DIA 15 - TERÇA - Evangelho -
Jo 13,21-33.36-38
Um de vós me entregará... O galo não
cantará antes que me tenhas negado três vezes.
Hoje, terça-feira da semana santa, o
Evangelho narra aquela cena triste em que Judas Iscariotes se retira do grupo
dos Apóstolos para vender Jesus, e Jesus diz que Pedro também o negará.
“Então Jesus molhou um pedaço de pão e
deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.” Foi um sinal de distinção de Jesus a
Judas, convidando a mudar seus planos homicidas e reaver uma amizade rompida
pela sua ambição e ressentimento. Tudo foi inútil. Judas rejeitou
definitivamente o amor a Jesus.
“Judas saiu imediatamente. Era noite.” O
traidor é um exemplo das trevas sobre as quais brilhou em vão a luz. “A luz
veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram” (Jo 1,11). Entretanto, as
trevas foram definitivamente vencidas e dominadas pela luz, o que aconteceu do
domingo de Páscoa.
Nós somos fracos e, se não tomarmos
cuidado, caímos mesmo, ainda que tenhamos cargos importantes na Igreja, como
tinham o Apóstolo Judas e S. Pedro.
S. Paulo nos adverte: “Irmãos, não quero
que ignoreis o seguinte: os nossos pais estiveram debaixo da nuvem... comeram o
maná... No entanto, a maior parte deles desagradou a Deus e, por isso, caíram
mortos no deserto. Esses acontecimentos se tornaram símbolos para nós, a fim de
não desejarmos coisas más, como eles desejaram... Essas coisas foram escritas
como advertência para nós. Quem julga estar de pé tome cuidado para não cair...
Deus é fiel e não permitirá que sejais provados acima de vossas forças” (1Cor
10,1-13).
E S. João nos diz: “Todo aquele que
espera em Cristo purifica-se a si mesmo, como também ele é puro. Todo aquele
que comete o pecado pratica a iniqüidade, pois o pecado é a iniqüidade. Vós
sabeis que Cristo se manifestou para tirar os pecados, e que nele não há pecado.
Todo aquele que permanece nele não continua pecando, e todo aquele que continua
pecando mostra que não o viu nem o conhece” (1Jo 3,3-6).
S. João chama o pecado de iniqüidade.
Iniqüidade é o contrário de eqüidade, que é a igualdade de direitos e de julgamento.
A eqüidade pertence à lei natural, que está acima da lei positiva, isto é, das
leis promulgadas pelos homens.
Basta olharmos ao nosso redor que vemos
o pecado sendo praticado das mais diversas formas, e vemos também os frutos do
pecado.
Muitos se parecem com um carro sem
alinhamento, isto é, anda torto, gastando os pneus de um lado só e correndo o
risco de capotar.
“Eu coloco diante de ti a vida e a
morte, a bênção e a maldição. Escolhe pois a vida, amando ao Senhor teu Deus e
obedecendo à sua voz!” (Dt 30,19-20).
“O meu povo abandonou-me a mim, fonte de
água viva, e cavou para si cisternas, cisternas rachadas que não podem reter a
água” (Jr 2,19). Entretanto, nós temos ao nosso lado as fontes de água viva: os
sacramentos, a Comunidade cristã...
O Papa Pio XII dizia que a sociedade
moderna perdeu o senso do pecado. As pessoas desobedecem a Deus e vivem de cara
limpa, como se estivesse tudo certo. As crianças até passam a pensar que pecado
não existe mais.
O pecado é como uma árvore, que tem
raízes, galhos e folhas. A raiz são os nossos pensamentos. Se consentidos, eles
se transformam em palavras, depois em ações, e finalmente em hábitos. A pessoa
então começa a pecar sem nem perceber.
O contrário, isto é a virtude, segue o
mesmo caminho: começamos pelos pensamentos pecaminosos, depois vamos para as
palavras, ações, hábitos.
Que nós, agora na semana santa, ao
meditar sobre a paixão de Jesus, pensemos um pouco na relação que existe entre
os sofrimentos de Cristo e os nossos pecados.
Certa vez, durante uma campanha
eleitoral, um homem estava fazendo um discurso em favor de um candidato a
vereador. Uma senhora de outro partido, que também era candidata, ouviu o
discurso e gostou muito. No fim, ela foi lá parabenizar o rapaz: “É de gente
assim que nós precisamos” – disse ela – “de cidadãos conscientizados,
competentes e sem medo de expor suas idéias”.
Logo que ela acabou de falar, o orador
lhe disse: “Muito obrigado pelas suas palavras. Eu sei que a senhora também é
candidata. Se a senhora me pagar mais que ele, eu posso passar a fazer campanha
para a senhora, não para ele”.
A candidata caiu das nuvens. Pensava que
estava conversando com um cidadão, mas na verdade estava conversando era com um
otário, mercenário, covarde e enganador do povo.
O pecado é terrível; ele penetra em toda
parte. Se penetrou até no grupo dos Apóstolos, quanto mais na política. Mas
Cristo o venceu, e nós com a graça de Deus podemos concretizar no dia a dia
essa vitória.
Campanha da fraternidade. a nossa
obediência às leis civis é necessária e importante, mas não é de obrigação
absoluta. Temos o direito, e às vezes o dever, de apresentar reclamações contra
o que nos parece contra a paz, a dignidade das pessoas e o bem comum. “Dai a
César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mt 22,21).
Nós temos uma pessoa interessadíssima em
nos ajudar a não pecarmos. É aquela que, unida com o Filho, pisou a cabeça da
serpente enganadora. “Rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte,
amém”.
Um de vós me entregará... O galo não
cantará antes que me tenhas negado três vezes.
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