irmãos, se
necessário até ao dom total. Identifico-me de tal forma com Cristo que sou
capaz de O seguir no caminho do amor e da entrega?
• A opinião pública do
nosso tempo está convencida de que uma vida gasta no serviço simples e humilde
em favor dos irmãos é uma vida fracassada; mas o autor da Segunda Carta a
Timóteo garante que uma vida de amor e de serviço é uma vida plenamente
realizada, pois no final da caminhada espera-nos a ressurreição, a vida plena
(são os efeitos da nossa identificação com Cristo). O que é que, para mim, faz
mais sentido? No meu dia a dia domina o egoísmo e a auto-suficiência, ou o
amor, a partilha, o dom da vida?
ALELUIA – cf. 1Tes
5,18
Aleluia. Aleluia.
Em todo o tempo e
lugar dai graças a Deus,
porque esta é a sua
vontade a vosso respeito em Cristo Jesus.
EVANGELHO – Lc
17,11-19
Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
indo Jesus a caminho
de Jerusalém,
passava entre a
Samaria e a Galileia.
Ao entrar numa
povoação,
vieram ao seu encontro
dez leprosos.
Conservando-se a
distância, disseram em alta voz:
«Jesus, Mestre, tem
compaixão de nós».
Ao vê-los, Jesus
disse-lhes:
«Ide mostrar-vos aos
sacerdotes».
E sucedeu que no
caminho ficaram limpos da lepra.
Um deles, ao ver-se
curado,
voltou atrás,
glorificando a Deus em alta voz,
e prostrou-se de rosto
por terra aos pés de Jesus
para Lhe agradecer.
Era um samaritano.
Jesus, tomando a
palavra, disse:
«Não foram dez que
ficaram curados?
Onde estão os outros
nove?
Não se encontrou quem
voltasse para dar glória a Deus
senão este estrangeiro?»
E disse ao homem:
«Levanta-te e segue o
teu caminho;
a tua fé te salvou».
AMBIENTE
Mais uma vez Lucas
apresenta um episódio situado no “caminho de Jerusalém” (esse “caminho
espiritual”, ao longo do qual os discípulos vão aprendendo e interiorizando os valores
e a realidade do “Reino”).
No “caminho” de Jesus
e dos discípulos aparecem, portanto, dez leprosos. O leproso é, no tempo de
Jesus, o protótipo do marginalizado… Além de causar naturalmente repugnância
pela sua aparência e de infundir medo de contágio, o leproso é um impuro ritual
(cf. Lev 13-14), a quem a teologia oficial atribuía pecados especialmente
gravosos (a lepra era o castigo de Deus para esses pecados); por isso, o
leproso não podia sequer entrar na cidade de Jerusalém, a fim de não despurificar
a cidade santa. Devia afastar-se de qualquer convívio humano para que não
contaminasse os outros com a sua impureza física e religiosa. Em caso de cura,
devia apresentar-se diante de um sacerdote, a fim de que ele comprovasse a cura
e lhe permitisse a reintegração na vida normal (cf. Lev 14). Podia, então,
voltar a participar nas celebrações do culto.
Um dos leprosos
(precisamente aquele que vai desempenhar o papel principal, neste episódio) é
samaritano. Os samaritanos eram desprezados pelos judeus de Jerusalém, por
causa do seu sincretismo religioso. A desconfiança religiosa dos judeus em
relação aos samaritanos começou quando, em 721 a.C. (após a queda do reino do
Norte), os colonos assírios invadiram a Samaria e começaram a misturar-se com a
população local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a
paganizar-se… Após o regresso do exílio da Babilónia, os habitantes de
Jerusalém recusaram qualquer ajuda dos samaritanos na reconstrução do Templo e
evitaram os contactos com esses hereges, “raça misturada com pagãos”. A
construção de um santuário samaritano no monte Garizim consumou a separação e,
na perspectiva judaica, lançou definitivamente os samaritanos nos caminhos da
infidelidade a Jahwéh. Algumas picardias mútuas nos séculos seguintes
consolidaram a inimizade entre judeus e samaritanos. Na época de Jesus, a
relação entre as duas comunidades era marcada por uma grande hostilidade.
MENSAGEM
O episódio dos dez
leprosos (que é exclusivo de Lucas) insere-se perfeitamente na óptica teológica
de um evangelho cujo objectivo fundamental é apresentar Jesus como o Deus que
Se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação/libertação a todos os
homens, particularmente aos oprimidos e marginalizados.
É esse o ponto de
partida da história que Lucas nos conta: ele mostra que Deus tem uma proposta
de vida nova e de libertação para oferecer a todos os homens. O número dez tem,
certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo
considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de
que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a
totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica,
contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas
à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos os homens, sem excepção,
mesmo àqueles que o judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação.
Contudo, o acento do
episódio de hoje é posto – mais do que no episódio da cura em si – no facto de
que, dos dez leprosos curados, só um tenha voltado para trás para agradecer a
Jesus e no facto de este ser um samaritano. Lucas está interessado em mostrar
que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e deve estar
agradecido… E avisa que, com frequência, são os hereges, os marginais, os
desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à margem da salvação, que
estão mais atentos aos dons de Deus. Haverá aqui, certamente, uma alusão à
auto-suficiência dos judeus que, por se sentirem “Povo eleito”, achavam natural
que Deus os cumulasse dos seus dons; no entanto, não reconheceram a proposta de
salvação que, através de Jesus, Deus lhes ofereceu… Certamente haverá aqui,
também, um apelo aos discípulos de Jesus, para que não ignorem o dom de Deus e
saibam responder-Lhe com a gratidão e a fé (entendida como adesão a Jesus e à
sua proposta de salvação).
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão e partilha
podem tocar as seguintes questões:
• A “lepra” que rouba
a vida a esses “dez” homens que a leitura de hoje nos apresenta representa o
infortúnio que atinge a totalidade da humanidade e que gera exclusão,
marginalidade, opressão, injustiça. É a condição de uma humanidade marcada pelo
sofrimento, pela miséria, pelo afastamento de Deus e dos irmãos, que aqui nos é
pintada… Lucas garante, no entanto, que Deus tem um projecto de salvação para
todos os homens, sem excepção; e que é em Jesus e através de Jesus que esse
projecto atinge todos os que se sentem “leprosos” e os faz encontrar a vida
plena, a reintegração total na família de Deus e na comunidade humana.
• É preciso ter uma
resposta de gratidão e de adesão à proposta de salvação que Deus faz. Atenção:
muitas vezes são aqueles que parecem mais fora da órbita de Deus que primeiro
reconhecem o seu dom, que o acolhem e que aderem à proposta de vida nova que
lhes é feita. Às vezes, aqueles que lidam diariamente com o mundo do sagrado
estão demasiado cheios de auto-suficiência e de orgulho para acolherem com
humildade e simplicidade os dons de Deus, para manifestarem gratidão e para
aceitarem ser transformados pela graça… Convém pensar na atitude que, dia a
dia, eu assumo diante de Deus: se é uma atitude de auto-suficiência, ou se é
uma atitude de adesão humilde e de gratidão.
• Como lidamos com
aqueles que a sociedade de hoje considera “leprosos” e que, muitas vezes, se
encontram numa situação de exclusão e de marginalidade (os sem abrigo, os
drogados, os deficientes, os doentes terminais, os idosos abandonados em lares,
os analfabetos, os que vivem abaixo do limiar da pobreza, os que não têm
telemóvel nem internet, os que não vestem de acordo com a moda, os que não
pactuam com certos valores politicamente correctos, os que não consomem
produtos “light” e não têm uma silhueta moderna, os que não frequentam as
festas sociais nem aparecem nos programas televisivos de sucesso…): com
desprezo, com indiferença, com medo de ficar contaminados ou como testemunhas
da bondade e do amor de Deus?
• Curiosamente, os dez
“leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra” desaparece
“no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a acção
libertadora de Jesus não é uma acção mágica, caída repentinamente do céu, mas
um processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a caminhada
cristã), no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus,
até à adesão plena às suas propostas e à efectiva transformação do coração.
Assim, a nossa “cura” não é um momento mágico que acontece quando somos
baptizados, ou fazemos a primeira comunhão ou nos crismamos; mas é uma
caminhada progressiva, durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida
nova.
ALGUMAS SUGESTÕES
PRÁTICAS PARA O 28º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes
d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA
AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da
semana anterior ao 28º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de
Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por
exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num
grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa
comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra
de Deus.
2. PALAVRA CELEBRADA
NA EUCARISTIA.
A Palavra de Deus não
se limita ao tempo da proclamação e da escuta da Palavra. Na preparação da
celebração, procurar que algumas expressões da liturgia da Palavra estejam
presentes no momento penitencial, nalguma intenção da oração dos fiéis, num
momento de acção de graças… Hoje, a liturgia da Palavra está unificada à volta
do tema da salvação e tem um sentido dialogal: Deus dá a graça, nós damos
graças pelo dom da salvação, o dom do seu amor.
3. BILHETE DE
EVANGELHO.
É preciso ser um
samaritano, um dos habitantes da Samaria com os quais os Judeus não querem ter
nada em comum, a vir até Jesus após a sua cura, para ter um acto de
reconhecimento. Sim, ele reconhece que Deus o curou pois ele glorifica-O,
enquanto Jesus reconhecerá que a sua fé o salvou. Ele é salvo precisamente
porque reconhece Aquele que o salva. Tal é a diferença em relação aos outros
nove leprosos curados que não reconhecem Aquele que os purificou. Enfim, o
leproso samaritano faz acto de reconhecimento vindo agradecer: lança o rosto
por terra aos pés de Jesus dando-Lhe graças. O homem pode levantar-se porque
está totalmente salvo: não apenas o seu corpo é purificado mas, ao vir
glorificar Deus e dar-Lhe graças, pode aproximar-se de Jesus, o verdadeiro
Salvador, que salva o homem e dele espera a caminhada da fé.
4. À ESCUTA DA
PALAVRA.
Todos os pais têm a
preocupação em ensinar aos seus filhos “se faz favor” e “obrigado”. Isso faz
parte da boa educação. Mas estas duas palavras estão carregadas de um sentido
que a criança deve descobrir progressivamente: ninguém consegue sozinho, todos
temos necessidade dos outros. Reconhecer que, sozinho, não posso fazer tudo;
tenho necessidade de receber, de pedir. E dizendo obrigado aos outros,
reconheço que me fizeram bem. Enfim, estas palavras, que parecem tão banais,
exprimem a dimensão social do ser humano. A comunidade humana e a comunidade
cristã constroem-se através destas relações, destes contactos quotidianos nos
quais cada um se reconhece, em todos os sentidos desta palavra. Hoje, Jesus
convida-nos a recordar tudo isso na nossa relação com Deus. Os dez leprosos
vieram até Ele porque reconheciam n’Ele um mestre, um enviado de Deus. Ousam
pedir o que ninguém podia dar naquela época: a cura da lepra. Pedem um favor
que ultrapassa as forças humanas. É a Deus que se dirigem através de Jesus.
Pedem a Jesus e Ele cura-os. Mas um só vem dizer “obrigado”. Um estrangeiro, um
samaritano. Talvez os outros pensassem que tinham o direito de serem curados
por serem judeus… O estrangeiro, esse, reconhece que a sua cura é dom gratuito
da bondade de Deus. Volta junto de Jesus para “reconhecer” este dom. Entra numa
relação plena com Deus. Veio com a sua pobreza, para pedir; regressa, com a sua
gratidão, para reconhecer que Jesus respondeu ao seu pedido. O acto central,
fonte e cume da vida cristã, a Eucaristia, significa “acção de graças”. Eis o
pedido supremo que podemos dirigir a Deus: que nos dê a sua presença em Jesus
ressuscitado e o nosso “obrigado”, o mais perfeito possível que possamos dizer
a Deus. Aí, estamos bem no coração da nossa fé e do nosso amor.
5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a
Oração Eucarística III para as Assembleias com Crianças, que exprime muito
simplesmente o obrigado, a acção de graças; rezá-la bem, com calma…
6. PALAVRA PARA O
CAMINHO DA VIDA…
Levar a Palavra de
Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo dos dias da
semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de
Deus: “Cantai ao Senhor um cântico novo”…; “A Palavra de Deus não está
encadeada”…; “Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos”…; “Levanta-te e
segue o teu caminho; a tua fé te salvou”… Procurar transformá-las em atitudes e
em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos
encontrando nos caminhos percorridos da vida…
UNIDOS PELA PALAVRA DE
DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR,
VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P.
Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa
dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10
– 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax:
218540909
portugal@dehonianos.org
– www.dehonianos.org
Eu todos os dias faço a leitura do dia e complemento com os comentários dessa equipe para complementar meus ensinamento e por em prática muito obrigado, que o Senhor Deus continue derramando benção a todos na Paz de Cristo, Jair Ferreira.
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