09/09/2016
Reflexão do falecido padre Queiróz
Pode um cego guiar outro cego?
Neste Evangelho, Jesus dá um forte recado a todos e todas que têm o
encargo de orientar ou formar outras pessoas. Ninguém dá aquilo que não tem.
Quem carrega uma trave no próprio olho, isto é, comete grandes
faltas, não tem condições de enxergar bem para tirar o cisco (pequenas faltas)
do olho do irmão, do filho, da filha, do aluno, do formando, do súdito...
As pessoas que vivem no pecado, além de não ter bom discernimento
para orientar espiritualmente outras pessoas, ainda cometem o pecado da
hipócrita, porque dão uma de santos e de exemplos diante do irmão.
“Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho...” Jesus não quer
que as pessoas erradas parem de orientar outras; quer que elas se convertam,
tirando a trave do próprio olho.
A palavra convence, o exemplo arrasta. Nós precisamos muito mais de
pessoas que vivem corretamente do que de pessoas que falam bonito.
A correção fraterna é boa quando é mediação da caridade, e feita
com humildade, sem julgar o interior do outro, pois o coração só Deus conhece.
Uma das traves no nosso olho é a soberba, que gera a intolerância
diante das fraquezas do nosso próximo. Essa trave impede-nos da análise pessoal
e nos leva a crer que somos melhores que os outros. “Não condeneis e não sereis
condenados; perdoai e sereis perdoados”. A soberba nos torna cegos e portanto
incapazes de guiar outros cegos.
Se “um discípulo não é maior do que o mestre”, nós devemos ter a
atitude compreensiva de Jesus, que acolhia a todos, apesar dos defeitos de cada
um, a começar pelos os seus Apóstolos. Deus nos ama e nos aceita a todos do
jeito que somos, com defeito e tudo. Essa é a atitude do nosso Mestre, que
devemos imitar, tendo um amor universal e sem fronteiras.
Esta parábola é muito parecida com a do fariseu e do publicano. O
publicano julgava a si mesmo, o fariseu julgava os outros (Cf Lc 18,9-14).
Certa vez, um dos monges de um mosteiro cometeu uma falta grave.
Chamaram, então, o ermitão mais sábio da região, para ir até o mosteiro
julgá-lo. O ermitão se recusou. Mas, insistiram tanto que ele terminou por ir.
Antes, porém, pegou um balde e fez vários furos embaixo. Ao chegar
perto do mosteiro, encheu o balde de areia e foi caminhando, enquanto a areia
escorria pelos furos e caía no chão.
Os monges o avistaram e vieram ao seu encontro. Um deles lhe
perguntou o que era aquilo. O ermitão respondeu: “Vim julgar o meu próximo.
Meus pecados estão escorrendo atrás de mim, como a areia que escorre deste
balde. Mas, como eu não olho para trás e não me dou conta dos meus próprios
erros, fui chamado para julgar o meu próximo”. Diante disso, os monges
desistiram da punição ao pobre infrator.
Nossos pecados escorrem atrás de nós como a areia daquele balde.
“Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que está
no teu próprio olho?... Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então
poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”. Caso semelhante
está na cena da mulher adúltera: “Aquele que não tiver pecado, atire a primeira
pedra”.
Maria Santíssima é a Rainha dos educadores, pois criou e formou o
próprio Filho de Deus e nosso grande educador. Que ela nos ajude a tirar a
trave que carregamos em nossos olhos, a fim de termos condições de ajudar os
nossos irmãos e irmãs a tirarem o cisco de seus olhos.
Pode um cego guiar outro cego?
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