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domingo, 22 de fevereiro de 2015

O Amor que Transfigura--Diác. José da Cruz


II DOMINGO DA QUARESMA 01/03/2015
1ª Leitura Gênesis 22, 1-2.9ª – 10.13.15-18
Salmo 114/115,9 “Na presença do Senhor continuarei o meu caminho na terra dos vivos”
2ª Leitura Romanos 8, 31b – 34
Evangelho Marcos 9, 2-10
"O Amor que Transfigura.."
Tivemos um jovem em nosso grupo, que acabou se tornando médico, recordo-me que após a formatura, a sua turma, vinda de famílias abastadas, como recompensa e merecido descanso, decidiu participar de um cruzeiro internacional, em um navio luxuosíssimo, com hospedagens em hotéis 5 estrelas, mas esse jovem, já formado, retomou contato com a humilde comunidade onde tivera a sua experiência pastoral e ao saber que a mesma fazia atendimento a uma área paupérrima do bairro, se dispôs a conhecer esse trabalho, e observando uma carência total na área da saúde, ele não teve dúvidas, juntou-se a Pastoral da Saúde e elaborou um cuidadoso plano de ação, e quando seus amigos vieram procurá-lo, para surpresa geral o jovem Doutor abriu mão da fantástica aventura, para dedicar-se nas férias, á comunidade pobre que fazia parte da sua antiga paróquia. Parece história da “Carochinha”, mas se prestarmos atenção ao nosso redor, vamos encontrar pessoas como esse jovem, que nem sempre saem nos jornais, e que a gente se pergunta, como é que podem existir pessoas assim, que no anonimato abrem mão daquilo que têm, em favor de quem precisa, fazendo um sacrifício, palavra estranha e sem sentido para o homem deste milênio, rodeado de conforto, facilidades, tecnologia, comodidade e bem estar.
Não há nenhuma razão lógica para alguém sacrificar-se assim por um ser humano, aquele jovem poderia primeiro curtir a sua merecida viagem com os amigos e depois, quem sabe, dar um pouco do seu tempo à comunidade pobre, mas aí é que está a diferença, o amor quando é autêntico, nunca se satisfaz em dar apenas um “pouco”, entre os jovens ainda é comum a palavra “FICAR”, que significa uma relação sem compromisso, um amorzinho bem vagabundo, desses de quinta categoria, mas quando dois jovens resolvem migrar do simplesmente Eros para o Ágape, daí vamos ter o amor em toda sua beleza e esplendor, amor de primeiríssima qualidade, indestrutível, inseparável, como n os ensina a segunda leitura desse domingo, sempre tolerante, compassivo, disposto a perdoar e a recomeçar, amor que sabe sonhar e construir juntos, na partilha e comunhão de vida, casamento na Igreja supõe tudo isso...
É assim que Deus se revela em Jesus Cristo, é assim que Cristo se revela em quem é capaz (e não precisa ser médico) de renunciar algo valioso, para doar-se aos irmãos, não existe outra forma de amar que não seja o serviço, feito com grande sacrifício, e isso parece algo tão simples e ao mesmo tempo tão complicado, difícil de ser compreendido pelo coração humano, que hoje é educado para buscar grandezas e ambições, prestígio, fama, sucesso e poder, em um egocentrismo exacerbado.
Como podemos entender o sacrifício de Abraão, que abre mão do Filho da Promessa, tão esperado e sonhado, e que veio em sua velhice, brotado como semente tardia, dom de Deus, da esterilidade de Sara, sua esposa? O Patriarca, ícone das três maiores religiões do planeta, sente em seu coração que o amor á Divindade em quem crê, só se concretiza ofertando algo valiosíssimo,e aqui retomamos o sentido do amor, que não é dar um pouquinho, mas o “tudo”, ou seja, aceitar perder algo, que não se vai mais recuperar...Na religião da recompensa divina, sempre marcada pela mediocridade, ou nas relações mercantilizadas com as pessoas, se faz na verdade uma barganha, é muito complicado chegarmos a compreensão dessa gratuidade, pois pensamos que somos muito bons e nos doamos até um certo ponto, mas não se pode também exagerar e sair no prejuízo, é esse o grande problema, colocamos sempre um limite no nosso modo de amar, abrimos mão de ganhar alguma coisa, mas ter que perder, aí já é um pouco demais...Amar como Jesus amou, é sempre assumir o risco de uma perda.
Entretanto, quando desenvolvemos em nós essa virtude do evangelho, e aceitamos até perder tudo, estamos nos unindo Aquele que se deu por inteiro, e que para salvar a todos aceitou perder tudo, pois o Cristo na cruz é um homem derrotado e humilhado, diante doa amigos que acreditaram em sua proposta, é alguém que perdeu tudo, prestígio, família, amigos, dignidade, honra, considerado na visão profética um homem maldito diante de Deus, abandonado e esquecido, incompreendido e rejeitado, homem esmagado pelas dores, como nos lembra Hebreus, e se o Pai não o tivesse glorificado quem seria Jesus para o mundo de hoje? Talvez ninguém, pois enquanto homem aceitou correr esse risco, não sabia bem no que ia dar tudo aquilo, e podia ser que nem a comunidade reconhecesse o seu gesto de amor.
Somos hoje convidados a contemplar exatamente essa glória, pois no Cristo transfigurado, está a humanidade, sonhada, planejada e criada por Deus, está aquele jovem, cuja história contei no início, está cada cristão, que tem essa disposição interior de doar-se por inteiro, e que ninguém tenha medo, Deus nunca exigirá de nós o mesmo sacrifício da cruz, mas que nossas pequenas ações possam pelo menos refletir um pouco, do Amor de Jesus de Nazaré, para isso é necessário buscá-lo e escutá-lo, pois somente ele e mais ninguém, nos ensina com tanta autoridade, como é que se ama de verdade...(Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim SP – E-mail cruzsm@uol.com.br)

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