2º DOMINGO
DA PÁSCOA 27/04/2014
1ª
Leitura Atos3, 42-47
Salmo
117(118),1 “Louvai o Senhor, porque ele
é bom, porque eterna é a sua misericórdia”
Evangelho
João 20, 19-31
Provavelmente
um dos maiores equívocos que alguns cristãos cometem no dias de hoje, é o de
ausentar-se das celebrações dominicais por verem nelas a repetição monótona de
um rito que já sabem de cor e salteado. Uma partida de futebol também nunca sai
da mesmice, em todo jogo nada muda, mas vá dizer a um torcedor que o futebol é
monótono e cansativo., imediatamente ele irá afirmar que cada partida é uma
história e uma emoção diferente, indescritível.O mesmo se diga de uma peça de
teatro que se vê mais de uma vez, ou de um bom livro, eu mesmo perdi a conta de
quantas vezes li “Éramos Seis...”, em cada leitura há algo de novo nos
personagens ou no enredo, nunca é a mesma coisa. Então por que alguns cristãos
acham a celebração tão chata e repetitiva?
Naqueles
primeiros tempos do cristianismo, a pessoa de Jesus, seus ensinamentos e sua
história ainda estava muito viva no coração dos seus seguidores, os apóstolos.
Eles falavam com entusiasmo de Jesus, não como um herói nacional a ser
reverenciado, mas como alguém presente, que caminha com a comunidade tomada
pelo seu Espírito que a anima e lhe faz sentir esta vida nova que ele deu a
todos.
Muita
gente não entendia, admiravam Jesus, falavam muito dele, mas como alguém que
foi um exemplo, um idealista, um líder nato, um grande profeta, um mestre sem
igual em Israel, há até mesmo uma corrente de teólogos que reduzem a
ressurreição a uma lembrança muito forte de Jesus no coração das pessoas que o
conheceram e que o amaram profundamente, perpetuando sua memória entre eles nos
encontros da comunidade. A verdade é que, a vida em comunidade só é possível
quando a gente faz uma experiência pessoal com Jesus Cristo, quando o seu
anúncio toca no fundo do coração e começamos a senti-lo a cada instante de
nossa vida, quando o seu evangelho nos encanta e supera qualquer ideologia de
felicidade que este mundo possa nos oferecer, quando descobrimos que ele nos
conhece profundamente, e tem por nós um amor imenso, grandioso, que não hesita
em dar-nos a própria vida. Quando percebemos que a salvação por ele oferecida
não é algo misterioso, que só iremos ter após a nossa morte, mas que nessa vida
a sentimos nas profundezas do nosso ser, quando conseguimos harmonizar todas as
nossas virtudes e carismas, com o projeto que o Filho de Deus inaugurou em
nosso meio.
Então
o nosso coração quer estar junto de outros irmãos e irmãs, que fizeram essa
mesma descoberta, para comemorar e celebrar essa presença misteriosa do Senhor
em nossa vida, que se torna mais forte na vida de igreja. Para Tomé não faltou
este testemunho dos seus irmãos apóstolos “Vimos o Senhor!”, não se trata
apenas de um VER com os olhos, mas de um sentir com o coração, capaz de
perceber nas marcas da paixão a evidência mais forte de um amor sem medida
pelos seus.
A
comunidade recebe o dom da Paz, nascida da vitória definitiva sobre as forças
do mal, o discípulo que recebeu a Paz do Senhor, não pode nunca colocar em
dúvida, em sua vida e na vida do mundo, o triunfo do Bem supremo sobre o mal,
viver nessa paz, longe de permanecer de braços cruzados, é antes ir a luta pelo
reino em que se crê, na certeza de que ele um dia se tornará visível em toda
sua plenitude. Comunidade, portanto, é lugar de se receber o sopro de vida e
renovação em cada momento celebrativo, é lugar onde a gente se reveste desse
Espírito Santo, lugar onde somos recriados, restaurados, tornando-nos novas
criaturas em Cristo.
Para
se fazer essa experiência profunda, não é necessário uma celebração especial,
deste ou daquele grupo, nem tão pouco um padrão “X” ou “Y” de espiritualidade,
nem precisa identificar-se como conservador ou progressista, adeptos desta ou
daquela eclesiologia, nem é preciso buscar revelações espetaculares, e ser agraciado
com grandioso milagre, também não precisa tornar-se um místico, nem um alienado
das realidades que nos cercam, é preciso apenas ser testemunha do amor, vivido
e celebrado não de maneira egoísta, mas com os irmãos e irmãs da comunidade, em
torno da Eucaristia, amor que nos alimenta.
Diante
do testemunho recebido, Tomé limita-se no VER de enxergar, com os olhos da
carne, para ele, naquele momento, e também para muitos nos dias de hoje, a
celebração tem que ser um “arraso”, um show inesquecível, onde os ministros,
como grandes estrelas, conseguem nos fazer VER Jesus, tem que valer o ingresso
e o esforço de estar lá, é a celebração como espetáculo, mexendo com razão de
ser, e com o emocional.
A Fé
no Senhor ressuscitado que caminha com a sua igreja, não precisa de sinais ou
provas, Cristo Jesus não precisa provar mais nada, nós é que precisamos provar
a nossa fé, aceitando viver e celebrar em uma comunidade, onde nada ocorre de
excepcional, mas onde cada encontro é diferente, porque fazemos essa experiência
do Cristo vivo, que caminha conosco, podemos vê-lo e tocá-lo nos sacramentos,
podemos ouvi-lo, e de fato o ouvimos na santa palavra, podemos percebê-lo na
vida dos irmãos, razão pela qual não cansamos de repetir com a alma em júbilo,
a cada saudação de quem preside “Ele está no meio de nós!”.Se tivermos
convicção desta afirmativa, o nosso testemunho será tão vivo e autêntico como o
dos apóstolos, e o nosso coração baterá mais forte cada vez que chegar o
DOMINGO, dia do Senhor.
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