Pe. Antônio Queiroz CSsR
Não vim para abolir a Lei, mas para dar-lhe pleno cumprimento.
Neste Evangelho, Jesus nos fala a respeito do valor e da importância das
Leis do Antigo Testamento para nós hoje.
O “pleno cumprimento” da Lei consiste principalmente na maneira correta
de obediência. Obedecer corretamente a uma lei é procurar descobrir e praticar
a intenção do legislador, o que ele tinha em mente ao promulgá-la. É o que
chamamos espírito da lei. Isso vai muito além da obediência literal, que só vê
o que a lei diz em si, sem considerar o seu sentido mais profundo.
No caso da Bíblia, as leis do Antigo e do Novo Testamento vieram do
mesmo autor, que é Deus, nosso Pai amoroso. Suas palavras são as de um Pai que
só quer o bem dos filhos e filhas. Também nós devemos receber essas leis com
amor de filhos e filhas. “Não és mais escravo, mas filho; e, se és filho, és
também herdeiro; tudo isso por graça de Deus” (Ef 4,7). Somos de dentro da casa
de Deus, somos sua família. Assim que devemos ver as Leis dele.
Quando amamos uma pessoa, nós lemos no coração dela o que suas palavras
não conseguem expressar. Precisamos fazer o mesmo com Deus. Jesus fez isso, em
relação às Leis do Antigo Testamento.
As palavras do Evangelho de hoje são o começo de um discurso de Jesus,
no qual ele apresenta cinco exemplos, para mostrar como que as Leis do Antigo
Testamento devem ser vistas por nós hoje:
1) “Não matarás.” Deus está dizendo que não quer que façamos o mal ao
próximo, e sim o bem. Isso começa com pequenos gestos, como tratar o nosso
irmão com raiva.
2) “Não cometer adultério.” No fundo, é respeitar a família, e não
desrespeitar o matrimônio nem com um olhar.
3) “Não jurarás falso.”. No fundo, é ser verdadeiro, falar sempre a
verdade e nunca enganar ninguém e nunca colocar Deus como nossa testemunha.
“Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não”.
4) “Olho por olho, dente por dente.” Significa não se deixar levar pelo
espírito de vingança ou pela ganância. Se alguém nos tomar a capa, vamos
entregar-lhe também a túnica. Se alguém nos der um tapa, vamos virar-lhe a
outra face.
5) “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.” Com esta Lei, Moisés
cortou noventa por cento do ódio que havia entre as pessoas, e introduziu um
controle. No fundo, o que Deus queria era que amássemos a todos, até os nossos
inimigos. “Assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus; pois ele
faz nascer o seu sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre juntos e
injustos” (Mt 5,45).
E Jesus termina o discurso com uma frase chave que resume tudo: “Sede
perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Aí está a grande
meta da nossa vida: que sejamos parecidos com Deus Pai, pois o filho se parece
com o pai.
Ser cristão é obedecer aos mandamentos de Deus. “Isto eu peço a Deus:
que o vosso amor cresça ainda, e cada vez mais, em conhecimento e em toda
percepção, para discernirdes o que é melhor. Assim estareis puros e sem nenhuma
culpa para o dia de Cristo...” (Fl 1,9-10).
Ser santo consiste em amar a Deus e amar o próximo como Deus ama. O amor
vem de dentro, o amor tudo transforma. Ele brota da nossa liberdade, não de
leis externas. Jesus nos libertou da lei. Mas é uma libertação que nos leva a
viver para os outros. “Ame, e faça o que você quiser... Se a verdade nos faz
livres, o amor nos faz escravos” (Santo Agostinho).
A propaganda cria em nós o desejo de comprar coisas, de substituir a
geladeira, o fogão, a máquina de lavar... A necessidade muitas vezes é
ilusória, tornando-nos escravos do dinheiro e das lojas que vendem a prestação.
As lojas não querem vender à vista, porque o lucro, ou melhor, o roubo delas é
menor. Os juros embutidos nas prestações são exorbitantes, mas o consumidor
dificilmente percebe isso. “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.
Certa vez, um homem encontrou dentro de um baú dos seus tataravôs, entre
as bugigangas, uma moeda. Estava escurecida e desgastada pelo tempo. Ninguém da
família conhecia o seu valor.
O homem então levou a moeda a um economista. Este, após examiná-la, a
desprezou, dizendo que não valia mais nada.
Não conformado, o homem dirigiu-se a um especialista em raridades.
Quando o especialista a viu, sua feição se mudou. Após examiná-la, disse ao
dono da moeda ser dono de uma peça de imenso valor, uma rara moeda de ouro, na
verdade, uma peça única.
Economia e vida. As pessoas são como essa moeda. Elas não podem ser
avaliadas apenas pelo seu valor econômico, isto é, pela capacidade de trabalhar
e de produzir. Toda pessoa é uma peça rara, única, de valor infinito.
Certa vez, um homem decidiu seguir Jesus Cristo para valer mesmo. Ele
praticava caridade, ajudava todo mundo, dizias boas palavras, fazia o bem de
manhã até a noite. O grande desejo dele era ir para o céu. Ninguém tinha dúvida
de que ela ia mesmo para o céu.
Um dia, ele morreu, chegou à porta do céu e aquele que o recebeu disse
que seu nome não constava na lista. Ele obedeceu direitinho e foi logo para o
inferno.
Dois dias depois, o capeta foi lá à porta do céu e reclamou: “Vocês me
mandaram um que está causando a maior desordem e anarquia. Está um caos lá no
inferno. Está todo mundo se falando, um olhando nos olhos do outro, se
abraçando e querendo bem, perdoando e falando de amor. Trate de tirá-lo de lá o
mais rápido possível”. O porteiro consultou a lista e viu que houve um engano.
Vamos viver tão bem a nossa fé, sendo caridosos fraternos e dando bons
exemplos que, mesmo se porventura houver um engano lá na porta do céu, nós não
o perderemos. Faça de tudo para o capeta não gostar de você.
Onde há amor, não há necessidade de lei. Maria Santíssima amava muito a
Deus, e lhe obedecia espontaneamente em tudo.
Não vim para abolir a Lei, mas para dar-lhe pleno cumprimento.
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