23 de abril - Evangelho - Lc 24,13-35
Naquela hora de
desespero, alguém se aproxima e começa a caminhar com eles. Uma simples
pergunta do novo companheiro os faz parar: De que estais falando? Não é
possível que exista uma única pessoa neste país que desconheça os fatos cruéis
da semana passada! Poderia ser a primeira reação. Mas logo aproveitam para
partilhar a dor, a saudade, a frustração. Corriam notícias sobre o túmulo vazio
e a aparição de anjos. Mesmo assim continuam inconsoláveis e reclamam: Ninguém
viu Jesus!
Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas
falaram! Que voz é esta? Os dois a conhecem. Soa-lhes tão familiar! Embora os
olhos permaneçam vedados e a razão obscurecida, o coração se abre, se dilata,
começa a arder no peito. Ninguém jamais falou como esse homem! responderam até
os guardas, tempos atrás encarregados de prender Jesus. Nem estes homens rudes
conseguiram resistir às suas palavras! As multidões ficaram extasiadas com o
seu ensinamento, porque as ensinava com autoridade. Toda experiência do
convívio com o Mestre nos anos que passaram emerge do fundo da alma, vem, de
repente, à tona enquanto o companheiro de viagem explica as passagens da
Escritura, evocando Moisés e os Profetas. Sua fala pelo caminho alivia a dor,
derrete a saudade, afoga o desânimo. Não querem deixá-lo ir adiante quando
chegam ao destino. “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando! É
como se dissem: A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! A
solidão machuca. Ficar novamente só, fará reaparecer a tristeza e a dor. “Fica
conosco!“ é o pedido insistente, dirigido a quem ainda não reconhecem. No fundo
do coração, porém, já experimentam a alegria que tantas vezes sentiam quando o
Mestre lhes falava.
“Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!“ “Tu tens
palavras de vida eterna!“ O companheiro do caminho para Emaús não abandonou os
discípulos! “Entrou para ficar com eles. Sentou-se à mesa com os dois, tomou o
pão e abençoou, depois o partiu e deu a eles“ (Lc 24,29-30). E na fração do pão
acontece o milagre da Páscoa: os dois reconhecem o Mestre. Vêem as mãos
perfuradas e aquele inigualável semblante do Filho de Deus. Mas, ao mesmo
tempo, Ele “tornou-se invisível“ (Lc 24,31) .
Ficou o pão partido e uma taça de vinho partilhada. Ficaram as palavras
que fizeram arder os corações. Ficou a inebriante alegria em que Ele
transformou o desespero dos discípulos. Agora não é mais necessário ver Jesus
com os olhos do corpo. Com a experiência que tiveram em Emaús, os discípulos
encarregar-se-ão de anunciá-lo e testemunhá-lo pelo mundo afora.
Nos momentos difíceis grite como os dois Apóstolos: “Fica conosco, pois
já é tarde e a noite vem chegando!” Ele entra para ficar com eles. À mesa,
Jesus toma o pão, abençoa e lhes dá. “Seus olhos se abriram, e eles o
reconheceram”. Jesus desaparece da vista deles, mas fica no seu coração. “Não
estava ardendo o nosso coração, quando ele nos explicava as Escrituras?” A
experiência é tão extraordinária, que os discípulos precisam levar à notícia,
naquela mesma noite, a Jerusalém.
No momento em que Jesus parte o pão, os discípulos de Emaús se tornam
missionários, mensageiros da Boa Nova. “Na mesma hora eles se levantaram e
voltaram para Jerusalém… e contaram o que tinha acontecido no caminho, e como
tinham reconhecido Jesus quando ele partiu o pão. Ao distanciarem-se da
comunidade, caminharam para Emaús à luz do dia, mas havia escuridão por dentro.
Depois que o Mestre se revelou, atravessam a escuridão da noite, sem medo de
tropeçar, porque o coração pulsa de alegria, cheia de luz. Há um novo olhar,
uma nova motivação, uma nova e luz no horizonte.
A missão nasce sempre de um encontro com Jesus vivo, com o Cristo
pascal. Os Evangelhos não terminam na Sexta-feira Santa, com o Cristo morto e
sepultado. O grande e retumbante final da sinfonia é a esplêndida aurora da
Páscoa, aquele deslumbrante primeiro dia da semana: o Cristo ressuscitado,
vivo, vencedor da morte, o triunfo do bem sobre o mal, a vitória da graça sobre
o pecado, a alegria do amor e da paz contra as tramas diabólicas do ódio e da
guerra. “Realmente o Senhor ressuscitou! Proclamam os “Onze, reunidos com os
outros“ em Jerusalém.
Celebramos a real presença deste Deus conosco na Eucaristia, memória do
mistério pascal, mistério da cruz e ressurreição, mistério da redenção e
reconciliação, que inicia a Nova Aliança. Em cada Eucaristia olhamos para Deus,
celebramos o Deus conosco, sua encarnação, paixão morte e ressurreição. “É Deus
Pai quem nos atrai por meio da entrega eucarística de seu Filho, dom de amor com
o qual saiu ao encontro de seus filhos, para que, renovados pela força do
Espírito, possamos chamá-lo de Pai” . Da ação de graças, da doação gratuita do
Cordeiro de Deus, emerge a energia missionária da Eucaristia. A Eucaristia é a
ponte para o ministério apostólico. Eucaristia é Nova Aliança que pressupõe
reconciliação, unidade na diversidade, solidariedade até as últimas
conseqüências.
Ao partir o pão, eles o reconhecem e retornam ao Caminho. Nossa fé é o
encontro pascal com o Senhor Jesus. É a certeza de que ele está vivo. Nossa fé
é uma fé pascal e pessoal. Não se trata apenas de crer em alguma coisa. A
profissão fundamental é: “Eu creio em Ti, Senhor! E por isso me comprometo e me
torno evangelizador.
Evangelizar, ser missionário, é irradiar “o que ouvimos, o que vimos com
nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam do Verbo da vida porque a Vida manifestou-se. Sejam quais forem nossas fraquezas,
misérias, limitações, o que contagia todas as culturas, o que convence todos os
povos e raças, é o testemunho da alegria e da graça de termos encontrado o
Senhor Ressuscitado. Tudo isso é graças à força do pão partido de Emaús, é o
vigor do fruto da videira no cálice da Nova Aliança, é o corpo entregue e o
sangue derramado de Jesus, morto e ressuscitado.
Sem dúvida o nosso encontro pessoal com o Cristo Ressuscitado deve nos inflamar de alegria e nos impulsionar para a missão de evangelizar aonde quer que estajamos.
ResponderExcluirMuito boa esta reflexão. Parabéns. e que Deus vos abençoe.
Diácono Lando - Diocese de Nova Iguaçu no Rio de Janeiro.
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