II DOMINGO DA QUARESMA 01/03/2015
1ª Leitura Gênesis 22, 1-2.9ª –
10.13.15-18
Salmo 114/115,9 “Na presença do
Senhor continuarei o meu caminho na terra dos vivos”
2ª Leitura Romanos 8, 31b – 34
Evangelho Marcos 9, 2-10
"O Amor que
Transfigura.."
Tivemos um jovem em nosso grupo, que
acabou se tornando médico, recordo-me que após a formatura, a sua turma, vinda
de famílias abastadas, como recompensa e merecido descanso, decidiu participar
de um cruzeiro internacional, em um navio luxuosíssimo, com hospedagens em
hotéis 5 estrelas, mas esse jovem, já formado, retomou contato com a humilde
comunidade onde tivera a sua experiência pastoral e ao saber que a mesma fazia
atendimento a uma área paupérrima do bairro, se dispôs a conhecer esse
trabalho, e observando uma carência total na área da saúde, ele não teve
dúvidas, juntou-se a Pastoral da Saúde e elaborou um cuidadoso plano de ação, e
quando seus amigos vieram procurá-lo, para surpresa geral o jovem Doutor abriu
mão da fantástica aventura, para dedicar-se nas férias, á comunidade pobre que
fazia parte da sua antiga paróquia. Parece história da “Carochinha”, mas se
prestarmos atenção ao nosso redor, vamos encontrar pessoas como esse jovem, que
nem sempre saem nos jornais, e que a gente se pergunta, como é que podem
existir pessoas assim, que no anonimato abrem mão daquilo que têm, em favor de
quem precisa, fazendo um sacrifício, palavra estranha e sem sentido para o
homem deste milênio, rodeado de conforto, facilidades, tecnologia, comodidade e
bem estar.
Não há nenhuma razão lógica para
alguém sacrificar-se assim por um ser humano, aquele jovem poderia primeiro
curtir a sua merecida viagem com os amigos e depois, quem sabe, dar um pouco do
seu tempo à comunidade pobre, mas aí é que está a diferença, o amor quando é
autêntico, nunca se satisfaz em dar apenas um “pouco”, entre os jovens ainda é
comum a palavra “FICAR”, que significa uma relação sem compromisso, um
amorzinho bem vagabundo, desses de quinta categoria, mas quando dois jovens
resolvem migrar do simplesmente Eros para o Ágape, daí vamos ter o amor em toda
sua beleza e esplendor, amor de primeiríssima qualidade, indestrutível,
inseparável, como n os ensina a segunda leitura desse domingo, sempre
tolerante, compassivo, disposto a perdoar e a recomeçar, amor que sabe sonhar e
construir juntos, na partilha e comunhão de vida, casamento na Igreja supõe
tudo isso...
É assim que Deus se revela em Jesus
Cristo, é assim que Cristo se revela em quem é capaz (e não precisa ser médico)
de renunciar algo valioso, para doar-se aos irmãos, não existe outra forma de
amar que não seja o serviço, feito com grande sacrifício, e isso parece algo
tão simples e ao mesmo tempo tão complicado, difícil de ser compreendido pelo
coração humano, que hoje é educado para buscar grandezas e ambições, prestígio,
fama, sucesso e poder, em um egocentrismo exacerbado.
Como podemos entender o sacrifício
de Abraão, que abre mão do Filho da Promessa, tão esperado e sonhado, e que
veio em sua velhice, brotado como semente tardia, dom de Deus, da esterilidade
de Sara, sua esposa? O Patriarca, ícone das três maiores religiões do planeta,
sente em seu coração que o amor á Divindade em quem crê, só se concretiza
ofertando algo valiosíssimo,e aqui retomamos o sentido do amor, que não é dar
um pouquinho, mas o “tudo”, ou seja, aceitar perder algo, que não se vai mais
recuperar...Na religião da recompensa divina, sempre marcada pela mediocridade,
ou nas relações mercantilizadas com as pessoas, se faz na verdade uma barganha,
é muito complicado chegarmos a compreensão dessa gratuidade, pois pensamos que
somos muito bons e nos doamos até um certo ponto, mas não se pode também
exagerar e sair no prejuízo, é esse o grande problema, colocamos sempre um
limite no nosso modo de amar, abrimos mão de ganhar alguma coisa, mas ter que
perder, aí já é um pouco demais...Amar como Jesus amou, é sempre assumir o
risco de uma perda.
Entretanto, quando desenvolvemos em
nós essa virtude do evangelho, e aceitamos até perder tudo, estamos nos unindo
Aquele que se deu por inteiro, e que para salvar a todos aceitou perder tudo,
pois o Cristo na cruz é um homem derrotado e humilhado, diante doa amigos que
acreditaram em sua proposta, é alguém que perdeu tudo, prestígio, família,
amigos, dignidade, honra, considerado na visão profética um homem maldito
diante de Deus, abandonado e esquecido, incompreendido e rejeitado, homem
esmagado pelas dores, como nos lembra Hebreus, e se o Pai não o tivesse
glorificado quem seria Jesus para o mundo de hoje? Talvez ninguém, pois
enquanto homem aceitou correr esse risco, não sabia bem no que ia dar tudo
aquilo, e podia ser que nem a comunidade reconhecesse o seu gesto de amor.
Somos hoje convidados a contemplar exatamente essa glória, pois no
Cristo transfigurado, está a humanidade, sonhada, planejada e criada por Deus,
está aquele jovem, cuja história contei no início, está cada cristão, que tem
essa disposição interior de doar-se por inteiro, e que ninguém tenha medo, Deus
nunca exigirá de nós o mesmo sacrifício da cruz, mas que nossas pequenas ações
possam pelo menos refletir um pouco, do Amor de Jesus de Nazaré, para isso é
necessário buscá-lo e escutá-lo, pois somente ele e mais ninguém, nos ensina
com tanta autoridade, como é que se ama de verdade...(Diácono José da Cruz –
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim SP – E-mail cruzsm@uol.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário