DIA 17- QUINTA - Evangelho - Lc
6,36-38
Perdoai e sereis perdoados.
Neste Evangelho, Jesus nos pede para
sermos misericordiosos. E explica o que isso significa: Não julgar ninguém, não
condenar ninguém, perdoar a todos que nos ofendem e partilhar os nossos bens
com os que precisam.
O exemplo ou modelo que ele nos
apresenta é o próprio Deus Pai, que nos perdoa, nos ajuda e é misericordioso
conosco.
Misericórdia é a compaixão suscitada
pela miséria alheia. Vem do latim: “mittere + cor” = Jogar o coração.
Misericórdia é mais que simples sentimento de compaixão. É a compaixão levada à
ação; é fazer alguma coisa para ajudar a pessoa da qual sentimos compaixão.
A pessoa misericordiosa “tudo crê, tudo
espera, tudo suporta”. Sempre descobre o lado bom das pessoas. Afinal, todos
nós, mesmo os maiores criminosos, no fundo, somos bons, pois fomos criados por
Deus e ele só faz coisas boas.
No catecismo, as crianças decoram as
catorze obras de misericórdia, sete corporais e sete espirituais. As corporais
são: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus,
dar abrigo aos peregrinos, visitar os doentes e encarcerados, libertar os
escravizados e sepultar os mortos. Elas seguem, quase literalmente, Mt
25,31-46, onde Jesus nos diz o que vai cobrar de nós no Juízo Final. Portanto,
se trata de coisa séria, pois está em jogo a nossa salvação.
As espirituais são: dar bom conselho,
ensinar os que não sabem, corrigir os que erram, consolar os aflitos, perdoar
as ofensas, suportar as fraquezas do próximo e orar pelos vivos e falecidos.
A pessoa misericordiosa tem um amor
compreensivo. É muito comum essas pessoas usarem a expressão: “Coitado!”
“Perdoai e sereis perdoados.” É o que
rezamos no Pai Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido”. Todos nós somos pecadores e temos dívidas com Deus.
Só entraremos no céu se ele nos perdoar. Acontece que o perdão de Deus a nós é
do tamanho do nosso perdão aos nossos irmãos.
O perdão faz feliz não só quem é
perdoado, mas também quem perdoa. Quanto mais reconhecemos que somos pecadores,
mais sentimos a necessidade de perdoar os outros, a fim de sermos também
perdoados por Deus. Temos dois caminhos: ou abrimos o nosso coração à
generosidade e à misericórdia, ou nos fechamos na nossa própria mesquinhez e
intransigência.
“Dai e vos será dado. Uma medida
calcada, sacudida e transbordante será colocada no vosso colo.” Jesus usa como
comparação a medida de grãos, usada nos armazéns antigos. Por exemplo, se uma
pessoa queria comprar cinco litros de feijão, o balconista enchia a vasilha de
cinco litros, depois sacudia (abaixava um pouco), socava (abaixava mais), em
seguida punha mais feijão até derramar. Isso é generosidade! É assim que Deus
faz para recompensar as nossas obras de misericórdia.
Jesus, quando estava na cruz, deu-nos um
belo exemplo de amor misericordioso, quando rezou: “Pai, perdoai-lhes, eles não
sabem o que fazem!” Também quando disse ao bom ladrão: “Ainda hoje estarás
comigo no paraíso”. Que exemplo para nós!
Não temos outra opção: ou aceitamos os
outros com as suas limitações humanas, ou nos fechamos na nossa pequenez e
egoísmo. Está aí uma grande oportunidade de conversão nesta quaresma.
E não vale o “perdôo mas não esqueço”,
porque seria perdão pela metade. Se a fraqueza cometida por nosso irmão chegar
à nossa memória, que seja rebatida com a virtude da misericórdia.
Sobre a Campanha da Fraternidade –
economia e vida – lembramos que justiça não é “dar a cada um o que lhe
pertence” ou “pagar pelo trabalho que fez”, mas é dar a cada um o necessário
para viver dignamente. Que os bens que vêm de Deus sejam distribuídos para
todos os seus filhos e filhas, sem excluir ninguém. Economia significa,
literalmente, administração da casa. Que esta grande casa de Deus, o planeta
terra, seja bem administrado, colocando a vida em primeiro lugar. Há cidades
que estão usando, em vez do conhecido saquinho de supermercado, sacolas de
papel, que são biodegradáveis e não poluem a natureza. Que a economia esteja a
serviço da vida, não o contrário, a vida a serviço da economia.
Havia, certa vez, um operário de
construção que todos os dias comia a mesma coisa: sanduíche de queijo. Os
outros operários esperavam com alegria o toque da sirene para o almoço, quando
se dirigiam ao galpão, onde haviam guardado suas refeições. Uns esquentavam,
outros não. Quase sempre feijão, arroz e um pedaço de carne. Todos comiam com
visível prazer. Mas aquele trabalhador comia seu sanduíche de queijo
reclamando. Todos os dias ele dizia: “Detesto sanduíche de queijo”. Comia
silenciosamente e no final amassava o papel, jogava-o no lixo e repetia a
ladainha: “Detesto sanduíche de queijo”.
Um dia, um dos colegas sugeriu: “Por que
você não pede a sua esposa que faça um sanduíche diferente?” Ele respondeu:
“Quem disse que é a minha esposa quem prepara o sanduíche? Sou eu mesmo que o
preparo”.
Já pensou? Cada um colhe aquilo que
planta; cada um come o sanduíche que preparou. À semelhança desse caso, muitas
vezes as nossas desavenças nascem de nós mesmos. Somos nós que fazemos uma
imagem do outro, que não corresponde à realidade. Depois começamos a nos
desentender com o próximo, baseados numa imagem dele que nós mesmos criamos.
Maria Santíssima, no Magnificat, cantou
a misericórdia de Deus: “A sua misericórdia de estende de geração em geração”.
“Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve!”
Perdoai e sereis perdoados.
Padre Queiroz
Nenhum comentário:
Postar um comentário