15 - Fevereiro-- DOMINGO - Evangelho
- Mc 1,40-45
A
lepra desapareceu e o homem ficou curado.
Este
Evangelho narra a cena da cura de um leproso. Ele “chegou perto de Jesus, e de
joelhos pediu: Se queres, tens o poder de curar-me”. A fé é condição para
recebermos as graças de Deus.
“Jesus,
cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: Eu quero: fica
curado!” O sentido literal da palavra compaixão é “sofrer junto”. Ela leva a
pessoa a, de dó, sofrer o mesmo que o outro está sofrendo. Só isso já é um
alívio para o outro, porque sente que há alguém unido na dor. Daí para frente,
os dois juntos, com os recursos que têm, procuram sair do problema. É bem mais
fácil lutarmos contra uma dificuldade, junto com alguém, do que sozinho. E
mais: “Onde dois ou mais estiverem unidos em meu nome” – disse Jesus – “eu
estou no meio deles” (Mt 18-20).
“Jesus
não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares
desertos.” Houve uma troca de posições: o homem saiu do deserto e Jesus foi
para lá. A compaixão muitas vezes leva a isso. Mas o amor faz a pessoa feliz,
mesmo vivendo no deserto.
Sob
o nome de lepra incluíam-se diversas doenças da pela, além da lepra como tal.
Todos esses casos eram considerados doença incurável e contagiosa; portanto, o
doente devia afastar-se das pessoas e viver sozinho, em um lugar isolado. Se
alguém tocasse nele, ficava também impuro, tendo de ir morar junto com ele lá
no deserto (Lv 5,5-6; 13,45s).
O
“leproso” era um ferido por Deus, e por isso ficava excluídos também da
sinagoga e do convívio com o povo eleito, passando a levar uma vida miserável.
Jesus
amou tanto aquele doente, que enfrentou todo esse rigor da Lei. Foi como se ele
dissesse ao leproso: a sua dor é a minha dor; o seu problema é o meu problema.
“Por
toda parte, Jesus andou fazendo o bem” (At 10,38). O cristão verdadeiro sente
compaixão das pessoas que sofrem, e se une com elas, sem medo de “se sujar” ou
de as coisas complicarem para si. Isso é solidariedade, que nasce da compaixão.
Jesus
nunca ficava neutro entre uma pessoa certa e outra errada, um opressor e um
oprimido, mas sempre assume o lado da verdade, da vida, do excluído e dos
mandamentos de Deus. Por isso que os cristãos, seguidores de Jesus, facilmente
“se queimam” ou “se estrepam”.
“Vai,
mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moises ordenou,
como prova para eles!” A prova era dupla: de que o homem está curado, portanto
pode voltar ao convívio social, e que foi Jesus que o curou, isto é, reintegrou
na sociedade uma pessoa que os sacerdotes excluíam, através de suas leis sobre
puro e impuro. Aqueles sacerdotes se preocupavam em proteger o resto da
sociedade, mas não se preocupavam em reintegrar nela os pobres doentes ou
pecadores que haviam sido excluídos.
A
nossa sociedade atual é parecida. Ela cria uma série de medidas para se proteger,
por exemplo, contra a AIDS, mas não enfrenta a raiz do problema, que é o
liberalismo total no uso do sexo. Ela cria FEBEM para se proteger contra o
menor infrator, mas pouco se preocupa em recuperá-lo e reintegrá-lo na
sociedade.
A
pior medida é apelar para as armas, nas guerras e em conflitos pessoais. Como é
triste matar uma pessoa humana, e causar lágrimas nos familiares, até o fim da
vida! Falta-nos, muitas vezes, paciência na solução dos conflitos.
Hoje,
há milhões de pessoas marginalizadas: pela fome, pela pobreza, pelo
analfabetismo, pelo desemprego, pelas doenças... Cabe-nos uma pergunta: o que a
nossa Comunidade está fazendo por eles? Nós nos preocupamos mais em colocar
seguranças na porta da igreja, ou em recuperar essas pessoas? Colocar segurança
na porta da igreja é uma atitude egoísta que só pensa no nosso lado, em nos
proteger. Ela é válida, mas recuperar os marginalizados é muito mais importante
e mais cristão.
“Não
contes nada disso a ninguém!” Porque Jesus estava interessado em projetar não a
si mesmo, mas a Comunidade cristã que ele estava criando. Ela, a Igreja, é a
força de Deus no meio do povo. As pessoas sempre procuram alguém para se
apoiar; Jesus quer o contrário: que a Comunidade cristã se apóie em Cristo e na
sua união. Reino de Deus é povo organizado, e unido com Deus e entre si.
“Ele
foi e começou a contar.” A própria vida do ex-leproso já era por si um
testemunho em favor de Jesus. É impossível esconder a luz, especialmente quando
essa luz não quer chamar a atenção sobre si mesma. Evangelizar é falar bem de
Jesus e de sua Igreja. Contar, espalhar os benefícios que eles nos fazem
Deus
nem sempre nos cura e nos livra de todas as doenças. Ninguém fica eternamente
na terra. Mas, se tivermos fé, Deus nos dá a paz na doença e nos ajuda e
transforma em bem as próprias doenças que sofremos.
Os
antigos tinham uma figura mitológica chamada oportunidade. Era uma figura que
passava sempre correndo, e só podia ser agarrada pelos cabelos. Mas, ao
contrário de nós, ela tinha os cabelos na frente da cabeça, e, quando corria,
os cabelos esticavam para frente, não para trás.
Assim,
aqueles que quisessem agarrá-la, deviam dar conta da sua passagem por
determinado lugar e ficar ali esperando, a fim de agarrá-la pela frente, pois,
se ela passasse, acabou, ninguém conseguia pegá-la.
Aquele
leproso aproveitou a oportunidade, porque, vivendo em um povo que via a sua
doença como sem cura, procurou a Jesus: “Se queres, tens o poder de curar-me”.
Que nós também aproveitemos todas as oportunidades boas, inclusive as que nos
são oferecidas pela fé.
Pedimos
a Maria Santíssima que nos ajude a imitar o seu Filho Jesus, que “passou pela
vida fazendo o bem”.
A
lepra desapareceu e o homem ficou curado.
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