19 de março - Evangelho Lc 2,41-51a
A narrativa de Jesus entre os doutores
encerra o chamado evangelho da infância, indicando sua identidade e
missão.  Está centrada na indagação que supõe uma afirmação cristológica
cuja verdade é inegável para a fé: Não sabíes que devo na Casa de meu
Pai?  Deste modo, Jesus começa a revelar-se mediante a alusão ao
relacionamento especialíssimo com Deus seu Pai.  Esta relação Pai-Filho há
de caracterizar suas opções e todas as suas opções e todas as suas ações. 
Por isso, a narrativa não só encerra uma etapa – a infância – mas nos introduz
dinamicamente no modo cristológico de leitura do que será narrado a
seguir.  Mais do que curiosidade ou reconstituição de palavras e fatos,
trata-se de ler os ditos e feitos em sintonia com a decisão de Jesus em cumprir
a vontade de projeto salvífico do Pai, no Espírito Santo.
A união de Jesus com o Pai explica sua
sabedoria.  Tal sabedoria é revelada precisamente no templo, a casa do seu
Pai, em meio aos doutores, mestres ou sábios, ouvindo e também perguntando e,
sobretudo, causando admiração pela profundidade de suas respostas. 
Participa, pois, da discussão conforme o método das escolas rabínicas, após ter
completado doze anos, iniciando sua maturidade, como qualquer jovem judeu,
crescendo em sabedoria, estatura e em graça, diante de Deus e dos homens, mas
já revelando o que durante a vida pública será uma das marcas de seu ministério
profético: o ensinamento constante com sabedoria e autoridade.
A surpresa da Mãe, a angústia da procura
de José e de Maria diante da perda e a incompreensão da resposta dada por Jesus
convidam à reflexão da pergunta por ele formulada: Não sabíeis…?  A
resposta é o próprio segredo de Jesus a ser desvendado progressivamente em sua
vida pública, máxime na morte e na ressurreição.  Segredo que consiste
precisamente no ocupar-se das realidades do Pai a nosso favor: seu plano
salvífico.  Mesmo retornando a Nazaré, sua cidade, e sendo submisso a
Maria e a José, o prioritário na vida e na missão de Jesus não podia ser
condicionado por sua família.  Sem dizer explicitamente, Lucas nos faz
entrever que a missão de Maria e de José aos poucos há de chegar ao
cumprimento.  A autonomia de Jesus em relação a ambos e a todos só se
daria após o batismo como ato inaugural de sua tal liberdade em face à missão,
ao ser acolhido, autorizado e confirmado pelo próprio Pai como Filho bem
amado.  Nesse sentido, é possível também compreender por que o evangelista
alude ao fato que Jesus crescia, pois o tempo da verdadeira maturidade ou da
autonomia e da plena manifestação ainda não chegaria.
Embora sendo o Filho do Altíssimo, o
Messias viverá a condição humana integralmente.  Veja: o menino crescia,
tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria e a graça de Deus estava com
ele.  Portanto Jesus experimentará as leis naturais do crescimento, tanto
no plano físico quanto no espiritual.  Passando pelas etapas normais da
infância e da adolescência até chegar à maturidade, viverá sua missão num extraordinário
esvaziamento da sua condição divina.  Por isso, Nazaré, sua cidade, é o
símbolo forte da vivência em família na qual expressa, no silêncio ou no
ocultamento, a sua fidelidade incondicional ao Pai dentro da absoluta
fidelidade à sua condição humana. 
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