Comentários Prof.Fernando* 2ºpós-Pentec=10ºtempo
“Comum”
– 14 junho de 2015:
Homenagem a meu irmão que hoje faz 80 anos
Um broto de feijão
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Não sei se ainda fazem na escola a observação do feijão que brota num
vidrinho. Quando eu era criança lembro-me dessa experiência de aprendizagem
escolar. Um feijão sobre o algodão molhado e – milagre! – a gente via a raiz descendo
em direção ao chão e o feijão aberto, agarrado ao caule verde, levando duas
folhinhas procurando o sol. A vida no asfalto da cidade nem sempre dá chance às
crianças de hoje terem contato com sementes nem observar o crescimento das
plantas. Mas o verde no mato e nas florestas que ainda existem sobrevivem
apesar da vida cimentada de nosso tempo.
·
O escritor Marcos, o mais antigo redator de pedaços da vida de Cristo e
seu anúncio de um reino novo, reuniu 3 parábolas no capítulo 4 de seu livrinho.
Parábolas foram uma genial pedagogia do Mestre de Nazaré. Nascem de experiências
conhecidas pelo povo, e falam na cultura e no tempo em que viviam. Marcos certamente
recompilou essas historietas, contadas em várias ocasiões, e as distribuiu pelo
seu livro. As que lemos neste domingo têm como ponto comum o fato do
crescimento das plantas: a) em terrenos diversos (o Semeador); b) um pequeno
grão vira um grande pé de mostarda (capaz de abrigar até as aves do céu); c) o
que germina cresce por si, como o feijão no algodão úmido.
·
O Reino anunciado pelo Mestre de Nazaré se resume sempre em duas faces
de maravilhas. A primeira é objeto aqui da insistência de Marcos. A semente
cresce mesmo sem o agricultor se dar conta. A outra face das maravilhas do
“novo Reino dos céus” – tema da vida, palavras e gestos de Jesus de Nazaré –
será resumido na parábola do “Juízo final”: eu tive fome, sede, estive doente e
preso, e você me socorreu, me alimentou, me visitou, me consolou: se agiu assim
com o menor dos seres humanos, você cuidava de Deus. De um lado o Reino cresce,
independente de nós. De outro pede nossa participação solidária.
·
Hoje Marcos insiste no dom que vem do Senhor da vida e nem precisa de
nossa participação. A parábola da germinação espontânea e autônoma é a síntese
de todo o livro de Marcos e é exclusiva dele não sendo contada nem em Mateus
nem por Lucas. A salvação é um dom gratuito de Deus. O Reino traz vida, sem
intervenção humana. Pensemo que até na cultura “moderna” as pessoas se
maravilham com o que o ser humano hoje estuda e descobre. Estrelas, a vida que
se desdobra em gemulação ou brotamento e, sobretudo, com a concepção,
nascimento e crescimento que reúne átomos e moléculas em células vivas –
mistério que abriga o mistério maior da Pessoa. Tudo é mistério de Fé no qual
precisamos crer, como reconhecemos o milagre da vida no pequeno feijão
crescendo em direção ao sol. É tempo de agradecer contemplando o Mistério (como
em festas de aniversário).
Enquanto isso vivemos “parábolas” de Super-herois
·
Por outro lado, em geral, cada um de nós acha que o mundo tem conserto “se”...
E a conversa continua, na procura de qual seria a revolução definitiva. Maioridade
penal reduzida, mais gente na cadeia. Cadeia para os corruptos.
Descriminalização das drogas. Mais educação é a solução. Ideologia de gênero.
Reforma política. (Enquanto isso poucos poderosos das nações decidem guerras
para ativar a economia e... para diminuir a população pobre, sobretudo na
Àfrica e no Oriente). Alguns vão dizer que só convertendo todos à religião (qual?
a própria, certamente...) o mundo terá paz. Assim multiplicam-se as opiniões e
propostas em diversos graus, políticos, ideológicos, científicos, radicais,
moderados, simples, complexos. Nossa cultura tende a por uma esperança de salvar
a humanidade pela tecnologia. Ou então pela organização mundial da economia. Num
e noutro caso é sempre a procura do poder que vai criar o “paraíso na terra”, E
continuamos vivendo a sensação de crescimento do mal e da violência, a ponto de
alguns tomarem ao pé da letra “profecias” sobre o fim iminente do mundo!! O
meios de comunicação nos dão o sentimento de ser cada vez mais impotentes.
·
Como conclusão, encontro alguma luz na reflexão de um teólogo espanhol
que diz haver no evangelho de hoje um apelo a todo mundo semear pequenas
sementes de uma nova humanidade. Jesus não propõe grandes eventos, seu Reino é
humilde e modesto nas origens e pode passar despercebido como a menor de todas
as sementes, que crescem e frutificam sem nossa previsão. Talvez precisemos
reaprender a valorizar as coisas pequenas e os pequenos gestos, pois não somos
chamados a ser heróis e mártires de cada dia, mas somos todos convidados a viver
pondo um pouco de dignidade em cada cantinho de nosso pequeno mundo. Um gesto
de amizade para com alguém que está mal. Um sorriso acolhedor ao que está
sozinho. Um sinal de presença para quem está ficando desesperado. Um raio de
luz e alegria num coração agoniado. Estas não são coisas grandiosas. São
pequenas sementes do reino de Deus que todos podemos semear numa sociedade
complicada e triste que esqueceu o encanto das coisas simples e boas.
(textos hoje: Ezequiel 17.22-24 2aCoríntios 5.6-10 e
Marcos
4.26-34
oooooooooo ( * ) Prof.(1975-2012-Edu/Teo/Fil)
fesomor2@gmail.com
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