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domingo, 16 de março de 2014

O rico e o pobre Lázaro– Canção Nova


20 DE MARÇO - Lc 16,19-31

Esta parábola não visa tratar sobre caridade e falta de caridade. Não diz que o rico negava esmolas a Lázaro. Talvez até ignorasse a presença dele junto de sua casa, fechado como estava em seu bem-estar, que não lhe permitia perceber problemas alheios como às vezes dizem: “cada um por si e Deus por todos”.Jesus quer chamar a atenção não para a necessidade de amarmos ao próximo, mas para a importância das situações. Uma situação de poder e prazeres pode insensibilizar a mente, tornando-a insensível às necessidades dos outros. Pode fechar a porta do céu, tirando a fome da vida eterna, se já se julga satisfeito com seus bens. Ao contrário, uma situação de penúria entretém a fome e a sede de algo maior: a vida eterna.
A riqueza honesta não é má nem condenável, assim como a pobreza não é garantia de salvação. Mas ambas suscitam atitudes éticas que podem facilitar ou dificultar a procura de Deus. É para isto que Jesus quer despertar os cristãos nesta parábola.
A situação cômoda em que se acham os ricos pode diminuir seu zelo pelas necessidades dos pobres e excluídos da nossa sociedade.
Jesus chama os pobres, os que têm fome, sede e choram, de bem-aventurados, não por causa da pobreza como tal, mas por causa da atitude ética, da fé e do amor ao próximo que essa pobreza preserva ou suscita. E chama os ricos de infelizes (Lc 6,24-26), não por causa da riqueza como tal, mas porque a riqueza pode fazer murchar a fé e o senso da vida futura.
O rico morreu sem fome física nem espiritual: nada mais espera na outra vida, satisfeito que estava em seu bem-estar. Lázaro que teve fome física e doenças, tinha fome de uma realidade melhor do que a vida terrestre. No além, a fome material e espiritual de Lázaro era saciada, ao passo que no rico, ela não existia.
Alguém pode ser rico e ter um coração de pobre, cultivando o desapego, a humildade, a caridade, como alguém pode ser pobre, mas ter um coração de rico, sem caridade nem humildade. Lázaro, pobre na terra, e Abraão, rico na terra, tiveram a mesma sorte final, porque ambos, em circunstâncias diferentes, tiveram o mesmo amor a Deus e o mesmo desprendimento dos bens terrenos.
A parábola nos lembra que o Céu e o inferno começam no nosso dia a dia. Não nos faltam os fatos, acontecimentos, coisas em cada dia, que são objetos de santificação. A fé descobre neles os sinais de Deus a respeito do sentido desta vida. Nós não vivemos de milagres, mas do dia a dia. É nele que devemos encontrar a vida de santificação. Muitos procuram sinais e milagres e dizem, que se Deus se fizesse mais sensível, os desse um sinal, seriam mais fervorosos. Isto é pura ilusão meu irmão, minha irmã. Quem não tem fé nos dons cotidianos de Deus, encontrará razões falsas para não reconhecer os milagres dEle. Abraão responde ao rico que quem não tem o hábito da fé viva, rejeitará mesmo os sinais mais significativos. Na verdade, Lázaro, irmão de Marta e Maria, e o próprio Jesus haviam de ressuscitar dentre os mortos e aparecer aos judeus, mas nem assim estes se deixaram convencer.
Abraão diz existir entre o Céu e o inferno um grande abismo. E este indica que é só na vida terrestre que podemos nos converter. O tempo da conversão é hoje e agora. A morte nos estabelece em nossa condição definitiva: ou o Céu para sempre ou o inferno para sempre.

Esta parábola nos leva a concluir que quando eu e tu, deixarmos este mundo, receberemos uma sentença. Veja que Lázaro foi levado ao “seio de Abraão” e o rico aos tormentos do inferno. Isto pressupõe uma sentença de Deus logo após a minha e a tua morte. E ela é definitiva, pois o mau não pode passar para o lugar do justo, e nem vice-versa. Eu já fiz a minha opção: quero ir para o seio de Abraão! E tu para onde queres ir?

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