SEXTA FEIRA DO TEMPO PASCAL 02/05/2014
1ª Leitura Atos 5, 24-32
Salmo 26(27) "Uma só
coisa peço ao Senhor: é Habitar a casa do Senhor."
Evangelho João 6, 1-15
Se reescrevêssemos esse evangelho na pós-modernidade, iríamos dizer
que a comunidade estava em um retiro e precisava providenciar alimentação para
todos, e daí alguém ligou para um comerciante católico muito rico e ele mandou
um caminhão Baú com alimentação para todos e ainda sobrou um monte que foi dado
às instituições assistenciais. Os grandes encontros e os grandes
empreendimentos humanos requer grande quantidade para suprir a necessidade do
evento. Claro que nesta versão moderna da multiplicação dos pães, deve-se
louvar e agradecer a Deus por pessoas ricas, porém generosas, e são muitas, que
ajudam de todas as formas nossas comunidades levando o sentido da partilha ao
pé da letra. Mas a lógica do evangelho, fundamentada na Eucaristia não é essa.
Os pobres são bem aventurados justamente porque eles também têm algo a dar para
o Reino, ainda que seja pouco e até insignificante, como os cinco pães e dois
peixinhos do evangelho.
João relata algo diferente, uma grande multidão com fome, os
organizadores do encontro preocupadíssimos com o lanche, e de repente um menino
cede o seu lanche ( tenho minhas dúvidas, não sei se o menino cedeu ou se um
dos discípulos o "requisitou") , o fato é, que era uma quantidade
irrisória perto da necessidade da multidão. Voltemos ao menino anônimo para uma
observação importante, digamos que ele não queria ceder, não porque fosse
egoísta, mas porque sabia que o seu pouquinho não iria resolver a situação. Eis
aí o grande problema de se viver em comunidade, quem não acredita no pouco é
porque não confia em Deus e prefere a lógica do mundo onde, só quem tem muito
pode e deve dar alguma coisa.
Lembro-me de minha primeira comunidade em um Bairro pobre, lá pelos
idos de 70, quando era ministro da Palavra itinerante. Uma semana antes o padre
me apresentou á comunidade em uma Festa do Padroeiro e tinha gente que não
acabava mais, a capelinha parecia caixa de fósforo, perto da multidão que
estava na quermesse, a missa teve de ser campal....Esfreguei as mãos de
contentamento.....
No domingo seguinte, faltando dez minutos para as 17 horas lá
estava, eu e mais 4 pessoas... a espera do início da celebração. Deu-me um
desânimo tão grande que quase desisti. Daí chegou mais duas pessoas, uma delas
a Dona Maria, uma Senhora Negra, bem simplinha e pobrezinha, mas a quem devo a
minha perseverança naquela comunidade. Começamos a celebração e o vento apagou
as velas do altar, foram três ou quatro vezes e em todas elas a Dona Maria
pacientemente, e com um leve sorriso nos lábios, levantava, saia do seu
lugarzinho e vinha acender as velas....
No final da celebração ela disse que naquela semana iria de casa em
casa convidar as pessoas a vir participar da celebração no domingo seguinte.
Fiquei depois sabendo que ela era analfabeta e que tinha um filho alcoólatra de
quem levava uma surra de vez em quando. O que poderia se esperar de uma mulher
com esse perfil, em uma comunidade pobre de um bairro distante? Nada ou quase
nada, nos diz o espírito capitalista, de fato ela não tinha nada a oferecer,
tinha sim, mas um pouquinho só....cinco pães e dois peixinhos....Para encurtar
a história, Dona Maria foi quem incendiou a comunidade com seu testemunho
autêntico, com seu cristianismo devocional, que mulher de garra e de fibra que
eu tive o prazer de tê-la como irmã de caminhada!
Hoje é uma grande comunidade com uma linda igreja no meio do
Bairro, sempre lotada e bem participada, mas naqueles primeiros tempos, somente
a Dona Maria teve coragem de profetizar "Olha minha gente, um dia seremos
uma grande igreja aqui no Bairro, pois a comunidade está começando
hoje...". E de fato começou com aquele gesto marcado pela simplicidade, de
acender as velas do altar e de convidar as pessoas para a celebração. Naquele
momento o seu gesto talvez foi visto como uma ingenuidade, entretanto ali tudo
começou a acontecer naquele comunidade.
Jesus ergueu os olhos para o céu e abençoou o lanchinho que o
menino ofereceu como também abençoou a atitude da Dona Maria... e a fome de
cinco mil pessoas foi saciada e ainda sobrou...Eis o grande milagre da
Eucaristia...em comunhão com Jesus damos o nosso pouquinho, aquele carisma que
parece não ser tão importante, ofereça-o á comunidade, e ajude Jesus a fazer o
grande milagre que mata a fome do povo, sem precisar de um Patrocinador que
banque tudo.
Não tenhamos preconceito como nosso "pouquinho", pois sem
ele não tem como Deus fazer o milagre....
Gostei do testemunho e do desânimo frente as poucas pessoas na Celebração. " Dona Maria" esse anjo de Deus, aparece em muitas situações em que, queremos desistir. Também como pregador e ministro da palavra, muitas vezes, no início da caminhada, pensava em desistir, mas sempre surgia uma "Dona Maria", uma palavra de Deus que me empurrava para frente. Hoje, além do ministério da palavra coordeno a Pastoral da Visitação e Benção da minha paróquia, levando consolo a muitas famílias.
ResponderExcluirWaldomiro Veiga Miguel
Balneário Camboriú-SC