Jesus, como Elias e Eliseu, não é enviado só aos judeus.
Este Evangelho narra a expulsão de Jesus da sua cidade, Nazaré. Isso
porque ele desagradou os ouvintes na sinagoga, dizendo que Deus quer bem aos
pagãos como aos judeus, igualmente.
O povo de Israel, por ter sido escolhido por Deus para dele nascer o
Messias, julgava ser um povo mais querido de Deus do que os demais povos. Mas a
eleição foi provisória; depois que Jesus nasceu, acabou a história de povo
eleito. Deus ama a todos os povos igualmente e não há nenhum povo superior a
outro.
Jesus mostra que os profetas enviados por Deus, não privilegiavam o povo
de Israel, mas tratavam a todos os povos igualmente. E cita o exemplo de Elias,
ajudando uma viúva estrangeira, e de Eliseu, curando o leproso Naamã, sendo que
havia muitas viúvas e muitos leprosos em Israel, e nenhum foi agraciado.
Essas citações, apesar de serem fatos bíblicos, irritaram os ouvintes,
que expulsaram Jesus da sua própria cidade natal e quase o mataram. Só não o
fizeram porque Jesus se mostrou com uma força especial.
Jesus veio ao mundo para salvar a todos os povos. Deus ama a todos
igualmente, como seus filhos e filhas. “Não se faz mais distinção entre grego e
judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo, livre, porque agora o
que conta é Cristo, que é tudo e está em todos” (Cl 3,11).
“Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria.” O que fizeram com Jesus
confirmou essa sua afirmação. E é para nós um alerta: será que acolhemos bem o
trabalho pastoral e missionário dos líderes cristãos da nossa cidade ou bairro?
Esta rejeição de Jesus, no comecinho de sua vida pública, prenuncia a
sua sorte como profeta no meio do seu povo: incompreendido, perseguido, morto.
Entretanto, seu Evangelho ultrapassou as fronteiras do seu país e chega a todos
os cantos da terra.
Também nós somos chamados a dar testemunho no meio em que vivemos. O dom
profético não é monopólio dos padres, bispos, diáconos e religiosos. Esse dom é
exercido de diversas formas, de acordo com o carisma de cada um. “A cada um é
dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de todos. A um é dada pelo
Espírito a palavra da sabedoria, a outro a palavra do conhecimento, a outro a
fé... a outro a profecia” (1Cor 12,7-10).
O importante é não deixar apagar o Espírito de Jesus em nós e na nossa
Comunidade. Para isso temos de nos comprometer, especialmente em favor dos mais
pobres, como o próprio Jesus havia dito um pouco antes, no seu discurso em
Nazaré (Lc 4,18ss).
A grande sociedade costuma associar a violência à favela e à pobreza, o
que não é verdade. Os chefes do crime organizado não são pobres nem moram em
favelas. Devido a esse preconceito, milhares de moradores de certos bairros das
grandes cidades sequer ousam apresentar o próprio endereço quando encaminham
currículos com a finalidade de obter um emprego. O simples fato de morar em
certas regiões já é suficiente para estigmatizá-los, como se fossem todos
delinqüentes. Isso é um pecado!
Havia, certa vez, um senhor pai de família, que morava na roça e era
muito religioso. Ele rezava o terço todos os dias à noite, com a família. No
domingo, a família toda ia à Missa, caminhando a pé, numa distância de vinte e
quatro quilômetros. Uma filha, deste os oito anos de idade, acompanhava o pai
em tudo.
Um dia este senhor adoeceu. Ficou três anos na cama, sofrendo dores
horríveis, mas nunca reclamou. Quando alguém o visitava, ele dizia que estava
bem e feliz. Quando ficou inconsciente, só rezava o tempo todo.
Seis anos após o falecimento do pai, a menina, agora moça, foi fazer
tratamento médico numa cidade grande, onde ficou hospedada na casa de uma
família de parentes, durante alguns meses.
As famílias católicas vizinhas, ao saberem do seu trabalho de líder
cristã, começaram a convidá-la para rezar o terço em suas casas e ela sempre
aceitava o convite com prazer.
Ela ouviu vários comentários negativos a respeito de uma vizinha que
morava sozinha. As pessoas diziam à moça: “Naquela casa ali mora uma mulher que
não presta!” Entretanto, a jovem, na sua prática pastoral, não deu muita
importância aos comentários, e procurou aproximar-se da tal “mulher que não
presta”.
De início, aproveitava os momentos em que ela saía de casa, para
conversar. Dias depois, foi convidada pela mulher para ir à sua casa. A jovem
ouvia mais do que falava, porque percebia que a senhora sentia necessidade de
falar e de se abrir com alguém.
Resultado: as duas ficaram amigas. A mulher começou a participar dos
terços, e acabou nos vizinhos aquele estigma de “mulher que não presta”.
Depois que a jovem voltou para a roça, ficou sabendo que aquela mulher
se transformou. Não era mais aquela pessoa fechada, mas comunicativa e alegre.
Seguindo os passos de Jesus, todos nós somos chamados a ser profetas,
continuando o trabalho dele e dando testemunho, no lugar onde vivemos.
Maria Santíssima é a Rainha dos Profetas. Que ela nos ajude a dar
testemunho do seu Filho, no meio em que vivemos.
Jesus, como Elias e Eliseu, não é enviado só aos judeus.
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