DIA 07 - SEGUNDA - Evangelho - Jo 8,1-11
Quem dentre vós não tiver pecado, seja o
primeiro a atirar-lhe uma pedra.
Este Evangelho nos traz a cena da mulher
adúltera, que estava para ser apedrejada e Jesus a liberta.
Os mestres da Lei e os fariseus fizeram
uma armadilha “para terem motivo de o acusar”. Eles tinham certeza que Jesus
não ia aprovar o apedrejamento, pois sempre defendeu os mais fracos. E, não
aprovando, iria contra a Lei de Moisés e podia ser, por isso, condenado à
morte.
Mas Jesus teve uma saída magistral.
Jogou o problema nas próprias autoridades que ali estavam, transformando-as de
juízes em réus: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe
uma pedra”.
Assim, não só libertou a mulher, mas
deixou para nós uma grande mensagem: Deus ama os que erram, e quer que os
amemos, pois todos nós erramos também. O melhor estímulo para uma pessoa se
recuperar é sentir-se amada e perdoada do erro que fez.
Deus mesmo fez isso, quando a humanidade
pecou. Ele nos mandou seu Filho que veio com amor, para salvar e não para
condenar. “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas
para que o mundo seja salvo por ele” Jo 3,17). Admirada com esse gesto, a
Igreja canta, no exultet da vigília pascal: “Ó culpa tão feliz que há merecido
a graça de um tão grande Redentor!”
Nós somos convidados a imitar esse gesto
de Jesus, no nosso caso, com mais razão, porque somos nós que fazemos a lama,
na qual as pessoas escorregam e caem. Foi isso que Jesus quis mostrar, quando
disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”.
Nós também somos pecadores, e temos parte de culpa nos erros que os outros
cometem, pois são frutos deste mundo pecador, que ajudamos a construir.
Em vez de jogar pedras, devemos abraçar
a todos os que erram, desde a criança que comete pequenas travessuras, até os
que praticam grandes crimes. Abraçar os que estão na lama, mesmo que fiquemos
enlameados também.
Os jovens costumam dizer: “Estou na
fossa”. Uma fossa cheira mal. Mesmo assim, devemos abraçar os que estão lá
dentro, e dar-lhes a mão para que saiam. E sempre, sem perder a paciência,
mesmo que caiam mil vezes.
“Podes ir, e de agora em diante não
peques mais.” Jesus não disse que a mulher era inocente, nem fez pouco caso do
erro dela. O que fez a diferença foi que Jesus não a condenou por que ela errou,
mas a abraçou por que ela errou, para ajudá-la a se levantar e ser feliz.
Muitos chamam os que praticam crimes de
“bandidos”. Esta palavra tem uma conotação farisaica, porque quem a usa divide
a sociedade em dois grupos: os “bons”, entre os quais a pessoa se coloca, e os
que não são bons. Jesus condenou essa divisão, pois colocou uma pedra nas mãos
desses que se consideram “bons”.
Todos somos um pouco bandidos. Talvez os
que tiveram boa formação e boa família são mais bandidos do que os coitados e
coitadas que nunca aprenderam o caminho certo. “Eu sou pior do que ele ou ela”,
é o que devíamos pensar com humildade, ao ouvir falar de crimes e pecados. Se
não chegamos a fazer aquilo, é por pura graça e misericórdia de Deus.
A grande imprensa é como urubu, só
procura carniça. E, ao se referir aos que praticam os crimes, comporta-se
exatamente como aqueles mestres da Lei e fariseus. E quantos de nós vão na
onda, pegando em pedras para apedrejar aquele criminoso!
A Lei de Moisés, citada pelos mestres da
Lei e fariseus, está em Dt 22,22, e em Lv 20,10. Segundo ela, a mulher adúltera
devia ser apedrejada. Mas não só ela, também o homem com quem ela adulterou (Cf
caso da Susana, em Dn 13). Acontece que os fariseus, que eram machistas,
aplicavam a Lei somente para as mulheres.
Certa vez, uma senhora foi se confessar
com S. João Vianney, e contou que tinha falado mal de uma vizinha. O padre
deu-lhe a seguinte penitência: “A senhora vá a sua casa, pegue uma galinha,
mate-a, coloque as penas dela em uma vasilha, depois suba na torre da igreja
quando estiver ventando e jogue as penas para baixo. Depois volte aqui”.
A mulher fez tudo direitinho, em seguida
voltou ao padre. Este lhe disse: “Agora a senhora vai recolher todas as penas e
trazê-las aqui para mim”. “Impossível” – respondeu a mulher – “o vento já levou
para muito longe as penas!” O padre então concluiu: “Assim é a fofoca; ela se
espalha de forma incontrolável, e não conseguimos saber o tamanho do mal que
fizemos à pessoa. E depois de feita a fofoca, é impossível voltar atrás, pois
não sabemos quais as pessoas a quem ela chegou, a fim de procurá-las e
desmentir”.
Acredito que essa mulher nunca mais vai
querer falar dos outros. A maledicência é também uma pedra jogada em alguém.
Vamos depositar as nossas pedras aos pés de Cristo, antes de jogá-las, pois
elas poderão voltar em nós.
Campanha da fraternidade. Freqüentemente
estamos sendo informados da existência de trabalho escravo no Brasil. Em 1993,
a Organização Internacional do Trabalho (OIT) disse que o Brasil era um dos
nove países do mundo com problemas sérios de escravidão, sob a forma de
“cativeiro da dívida”. Na maioria dos casos os trabalhadores são obrigados a
contrair dívidas que nunca podem pagar e, por causa dessas dívidas, são
obrigados a trabalhar de graça, num regime de quase escravidão.
Juntamente com a escravidão de adultos,
emerge a iniqüidade do trabalho infantil. Segundo a OIT, havia no Brasil em
1996 7,5 milhões de crianças e adolescentes trabalhando como adultos.
Não se trata de uma ajuda normal e até
educativa que crianças podem dar à família. Existem ajudas que não impedem as
crianças de freqüentar a escola, não tiram os direitos inerentes à infância,
como brincar, e até podem contribuir para a sua educação e integração social.
Geralmente são pais que já trabalham
quase como escravos e, por exigência de empresas, são obrigados a submeter seus
filhos e filhas ao mesmo drama, por falta de perspectivas melhores. Como disse
um pai: “Às vezes, eu via minha caçula fazendo aquele serviço e pensava que
aquilo não era vida. Mas a gente precisava do dinheiro e não tinha outra
alternativa”.
Que Maria Santíssima, a imaculada, nos
ajude a olhar para dentro de nós mesmos, antes de atirar pedras!
Quem dentre vós não tiver pecado, seja o
primeiro a atirar-lhe uma pedra.
Padre Queiroz
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