Quem perder sua vida por causa de mim, esse a salvará.
Neste Evangelho, Jesus nos fala abertamente a respeito das perseguições
que sofrerá, dos seus sofrimentos e morte, mas afirma que ressuscitará ao
terceiro dia. E ele nos alerta que, se quisermos segui-lo, a nossa sorte será a
mesma. Mas garante: “Quem perder sua vida por causa de mim, esse a salvará”.
Ser cristão não é título honorífico, mas tem um alto preço: “Se alguém
me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me”. Cada
dia porque o importante é a perseverança nos pequenos atos e acontecimentos de
cada dia, anos a fio. Os verbos renunciar, carregar a cruz e seguir a Jesus são
sinônimos, como o são perder a vida e salva-la definitivamente.
Este é o segredo da quaresma: passar pela cruz para chegar à Páscoa;
perder a vida para a ganhar, como Cristo e em plena solidariedade com ele. A
ressurreição é um presente maravilhoso de Deus, mas tem um preço, que é o mesmo
preço que Jesus pagou: a cruz, e a cruz até o fim, até a morte.
Como a nossa natureza é ferida pelo pecado, faz parte do seguimento de
Jesus a renúncia a nós mesmos. Portanto, não é pouca renúncia; aliás é a maior
renúncia que existe. Por outro lado, a recompensa não será pequena: a vida
eterna, isto é, a vida sem fim com Deus e com a sua e nossa Família, numa
felicidade também infinita.
Concluindo, Jesus nos motiva a segui-lo, apesar desses tropeço: “O que
adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se se perde e se destrói a si mesmo?”
Destrói-se a si mesmo porque sua vida abundante vai terminar na morte. Depois,
será um eterno sofrimento.
Nós celebramos todos os anos a Páscoa, não é só para recordar e
agradecer a Deus a redenção.. O acontecimento, pela graça de Deus, se torna
atual e a redenção, em seus efeitos, acontece novamente. Passado um ano, nós
estamos em situação diferente, vivendo em contexto de vida, por isso precisamos
ser novamente redimidos e transformados por Cristo.
Por isso que o batismo tem relevância na Páscoa. É um reassumir do nosso
Batismo, com suas glórias e compromissos. A palavra penitência resume bem a
caminhada quaresmal, porque é um esforço acentuado de vida nova e transformada
pelo Evangelho.
Os três grandes sacramentos da renovação quaresmal são o Batismo, a
Confissão e a Eucaristia, porque os três são eminentemente sacramentos pascais.
A nossa celebração da quaresma não consiste apenas no acréscimo de
algumas devoções e exercícios de ascese. Somos parte de uma sociedade, e nela
colaboramos em suas virtudes e pecados. Cada cristão que se santifica,
santifica o mundo em volta de si.
Havia, certa vez, um senhor que morava no sertão, muito distante da
cidade. Ele tinha um violino e gostava de tocá-lo. Mas o violino desafinou, e
ele não tinha o diapasão, um instrumento que dá para o músico uma nota no tom
natural, a fim de que, a partir dela ele afine o instrumento musical. Então o
homem mandou uma carta para um radialista, de cujo programa ele gostava muito,
pedindo que ele lhe desse, pelo rádio a nota "la". Logo que recebeu a
carta, o radialista tocou várias vezes a nota "la", e o homem afinou
o seu violino.
Quaresma é tempo de afinarmos o nosso violino com Cristo, nosso caminho,
verdade e vida. O radialista que nos trás a nota é a Sagrada Escritura,
interpretada de acordo com quem a escreveu, que é a Igreja.
O Papa Bento 16, quando esteve em Aparecida, disse que a causa que leva
um grande número de católicos brasileiros passarem para as outras religiões é a
falta de catequese, especialmente catequese sobre a Igreja. Não podemos deixar
de falar certas verdades sobre a Igreja, “para não ofender ninguém”.
Se estivermos junto com Maria Santíssima, ela não permitirá que morramos
com o nosso violino desafinado, pois isto estragaria a beleza da orquestra do
céu. Se tivermos alguma nota perdida, peçamos a ela que com certeza nos ajudará
a encontrá-la.
Quem perder sua vida por causa de mim, esse a salvará.
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