Pe. Antônio Queiroz CSsR
Recebeste teus bens durante a vida e Lázaro os males. Agora ele
encontra, aqui, consolo e tu és atormentado.
Este Evangelho nos traz a parábola do rico e do Lázaro, aquele homem
rico que se banqueteava todos os dias, sem nem ligar para o pobre Lázaro que
ficava sentado no chão, à sua porta, querendo matar a fome com as sobras que
caiam da mesa do rico.
Certamente lhe davam algumas migalhas, mas isso não foi suficiente para
o rico entrar no céu. Na outra vida, Lázaro foi para o céu e o rico foi para o
inferno.
Além disso, a situação se inverteu: Lázaro tem nome, o rico não. Lázaro
tem advogado (Abraão), o rico não. Lázaro é cidadão, o rico é excluído.
O rico faz três pedidos, que lhe são negados:
1) “Molhar a ponta do dedo para lhe refrescar a língua.” Resposta:
Recebeste teus bens na terra e Lázaro os males; agora ele encontra consolo e tu
és atormentado. Além disso, há um abismo intransponível entre nós.
2) “Mande Lázaro à casa de meu pai, alertar meus cinco irmãos...”
Resposta: Eles têm lá Moisés e os profetas, e os escutem!
3) “Não, pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão
se converter.” Resposta: Se não escutam a Moisés e aos profetas, eles não
acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos.
O nosso amor aos pobres é necessário para entrarmos no céu. Mas deve ser
um amor prático, manifestado em obras de ajuda e de partilha do que temos. Em
resumo, ver o necessitado como nosso irmão, nossa irmã.
Apesar desta clareza, alguns ainda têm dúvida sobre o caminho para
entrarmos no céu!
A nossa sociedade é parecida com a casa daquele rico: o povo usa todo
tipo de segurança para se prevenir dos Lázaros: chaves, portões eletrônicos,
cães bravos, polícia, condomínios fechados. Ela quer os Lázaros bem distantes,
para não vê-los. Assim, nem as migalhas eles ganham.
Vendo isso, os jovens, a nova geração que se prepara para entrar nessa
sociedade, se revolta e parte para a droga ou a delinqüência.
“Moisés e os profetas”, lembrados por Abraão ao rico, são a Sagrada
Escritura (Moisés) e os pastores da santa Igreja (profetas). Nós damos pouco
valor à Palavra de Deus; entra por um ouvido e sai pelo outro. Moisés e os
profetas são os últimos alertas de Deus a nós. A sua próxima manifestação a nós
será no Juízo Final.
Quaresma. As festas litúrgicas não são simples recordações de fatos
passados, como bodas de prata ou de ouro, celebração de aniversário etc. Na
festa litúrgica o fato celebrado acontece de novo agora, em seus efeitos. Na
celebração da páscoa – a passagem de Jesus da morte para a vida – todos os seus
frutos salvíficos se derramam sobre a Assembléia cristã que a celebra. A
celebração repete-se todos os anos porque cada ano a nossa situação é diferente
e há nova necessidade de conversão. Daí a necessidade da preparação, para que a
nossa páscoa vá além do ovo de páscoa.
A quaresma teve sua origem na preparação dos catecúmenos para o batismo,
celebrado no sábado santo. A preparação foi estendida a todos os cristãos, a
fim de reassumirmos os compromissos do nosso batismo.
Certa vez, um homem, depois de muita luta, conseguiu ficar rico: casa
boa, carro bom, filhos na faculdade e vários imóveis alugados rendendo o
suficiente para ele viver.
Mas o anjo da morte apareceu para ele e disse: “Vim buscar você”. Ele
respondeu: “Ah, sr. anjo! Bem agora que eu ia começar a viver uma vida mais
tranqüila! Deixe-me viver pelo menos mais três anos.” O anjo respondeu: “Não”.
O homem insistiu: “Por favor, sr. anjo, então me deixe viver apenas mais
três dias! O anjo respondeu: “Também não”. “E três minutos de vida, o sr. me
dá?” O anjo concordou.
Nesses três minutos o homem pegou um pincel e escreveu a seguinte frase:
“Não seja bobo, empregue bem a sua vida!”
Jesus contou uma história bem parecida com essa, que está em Lc
12,16-21. Aquela homem que teve uma grande colheita, construiu novos celeiros e
disse para si mesmo: “Agora vou comer, beber, gozar a vida”. Mas Deus lhe
disse: “Tolo! Ainda nesta noite, sua vida será retirada”.
Maria Santíssima era bastante sensível aos pobres e necessitados do seu
tempo. Socorreu os noivos, ajudou a prima necessitada... e uma das páginas mais
veementes da Bíblia sobre este assunto é o seu hino Magnificat. Que ela nos
ajude neste tempo de conversão!
Recebeste teus bens durante a vida e Lázaro os males. Agora ele
encontra, aqui, consolo e tu és atormentado.
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