02 de Março - Segunda - Evangelho
- Lc 6,36-38
Perdoai
e sereis perdoados.
Neste
Evangelho, Jesus nos pede para sermos misericordiosos. E explica o que isso
significa: Não julgar ninguém, não condenar ninguém, perdoar a todos que nos
ofendem e partilhar os nossos bens com os que precisam.
O
exemplo ou modelo que ele nos apresenta é o próprio Deus Pai, que nos perdoa,
nos ajuda e é misericordioso conosco.
Misericórdia
é a compaixão suscitada pela miséria alheia. Vem do latim: “mittere + cor” =
Jogar o coração. Misericórdia é mais que simples sentimento de compaixão. É a
compaixão levada à ação; é fazer alguma coisa para ajudar a pessoa da qual
sentimos compaixão.
A
pessoa misericordiosa “tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Sempre descobre o
lado bom das pessoas. Afinal, todos nós, mesmo os maiores criminosos, no fundo,
somos bons, pois fomos criados por Deus e ele só faz coisas boas.
No
catecismo, as crianças decoram as catorze obras de misericórdia, sete corporais
e sete espirituais. As corporais são: dar de comer a quem tem fome, dar de
beber a quem tem sede, vestir os nus, dar abrigo aos peregrinos, visitar os
doentes e encarcerados, libertar os escravizados e sepultar os mortos. Elas
seguem, quase literalmente, Mt 25,31-46, onde Jesus nos diz o que vai cobrar de
nós no Juízo Final. Portanto, se trata de coisa séria, pois está em jogo a
nossa salvação.
As
espirituais são: dar bom conselho, ensinar os que não sabem, corrigir os que
erram, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar as fraquezas do
próximo e orar pelos vivos e falecidos.
A
pessoa misericordiosa tem um amor compreensivo. É muito comum essas pessoas
usarem a expressão: “Coitado!”
“Perdoai
e sereis perdoados.” É o que rezamos no Pai Nosso: “Perdoai-nos as nossas
ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Todos nós somos
pecadores e temos dívidas com Deus. Só entraremos no céu se ele nos perdoar.
Acontece que o perdão de Deus a nós é do tamanho do nosso perdão aos nossos
irmãos.
O
perdão faz feliz não só quem é perdoado, mas também quem perdoa. Quanto mais
reconhecemos que somos pecadores, mais sentimos a necessidade de perdoar os
outros, a fim de sermos também perdoados por Deus. Temos dois caminhos: ou
abrimos o nosso coração à generosidade e à misericórdia, ou nos fechamos na
nossa própria mesquinhez e intransigência.
“Dai
e vos será dado. Uma medida calcada, sacudida e transbordante será colocada no
vosso colo.” Jesus usa como comparação a medida de grãos, usada nos armazéns
antigos. Por exemplo, se uma pessoa queria comprar cinco litros de feijão, o
balconista enchia a vasilha de cinco litros, depois sacudia (abaixava um
pouco), socava (abaixava mais), em seguida punha mais feijão até derramar. Isso
é generosidade! É assim que Deus faz para recompensar as nossas obras de
misericórdia.
Jesus,
quando estava na cruz, deu-nos um belo exemplo de amor misericordioso, quando
rezou: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem!” Também quando disse ao
bom ladrão: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso”. Que exemplo para nós!
Não
temos outra opção: ou aceitamos os outros com as suas limitações humanas, ou
nos fechamos na nossa pequenez e egoísmo. Está aí uma grande oportunidade de
conversão nesta quaresma.
E
não vale o “perdôo mas não esqueço”, porque seria perdão pela metade. Se a
fraqueza cometida por nosso irmão chegar à nossa memória, que seja rebatida com
a virtude da misericórdia.
Sobre
a Campanha da Fraternidade – economia e vida – lembramos que justiça não é “dar
a cada um o que lhe pertence” ou “pagar pelo trabalho que fez”, mas é dar a
cada um o necessário para viver dignamente. Que os bens que vêm de Deus sejam
distribuídos para todos os seus filhos e filhas, sem excluir ninguém. Economia
significa, literalmente, administração da casa. Que esta grande casa de Deus, o
planeta terra, seja bem administrado, colocando a vida em primeiro lugar. Há
cidades que estão usando, em vez do conhecido saquinho de supermercado, sacolas
de papel, que são biodegradáveis e não poluem a natureza. Que a economia esteja
a serviço da vida, não o contrário, a vida a serviço da economia.
Havia,
certa vez, um operário de construção que todos os dias comia a mesma coisa:
sanduíche de queijo. Os outros operários esperavam com alegria o toque da
sirene para o almoço, quando se dirigiam ao galpão, onde haviam guardado suas
refeições. Uns esquentavam, outros não. Quase sempre feijão, arroz e um pedaço
de carne. Todos comiam com visível prazer. Mas aquele trabalhador comia seu
sanduíche de queijo reclamando. Todos os dias ele dizia: “Detesto sanduíche de
queijo”. Comia silenciosamente e no final amassava o papel, jogava-o no lixo e
repetia a ladainha: “Detesto sanduíche de queijo”.
Um
dia, um dos colegas sugeriu: “Por que você não pede a sua esposa que faça um
sanduíche diferente?” Ele respondeu: “Quem disse que é a minha esposa quem
prepara o sanduíche? Sou eu mesmo que o preparo”.
Já
pensou? Cada um colhe aquilo que planta; cada um come o sanduíche que preparou.
À semelhança desse caso, muitas vezes as nossas desavenças nascem de nós
mesmos. Somos nós que fazemos uma imagem do outro, que não corresponde à
realidade. Depois começamos a nos desentender com o próximo, baseados numa
imagem dele que nós mesmos criamos.
Maria
Santíssima, no Magnificat, cantou a misericórdia de Deus: “A sua misericórdia
de estende de geração em geração”. “Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida,
doçura e esperança nossa, salve!”
Perdoai
e sereis perdoados.
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