17 DE FEVEREIRO
O texto de hoje nos ajuda a fazer uma reflexão, uma introspecção.
Estamos diante de um Evangelho que determina o nosso ser cristão. É, diria eu,
o termômetro da nossa própria fé católica. E não poderia existir passagem
melhor do que a do Evangelho de hoje.
A prática da justiça, no sentido religioso, significava a busca de
justificação diante de Deus. As mais consagradas eram: a esmola, a oração e o
jejum. Por esta prática o piedoso judeu julgava-se justo diante de Deus. Com
atitude ostensiva, os líderes religiosos do templo e das sinagogas afirmavam
seu prestígio e poder.
A penitência, muitas vezes vista como uma prática de sofrimento, na
verdade tem o caráter modificador, que nos transforma que nos faz perceber que
podemos viver sem certas coisas do mundo. Que mais forte é Deus que nos dá o
suficiente para viver. Compreendemos que os sacrifícios feitos deverão,
portanto, ser fonte de crescimento, de amadurecimento espiritual e não motivo
de promoção pessoal. E por isso, não devem ser expostos ao mundo, pois é
interioridade, é intimidade com Deus.
Isto vale para todos os nossos atos religiosos ou aparentemente
humanitários. Não podem ser forma de se vangloriar de sua bondade, mas de
promover sua espiritualidade e também o bem de outras pessoas.
Sê assíduo à oração e à meditação. Disseste-me que já tinhas
começado. Isso é um enorme consolo para um Pai que te ama como Ele te ama!
Continua, pois, a progredir nesse exercício de amor a Deus. Dá todos os dias um
passo: de noite, à suave luz da lamparina, entre as fraquezas e na secura de
espírito; ou de dia, na alegria e na luminosidade que deslumbra a alma.
Se conseguires, fala ao Senhor na oração, louva-o. Se não
conseguires, por não teres ainda progredido o suficiente na vida espiritual,
não te preocupes: fecha-te no teu quarto e põe-te na presença de Deus. Ele
ver-te-á e apreciará a tua presença e o teu silêncio. Depois, pegar-te-á na
mão, falará contigo, dará contigo cem passos pelas veredas do jardim que é a
oração, onde encontrarás consolo. Permanecer na presença de Deus com o simples
fito de manifestar a nossa vontade de nos reconhecermos como seus servidores é
um excelente exercício espiritual, que nos faz progredir no caminho da
perfeição.
Quando estiveres unido a Deus pela oração, examina quem és
verdadeiramente; fala com Ele, se conseguires; se te for impossível, detém-te,
permanece diante dele. Em nada mais te empenhes como nisso.
Não se trata de conceber a oração interior, livre de todas as
formas tradicionais, como uma piedade simplesmente subjectiva, e de opô-la à
liturgia, que seria a oração objectiva da Igreja; através de toda a verdadeira
oração, alguma coisa se passa na Igreja e é a própria Igreja quem reza, porque
é o Espírito Santo que vive nela que, em cada alma única, “intercede por nós
com gemidos inefáveis” (Rom 8, 26). E essa é, justamente, a verdadeira oração,
porque “ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor’ senão por influência do Espírito
Santo” (1Cor 12, 3). O que seria a oração da Igreja se não fosse a oferenda
daqueles que, ardendo com grande amor, se entregam ao Deus que é amor?
O dom de si a Deus, por amor e sem limites, e o dom divino que se
recebe em troca, a união plena e constante, é a mais alta elevação do coração
que nos é acessível, o mais alto grau da oração. As almas que o atingiram são,
na verdade, o coração da Igreja; nelas vive o amor de Jesus, Sumo-Sacerdote.
Escondidas com Cristo em Deus (Col 3, 3), não podem deixar de fazer irradiar
para outros corações o amor divino de que estão cheias, concorrendo assim para
o cumprimento da unidade perfeita de todos em Deus, como era e continua a ser o
grande desejo de Jesus.
Jesus nos mostra neste texto ao falar da oração, jejum e caridade
de forma consciente o momento e o ato mais importante da nossa íntima união com
Ele. E nos faz saber que estes atos devem ser livres e desimpedidos,
desinteressados de reconhecimento. A partir do momento em que vivemos estas
três lições de Cristo oração, jejum e penitência, em nossas vidas, tudo em nós
será um eterno aleluia. Jesus terá verdadeiramente ressuscitado em nós.
Espírito de piedade ensina-me o modo de agir que realmente agrade
ao Pai, e mereça a recompensa divina.
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