“3º DOMINGO DA PÁSCOA
04/05/2014
1ª Leitura Atos dos
Apóstolos 2, 14.22-23
Salmo 15(16), 11ab “Vós me
ensinareis o caminho da vida, há abundância de alegria junto de vós”
2ª Leitura 1 Pedro 1, 17-21
Lc 24,35-48
Nhá Maria era uma senhora
bem pobre que gostava muito de vir em nossa casa para receber alguma ajuda.
Naquele tempo, o pedinte não era um estranho que causava medo e insegurança
como hoje, e nós a acolhíamos na mesa da refeição, porque jamais minha mãe
permitia que ela ficasse na porta ou na calçada, um filho de Deus tem que
sentar-se á mesa, nos dizia sempre.
Claro que os tempos eram
outros e ninguém pensava em sequestro ou assalto. Depois de ouvi-la
atentamente, a conversa sempre terminava com a frase tão batida lá em casa, “Se
for da vontade de Deus, tudo vai melhorar e dar certo”, que minha mãe dizia,
enquanto preparava um cafezinho fresco que a Nhá Maria tomava antes de ir
embora, toda agradecida.
Este evangelho mostra algo
que hoje não se pratica muito em nossas relações: ouvir as pessoas, caminhar
com elas, saber como está a vida, o que andam pensando ou sonhando, ou porque
andam tristes. Passamos de carro, sempre apressados, e no máximo fazemos um
aceno ou buzinamos para os conhecidos.
O caminhante que se junta
aos dois peregrinos age diferente, percebe que estão tristes e desanimados, se
junta a eles, quer saber o que aconteceu, qual a causa da tristeza, ouve com atenção
e somente depois falou, não deixou suas inquietações sem uma resposta, não
terminou a prosa com aquele jeito resignado “fazer o que, a vida é assim
mesmo...” Como muitas vezes encerramos nossa conversa com alguém que está
sofrendo ou desanimado.
É bem verdade que os
censurou por serem tão lerdos na compreensão da escritura antiga, mas a
conversa foi agradável, marcada pela ternura, pois não se pode anunciar o
evangelho com gestos bruscos e cara feia, como se quisesse dar uma lição de
moral em quem ouve, isso é perda de tempo! O texto não deixa dúvidas quanto a
isso, seus corações ficaram abrasados, enquanto Jesus lhes falava, levando-os a
descoberta de algo novo, o sofrimento faz parte da vida, mas não é a última
palavra.
Considerando-se a
intencionalidade do autor, o texto trata de uma celebração eucarística, com
duas partes bem distintas: a Palavra e a Eucaristia. Vivemos um tempo histórico
diferente do que viveram esses discípulos, porém a situação é quase a mesma,
achamos difícil perceber a presença do Senhor em meio a um quadro muitas vezes
tão desolador, e a história de Emaús, mais parece uma bela lembrança. Eis uma
fé distorcida e fragilizada como a dos dois discípulos peregrinos! No coração
do Cristão, Jesus Ressuscitado na maioria das vezes é alguém distante de nossa
vida e de nossos problemas, parece que o Jesus da história é um e o Jesus da
Salvação é outro,
Pois o evangelho desse
domingo, belíssimo por sinal, nos mostra que na comunidade, em cada celebração
a história se repete o Senhor nos questiona sobre o que estamos falando pelo
caminho desta vida, em que acreditamos, quais são nossas aspirações, o que
queremos ver realizado. A palavra que celebramos nos fala da vida de Jesus e de
nossa vida também, ela nos encoraja porque penetra em nosso coração, não se
restringindo a um mero ritual.
Uma caminhada, uma prosa
saudável e edificante, fortalecedora e motivadora, não tem coisa melhor neste
mundo, assim é que Jesus vem ao nosso encontro em cada domingo. A palavra de
Jesus que caminha com eles, não é conversa fiada, lamentação e choramingos,
porque as coisas não vão bem, em casa, na comunidade, no trabalho ou na
política, Jesus é alguém diferente, que encontrou um sentido novo e sua palavra
renovadora, fortalecedora é revigorante, porque nos faz dar a volta por cima,
aos seus discípulos de ontem e de hoje, ele vem confirmar o seu projeto de
salvação, anunciando que a morte e a força do mal, não têm nenhum poder sobre o
Reino que ele instalou no meio dos homens.
E depois de uma boa
conversa, em uma mesa de refeição, Cleofas e seu amigo de caminhada sentem que
não podem mais viver sem aquele homem, e o acolhem no coração, quando o
conhecem ao partir o pão, onde o Senhor partilha com eles seus sonhos e
projetos de vida, que ajudam a construir o reino novo.
Não tenhamos medo de
percorrer o caminho de Emaús, onde levamos, é verdade, nossos desânimos e
fracassos, e diante da palavra que nos aquece o coração, manifestemos o desejo
de que o Senhor fique sempre conosco, “Fica conosco Senhor pois é tarde, e a noite
vem chegando”. E no pão que se parte e reparte, nos fortalecemos, e voltamos
com pressa á nossa comunidade, onde não há mais noite, mas na fé caminhamos com
os irmãos e irmãs, diante da luz sempre reluzente que é o próprio Deus,
presente em Cristo - Jesus!
José da Cruz - Diácono
permanente da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata- Votorantim
cruzsm@uol.com.brOs
discípulos de Jesus”
belissima sua reflexão. Parabens! Uma reflexão encarnada, amorosa e rigorosamente dentro do texto e do contexto.
ResponderExcluirBendito seja Deus que te inspirou tão sábias palavras!.