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sexta-feira, 19 de junho de 2015

Comentários Prof.Fernando

Comentários Prof.Fernando* (4ºpós-Pentec=12ºtempo “Comum”)
 – 21 de junho de 2015
Nós , mercadejando pelo mar
Os que vão em navios comerciar nas grandes águas,
(abalados por grandes ondas, corações cheios de pavor)
gritaram na aflição e ele os libertou da angústia (do salmo107)
Correção: Domingo passado,
em vez de “2º/10º” leia-se “3ºpós-Pentecostes ou 11º Comum”.

Uma voz no meio da Tempestade
·                    O livro de Jó é, como num teatro é um drama excepcional, capaz de superar a genialidade de um Shakespeare ou grandes autores da dramaturgia, ao tratar do mistério do mal e do sofrimento do inocente na perspectiva bíblica. Na leitura de hoje (cap38) o angustiado personagem de Jó reconhece que a humana inteligência não pode compreender tudo, e que, mesmo sem entender os males da vida, é possível crer que Deus é maior do que tudo (maior também que as forças cegas da natureza – que, no mundo antigo, era vista em geral como povoada de deuses). Jó será elogiado (ao final, cf.40,7) pelo próprio interlocutor divino, ao repreender os “amigos” de Jó: disse a Elifaz: estou irritado contra ti e contra teus amigos, porque não falaste corretamente de mim, como Jó, meu servidor.
·                    O texto do evangelista Marcos, cap.4s fala também de tempestades. Surgiu uma grande tormenta e ondas invadiam o barco. Jesus na popa dormia sobre um travesseiro. Acordaram-no dizendo: “Mestre, não te importa que pereçamos?” Despertando, ele repreendeu o vento, dizendo ao mar: “Silêncio! Cala-te!”. O vento cessou e seguiu-se grande bonança. Disse: “Por que estais cheios de medo? Ainda estais sem a confiança (própria) da Fé?”

Poder e domínio
·                    Uma certa mentalidade prevaleceu desde a pré-história (e até a Modernidade na cultura ocidental, ou seja, o período iniciado em 1450 se considerarmos a invenção da imprensa o marco fundamental seguido por “grandes Navegações”, “Revolução Industrial” e “Revolução Francesa”). Essa forma de pensar durou milênios e não apenas no Ocidente e levava os humanos ao reconhecimento do “Sagrado” a partir de suas relações com a Natureza. Nela se identificava um fascinante mundo de manifestações divinas. Por isso, com ritos mágicos e religiosos, o homem tentava superar fenômenos indomáveis como as secas, as enchentes, os terremotos e furacões.
·                    O homem “moderno”, entretanto, chegou a enorme domínio das forças naturais, aumentando-o sempre com a tecnologia que brota da Ciência atual. Com frequência se acha “livre” do antigo “medo” que considera provocado pelas religiões. Em cada contexto desenha-se uma “imagem” a respeito de Deus. A crença exclusiva no progresso – reduzido à mera exploração de recursos naturais – parece estar levando a novos impasses (um dos temas da recente encíclica divulgada pelo papa Francisco). Por outro lado, a tendência predominante em nossa cultura é procurar explicações “científicas” para os desastres naturais. Isso é correto mas isso não é a substituição dos antigos “sacrifícios” que visavam aplacar a “ira” dos deuses. Isso ajuda a purificar a “imagem” – certamente infantil ou primitiva de Deus, de modo que procuremos sua transcendência para além de mero fundamento da natureza, na qual se julga poder “encontrar” as pegadas do Criador.

Como em Emaús, em toda a Bíblia Deus caminha ao lado
·                    Dentro do próprio conjuntos de livros (nas 3 partes da Bíblia hebraica: Torah, Nebi’im we Ketubim: Pentateuco, Profetas e Escritos) a “experiência” com o Deus do Êxodo é decisiva para a fé, sendo a Criação apresentada no Gênesis (colocado na organização hebraica da bíblia como “porta de entrada”) o “entorno” do Pentateuco. Assim fala em seus estudos o grande biblista M.Schwantes (1946-2012), mostrando o Gênesis como o “horizonte” mais amplo (de muitos povos e de toda a história humana) em que o povo bíblico reflete sobre sua própria história e seu passado, lembrando que Gên1-11 é texto recente, isto é do século 6 a.C e relacionado com o exílio e pós-exílio babilônico.
·                    Nesse sentido talvez pudéssemos dizer que é mais decisiva a Fé (experiência típica no Êxodo, em Jesus de Nazaré, e nas primeiras comunidades cristãs) do que a “religiosidade” (que busca “provas” de Deus no universo criado). A criação é obra do Deus bondoso (“e viu que tudo era bom”, Gênesis 1). No entanto na natureza também encontramos o mal e o pecado. O encontro com o Deus no êxodo (a caminhada e o Livro) traz o desenho dessa imagem de um Deus que se compadece pelo sofrimento de seu povo, vem libertá-lo da escravidão e o conduz pacientemente até a terra prometida. Foi nessa perspectiva que o texto de Gênesis foi escrito no séc.6 a.C. Também os cristãos verão, seja na história dos antepassados em Israel, seja no caminho que vai de Belém a Jerusalém (do nascimento à ressurreição), a presença da Misericórdia. Deus atinge o auge, por assim dizer, de sua comunicação (cf.Hebreus 1) na experiência de Jesus de Nazaré, de quem Paulo afirma ser “imagem visível do Deus invisível” (cf.colossenses 1,15), o próprio Deus encarnado na história humana e cósmica.

Medo e angústia, tempestades no mar e na vida
·                    Do comentário italiano (Messale dell’Assemblea Cristiana, Centro catechistico Salesiano, Turim) apresento resumo e adaptação, como conclusão destas reflexões. Devemos suspeitar da fé tranquila, fácil, sem dificuldades (estamos na tempestade). Cremos, não obstante ondas enormes ameaçando nosso barquinho. Seria falsa a fé que apenas procura Deus como consolação individual e como solução das dificuldades. Na base de tal “fé” não haveria reconhecimento de Deus, mas tentativa de “utilizar” Deus como nossa segurança. Nossa linguagem habitual acaba às vezes dizendo heresias deste tipo: “graças a Deus, Fulano escapou no terremoto (no acidente, etc.)” – como se fosse Deus o “autor” e responsável pelo desastre, enchente, terremoto... Fé significa “abandonar-se” como a criança nas mãos da mãe ou do pai, isto é, ter confiança, mesmo se parece que ele “dorme” (não te importa que pereçamos?”), porque sabemos que nenhuma dificuldade nos pode vencer (porque Deus já as venceu). O projeto de Deus é libertar o mundo do mal – como para os hebreus era libertá-los da escravidão. Neste processo, porém, somos chamados – como Moisés no Êxodo – a colaborar, fazendo nossa parte, lutando ao lado de Jahwé, levando a sério os problemas do mundo sem perder coragem – particularmente os problemas dos pobres e dos mais desprezados numa sociedade de egocêntricos dispostos a puxar o tapete dos outros para chegar rápido ao dinheiro como diz o provérbio “farinha pouca meu pirão primeiro”.

E foram com ele na barca em que estava (Marcos 4,36)
·                    É triste o panorama atujal de uma larga faixa da pregação cada vez mais repetida em nosso país por muitos grupos e muitos líderes. Infelizmente é a maior parte do que ouvimos (ou vemos na TV) apresentando um Deus pouco “sagrado”, tão distante da sabedoria expressa num livro de Jó como da teologia dos primeiros cristãos condensada no Novo Testamento. Um Deus que não é o “Santo” proposto seja nos Livros de Moisés seja nos Profetas.
·                    A imagem do “Pai” foi reduzida a de um “controller” de empresa, competente na conjugação de contabilidade e administração (de nossas vidas) – desde que sejamos seus funcionários submissos, e negociemos contribuições para a Organização em troca de benefícios e milagres, principalmente em meio a tempestades financeiras e de saúde. Tal manipulação das massas trata Deus como um ídolo, mesmo em nome do Cristo, e embarca pessoas e as conduz para longe da experiência da Fé proposta em Marcos cap.4. Seria melhor, como no verso 36: ir com ele na barca em que Ele estava!!!

ooooooooooo ( * ) Prof.(1975-2012-Edu/Teo/Fil) fesomor2@gmail.com

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