Domingo, 30 de março de 2014
4º Domingo da Quaresma
Santos do Dia: Plínio de Pontecorvo (abade), Domnino, Vítor e Companheiros (mártires
de Tessalônica), Fergo de Downpatrick (bispo), João Clímaco (abade), João de
Puits (eremita em Kibistra), Leonardo Murialdo (presbítero), Mamertino de
Auxerre (abade), Osburga de Canuta (abadessa, virgem), Pacífico de Werden
(monge, bispo), Pastor de Orléans (bispo), Quirino (mártir de Roma, na Via
Ápia), Régulo de Senlis (bispo), Régulo da Escócia (abade), Zózimo de Siracusa
(bispo).
Primeira leitura: Samuel 16,1b.6-7.10-13a
Davi é ungido rei de Israel
Salmo responsorial: Salmo 22(23), 1-3a.3b-4.5.6 (R. 1)
O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma
Segunda leitura: Efésios 5,8-14
Levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá
Evangelho: João 9,1-41
O cego foi, lavou-se e voltou enxergando
Davi é ungido rei de Israel
Salmo responsorial: Salmo 22(23), 1-3a.3b-4.5.6 (R. 1)
O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma
Segunda leitura: Efésios 5,8-14
Levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá
Evangelho: João 9,1-41
O cego foi, lavou-se e voltou enxergando
Desde muito tempo o povo de Deus se propôs um grande problema: como
saber quem é o enviado de Deus? Muitos apareciam fazendo alarde de suas
habilidades físicas, de sua astúcia, de sua sabedoria, inclusive, de sua profunda
religiosidade, porém era muito difícil saber quem procedia de acordo com a
vontade de Deus e quem queria ser líder unicamente para obter o poder.
Nessa época de Samuel, a situação era realmente complicada. O profeta,
movido pelo Espírito de Deus, buscou um líder que tirasse o povo do atoleiro de
uma crise interna das instituições tribais e da ameaça dos filisteus. Surgiu
Saul, um rapaz distinto, de boa família e de extraordinária compleição física.
A maioria do hebreus o apoiaram de imediato, esperando que o novo rei
conseguisse controlar o avanço dos filisteus.
Contudo, o novo rei, em pouco tempo, se converteu em um tirano
insuportável que agravou o conflito interno e que por suas constantes mudanças
de comportamento, comprometeu seriamente a segurança das terras cultivadas.
Samuel, então, pensou que a solução era ungir um novo rei, uma pessoa que
poderia tomar conta da situação.
A unção profética se converteu, naquele momento, no meio pelo qual se
legitimava a ação de um novo líder salvador do povo. Séculos mais tarde, os
profetas se deram conta de que não bastava mudar o rei para mudar a situação,
mas que era necessário buscar um sistema social que representasse os ideais
tribais, o que logo se chamou “o direito divino”. Contudo, subsistiu a idéia de
que o líder salvador tinha que ser designado por um profeta reconhecido. Deste
modo, a unção dos reis de Israel passou a ser um símbolo de esperança em um
futuro melhor, mais de acordo com os planos de Deus.
Na época do Novo Testamento, o povo de Deus que habitava na Palestina
enfrentou um grande desafio: como reconhecer Jesus como ungido do Senhor?
Aquele Jesus havia conhecido João Batista e, em seguida, havia retomado sua
pregação, mesmo assim pairava sobre ele a dúvida, devido à sua origem humilde,
à maneira tão diferente de interpretar a lei e sua vinculação com o templo e
seus rituais.
Muitos se opunham em reconhecer que ele era um profeta ungido pelo
Senhor, movidos simplesmente por preconceitos culturais e sociais. A comunidade
cristã teve que abrir caminho em meio a esses obstáculos e proclamar a
legitimidade da missão de Jesus. Somente quem conhecesse a obra do Nazareno,
seu profundo amor à vida, sua dedicação aos pobres, sua pregação do reinado de
Deus, podia reconhecer que ele era o “ungido”, o “Messias” (como se diz em
hebraico), ou o “Cristo” (em grego).
Os sinais e prodígios que Jesus realizou no meio do povo pobre causaram
grande impacto e, por isso, foram motivo de controvérsia. Os opositores do
cristianismo viam nas curas que Jesus realizava simplesmente o trabalho de um
curandeiro. Seus discípulos, pelo contrário, compreendiam todo seu valor
libertador e salvador. Pois, não se tratava somente de colocar remédio às
limitações humanas, mas de devolver-lhe toda a dignidade de ser humano. A pessoa
que recuperava a visão podia descobrir que seu problema não era um castigo de
Deus pelos pecados de seus antepassados, nem uma terrível prova do destino.
A pessoa curada passava do desespero à fé e descobria em Jesus o
profeta, ao ungido do Senhor. Sua limitação física, se convertia em uma
terrível marca de exclusão social e religiosa. Porém, o problema não era sua
limitação visual e sim a terrível carga de desprezo que a cultura lhe havia
imposto. Jesus o liberta do terrível peso da marginalização social e o conduz a
uma comunidade onde é aceito pelo que é, sem se importar com as etiquetas que
os preconceitos sociais lhe haviam imposto.
No evangelho, o relato é um drama entre os vizinhos do cego, os
fariseus (piedosos e cumpridores da lei) e os “judeus” em geral, uma expressão
genérica com a qual o evangelista designa as altas autoridades religiosas da
época de Jesus. Até os pais do cego são envolvidos no drama.
Trata-se de um verdadeiro “drama teológico”, simbólico, de uma grande
beleza literária. De modo algum se trata de uma narrativa jornalística de fatos
históricos, ou de um relato ingênuo de uma sucessão de coisas. Não esqueçamos
que o evangelho de João se move sempre em um alto nível de sofisticação, de
recurso simbólico e insinuação indireta.
Temos ainda que dizer uma palavra sobre a homilia: convém não “contar”
as coisas como quem conta fatos históricos, como se estivesse entretendo
crianças. Os ouvintes são adultos e agradecem quando tratados como tais, sem
abuso. O pregador não deve pensar que “tudo cola nesse ambiente” ou dizer
qualquer coisa pelo fato de estar diante de um auditório que, por respeito, não
levanta a mão e nem vai contradizer.
No “drama teológico” de João, o cego se converte em centro da
narrativa. Todos se perguntam como é possível que um cego de nascimento seja
agora capaz de ver. Suspeitam que algo grande tenha acontecido; perguntam pela
pessoa que havia feito o cego ver, porém não chegam a crer que Jesus seja a
causa da luz dos olhos do cego. Um simples homem como Jesus não lhes parece
capaz de operar tais maravilhas.
Menos ainda pelo acontecido ter se realizado em dia de sábado, dia
sagrado de descanso que os fariseus se empenham em guardar de maneira
escrupulosa. E menos ainda sendo o cego um pobre que pedia esmola na entrada de
uma das portas da cidade. Todos interrogam o pobre cego que agora vê: os
vizinhos, os fariseus, os chefes do templo. Jesus se encontra com ele,
solidariamente, ao saber que o haviam expulsado da sinagoga.
E neste novo encontro com Jesus o cego chega a “ver plenamente”, a
“ver”, não somente a luz, mas a “glória” de Deus, reconhecendo nele o enviado
definitivo de Deus, o Filho do homem escatológico, o Senhor digno de ser
adorado… É a mensagem que João quer transmitir, narrando um drama teológico,
como é seu estilo, e não afirmando proposições abstratas, como teria acontecido
se tivesse tido uma formação filosófica grega.
No final do texto, as palavras que João coloca nos lábios de Jesus
fazem eclodir a mensagem teológica do drama: Jesus é um juízo, é o juízo do
mundo, que vem revirar o mundo: os que viam não vêem e os que não vêem
conseguem ver. E que é o preciso ver? A Jesus. Ele é a luz que ilumina.
Não é necessário acrescentar nem metafísica e nem ontologia gregas ao
drama… É uma linguagem de “confissão de fé”. A comunidade de João está
“entusiasmada”, cheia de gozo e de amor, possuída realmente por ter descoberto
Jesus. Sente que ele muda a concepção de mundo, consegue ver as coisas de uma
forma diferente agora, e que é ele a manifestação de Deus de forma patente. E
assim o confessa. Não precisa mais nada. A ontologia dos século subsequentes é
cultural, ocidental, grega, por isso, sobra.
Que significa hoje para nós? A mesma coisa, só que a vinte séculos de
distância. Com mais perspectiva, com mais sentido crítico, com mais consciência
da relatividade (não digamos “relativismo”) de nossas afirmações, sem
fanatismos nem exclusivismos, sabendo que a mesma manifestação de Deus se deu
em tantos outros lugares, em tantas outras religiões, através de tantos outros mediadores.
Porém, com a mesma alegria, o mesmo amor e a mesma convicção.
Oração: Senhor, tu que nos abres os olhos para que descubramos a beleza da
criação e a grandeza do teu amor, ajuda-nos a colaborar contigo para que todas
as pessoas possam alegrar-se ao ver a tua luz. Isto te pedimos por Jesus
Cristo, filho teu e irmão nosso. Amém.
NA PAZ, peço se possível, reflexão tb das leituras para entendermos melhor cada uma delas e expressarmos mais convictos quando fizermos a PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA.
ResponderExcluirGratos,
LEITORES