Domingo,
01 de março de 2015
Evangelho
de Marcos 9, 2-10
O povo em geral, aqueles que não
conviviam diretamente com Jesus, ainda não sabia direito quem era Jesus, apesar
de admirá-lo, exaltá-lo.
Quando Jesus interrogou os apóstolos sobre o
que o povo pensava a respeito dele, vimos que as respostas não correspondiam à
verdadeira identidade de Jesus. Percebe-se pelas respostas que o povo não tinha
uma idéia correta a respeito de Jesus, principalmente por causa da sua
humanidade.
A condição humana de Jesus disfarçava,
ocultava sua glória e majestade, apesar dele se mostrar Deus através das suas
Palavras, dos seus milagres e gestos concretos.
Portanto o povo, apesar de presenciar milagres,
curas e prodígios, ainda não sabia exatamente quem era Jesus.
Podemos
dizer que o povo era “os de fora”, aqueles que não conviviam diretamente com
Jesus, por isso não o conheciam direito.
Pois bem, o povo era “os de fora” e
não o conhecia direito. E “os de dentro”, os apóstolos, que já conviviam com
Jesus há algum tempo. Será que o conheciam bem?
Podemos
perceber que os apóstolos também não o conheciam direito apesar de conviver com
Ele já há algum tempo. Os apóstolos e discípulos que seguiam Jesus, que
formavam uma comunidade com Ele, pressentiam, desconfiavam estar diante de
alguém diferente, singular, mas não tinham realmente uma ideia, uma consciência
do mistério que envolvia o filho Deus.
Quando Jesus anunciou para os apóstolos que
era necessário que o “Filho do Homem“, título que o próprio Jesus gostava de
usar para si, padecesse muito, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos sumos
sacerdotes e pelos escribas, e fosse morto, mas ressuscitaria depois de três
dias, Pedro começou a repreendê-lo, porque ele não queria que isso acontecesse.
Pedro não entendia porque Jesus teria que sofrer e morrer. Seus discípulos
ainda não haviam entendido a missão de Jesus, seu projeto, seu plano de
salvação para toda a humanidade.
Diante
desta situação, Jesus, conhecedor de tudo o que estava acontecendo, chamou João,
Tiago e Pedro e os levou para uma alta montanha. Subir na montanha é símbolo do
encontro com Deus. Lá no monte Tabor, Jesus revelou para eles a sua verdadeira
identidade: que além de homem, ele também é Deus.
Jesus se transfigurou, se transformou, deixou
transparecer a sua divindade, possibilitando aos discípulos enxergar além da
cruz, além da morte, isto é, o que aconteceria depois da morte, que existe uma
outra vida. Que a morte não seria o fim, mas o começo de uma nova vida. De uma
vida gloriosa, bela, feliz. Sem sofrimento, sem tristeza, sem angústia.
Naquele
momento sublime, em que Jesus se revela divino, que Ele deixa transparecer sua
divindade, momento de muita intimidade com o Pai, suas vestes ficaram
resplandecentes, brancas, iluminadas, e de uma nuvem que se formou ouviu-se a
voz do Pai: “Este é o meu Filho muito amado, escutai-o”.
Era uma situação tão boa, tão bela,
tão feliz, que Pedro sugeriu fazer três tendas para ficarem lá. Estes três discípulos
tiveram a felicidade de experimentar antecipadamente o céu, a glória, o
esplendor de Jesus e por isso queriam ficar lá. Queriam permanecer para sempre
no alto do monte com o Filho de Deus transfigurado. Não queriam voltar ao
cotidiano, ao dia- a dia, à luta, ao trabalho. . .
Eles
contemplaram e experimentaram a glória de Jesus, o seu esplendor. Para Pedro,
João e Tiago foi uma experiência fascinante. Era desse jeito que eles queriam
Jesus! Jesus glorioso, divino, sem sofrimento, sem tristezas, sem dor, sem
cruz! Entretanto, era necessário descer o monte. Era necessário continuar a
vida, passar pela cruz, para chegar à ressurreição, à glória eterna.
Se a transfiguração foi uma pequena
amostra da verdadeira identidade do Senhor, isto é, a revelação verdadeira de
quem era Ele, a ressurreição foi a revelação plena da sua Glória, a sua
Vitória.
Pedro sugeriu para Jesus ficar no
monte. Por que? É muito bom estar na
glória, no céu, na paz, na felicidade. Naquele momento, Pedro representava todo
o ser humano, isto é, todos nós, que queremos viver a alegria da ressurreição,
da páscoa, sem passar pela entrega e pela morte, sem passar pela dor, pelo
sofrimento, pela cruz. Nós temos medo do sofrimento, da dor, da cruz, da morte,
da tristeza, da contrariedade.
Também
nossa natureza humana nos puxa para o comodismo, não queremos ter trabalhos ou
dificuldades, queremos tudo que é fácil e prazeroso. Fugimos das situações
difíceis e das que requerem esforço, sacrifício, doação. Nós não queremos cruz,
sofrimentos, tristezas, compromissos, responsabilidades, morte.
Naquela hora da transfiguração os
discípulos tiveram medo e também não compreenderam o que seria “ressuscitar dos
mortos”, por isso ao descer do monte eles perguntaram para Jesus qual era o
significado.
Assim como Pedro e os outros
discípulos, nós também somos muito ignorantes em relação “a quem é Jesus”. Por
isso é que “escutar o que ele diz” significa ir com ele até o fim. Seguir suas
pegadas, pensar e agir como Jesus, ter o coração de Jesus, amar como Jesus.
Jesus desceu do monte com os
discípulos para os ensinar a caminhar na vida. Hoje Jesus também está conosco
para nos ajudar a descer do monte, a vencer o medo e a indecisão de caminhar
com Ele, de trabalhar para realizar o seu projeto de salvação, de se
comprometer com Jesus, com seu plano, com os irmãos.
Jesus nos
ensina que não podemos ficar no monte, isto é, só na contemplação, no bem bom,
desfrutando da glória de Deus. Mas é preciso descer do monte. É aqui embaixo, na planície, que temos de brilhar
como Jesus, de ser luz para os irmãos, ser resplandecente para os nossos irmãos
na nossa comunidade, através dos nossos gestos concretos de amor, de justiça,
fraternidade, sinceridade.
Brilhar,
apesar das tribulações da vida, das dores, dos sofrimentos, das decepções. Quem
transforma o seu coração pela presença de Jesus apaga todo o ódio, todo o
pecado e todo o rancor. É missão do discípulo de Jesus transfigurar o mundo,
ser luz para o mundo.
A transfiguração de Jesus é sinal da
sua VITÓRIA sobre a morte e a vitória do seu projeto. Jesus quis mostrar para
os discípulos, que ele está além da cruz, do sofrimento, além da morte. Ele quis mostrar o grande amor de Deus pela
humanidade e o que Deus preparou para esperar o homem depois da morte, todavia,
para aqueles que ouviram Jesus, para
aqueles que seguem a pessoa de Jesus, que atendem o Pai, ouvindo Jesus. E ouvir
Jesus é viver de acordo com sua Palavra, com o Evangelho, dando credibilidade
aos seus ensinamentos. Sendo perseverante, firme, seguindo os passos de Jesus
de Nazaré.
A transfiguração de Jesus nos mostra
que todo aquele que se esforça para ser outro Cristo, também irá ressuscitar
para a vida eterna e vai viver glorioso com Jesus e como Jesus. Isto é uma
grande esperança para todos nós, é uma imensa alegria, é motivo de perseverança
é a grande recompensa que Deus nos dará.
O tempo que passamos neste mundo é
tempo de trabalhar para instalar o Reino de Deus, reino de amor, justiça,
fraternidade, aqui na terra, na nossa família, na nossa comunidade, no nosso
trabalho, na roda de amigos. . . É tempo
de brilhar pelo nosso serviço, pelo amor e pelo testemunho.
Nós cristãos somos convidados a não
nos intimidar e nem ficar parados de medo da cruz, do sofrimento, das
decepções, do serviço, dos desafios da vida. Somos desafiados a superar o
fracasso e a frustração do sofrimento, do cansaço, das tristezas, do comodismo,
lembrando que para vencer esses desafios da vida contamos com o amor do Pai.
Assim teremos motivos para ir além da fragilidade do sofrimento porque temos um
Pai que nos ama e nos dá força e que tem preparado para nós uma linda morada
gloriosa, plena de felicidade, uma morada feliz e eterna no céu.
Queridos
irmãos e irmãs, vamos nos transformar. Vamos mudar o nosso interior, o nosso
coração, vamos nos libertar dos pecados, erros, imperfeições. Vamos deixar
Jesus falar forte dentro de nós. Vamos
ser discípulos de Jesus, aqueles que proclamam, que anunciam, que ensinam quem
é Jesus para todos que não o conhecem ou que se afastaram dele. Vamos falar de
Jesus para os nossos irmãos, para nossos filhos, familiares, parentes, amigos,
companheiros, vizinhos. . . Dizer que Ele nos ama e nos quer na eternidade
com Ele.
Vamos ser outro Cristo glorioso para nossos
irmãos, transfigurado, através dos nossos gestos de amor, de paz, de
compreensão, de solidariedade.
Vamos
brilhar, vamos ser luz, ser transparentes como Jesus. Vamos ter roupas alvas,
claras, limpas, resplandecentes como as de Jesus. Porque Jesus é vitorioso, Ele
vive, Ele ressuscitou e está no meio de nós nos encorajando para sermos
melhores.
Com a
ajuda de Jesus, podemos nos transfigurar, nos transformar e conseguir inverter
a situação atual do mundo em que vivemos, mundo de crimes, de violência, de
ganância, de exploração, opressão, injustiça, de falsidade, de egoísmo, de
inveja, corrupção, enfim, um mundo afastado de
Jesus e que O despreza.
Vamos
pedir com fé para Jesus nos ensinar a transformar o nosso coração, a nos
transformar por dentro. Vamos pedir forças, coragem, destemor para sermos seus
autênticos discípulos, livres de todas as prisões do pecado, do egoísmo, da
injustiça, das mágoas que não nos levam a glória eterna, que não nos levam as
vestes brancas, mas nos levam a piorar o mundo em que vivemos.
Com o
coração transformado, transfigurado, brilhante poderemos sonhar com um mundo
melhor e ter esperanças de nos encontrar na eternidade com Cristo ressuscitado
e glorioso.
Com muita
fé e confiança peçamos a Jesus ressuscitado:
Jesus,
transfigura o nosso coração. Ajuda-nos, Senhor, a sair da tenda e a descer do
monte, para brilharmos aqui embaixo, na planície, no meio dos nossos irmãos e
da nossa comunidade. Ajuda-nos, Senhor, porque nós sabemos e cremos que o
Senhor está vivo e presente no meio de nós.
Maria de
Lourdes
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