21/09/2016
Instituto Humanitas Unisinos
Movimento "inclusivo" de Jesus
Faz-se preciso situar o texto do evangelho de hoje na obra de
Mateus. Os capítulos seguintes ao Sermão da Montanha, ou seja, os capítulos 8 e
9, narram a atividade de Jesus.
O programa de vida que proclamou no sermão da Montanha como
felicidade e paz para o povo é o que ele realiza com suas atitudes e obras.
Dessa maneira, Mateus apresenta a atividade messiânica de Jesus no seio de seu
povo.
No meio desta atividade está situado o texto que a Igreja nos
oferece para refletir neste dia.
Cabe-nos perguntar por que o evangelista situa o chamado de Levi
neste momento de sua narrativa.
Talvez a resposta esteja no último versículo que hoje lemos:
"Aprendam, pois, o que significa: "Eu quero a misericórdia e não o
sacrifício’. Porque eu não vim para chamar justos e sim pecadores", ou
seja, o evangelista acha necessário esclarecer que o centro da missão do
Messias é buscar o que estava perdido, curar os doentes, libertar os cativos,
proclamar o ano de graça de misericórdia do Senhor! (Lc 4, 18-19).
Este é o reino que Jesus vem inaugurar e comunicar com sua vida,
morte e ressurreição.
E para ser partícipes e, mais ainda, colaboradores na expansão
deste reino, todos/as, sem exceção, são convidados de uma maneira ternamente
pessoal, rompendo qualquer norma ou preconceito que deixe alguém fora do âmbito
deste reino.
Se olharmos agora para Levi, cobrador de impostos, é, sem dúvida,
uma das pessoas que, na época, de Jesus sofriam a exclusão. Não eram queridos
pelo povo por causa de seu trabalho ganancioso. Eram considerados impuros por
parte das autoridades religiosas judaicas, e para o império romano não eram
mais que um dos últimos degraus na escada da opressão que exerciam sobre o
povo.
Por essa razão, é escandaloso para os judeus e também para os
discípulos de Jesus, que ele chame Mateus para ser seu seguidor! E, como se
isso não bastasse, vai à sua casa e se senta à sua mesa.
Se considerarmos a casa como símbolo da história da pessoa, e
partilharmos sua mesa assim como a sua intimidade, podemos entender que o
evangelista está mostrando que Jesus, quando chama Mateus, o faz dentro de sua
própria história com suas luzes e sombras.
A resposta que Jesus dá aos fariseus revela seu conhecimento da
vida de Mateus, que o faz "merecedor" de uma atenção privilegiada por
parte dele: "As pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas só as
que estão doentes".
Esta maneira de olhar que Jesus tem é, por assim dizê-lo,
revolucionária e porque está carregada de compaixão e misericórdia.
Por isso, não julga nem condena o cobrador de impostos, antes é
capaz, sendo conhecedor de sua fraqueza e também de seus erros, de convidá-lo
para uma vida diferente que brota da amizade com Ele.
E aqui podemos nos lembrar das palavras do evangelho de João,
quando Jesus fala da amizade: "eu chamo vocês de amigos, porque eu
comuniquei a vocês tudo o que o ouvi de meu Pai" (Jo15,15b).
O que primeiro Jesus comunica a seu amigo Mateus sobre seu Pai-Mãe?
O evangelho de hoje nos diz que Jesus faz primeiro, referindo-se a
Mateus, é vê-lo na sua situação cotidiana: "Jesus viu um homem chamado
Mateus, sentado na coletoria de impostos".
Mas o olhar de Jesus é capaz de ir além do que um simples olhar
enxerga de um judeu cobrador de impostos. Ele reconhece em Mateus um filho
muito querido de Deus, e isso é o que Ele comunica primeiro para o cobrador de
impostos.
Seu olhar sobre Mateus está carregado da ternura e misericórdia de
Deus Pai-Mãe, que cura as feridas e perdoa os pecados, amando-o
incondicionalmente.
Mas Jesus continua e diz para ele: "Siga-me!". Abre-se
diante de Mateus a possibilidade de um caminho novo, impensável até esse
momento. É convidado a deixar de ser uma engrenagem do império opressor, para
passar a ser íntimo colaborador na construção de um reino de liberdade, justiça
e solidariedade.
Deixemos que Jesus passe e nos olhe no nosso dia-a-dia e, como
Mateus, tenhamos a coragem de acolher esse olhar e a proposta que dele brota.
Sem dúvida, nossa vida passará a ser diferente e poderemos também
ser parte deste círculo aberto, inclusivo e integrador de amigos e amigas de
Jesus que continuam lutando pela sua mesma paixão: o ser humano e a casa que
ele habita!.
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