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terça-feira, 15 de abril de 2014

Amou-os até o fim--Claretianos


Quinta-feira, 17 de abril de 2014
Ceia do Senhor
Santos do Dia: Aniceto (papa, mártir), Elias, Paulo e Isidoro (mártires de Córdova), Estêvão Harding (abade de Cister), Fortunato e Marciano (mártires de Antioquia), Inocêncio de Tortona (bispo), Landrício de Soignies (monge, bispo), Mapálico e Companheiros (mártires de Cartago, na África), Pantagato de Viena (bispo), Potenciana (virgem da Espanha), Roberto de Chaise-Dieu (abade), Vando de Fontenelle (abade).
Primeira leitura: Êxodo 12, 1-8.11-14.
Ritual da ceia pascal.
Salmo responsorial: 115, 12-13.15-18.
O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor.
Segunda leitura: 1 Coríntios 11, 23-26.
Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, proclamais a morte do Senhor.
Evangelho: João 13, 1-15.
 
Jesus passou a última tarde de sua vida em Jerusalém, junto com seus discípulos, provavelmente também em companhia das mulheres que haviam subido à cidade santa com ele. Foi essa a tarde de uma festa pascal? Parece supérflua a pergunta. Contudo, há razões para acreditar que foi assim. E da relação que se estabeleça entre o ambiente pascal e a cena de Jesus depende em grande parte a interpretação que se deva fazer do acontecimento histórico da morte e ressurreição do Senhor.
Se aceitamos que Jesus e seus discípulos se reuniram para celebrar uma ceia pascal, então convém que recordemos os pormenores desta celebração. No livro de Números 9,13, deixa-se entrever a seriedade da celebração para  o povo judeu: não celebrá-la é como não pertencer ao povo. Segundo Êxodo 12,3, a festa devia ser familiar.
A imolação e o oferecimento do cordeiro, que devia ser realizada por alguns membros da família em representação da comunidade, devia ter lugar no átrio dos sacerdotes “entre as tardes”, isto é, no tempo que precedia ao começo da descida do sol (cf. Ex 12,6). A celebração do Haggadá pascal orientava a celebração, no sentido da memória da libertação da escravidão do Egito (Ex 12, 26s). Comer as carnes do cordeiro, beber o vinho, partilhar o pão sem fermento, que devia recordar, com as ervas amargas, a miséria vivida no Egito, constituíam o ritual que acompanhava as bênçãos e a recitação dos salmos do Hallel.
Na ceia festiva, o ambiente estava impregnado pela lembrança alegre e confiante da libertação, que teve sempre uma eficácia esperançadora em épocas difíceis. Nessas circunstancias Jesus tinha consciência de sua morte e falou dela. Os textos de Mc 14,25 e Lc 22,18 constituem uma profecia da morte. Jesus expressa, ante a probabilidade de sua morte, a confiança e a confirmação e sua mensagem do Reino. Não é necessário assinalar que esta sentença de Jesus tivesse outras intenções. É suficiente e fundamental pensar, ao ler os textos, a intenção escatológica de Jesus, que ele relaciona estreitamente com a convicção da possibilidade de sua morte.
Nestas circunstancias, Jesus realizou uma verdadeira interpretação teológica de sua própria morte, em um sentido salvífico, indissoluvelmente ligada com seu projeto do Reino de Deus. E, de novo, com este contexto, tem uma importância muito grande a relação que Jesus estabelece entre sua morte, assim interpretada, e os elementos da ceia: o pão e o cálice de vinho.
Comer o pão e beber o cálice constituem algo completamente compreensível no contexto de uma ceia judaica, porém agora esta ação tem a ver com a interpretação da morte de Jesus, que ele mesmo oferece. Jesus deve ter dito outras coisas e deve ter partilhado outros sentimentos com seus discípulos. Porém, a tradição conservou seus sentimentos ligados principalmente com a ação do pão e do cálice.
Quanto à última, não sabemos com segurança se na ceia pascal nos tempos de Jesus, se utilizava ou não somente um cálice, em um momento determinado, pois todos tinham seus próprios cálices. A tradição cristã lembra, em todo caso, a utilização de somente um cálicee como característica da ceia do Senhor (cf. 1Cor 10,16).
As palavras de Jesus que foram conservadas para compreender o sentido do pão e do cálice partilhados, implicam pois uma interpretação salvífica de sua morte, tanto no sentido da expiação e da representação (“morrer por”, “para o perdão dos pecados”), como no sentido de uma nova aliança.
Jesus, que interpretou assim sua morte e a relacionou intrinsecamente com os dons da ceia, deixou à comunidade de seus discípulos a possibilidade de viver sempre a realidade de uma nova aliança com Deus salvador, no sentido do Reino definitivo que havia anunciado. A relação entre aliança e Reino já tinha uma tradição importante, porém na ação de Jesus adquiriu uma importância transcendental e original para seus seguidores.
Fazei isto em memória de mim: este mandamento do Senhor é verdadeiramente sagrado para os seguidores de Jesus. A experiência comunitária vivida originariamente pelos discípulos se converte em algo possível em todos os tempos para os cristãos. Trata-se de entrar no destino histórico de Jesus, que é a historia mesma de Deus, seu Reino, que acontece definitivamente na manifestação suprema do amor.
Participar assim no destino do Mestre significa fazer, de maneira insuperável, a fraternidade humana. A ceia do Senhor é a assunção, por parte dos cristãos, do que nos une mais profundamente: a própria vida do Mestre, a historia do Filho do Pai na qual participamos todos como filhos também e como irmãos uns dos outros.
A ceia pascal cristã foi originalmente uma páscoa judaica. Para os cristãos é um modelo da celebração eucarística, o modelo da celebração do mistério da Páscoa. E quando celebramos hoje uma refeição juntos, temos que fazê-lo com a mentalidade de Jesus, uma refeição que antecipa o reino de Deus, uma comunidade disposta ao serviço que a fortalece e enriquece, porém sobretudo uma comunidade de todos os homens unidos pelo laço mais forte: o amor.
Primeira Leitura: Êxodo 12,1-8.11-14: Da escravidão à liberdade
A Pácoa sempre foi uma festa e libertação, cujas origens remontam a costumes anteriores à Páscoa do povo judaico. Efetivamente, os pastores nômades antes de empreender sua viagem, em busca de melhores pastos para os seus rebanhos, na noite de lua cheia mais próxima ao equinócio da primavera, sacrificavam um cordeiro ou um cabrito, nascido no ano anterior, macho, sem defeito; para que não perdesse sua energia vital, ao comê-lo não podiam romper nenhum de seus ossos.
Além disso, com estavam em uma região desértica, sem água, o animal não era cozido em água, mas assado ao fogo. Com seu sangue aspergiam as entradas de suas tendas de campanha para evitar a entrada dos espíritos malignos portadores de enfermidades e desgraças. Como deviam partir antes do sol nascer, comiam às pressas, com sandálias nos pés, o bastão na mão e prontos para partir. O sacrifício e o alimento tinham como finalidade assegurar a proteção de seus deuses no caminho que iam empreender, onde podiam encontrar salteadores e outros perigos.
Estes mesmos ritos forma adotados pelos israelitas quando celebraram a Páscoa; porém, para eles mudaram de significado. Com o sangue do cordeiro marcam suas portas para evitar a entrada do anjo exterminador; o cordeiro não somente era imolado, mas também consumido; desta maneira os comensais se comprometiam mais ainda com o mistério da festa. A Páscoa entre os judeus, unida indissoluvelmente à libertação do Egito, se realizava  na liturgia, isto é, se fazia presente como se eles fossem os protagonistas e desta maneira o passado se mantinha vivo e os projetava para o futuro.
A menção do sangue nos introduz em pleno sacramentalismo do Antigo Testamento e por ele se opera a continuidade entre a Páscoa judaica e a Páscoa cristã. Páscoa é a grande festa da libertação da servidão e da morte, onde o sangue do cordeiro exerce uma função redentora; mais ainda, como Egito no Antigo Testamento é a terra do pecado, a saída do Egito é uma libertação da escravidão material e do pecado. A bíblia concebe a salvação à media que se desenvolve a revelação como uma salvação do peado. São Pedro, desenvolvendo esta idéia nos diz: Tendes sido resgatados de vosso vão viver segundo a tradição de nossos pais, não com prata e ouro, mas com o sangue precioso de Cristo, como cordeiro sem defeito nem mancha (1Pe 1,18b-19).
Salmo 115 (116):Senhor, eu sou teu servo, filho de tua escrava, porém rompeste minhas cadeias.
Este salmo é um cântico de ação de graças e de confiança no Senhor que libertou das cadeias da escravidão. Este salmo pode ser lido em três níveis: a canto do povo de Israel, que na liberdade sabe que o Senhor o libertou da escravidão em que vivia no Egito. Também é o canato do Cristo ressuscitado, que sabe que seu Pai o libertou das cadeias da morte.
Porém, também é o santo de toda a Igreja cristã, libertada das cadeias do pecado pela Páscoa de seu Salvador. A resposta do orante à libertação com o voto de louvor e sacrifício de ação de graças, parece privilegiar a alegria e o agradecimento do povo cristão libertado definitivamente do pecado, da morte e da lei, que celebra esta reconciliação na eucaristia em presença de seu Senhor, morto e ressuscitado por ele.
Segunda leitura: 1Cor 11,23-26: Toda vez que comem deste pão e bebem deste cálice, proclamam a morte do Senhor.
Encontramos aqui o testemunho mais antigo da celebração eucarística. Paulo transmite a tradição que ele recebeu dos discípulos de Jesus, ao mesmo tempo que mostra que a eucaristia não é uma celebração que lembra um fato do passado, mas que está aberta ao futuro, a todos os tempos, porque nela anunciamos a morte do Senhor, a obra salvífica de Deus que oferece a todos, em todas as épocas.
A Páscoa judaica tem para os cristão um novo sentido; como o texto do êxodo narrava a celebração litúrgica judaica, Paulo mostra a celebração litúrgica cristã como uma nova páscoa, com o anuncio da libertação sob o sinal do sangue que agora se transformou em pão e vinho. É o mesmo rito da aliança e da reconciliação, com paralelos que permitem compreender a celebração cristã a partido do sentido da Páscoa judaica: a noite da saída do Egito/a noite da Paixão, o cordeiro do êxodo/cordeiro pascal – memorial das provas do deserto/memorial do sacrifício de Jesus.
Paulo dirige sua atenção sobretudo à assembléia e mostra como uma celebração indigna da Eucaristia desemboca no menosprezo do Corpo místico de Cristo, constituído pela assembléia e como esta é o símbolo da reunião de todos os homens e mulheres no reino e no Corpo de Cristo. Uma comunidade dividida pelo ódio e pelo desprezo aos demais não pode dar testemunho dessa união, é antes um escândalo.
Evangelho: João 13,1-15: Compreendeis o que vos fiz?
Jesus, antes de partir desta vida, quer que seus discípulos compreendam, com um gesto simbólico o que significa sua missão: o lava-pés é a expressão do compromisso pelo serviço à comunidade. É muito significativo que no lugar em que os evangelhos sinóticos colocam a última ceia, João, sem dizer uma palavra sobre a ceia, descreve o sinal mais expressivo do amor e do serviço, porque quando havia chegado a hora, no momento em que sua missão termina, Jesus quer demonstrar seu compromisso definitivo com a humanidade por meio do serviço.
O lava-pés era um gesto que na antiguidade mostrava acolhida e hospitalidade; era comum um escravo u uma mulher, a esposa a seu marido, os filhos a seu pai, um gesto de deferência ou de consideração excepcional para com os hóspedes. Jesus rompe com a tradição: não pede ajuda.
Ele, que preside a ceia e dentro dela, realiza o lava-pés, demonstrando que não há alguém maior que pudesse ser o primeiro; a comunidade de seus discípulos se conforma na igualdade e na liberdade como fruto do amor; e o Senhor se converte em servidor, porque a verdadeira grandeza não está na honra humana, mas no amor que transforma os homens e mulheres na presença de Deus no mundo.
Tal gesto é compreensível dentro da teologia da encarnação de João e também no sentido dado por Paulo em Filipenses 2,5-8. Porém, o gesto não aponta simplesmente à apresentação de uma teologia própria de João, posto que não é difícil encontrar em outra tradição evangélica, a dos sinóticos, a mesma inspiração naturalmente não dramatizada: por exemplo em Lucas 22,27, no contexto da ceia, são transmitidas palavras muito significativas de Jesus no mesmo sentido: Eu estou no meio de vós como aquele que serve.
Por outra parte, o mesmo relto indica que o lava-pés é um meio pelo qual os discípulos “tem parte com” seu Mestre (Terás parte comigo: 13,8), o que nos faz compreender que tal gesto pertenço ao corpo geral dos preceitos destinados aos discípulos como uma comunidade cristã, ainda que não seja difícil referi-lo à atitude de quem é associado à missão do Mestre enquanto tal.
Estava ceando com seus discípulos, nos diz o evangelista João. Levantou-se da mesa, deixou o manto e, tomando um pano, atou-o à cintura. Minuciosamente nos descreve a ceia porque cada um destes detalhes revelam o verdadeiro sentido da ação que Jesus vai executar: o verdadeiro amor se traduz em ações concretas de serviço. Quando se diz que Jesus deixou o manto é como se deixasse de lado sua vida, a vida que ele dá por seus amigos. Logo depois toma um pano, como o que usavam os serventes que é, portanto, símbolo do serviço.
Jesus nega a validade dos valores que o mundo criou; ao colocar-se de joelhos diante dos discípulos, Jesus, Deus entre os homens, destrói a imagem de Deus criada pela religião: Deus recupera seu verdadeiro rosto com o serviço. Deus não age como um soberano celeste, mas como um servidor do homem porque o Pai não exerce domínio, mas que comunica vida e amor, não legitima nenhum poder nem domínio.
O que Deus faz é levantar os homens ao seu próprio nível; Jesus é o Senhor, porém ao lavar os pés dos seus fazendo-se seu servidor, lhes dá também a eles a categoria de senhores. Seu serviço, portanto, elimina toda diferença, porque na comunidade que ele funda cada um é livre; por isso são todos senhores por ser todos servidores e o amor produz liberdade.
Seus discípulos terão a mesma missão: criar uma comunidade de homens e mulheres iguais e livres porque o poder que se coloca acima do homem, se coloca acima de Deus. Jesus destrói toda pretensão de poder, já que a grandeza e o poderio humanos não são valores aos quais ele renuncia por humildade, mas uma injustiça que não pode aceitar.
Pedro rejeita que o Senhor lhe lave os pés, o que indica que este não entendeu a ação de Jesus. Ele pensa em um Messias glorioso, cheio de poder e de riqueza e não admite igualdade. Ainda não sabe o que significa amor, pois não deixa que Jesus lhe manifesta a grandeza de seu amor e sua media: assim como eu vos fiz, fazei-o também vós. A medida de nosso amor aos demais é a medida em que Jesus nos amou e isto que parece impossível, pode se tornar realidade se nos identificamos com ele. Deveríamos poder dizer como Paulo: Não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim (Gl 2,20).
Quanto à sua significação, cada vez temos que repetir com o mesmo entusiasmo que este relato do evangelho de São João nos transmite uma mensagem verdadeiramente central da existência em Jesus Cristo: a vida do Mestre foi um testemunho constante da inversão de valores que deve estabelecer para poder fazer parte do Reino de Deus. Não é o poder, nem a dignidade acidental, nenhum outro motivo e dominação o que constitui o segredo da verdadeira sabedoria de Deus.
O grande valor que enobrece o homem é o de ter a disposição permanente para servir. Jesus proclamou-o, segundo o evangelho de João, por meio de uma parábola que tem força incomparável:o mestre se converteu em escravo. O verdadeiro sentido profundo da existência do Mestre é o de ser servidor. Uma lógica assim se converte no segredo para edificar um mundo cuja ração de ser só é revelada pelo próprio Deus.
Não celebramos o lava-pés simplesmente para recordar um episodio interessante e comovedor da vida de Jesus, mas para reconhecer em uma expressão sacramental a única maneira possível de ser discípulo do Mestre. 
Também Jesus nos ensinou que há mais alegria em dar do que em receber. R. Tagore o expressa assim: “Dormi e sonhava que a vida era alegria. Despertei e vi que a vida era serviço. Servi e vi que o serviço era alegria”.

Também hoje é a festa dos ministros na Igreja. É o dia de lembrar o espírito do Senhor no serviço. Ele não veio para ser servido mas para servir. Uma igreja pobre, que serve, estará sempre próxima dos que aspiram a uma libertação material e espiritual, dos que empreenderam o caminho do êxodo.

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