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quarta-feira, 19 de março de 2014

O Filho do Homem vai morrer - Padre Queiroz

DIA  16 - QUARTA - Evangelho - Mt 26,14-25

O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura. Contudo, ai daquele que o trair.
Hoje, quarta-feira da semana santa, o Evangelho narra a traição do Apóstolo Judas a Jesus. Em mais um gesto de amor ao querido Apóstolo traidor, Jesus fala claro, na presença dele, tentando convencê-lo a desistir do enorme crime: “O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido!”
Judas teve dúvidas se Jesus falava a respeito dele e perguntou: “Mestre, serei eu?” Jesus lhe respondeu: “Tu o dizes”.
Mas a última tentativa de Jesus de evitar que seu Apóstolo o traísse foi em vão! E ficou na história o maior traidor da humanidade.
Deus acolhe o homem e a mulher como são, e confia neles, até mesmo na iminência de uma traição. Nós também, como irmãos e irmãs, devemos aceitar a todos, por indignos que sejam, porque a regeneração é sempre possível, e nada melhor para isso do que sentir-se amado.
No fundo do nosso coração mora um possível santo ou um possível traidor. Cristo tem inimigos, amigos falsos e amigos verdadeiros. Os verdadeiros todos têm fraquezas e cometem deslizes; mas quando percebem, ou são advertidos, voltam atrás. Errar é humano, permanecer no erro é burrice. Que esse horrível pecado de Judas seja um alerta para nós. “Quem julga estar de pé tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12).
O pecado leva à morte, e ele nunca acontece de uma hora para outra, de improviso. Ele tem as suas raízes; começa aos pouquinhos, em pequenas infidelidades. Nada passa despercebido diante de Deus. Por isso, “cuidado com as coisas pequenas!”
Jesus continua sendo traído hoje. Pessoas que dizem sim a ele para toda a vida, mais tarde se esquecem e viram as costas para ele e para a sua Igreja.
S. Paulo descreve a força que o pecado exerce em nós: “Estou ciente de que o bem não habita em mim, isto é, na minha carne... pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” (Rm 7,18-19).
A tentação é mentirosa e enganadora. Ela sempre chega com uma carinha bonita, dizendo que aquilo é bom para nós. Veja a conversa da serpente com Eva. A serpente começa incitando o casal a revoltar-se contra Deus: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comais de nenhuma das árvores do jardim?’” (Gn 3,1). Eva responde: “Nós podemos comer dos frutos das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Não comais dele, nem sequer o toqueis, do contrário morrereis’” (Gn 3,2-3). A serpente respondeu: “De modo algum morrereis. Pelo contrário... vossos olhares se abrirão e sereis como Deus” (Gn 3,4-5). Eva então comeu e deu para o marido que estava ao seu lado.
Hoje, a tentação continua enganando do mesmo jeito; apenas as táticas são outras, e sempre novas, para nos enganar.
Quanta gente fala, por exemplo: “Eu fiz isso (pecado) porque a outra pessoa insistia e eu não quis magoá-la”. Neste caso, a tentação usou justamente do coração bom daquela pessoa para levá-la a pecar.
A tentação nos apresenta o pecado como coisa pequena, passageira e sem conseqüências. Mas, logo após, ela muda de cara e quer nos levar ao desespero, dizendo-nos que estamos num beco sem saída. Isso é mentira, porque todo pecado tem perdão e não nenhum problema maior que Deus. A graça de Cristo é mais forte que o pecado. E essa graça apenas não atua em quem não á quer, como foi o caso de Judas.
Havia, certa vez, em um colégio de Irmãs, uma aluna adolescente que era indisciplinada. Ela vivia fazendo bagunça, desobedecendo aos professores e levando as colegas a fazerem o mesmo.
Um dia, por causa de uma indisciplina maior, a Irmã diretora lhe deu um castigo: enquanto a classe ia fazer um passeio, ela devia ficar na sala, escrevendo cinqüenta vezes a seguinte frase: “Maior mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Uma professora ia ficar na classe com ela.
A menina sentou-se e escreveu a primeira vez. Depois parou e ficou meditando sobre frase.
Pediu licença à professora, foi a um nicho, pegou a pequena imagem de Nossa Senhora e a colocou ao seu lado na carteira. Mais que depressa, escreveu as quarenta e nove vezes que faltavam.
Em seguida, pediu à professora, foi à capela e rezou longamente. Voltou deslumbrada e agradeceu à professora. Esta pegou o seu carro e a levou imediatamente para o passeio.
Às vezes, as crianças erram porque não sabem o catecismo e não conhecem os mandamentos de Deus. Cristo deixou todos os recursos para evitarmos o pecado, mas precisamos conhecê-los e usá-los.
Campanha da fraternidade. Um dos critérios fundamentais para a construção da paz é a não-violência. Esta, porém, não pode ser entendida como omissão, ou não ação, ou passividade diante das agressões ou injustiças sofridas. Significa não pagar o mal com a mesma moeda, mas agir a partir de outros critérios, como recorrer ao poder judicial, a recusa de participação em atividades não construtivas, desobediência cívica, greve pacífica, passeatas, protestos pacíficos etc.
Chamamos essa não-violência de não-violência ativa. Ela é um dos meios mais importantes à disposição de todos para quebrar a cultura da guerra, da vingança e do ódio, substituindo pela tolerância, pelo diálogo e pela misericórdia.
Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.
O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura. Contudo, ai daquele que o trair.
Padre Queiroz


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