Comentários Prof.Fernando*
5ºdomingo pós-Epifania/Tempo Comum
08 fevereiro 2015
Apenas me deito digo: Quando chegará o dia? e
ao me levantar: Quando chegará a noite?
(Livro de Jó7,4)
Como
quem lê o roteiro de um filme (dirigido por Marcos)
·
Após as celebrações natalinas – ciclo encerrado com
“Reis” e o “Batismo no rio Jordão”, são seis domingos em 2015 (“após Epifania”
e “pré-quaresma”) que completam um ciclo chamado “Tempo Comum”. Ele será
retomado após Quaresma (começa na 4ªfeira de “Cinzas” até a maior de todas as
festas: a Páscoa da Ressurreição (5 de abril) e o “Pentecostes” (24 de maio) que
marca o começo do cristianismo como movimento de comunicação que vem desde os
Apóstolos e outras testemunhas.
·
Acompanhamos neste “ano B” o redator Marcos (no
rodízio A=Mateus e C=Lucas). Nestas primeiras semanas seguimos o capítulo 1 que
apresenta o começo das atividades do Mestre de Nazaré em suas andanças pela
Galileia. Como já se disse este evangelista usa o esquema literário de um
“segredo” sobre a identidade de Jesus que só é revelada em sua morte: “Este homem era mesmo o Filho de Deus”. Até
lá é sempre o “Filho do Homem” que se mistura à multidão para perdoar, curar e
expulsar demônios, ou tudo aquilo que deixava aquele povo (dominado pelas
classes “superiores”: sacerdotes, fariseus e mestres religiosos) acabrunhado
sob muitos sofrimentos. Jesus fala sobre o “Reino”, cuja vinda era preparada
pelo Batista. O termo quer dizer (ao contrário do “império” da maldade e
dominação dos mais fracos e mais pobres), a irrupção da Presença gratuita e
bondosa de Deus no meio da vida humana, que, normalmente é difícil e sujeita a
poderes que deixam a maioria à mercê de invasores (naquela época era o império
romano), dirigentes (naquele contexto eram os “donos” da religião judaica e que
se reservavam o direito de ser os únicos intérpretes da lei mosaica). Além
disso, a própria condição humana comum a qualquer povo, deixa a maioria das
pessoas sob a fragilidade corporal e a angústia própria do existir no
espaço-tempo do mundo.
Não
havia “sistema de saúde”. Ele não tinha “tecnologias” nem poder político
·
Aquele rabino “diferente” não tinha uma sinagoga
fixa para frequentar, não tinha riqueza própria nem contava com recursos
públicos. Não tinha poder político dos dirigentes do povo ou delegação dos
sacerdotes do Templo. Não tinha armas nem guerrilheiros para criar uma
revolução que todos imaginavam que um Messias faria, contra os romanos.
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Era um simples rabino, “itinerante”. Caminhava de
aldeia em aldeia, acompanhado de alguns “discípulos”. Estes foram escolhidos
nas camadas simples da população, sendo, na maioria, pescadores. Mas havia
também pessoas com outras profissões e – fato inédito – mulhers também
participavam do grupo de discípulos: um aspecto completamente novo, pois elas eram
tidas como pessoas de “segunda classe” naquela sociedade.
·
A leitura de hoje descreve a rotina diária de Jesus que,
além da pregação, estava dedicado a expulsar o mal e espalhar o bem. Sua
Palavra era confirmada por “Sinais” que realizava, curando doenças físicas e
mentais (estas em geral estavam certamente incluídas nas “expulsões de demônios”).
As pessoas encontravam saúde e paz. A saúde tornava-se Sinal de uma Salvação
eterna (Salvação vem da mesma raiz do termo Saúde). “Expulsar demônios” era
Sinal da liberação das pessoas alienadas por muitas causas, incluídas aí, as sociais e
políticas. Uma terceira atividade vai aparecer mais adiante na vida do Mestre
de Nazaré e será “perdoar o Pecado”, isto é, conceder a quem vive sob o domínio
da maldade a libertação interior que lhe permitia reencontrar Deus como um
“Pai” e reconciliar-se com a “comunidade” humana, experimentando uma “Fraternidade”
de superar egocentrismos.
·
A
rotina diária hoje se diferencia pela cura da sogra de Simão, um de seus
discípulos. Aproximou-se, tomou-a pela
mão e levantou-a; imediatamente a febre a
deixou. Depois volta a rotina: levaram-lhe
todos os enfermos e possessos do demônio. E continuava procurado pela
população local: Toda a cidade estava
reunida diante da porta e Ele curou muitos que estavam oprimidos de diversas
doenças, e expulsou muitos demônios. A sua rotina incluía ainda o
levantar-se antes dos outros e retirar-se em silêncio: Tendo-se levantado muito antes do amanhecer, ele saiu e foi para um
lugar deserto, e ali se pôs em oração. Contudo, logo vinham atrás dele: Simão e os seus companheiros saíram a
procurá-lo. Encontraram-no e disseram-lhe: "Todos te procuram." E
ele lembrava que aquela rotina era sua missão na vida: "Vamos às aldeias vizinhas, para que eu pregue também lá, pois,
para isso é que vim."
Entre
filas do SUS; no meio de balas perdidas
·
Nosso povo e nossas cidades parecem muito com o povo
da Galileia: não tem atendimento adequado para a saúde. Faltam escolas sobram
assaltantes e perigos. Em alguns aspectos o povo vive assediado por mais
demônios do que naquele tempo: corrupção, tráfico, balas perdidas... O que
podemos fazer para ser como era o Mestre, evitando repetir o desprezo dos fariseus,
dos líderes “donos” da religião ou donos da verdade como os “doutores” da lei?
·
A mentalidade que acredita ser a doença sinal de um castigo
divino é antiga como o livro de Jó (cf. 1ªleitura). Contra esta falsa doutrina
a figura de Jó é toda reação pois acredita que Deus é maior que esta caricatura
cobradora de dívidas. Contudo parece ser esta “doutrina da retribuição” ainda a
mais predominante hoje, mesmo entre cristãos. Será que ainda olhamos para quem
está doente como se estivesse “pagando” suas próprias culpas? Será que, mesmo
não sendo governantes ou profissionais de saúde, fazemos o que está a nosso
alcance para ajudar e confortar nossos familiares e amigos que estão doentes,
buscando tratamento e cura? Estamos atentos ao assédio que sofrem as pessoas
mais frágeis, as crianças, os idosos, as pessoas mais humildes, ajudando-os a
se libertarem de muitos demônios?
·
Sabemos que faz parte da frágil condição humana
doença, perseguição e maldade. Estamos horrorizados quando vemos a ONU declarar
que terroristas (que falsamente se apresentam como muçulmanos) crucificam e
enterram vivas milhares de crianças em cidades da Síria e do Iraque. Não nos
cabe “explicar” o mal e o sofrimento. Podemos, no mínimo, buscar na oração a
solidariedade e a intercessão para conforto e cura das pessoas que conhecemos e
que passam por situações difíceis de saúde. É bom lembrar que, na rotina diária
o Mestre de Nazaré ajudava as pessoas procurando livrá-las do mal, mas – para
fazer o bem – ele também buscava silêncio e oração.
[ Textos hoje: Jó
7,1-4.6-7 [Isaias
40:21-31, no LCR] -1 Coríntios 9,16-19.22-23 - Marcos 1,29-39 ]
oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
( * ) Prof.(1975-2012)
Edu,Teo,Filo,Ética. fesomor2@gmail.com
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