28- DOMINGO - Evangelho - Mt 16,13-19
Na narrativa de Mateus encontramos duas de suas
características dominantes. Ele acentua a dimensão messiânica de Jesus e já
apresenta sinais da instituição eclesial nascente. Escreve na década de 80,
quando os discípulos de Jesus oriundos do judaísmo estavam sendo expulsos das
sinagogas que até então frequentavam. Ele pretende convencer estes discípulos
de que em Jesus se realizam suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga
tradição de Israel. Daí o acentuado caráter messiânico atribuído a Jesus por
Mateus. Os cristãos, afastados das sinagogas, começam a estruturar-se em uma
instituição religiosa própria, na qual a figura de referência é Pedro, já martirizado
em Roma. Pedro é apresentado como o fundamento da Igreja e detentor das chaves
do Reino dos Céus.
Ó Deus, hoje nos concedeis a alegria de festejar S. Pedro e
S.Paulo… apóstolos que nos deram as primícias da fé. Estamos aqui como Igreja a
reconhecer a unidade de fé que viveram na diversidade de missão. Por isso os
celebramos juntos. Sua fé em Jesus foi força que encontraram para suas vidas e
para sua missão. O Espírito moldou seus corações de tal modo que puderam, como
diz Paulo, dizer: “Para mim, viver é Cristo” (Fl 1,21). Pedro faz a primeira
expressão de fé do discípulo: “Tu és o Messias, o Filho de Deus Vivo” (Mt
16.16). Eu tenho a tentação de ver Pedro mais ligado à tradição e Paulo como um
tipo mais avançado e rebelde. Os dois eram parecidos. Vemos Pedro romper com a
tradição judaica e entrar em casa de pagãos consciente de que não devia chamar
de impuro o que Deus declarara puro (At 10,15). Pedro abre as portas do
paganismo ao Evangelho, no Concílio de Jerusalém, tachando a tradição judaica de
um jugo impossível de suportar (At.15,10). Era uma grande libertação que fazia
dentro de si mesmo pela ação do Espírito. Essa posição liberou a Igreja. Esse
ato dá liberdade total a Paulo para evangelizar os pagãos (v.12). Paulo tão
forte na liberdade, mantém tradições judaicas como cortar cabelos para cumprir
um voto (At 18,18) e, por causa dos judeus, circuncidar Timóteo que tinha pai
grego (At 16,3). A fé professada por Pedro se dá em um momento crucial da vida
de Jesus, e O anima a seguir rumo à Paixão. Pedro recebe uma bem-aventurança:
“Feliz és tu Simão, pois não foi um ser humano que te revelou isso, mas meu Pai
que está nos céus”. Tem o dom de ser pedra de alicerce sobre a qual Jesus
constrói a Igreja e lhe dá o poder de ligar e desligar (Mt 16,17-19). Paulo
reconhece a ação do Espírito: “Combati o bom combate, completei a corrida,
guardei a fé” (2Tm 4,7).
Deram a vida pela Igreja e por Cristo. Rezamos no prefácio: “Unidos
pela coroa do martírio, recebem igual veneração”. Eles têm consciência durante
sua vida de que a perseguição que sofrem é por causa do Evangelho. Herodes
desencadeou a perseguição sobre a Igreja; Matou Tiago e prendeu Pedro para
apresentá-lo ao povo e ser morto. Ele foi libertado da prisão por um anjo (At
12,1-11). Paulo tem consciência do fim: “Já estou para ser derramado em
sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida” (2Tm 4,8). Os dois têm a
experiência de que são protegidos pelo Senhor: “O Senhor esteve a meu lado e me
deu forças” (v. 17); Pedro reconhece: “Agora sei que o Senhor enviou seu anjo
para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava”
(v.11).
O ensinamento desta festa à Igreja é a abertura à tradição e ao
acolhimento da novidade para ser fiel. A Igreja tem que se voltar sempre para o
dinamismo destes dois homens que deram a vida pelo evangelho. Eles nos ensinam.
Não podemos ficar na superficialidade e celebrar sem refletir o que os fez
grandes. Eles não só são colunas da fé, mas também dão rumos para seu futuro.
Vivemos tempos nos quais há tendências de voltar à tradição pela tradição e à
novidade pela novidade. Mas devemos partir da fé que professamos em cada
celebração.
A Igreja celebra Pedro e Paulo no mesmo dia porque trabalharam na
unidade da fé e na diversidade de modalidades. Sua força apostólica está na fé
em Jesus. Pedro e Paulo não se diferem pelo apego à tradição ou inovação, mas
pelo campo. Ambos têm a tradição que preserva e a inovação que assume caminhos
novos. Ambos vivem da fé.
Unidos pelo martírio recebem igual veneração. Sofrem por causa do
Evangelho. Herodes prende Pedro e Paulo está preso em Roma com a consciência de
ter combatido o bom combate e guardado e fé. Ambos sabem que o Senhor esteve
sempre com eles.
O ensinamento desta festa é a abertura à tradição e o acolhimento
da novidade para ser fiel. Eles são colunas da Igreja, mas também dão rumos. Há
tendência de voltar à tradição pela tradição ou ir à novidade pela novidade.
Como Pe. Vitor Coelho dizia: a Igreja não é de bronze, pois enferruja. É uma
árvore que cresce porque tem ramos novos e permanece porque tem tronco.
Celebrando S. Pedro e S. Paulo nós celebramos a ação de Deus em
Jesus para implantar o seu Reino no mundo. Ele usou duas luvas de briga: uma
grosseira, Pedro, e outra mais caprichada, Paulo. Por que essa diferença?
Os dois implantaram a Igreja de Deus em dois mundos diferentes,
mundo judeu e mundo pagão. Missão diferente, mas o mesmo fim. Diferente é o
modo de compreender a fé. Isso enriquece. O judaísmo tende ao ritualismo; o
paganismo tende a um modo mais livre de vida. A Igreja se enriquece com esses
dois modos de entender.
Eles se fundam na fé. Pedro e Paulo vivem Jesus. Mesmo passando na
boca do leão, foram salvos e preservados. Deram a vida por Jesus. Eles falavam
grosso e tinham o que dizer sobre Deus. Eu e você, o que temos feito no que
toca a nossa fé em Deus?
Pai consolida minha fé, a exemplo do apóstolo Pedro que, em meio às
provações, soube dar, com o seu martírio, testemunho consumado de adesão a
Jesus.
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