ANO B
14º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 14º Domingo do Tempo Comum
14º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 14º Domingo do Tempo Comum
A liturgia deste domingo revela que Deus
chama, continuamente, pessoas para serem testemunhas no mundo do seu projecto
de salvação. Não interessa se essas pessoas são frágeis e limitadas; a força de
Deus revela-se através da fraqueza e da fragilidade desses instrumentos humanos
que Deus escolhe e envia.
A primeira leitura apresenta-nos um extracto do relato da vocação de Ezequiel. A vocação profética é aí apresentada como uma iniciativa de Jahwéh, que chama um “filho de homem” (isto é, um homem “normal”, com os seus limites e fragilidades) para ser, no meio do seu Povo, a voz de Deus.
Na segunda leitura, Paulo assegura aos cristãos de Corinto (recorrendo ao seu exemplo pessoal) que Deus actua e manifesta o seu poder no mundo através de instrumentos débeis, finitos e limitados. Na acção do apóstolo – ser humano, vivendo na condição de finitude, de vulnerabilidade, de debilidade – manifesta-se ao mundo e aos homens a força e a vida de Deus.
O Evangelho, ao mostrar como Jesus foi recebido pelos seus conterrâneos em Nazaré, reafirma uma ideia que aparece também nas outras duas leituras deste domingo: Deus manifesta-Se aos homens na fraqueza e na fragilidade. Quando os homens se recusam a entender esta realidade, facilmente perdem a oportunidade de descobrir o Deus que vem ao seu encontro e de acolher os desafios que Deus lhes apresenta.
A primeira leitura apresenta-nos um extracto do relato da vocação de Ezequiel. A vocação profética é aí apresentada como uma iniciativa de Jahwéh, que chama um “filho de homem” (isto é, um homem “normal”, com os seus limites e fragilidades) para ser, no meio do seu Povo, a voz de Deus.
Na segunda leitura, Paulo assegura aos cristãos de Corinto (recorrendo ao seu exemplo pessoal) que Deus actua e manifesta o seu poder no mundo através de instrumentos débeis, finitos e limitados. Na acção do apóstolo – ser humano, vivendo na condição de finitude, de vulnerabilidade, de debilidade – manifesta-se ao mundo e aos homens a força e a vida de Deus.
O Evangelho, ao mostrar como Jesus foi recebido pelos seus conterrâneos em Nazaré, reafirma uma ideia que aparece também nas outras duas leituras deste domingo: Deus manifesta-Se aos homens na fraqueza e na fragilidade. Quando os homens se recusam a entender esta realidade, facilmente perdem a oportunidade de descobrir o Deus que vem ao seu encontro e de acolher os desafios que Deus lhes apresenta.
LEITURA I – Ez 2,2-5
Leitura da Profecia de Ezequiel
Naqueles dias,
o Espírito entrou em mim e fez-me levantar.
Ouvi então Alguém que me dizia:
«Filho do homem,
Eu te envio aos filhos de Israel,
a um povo rebelde que se revoltou contra Mim.
Eles e seus pais ofenderam-Me até ao dia de hoje.
É a esses filhos de cabeça dura e coração obstinado
que te envio, para lhes dizeres:
‘Eis o que diz o Senhor’.
Podem escutar-te ou não
- porque são uma casa de rebeldes -,
mas saberão que há um profeta no meio deles».
o Espírito entrou em mim e fez-me levantar.
Ouvi então Alguém que me dizia:
«Filho do homem,
Eu te envio aos filhos de Israel,
a um povo rebelde que se revoltou contra Mim.
Eles e seus pais ofenderam-Me até ao dia de hoje.
É a esses filhos de cabeça dura e coração obstinado
que te envio, para lhes dizeres:
‘Eis o que diz o Senhor’.
Podem escutar-te ou não
- porque são uma casa de rebeldes -,
mas saberão que há um profeta no meio deles».
AMBIENTE
Ezequiel, o “profeta da esperança”, exerceu o
seu ministério na Babilónia no meio dos exilados judeus. O profeta fez parte
dessa primeira leva de exilados que, em 597 a.C., Nabucodonosor deportou para a
Babilónia.
A primeira fase do ministério de Ezequiel decorreu entre 593 a.C. (data do seu chamamento à vocação profética) e 586 a.C. (data em que Jerusalém foi conquistada uma segunda vez pelos exércitos de Nabucodonosor e uma nova leva de exilados foi encaminhada para a Babilónia). Nesta fase, o profeta preocupou-se em destruir as falsas esperanças dos exilados (convencidos de que o exílio terminaria em breve e que iam poder regressar rapidamente à sua terra) e em denunciar a multiplicação das infidelidades a Jahwéh por parte desses membros do Povo judeu que escaparam ao primeiro exílio e que ficaram em Jerusalém.
A segunda fase do ministério de Ezequiel desenrolou-se a partir de 586 a.C. e prolongou-se até cerca de 570 a.C.. Instalados numa terra estrangeira, privados de Templo, de sacerdócio e de culto, os exilados estavam desiludidos e duvidavam de Jahwéh e do compromisso que Deus tinha assumido com o seu Povo. Nessa fase, Ezequiel procurou alimentar a esperança dos exilados e transmitir ao Povo a certeza de que o Deus salvador e libertador não tinha abandonado nem esquecido o seu Povo.
O texto que nos é proposto hoje como primeira leitura faz parte do relato da vocação de Ezequiel (cf. Ez 1,1-3,27). Depois de descrever a manifestação de Deus, num quadro que apresenta todas as características especiais das teofanias (cf. Ez 1,1-28), o profeta apresenta um discurso no qual Jahwéh define a missão que lhe vai confiar (cf. Ez 2,1-3,15). O episódio é situado “no quinto ano do cativeiro do rei Joaquin”, “na Caldeia, nas margens do rio Cabar” (Ez 1,2).
Seria um erro interpretar este relato como informação biográfica… Trata-se, antes, de mostrar – com a linguagem da época e utilizando os processos típicos da literatura da época – que o profeta recebeu uma missão de Deus e que fala e actua em nome de Deus.
A primeira fase do ministério de Ezequiel decorreu entre 593 a.C. (data do seu chamamento à vocação profética) e 586 a.C. (data em que Jerusalém foi conquistada uma segunda vez pelos exércitos de Nabucodonosor e uma nova leva de exilados foi encaminhada para a Babilónia). Nesta fase, o profeta preocupou-se em destruir as falsas esperanças dos exilados (convencidos de que o exílio terminaria em breve e que iam poder regressar rapidamente à sua terra) e em denunciar a multiplicação das infidelidades a Jahwéh por parte desses membros do Povo judeu que escaparam ao primeiro exílio e que ficaram em Jerusalém.
A segunda fase do ministério de Ezequiel desenrolou-se a partir de 586 a.C. e prolongou-se até cerca de 570 a.C.. Instalados numa terra estrangeira, privados de Templo, de sacerdócio e de culto, os exilados estavam desiludidos e duvidavam de Jahwéh e do compromisso que Deus tinha assumido com o seu Povo. Nessa fase, Ezequiel procurou alimentar a esperança dos exilados e transmitir ao Povo a certeza de que o Deus salvador e libertador não tinha abandonado nem esquecido o seu Povo.
O texto que nos é proposto hoje como primeira leitura faz parte do relato da vocação de Ezequiel (cf. Ez 1,1-3,27). Depois de descrever a manifestação de Deus, num quadro que apresenta todas as características especiais das teofanias (cf. Ez 1,1-28), o profeta apresenta um discurso no qual Jahwéh define a missão que lhe vai confiar (cf. Ez 2,1-3,15). O episódio é situado “no quinto ano do cativeiro do rei Joaquin”, “na Caldeia, nas margens do rio Cabar” (Ez 1,2).
Seria um erro interpretar este relato como informação biográfica… Trata-se, antes, de mostrar – com a linguagem da época e utilizando os processos típicos da literatura da época – que o profeta recebeu uma missão de Deus e que fala e actua em nome de Deus.
MENSAGEM
O nosso texto apresenta alguns dos elementos
típicos dos relatos de vocação e que fazem parte de qualquer história de
vocação.
Sugere-se, em primeiro lugar, que a vocação profética é um desígnio divino. Não se nomeia Jahwéh directamente; mas aquele que chama Ezequiel não pode ser outro senão Deus… O nosso texto é antecedido (cf. Ez 1,1-28) de uma solene manifestação de Deus. Depois, o profeta ouve uma “voz” que o chama (vers. 2) e que revela a Ezequiel que deve dirigir-se a esse Povo rebelde que se insurgiu contra Deus. Há também uma referência ao “espírito” que se apossou do profeta e o fez “levantar”; de acordo com a reflexão judaica, era Deus que comunicava uma força divina – o seu “espírito” – àqueles que escolhia para enviar a salvar o seu Povo, como os juízes (cf. Jz 14,6.19; 15,14), os reis (cf. 1 Sam 10,6.10; 16,13) e os profetas (no caso de Ezequiel, esse “espírito” aparece como uma manifestação especialmente violenta de Deus, que se apossa do profeta e o destina para o seu serviço). A vocação é sempre uma iniciativa de Deus e não uma escolha do homem. Foi Deus que chamou Ezequiel e que o designou para o seu serviço.
Em segundo lugar, aparece a ideia de que o chamamento é dirigido a um homem. Ezequiel é chamado “filho de homem” (vers. 3) – expressão hebraica que significa simplesmente “homem ligado à terra, fraco e mortal. Deus chama homens frágeis e limitados, não seres extraordinários, etéreos, dotados de capacidades incomuns… O que é decisivo não são as qualidades extraordinárias do profeta, mas o chamamento de Deus e a missão que Deus lhe confia. A indignidade e a limitação, típicas do “filho do homem”, não são impeditivas para a missão: a eleição divina dá ao profeta autoridade, apesar dos seus limites bem humanos.
Em terceiro lugar, temos a definição da missão. Ezequiel, o profeta, é enviado a um Povo rebelde, que continuamente se afasta dos caminhos de Jahwéh. A sua missão é apresentar a esse Povo as propostas de Deus. O mais importante não é que as palavras do profeta sejam ou não escutadas; o que é importante é que o profeta seja, no meio do Povo, a voz que indica os caminhos de Deus (vers. 4-5).
A vida de Ezequiel realizou integralmente o projecto de Deus. Chamado por Jahwéh, ele foi, no meio do Povo exilado na Babilónia, uma voz humana através da qual Deus apresentou ao seu Povo o caminho para a vida plena e verdadeira. É essa a missão do profeta.
Sugere-se, em primeiro lugar, que a vocação profética é um desígnio divino. Não se nomeia Jahwéh directamente; mas aquele que chama Ezequiel não pode ser outro senão Deus… O nosso texto é antecedido (cf. Ez 1,1-28) de uma solene manifestação de Deus. Depois, o profeta ouve uma “voz” que o chama (vers. 2) e que revela a Ezequiel que deve dirigir-se a esse Povo rebelde que se insurgiu contra Deus. Há também uma referência ao “espírito” que se apossou do profeta e o fez “levantar”; de acordo com a reflexão judaica, era Deus que comunicava uma força divina – o seu “espírito” – àqueles que escolhia para enviar a salvar o seu Povo, como os juízes (cf. Jz 14,6.19; 15,14), os reis (cf. 1 Sam 10,6.10; 16,13) e os profetas (no caso de Ezequiel, esse “espírito” aparece como uma manifestação especialmente violenta de Deus, que se apossa do profeta e o destina para o seu serviço). A vocação é sempre uma iniciativa de Deus e não uma escolha do homem. Foi Deus que chamou Ezequiel e que o designou para o seu serviço.
Em segundo lugar, aparece a ideia de que o chamamento é dirigido a um homem. Ezequiel é chamado “filho de homem” (vers. 3) – expressão hebraica que significa simplesmente “homem ligado à terra, fraco e mortal. Deus chama homens frágeis e limitados, não seres extraordinários, etéreos, dotados de capacidades incomuns… O que é decisivo não são as qualidades extraordinárias do profeta, mas o chamamento de Deus e a missão que Deus lhe confia. A indignidade e a limitação, típicas do “filho do homem”, não são impeditivas para a missão: a eleição divina dá ao profeta autoridade, apesar dos seus limites bem humanos.
Em terceiro lugar, temos a definição da missão. Ezequiel, o profeta, é enviado a um Povo rebelde, que continuamente se afasta dos caminhos de Jahwéh. A sua missão é apresentar a esse Povo as propostas de Deus. O mais importante não é que as palavras do profeta sejam ou não escutadas; o que é importante é que o profeta seja, no meio do Povo, a voz que indica os caminhos de Deus (vers. 4-5).
A vida de Ezequiel realizou integralmente o projecto de Deus. Chamado por Jahwéh, ele foi, no meio do Povo exilado na Babilónia, uma voz humana através da qual Deus apresentou ao seu Povo o caminho para a vida plena e verdadeira. É essa a missão do profeta.
ACTUALIZAÇÃO
• Os “profetas” não são um grupo humano
extinto há muitos séculos, mas são uma realidade com que Deus continua a contar
para intervir no mundo e para recriar a história. Quem são, hoje, os profetas?
Onde estão eles?
• No Baptismo, fomos ungidos como
profetas, à imagem de Cristo. Cada um de nós tem a sua história de vocação
profética: de muitas formas Deus entra na nossa vida, desafia-nos para a
missão, pede uma resposta positiva à sua proposta. Temos consciência de que
Deus nos chama – às vezes de formas bem banais – à missão profética? Estamos
atentos aos sinais que Ele semeia na nossa vida e através dos quais Ele nos
diz, dia a dia, o que quer de nós? Temos a noção de que somos a “boca” através
da qual a Palavra de Deus se dirige aos homens?
• O profeta é o homem que vive de olhos
postos em Deus e de olhos postos no mundo (numa mão a Bíblia, na outra o jornal
diário). Vivendo em comunhão com Deus e intuindo o projecto que Ele tem para o
mundo, e confrontando esse projecto com a realidade humana, o profeta percebe a
distância que vai do sonho de Deus à realidade dos homens. É aí que ele
intervém, em nome de Deus, para denunciar, para avisar, para corrigir. Somos
estas pessoas, simultaneamente em comunhão com Deus e atentas às realidades que
desfeiam o nosso mundo? Em concreto, em que situações sou chamado, no dia a
dia, a exercer a minha vocação profética?
• A denúncia profética implica, tantas
vezes, a perseguição, o sofrimento, a marginalização e, em tantos casos, a
própria morte (Óscar Romero, Luther King, Gandhi…). Como lidamos com a
injustiça e com tudo aquilo que rouba a dignidade dos homens? O medo, o
comodismo, a preguiça, alguma vez nos impediram de ser profetas?
• É preciso ter consciência, também, que
as nossas limitações e indignidades muito humanas não podem servir de desculpa
para realizar a missão que Deus quer confiar-nos: se Ele nos pede um serviço,
dar-nos-á também a força para superar os nossos limites e para cumprir o que
nos pede. As fragilidades que fazem parte da nossa humanidade não podem, em
nenhuma circunstância, servir de desculpa para não cumprirmos a nossa missão
profética no meio dos nossos irmãos.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 122 (123)
Refrão: Os nossos olhos estão postos no
Senhor,
até que Se compadeça de nós.
até que Se compadeça de nós.
Levanto os olhos para Vós,
para Vós que habitais no Céu,
como os olhos do servo
se fixam nas mãos do seu senhor.
para Vós que habitais no Céu,
como os olhos do servo
se fixam nas mãos do seu senhor.
Como os olhos da serva
se fixam nas mãos da sua senhora,
assim os nossos olhos se voltam para o Senhor nosso Deus,
até que tenha piedade de nós.
se fixam nas mãos da sua senhora,
assim os nossos olhos se voltam para o Senhor nosso Deus,
até que tenha piedade de nós.
Piedade, Senhor, tende piedade de nós,
porque estamos saturados de desprezo.
A nossa alma está saturada do sarcasmo dos arrogantes
e do desprezo dos soberbos.
porque estamos saturados de desprezo.
A nossa alma está saturada do sarcasmo dos arrogantes
e do desprezo dos soberbos.
LEITURA II – 2Cor 12,7-10
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São
Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Para que a grandeza das revelações não me ensoberbeça,
foi-me deixado um espinho na carne,
- um anjo de Satanás que me esbofeteia -
para que não me orgulhe.
Por três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim.
Mas Ele disse-me: «Basta-te a minha graça,
porque é na fraqueza que se manifesta todo o meu poder».
Por isso, de boa vontade me gloriarei das minhas fraquezas,
para que habite em mim o poder de Cristo.
Alegro-me nas minhas fraquezas,
nas afrontas, nas adversidades,
nas perseguições e nas angústias sofridas por amor de Cristo,
porque, quando sou fraco, então é que sou forte.
Para que a grandeza das revelações não me ensoberbeça,
foi-me deixado um espinho na carne,
- um anjo de Satanás que me esbofeteia -
para que não me orgulhe.
Por três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim.
Mas Ele disse-me: «Basta-te a minha graça,
porque é na fraqueza que se manifesta todo o meu poder».
Por isso, de boa vontade me gloriarei das minhas fraquezas,
para que habite em mim o poder de Cristo.
Alegro-me nas minhas fraquezas,
nas afrontas, nas adversidades,
nas perseguições e nas angústias sofridas por amor de Cristo,
porque, quando sou fraco, então é que sou forte.
AMBIENTE
A Segunda Carta de Paulo aos Coríntios espelha
uma época de relações conturbadas entre Paulo e os cristãos de Corinto. As
críticas de Paulo a alguns membros da comunidade que levavam uma vida pouco
consentânea com os valores cristãos (Primeira Carta aos Coríntios) provocaram
uma reacção extremada e uma campanha organizada no sentido de desacreditar
Paulo. Essa campanha foi instigada por certos missionários itinerantes
procedentes das comunidades cristãs da Palestina, que se consideravam
representantes dos Doze e que minimizavam o trabalho apostólico de Paulo. Entre
outras coisas, esses missionários afirmavam que Paulo era inferior aos outros
apóstolos, por não ter convivido com Jesus e que a catequese apresentada por
Paulo não estava em consonância com a doutrina da Igreja. Paulo, informado de
tudo, dirigiu-se apressadamente para Corinto e teve um violento confronto com
os seus detractores. Depois, bastante magoado, retirou-se para Éfeso. Tito,
amigo de Paulo, fino negociador e hábil diplomata, partiu para Corinto, a fim
de tentar a reconciliação.
Paulo, entretanto, deixou Éfeso e foi para Tróade. Foi aí que reencontrou Tito, regressado de Corinto. As notícias trazidas por Tito eram animadoras: o diferendo fora ultrapassado e os coríntios estavam, outra vez, em comunhão com Paulo.
Reconfortado, Paulo escreveu uma tranquila apologia do seu apostolado, à qual juntou um apelo em favor de uma colecta para os pobres da Igreja de Jerusalém. Esse texto é a nossa Segunda Carta de Paulo aos Coríntios. Estamos no ano 56 ou 57.
O texto que nos é proposto integra a terceira parte da carta (cf. 2 Cor 10,1-13,10). Aí Paulo, num estilo apaixonado, às vezes cáustico, mas sempre levado pela exigência da verdade e da fé, defende a autenticidade do seu ministério frente a esses “super-apóstolos” que o acusavam.
Como apóstolo, Paulo não se sente inferior a ninguém e muito menos aos seus detractores. Estes orgulhavam-se das suas credenciais e afirmavam por toda a parte os seus dons carismáticos… Paulo, se quisesse entrar no mesmo jogo, podia orgulhar-se de muitas coisas, nomeadamente das revelações que recebeu e das suas experiências místicas (cf. 2 Cor 12,1-4); mas ele quer apenas que o vejam como um homem frágil e vulnerável, a quem Deus chamou e a quem enviou para dar testemunho de Jesus Cristo no meio dos homens.
Paulo, entretanto, deixou Éfeso e foi para Tróade. Foi aí que reencontrou Tito, regressado de Corinto. As notícias trazidas por Tito eram animadoras: o diferendo fora ultrapassado e os coríntios estavam, outra vez, em comunhão com Paulo.
Reconfortado, Paulo escreveu uma tranquila apologia do seu apostolado, à qual juntou um apelo em favor de uma colecta para os pobres da Igreja de Jerusalém. Esse texto é a nossa Segunda Carta de Paulo aos Coríntios. Estamos no ano 56 ou 57.
O texto que nos é proposto integra a terceira parte da carta (cf. 2 Cor 10,1-13,10). Aí Paulo, num estilo apaixonado, às vezes cáustico, mas sempre levado pela exigência da verdade e da fé, defende a autenticidade do seu ministério frente a esses “super-apóstolos” que o acusavam.
Como apóstolo, Paulo não se sente inferior a ninguém e muito menos aos seus detractores. Estes orgulhavam-se das suas credenciais e afirmavam por toda a parte os seus dons carismáticos… Paulo, se quisesse entrar no mesmo jogo, podia orgulhar-se de muitas coisas, nomeadamente das revelações que recebeu e das suas experiências místicas (cf. 2 Cor 12,1-4); mas ele quer apenas que o vejam como um homem frágil e vulnerável, a quem Deus chamou e a quem enviou para dar testemunho de Jesus Cristo no meio dos homens.
MENSAGEM
Assumindo essa condição de debilidade e de
vulnerabilidade, Paulo fala aos Coríntios de uma limitação que transporta no
seu corpo, um “anjo de Satanás” que lhe recorda continuamente a sua finitude e
fragilidade (vers. 7). De que é que se trata, em concreto? Não o sabemos.
Provavelmente, trata-se de uma doença física crónica (em Gal 4,13-14 Paulo fala
de uma grave enfermidade física, que fez com que o corpo do apóstolo fosse,
para os Gálatas, “uma provação”; mas nada garante que essa enfermidade física
esteja relacionada com este “anjo de Satanás” de que ele fala aos Coríntios). O
facto de Paulo chamar a essa limitação que o apoquenta um “anjo de Satanás”
deve ter a ver com o facto de a mentalidade judaica ligar as enfermidades aos
“espíritos maus”. De acordo com outra interpretação, esse “espinho na carne”
que é um “anjo de Satanás” poderia referir-se também aos obstáculos que Satanás
põe a Paulo no que diz respeito ao anúncio do Evangelho.
Em todo o caso, o problema pessoal de Paulo mostra como a finitude e a fragilidade não são determinantes para a missão; o que é determinante é a graça de Deus… Com a graça de Deus, Paulo tudo pode, apesar da sua debilidade. Deus não eliminou o problema, apesar dos insistentes pedidos de Paulo; mas é Ele que dá a Paulo a força para continuar a sua missão, apesar dos limites que esse “espinho na carne” lhe impõe. Na verdade, o problema pessoal de que Paulo sofre dá testemunho de que Deus actua e manifesta o seu poder no mundo através de instrumentos débeis, finitos e limitados. No apóstolo – ser humano, vivendo na condição de finitude, de vulnerabilidade, de debilidade – manifesta-se ao mundo e aos homens a força de Deus e de Cristo.
Em todo o caso, o problema pessoal de Paulo mostra como a finitude e a fragilidade não são determinantes para a missão; o que é determinante é a graça de Deus… Com a graça de Deus, Paulo tudo pode, apesar da sua debilidade. Deus não eliminou o problema, apesar dos insistentes pedidos de Paulo; mas é Ele que dá a Paulo a força para continuar a sua missão, apesar dos limites que esse “espinho na carne” lhe impõe. Na verdade, o problema pessoal de que Paulo sofre dá testemunho de que Deus actua e manifesta o seu poder no mundo através de instrumentos débeis, finitos e limitados. No apóstolo – ser humano, vivendo na condição de finitude, de vulnerabilidade, de debilidade – manifesta-se ao mundo e aos homens a força de Deus e de Cristo.
ACTUALIZAÇÃO
• O caso pessoal de Paulo diz-nos muito
sobre os métodos de Deus… Para vir ao encontro dos homens e para lhes
apresentar a sua proposta de salvação, Deus não utiliza métodos espectaculares,
poderosos, majestosos, que se impõem de forma avassaladora e que deixam uma
marca de estupefacção e de espanto na memória dos povos; mas, quase sempre,
Deus utiliza a fraqueza, a debilidade, a fragilidade, a simplicidade para nos
dar a conhecer os seus caminhos. Nós, homens e mulheres do séc. XXI,
deixamo-nos, facilmente, impressionar pelos grandes gestos, pelos cenários
magnificentes, pelas roupagens sumptuosas, por tudo o que aparece envolvido num
halo cintilante de riqueza, de prestígio social, de poder, de beleza; e, por
outro lado, temos mais dificuldade em reparar naquilo que se apresenta pobre,
humilde, simples, frágil, débil… A Palavra de Deus que hoje nos é proposta
garante-nos que é na fraqueza que se revela a força de Deus. Precisamos de
aprender a ver o mundo, os homens e as coisas com os olhos de Deus e a
descobrir esse Deus que, na debilidade, na simplicidade, na pobreza, na
fragilidade, vem ao nosso encontro e nos indica os caminhos da vida.
• A consciência de que as suas qualidades
e defeitos não são determinantes para o sucesso da missão, pois o que é
importante é a graça de Deus, deve levar o “profeta” a despir-se de qualquer
sentimento de orgulho ou de auto-suficiência. O “profeta” deve sentir-se,
apenas, um instrumento humano, frágil, débil e limitado, através do qual a
força e a graça de Deus agem no mundo. Quando o “profeta” tem consciência desta
realidade, percebe como são despropositadas e sem sentido quaisquer atitudes de
vedetismo ou de busca de protagonismo, no cumprimento da missão… A missão do
“profeta” não é atrair sobre si próprio as luzes da ribalta, as câmaras da
televisão ou o olhar das multidões; a missão do “profeta” é servir de veículo
humano à proposta libertadora de Deus para os homens.
• Como pano de fundo do nosso texto, está
a polémica de Paulo com alguns cristãos que não o aceitavam. Ao longo de todo o
seu percurso missionário, Paulo teve de lidar frequentemente com a
incompreensão; e, muitas vezes, essa incompreensão veio até dos próprios irmãos
na fé e dos membros dessas comunidades a quem Paulo tinha levado, com muito
esforço, o anúncio libertador de Jesus. No entanto, a incompreensão nunca abalou
a decisão e o entusiasmo de Paulo no anúncio da Boa Nova de Jesus… Ele sentia
que Deus o tinha chamado a uma missão e que era preciso levar essa missão até
ao fim, doesse a quem doesse… Frequentemente, temos de lidar com realidades
semelhantes. Todos experimentámos já momentos de incompreensão e de oposição
(que, muitas vezes, vêm do interior da nossa própria comunidade e que, por
isso, magoam mais). É nessas alturas que o exemplo de Paulo deve brilhar diante
dos nossos olhos e ajudar-nos a vencer o desânimo e a tentação de desistir.
• Neste texto de Paulo (como, aliás, em
quase todos os textos do apóstolo), transparece a atitude de vida de um cristão
para quem Cristo é, verdadeiramente, o centro da própria existência e que só
vive em função de Cristo… Nada mais lhe interessa senão anunciar as propostas
de Cristo e dar testemunho da graça salvadora de Cristo. Que lugar ocupa Cristo
na minha vida? Que lugar ocupa Cristo nos meus projectos, nas minhas decisões,
nas minhas opções, nas minhas atitudes?
ALELUIA – cf. Lc 4,18
Aleluia. Aleluia.
O Espírito do Senhor está sobre mim:
Ele me enviou a anunciar o Evangelho aos pobres.
Ele me enviou a anunciar o Evangelho aos pobres.
EVANGELHO – Mc 6,1-6
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
São Marcos
Naquele tempo,
Jesus dirigiu-Se à sua terra
e os discípulos acompanharam-n’O.
Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga.
Os numerosos ouvintes estavam admirados e diziam:
«De onde Lhe vem tudo isto?
Que sabedoria é esta que Lhe foi dada
e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?
Não é ele o carpinteiro, Filho de Maria,
e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?
E não estão as suas irmãs aqui entre nós?»
E ficavam perplexos a seu respeito.
Jesus disse-lhes:
«Um profeta só é desprezado na sua terra,
entre os seus parentes e em sua casa».
E não podia ali fazer qualquer milagre;
apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos.
Estava admirado com a falta de fé daquela gente.
E percorria as aldeias dos arredores, ensinando.
Jesus dirigiu-Se à sua terra
e os discípulos acompanharam-n’O.
Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga.
Os numerosos ouvintes estavam admirados e diziam:
«De onde Lhe vem tudo isto?
Que sabedoria é esta que Lhe foi dada
e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?
Não é ele o carpinteiro, Filho de Maria,
e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?
E não estão as suas irmãs aqui entre nós?»
E ficavam perplexos a seu respeito.
Jesus disse-lhes:
«Um profeta só é desprezado na sua terra,
entre os seus parentes e em sua casa».
E não podia ali fazer qualquer milagre;
apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos.
Estava admirado com a falta de fé daquela gente.
E percorria as aldeias dos arredores, ensinando.
AMBIENTE
O Evangelho de hoje fala-nos de uma visita à
“terra” de Jesus. De acordo com Mc 1,9, a “terra” de Jesus era Nazaré, uma
pequena vila da Galileia situada a 22 Km a oeste do Lago de Tiberíades. Esta
povoação tipicamente agrícola nunca teve grande importância no universo na
história do judaísmo… O Antigo Testamento ignora-a completamente; Flávio Josefo
e os escritores rabínicos também não lhe fazem qualquer referência. Os
contemporâneos de Jesus parecem conceder-lhe escassa consideração (cf. Jo
1,46). Nazaré é, no entanto, a cidade onde Jesus cresceu e onde reside a sua
família.
A cena principal que nos é relatada por Marcos passa-se na sinagoga de Nazaré, num sábado. Jesus, como qualquer outro membro da comunidade judaica, foi à sinagoga para participar no ofício sinagogal; e, fazendo uso do direito que todo o israelita adulto tinha, leu e comentou as Escrituras.
O episódio que nos é proposto integra a primeira parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 1,14-8,30). Aí, Jesus é apresentado como o Messias que proclama, por toda a Galileia, o Reino de Deus. Na secção que vai de 3,7 a 6,6, contudo, Marcos refere-se especialmente à reacção do Povo face à proclamação de Jesus… À medida que o “caminho do Reino” vai avançando, vão-se multiplicando as oposições e incompreensões face ao projecto que Jesus anuncia. O nosso texto deve ser entendido neste ambiente.
A cena principal que nos é relatada por Marcos passa-se na sinagoga de Nazaré, num sábado. Jesus, como qualquer outro membro da comunidade judaica, foi à sinagoga para participar no ofício sinagogal; e, fazendo uso do direito que todo o israelita adulto tinha, leu e comentou as Escrituras.
O episódio que nos é proposto integra a primeira parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 1,14-8,30). Aí, Jesus é apresentado como o Messias que proclama, por toda a Galileia, o Reino de Deus. Na secção que vai de 3,7 a 6,6, contudo, Marcos refere-se especialmente à reacção do Povo face à proclamação de Jesus… À medida que o “caminho do Reino” vai avançando, vão-se multiplicando as oposições e incompreensões face ao projecto que Jesus anuncia. O nosso texto deve ser entendido neste ambiente.
MENSAGEM
Os ensinamentos de Jesus na sinagoga, naquele
sábado, deixam impressionados os habitantes de Nazaré, como já tinham deixado
impressionados os fiéis da sinagoga de Cafarnaum (cf. Mc 1,21-28). No entanto,
os de Cafarnaum, depois de ouvir Jesus, reconheceram a sua autoridade mais do
que divina (e que, segundo eles, era diferente da autoridade dos doutores da
Lei); os de Nazaré vão chegar a conclusões distintas.
Depois de escutarem Jesus, na sinagoga, os seus conterrâneos traduzem a sua perplexidade através de várias perguntas… Duas das questões postas dizem respeito à origem e à qualidade dos ensinamentos de Jesus (“de onde lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que lhe foi dada?” – vers. 2); uma outra questão refere-se à qualificação das acções de Jesus (“e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?” – vers. 2).
Numa espécie de contraponto à impressão que Jesus lhes deixou, eles recordam o seu ofício e a “normalidade” da sua família (vers. 3a)… Para eles, Jesus é “o carpinteiro”: não é um “rabbi”, nunca estudou as Escrituras com nenhum mestre conceituado e não tem qualificações para dizer as coisas que diz. Por outro lado, eles conhecem a identidade da família de Jesus e não descobrem nela nada de extraordinário: Ele é o “filho de Maria” e os seus irmãos e irmãs são gente “normal”, que toda a gente conhece em Nazaré e que nunca revelaram qualidades excepcionais. Portanto, parece claro que o papel assumido por Jesus e as acções que Ele realizou são humanamente inexplicáveis.
A questão seguinte (que, no entanto, não aparece explicitamente formulada) é esta: estas capacidades extraordinárias que Jesus revela (e que não vêm certamente dos conhecimentos adquiridos no contacto com famosos mestres, nem do ambiente familiar) vêm de Deus ou do diabo? Desde o primeiro momento, os comentários dos habitantes de Nazaré deixam transparecer uma atitude negativa e um tom depreciativo na análise de Jesus. Nem sequer se referem a Jesus pelo próprio nome, mas usam sempre um pronome para falar d’Ele (Jesus é “este” ou “ele” - vers. 2-3). Depois, chamam-Lhe depreciativamente “o filho de Maria” (o costume era o filho ser conhecido em referência ao pai e não à mãe). Como cenário de fundo do pensamento dos habitantes de Nazaré está provavelmente a acusação feita a Jesus algum tempo antes pelos “doutores da Lei que haviam descido de Jerusalém e que afirmavam: «Ele tem Belzebu! É pelo chefe dos demónios que ele expulsa os demónios»“ (Mc 3,22). Marcos conclui que os habitantes de Nazaré ficaram “escandalizados” (vers. 3b) com Jesus (o verbo grego “scandalidzô”, aqui utilizado, significa muito mais do que o “ficar perplexo” das nossas traduções: significa “ofender”, “magoar”, “ferir susceptibilidades”). Há na vila uma espécie de indignação porque Jesus, apesar de ter sido desautorizado pelos mestres reconhecidos do judaísmo, continua a desenvolver a sua actividade à margem da instituição judaica. Ele põe em causa a religião tradicional, quando ensina coisas diferentes e de forma diferente dos mestres reconhecidos. Conclusão: Ele está fora da instituição judaica; o seu ensinamento não pode, portanto, vir de Deus, mas do diabo. Os conterrâneos de Jesus não conseguem reconhecer a presença de Deus naquilo que Jesus diz e faz.
Jesus responde aos seus concidadãos (vers. 4) citando um conhecido provérbio, mas que Ele modifica, em parte (o original devia soar mais ou menos assim: “nenhum profeta é respeitado no seu lugar de origem, nenhum médico faz curas entre os seus conhecidos”). Nessa resposta, Jesus assume-Se como profeta – isto é, como um enviado de Deus, que actua em nome de Deus e que tem uma mensagem de Deus para oferecer aos homens. Os ensinamentos que Jesus propõe não vêm dos mestres judaicos, mas do próprio Deus; a vida que Ele oferece é a vida plena e verdadeira que Deus quer propor aos homens.
A recusa generalizada da proposta que Jesus traz coloca-o na linha dos grandes profetas de Israel. O Povo teve sempre dificuldade em reconhecer o Deus que vinha ao seu encontro na palavra e nos gestos proféticos. O facto de as propostas apresentadas por Jesus serem rejeitadas pelos líderes, pelo povo da sua terra, pelos seus “irmãos e irmãs” e até pelos da sua casa não invalida, portanto, a sua verdade e a sua procedência divina.
Porque é que Jesus “não podia ali fazer qualquer milagre” (vers. 5)? Deus oferece aos homens, através de Jesus, perspectivas de vida nova e eterna… No entanto, os homens são livres; se eles se mantêm fechados nos seus esquemas e preconceitos egoístas e rejeitam a vida que Deus lhes oferece, Jesus não pode fazer nada. Marcos observa, apesar de tudo, que Jesus “curou alguns doentes impondo-lhes as mãos”. Provavelmente, estes “doentes” são aqueles que manifestam uma certa abertura a Jesus mas que, de qualquer forma, não têm a coragem de cortar radicalmente com os mecanismos religiosos do judaísmo para descobrir a novidade radical do Reino que Jesus anuncia.
Marcos nota ainda a “surpresa” de Jesus pela falta de fé dos seus concidadãos (vers. 6a). Esperava-se que, confrontados com a proposta nova de liberdade e de vida plena que Jesus apresenta, os seus interlocutores renunciassem à escravidão para abraçar com entusiasmo a nova realidade… No entanto, eles estão de tal forma acomodados e instalados, que preferem a vida velha da escravidão à novidade libertadora de Jesus.
Este facto decepcionante não impede, contudo, que Jesus continue a propor a Boa Nova do Reino a todos os homens (vers. 6b). Deus oferece, sem interrupção, a sua vida; ao homem resta acolher ou não esse oferecimento.
Depois de escutarem Jesus, na sinagoga, os seus conterrâneos traduzem a sua perplexidade através de várias perguntas… Duas das questões postas dizem respeito à origem e à qualidade dos ensinamentos de Jesus (“de onde lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que lhe foi dada?” – vers. 2); uma outra questão refere-se à qualificação das acções de Jesus (“e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?” – vers. 2).
Numa espécie de contraponto à impressão que Jesus lhes deixou, eles recordam o seu ofício e a “normalidade” da sua família (vers. 3a)… Para eles, Jesus é “o carpinteiro”: não é um “rabbi”, nunca estudou as Escrituras com nenhum mestre conceituado e não tem qualificações para dizer as coisas que diz. Por outro lado, eles conhecem a identidade da família de Jesus e não descobrem nela nada de extraordinário: Ele é o “filho de Maria” e os seus irmãos e irmãs são gente “normal”, que toda a gente conhece em Nazaré e que nunca revelaram qualidades excepcionais. Portanto, parece claro que o papel assumido por Jesus e as acções que Ele realizou são humanamente inexplicáveis.
A questão seguinte (que, no entanto, não aparece explicitamente formulada) é esta: estas capacidades extraordinárias que Jesus revela (e que não vêm certamente dos conhecimentos adquiridos no contacto com famosos mestres, nem do ambiente familiar) vêm de Deus ou do diabo? Desde o primeiro momento, os comentários dos habitantes de Nazaré deixam transparecer uma atitude negativa e um tom depreciativo na análise de Jesus. Nem sequer se referem a Jesus pelo próprio nome, mas usam sempre um pronome para falar d’Ele (Jesus é “este” ou “ele” - vers. 2-3). Depois, chamam-Lhe depreciativamente “o filho de Maria” (o costume era o filho ser conhecido em referência ao pai e não à mãe). Como cenário de fundo do pensamento dos habitantes de Nazaré está provavelmente a acusação feita a Jesus algum tempo antes pelos “doutores da Lei que haviam descido de Jerusalém e que afirmavam: «Ele tem Belzebu! É pelo chefe dos demónios que ele expulsa os demónios»“ (Mc 3,22). Marcos conclui que os habitantes de Nazaré ficaram “escandalizados” (vers. 3b) com Jesus (o verbo grego “scandalidzô”, aqui utilizado, significa muito mais do que o “ficar perplexo” das nossas traduções: significa “ofender”, “magoar”, “ferir susceptibilidades”). Há na vila uma espécie de indignação porque Jesus, apesar de ter sido desautorizado pelos mestres reconhecidos do judaísmo, continua a desenvolver a sua actividade à margem da instituição judaica. Ele põe em causa a religião tradicional, quando ensina coisas diferentes e de forma diferente dos mestres reconhecidos. Conclusão: Ele está fora da instituição judaica; o seu ensinamento não pode, portanto, vir de Deus, mas do diabo. Os conterrâneos de Jesus não conseguem reconhecer a presença de Deus naquilo que Jesus diz e faz.
Jesus responde aos seus concidadãos (vers. 4) citando um conhecido provérbio, mas que Ele modifica, em parte (o original devia soar mais ou menos assim: “nenhum profeta é respeitado no seu lugar de origem, nenhum médico faz curas entre os seus conhecidos”). Nessa resposta, Jesus assume-Se como profeta – isto é, como um enviado de Deus, que actua em nome de Deus e que tem uma mensagem de Deus para oferecer aos homens. Os ensinamentos que Jesus propõe não vêm dos mestres judaicos, mas do próprio Deus; a vida que Ele oferece é a vida plena e verdadeira que Deus quer propor aos homens.
A recusa generalizada da proposta que Jesus traz coloca-o na linha dos grandes profetas de Israel. O Povo teve sempre dificuldade em reconhecer o Deus que vinha ao seu encontro na palavra e nos gestos proféticos. O facto de as propostas apresentadas por Jesus serem rejeitadas pelos líderes, pelo povo da sua terra, pelos seus “irmãos e irmãs” e até pelos da sua casa não invalida, portanto, a sua verdade e a sua procedência divina.
Porque é que Jesus “não podia ali fazer qualquer milagre” (vers. 5)? Deus oferece aos homens, através de Jesus, perspectivas de vida nova e eterna… No entanto, os homens são livres; se eles se mantêm fechados nos seus esquemas e preconceitos egoístas e rejeitam a vida que Deus lhes oferece, Jesus não pode fazer nada. Marcos observa, apesar de tudo, que Jesus “curou alguns doentes impondo-lhes as mãos”. Provavelmente, estes “doentes” são aqueles que manifestam uma certa abertura a Jesus mas que, de qualquer forma, não têm a coragem de cortar radicalmente com os mecanismos religiosos do judaísmo para descobrir a novidade radical do Reino que Jesus anuncia.
Marcos nota ainda a “surpresa” de Jesus pela falta de fé dos seus concidadãos (vers. 6a). Esperava-se que, confrontados com a proposta nova de liberdade e de vida plena que Jesus apresenta, os seus interlocutores renunciassem à escravidão para abraçar com entusiasmo a nova realidade… No entanto, eles estão de tal forma acomodados e instalados, que preferem a vida velha da escravidão à novidade libertadora de Jesus.
Este facto decepcionante não impede, contudo, que Jesus continue a propor a Boa Nova do Reino a todos os homens (vers. 6b). Deus oferece, sem interrupção, a sua vida; ao homem resta acolher ou não esse oferecimento.
ACTUALIZAÇÃO
• O texto do Evangelho repete uma ideia
que aparece também nas outras duas leituras deste domingo: Deus manifesta-Se
aos homens na fraqueza e na fragilidade. Normalmente, Ele não se manifesta na
força, no poder, nas qualidades que o mundo acha brilhantes e que os homens
admiram e endeusam; mas, muitas vezes, Ele vem ao nosso encontro na fraqueza,
na simplicidade, na debilidade, na pobreza, nas situações mais simples e
banais, nas pessoas mais humildes e despretensiosas… É preciso que interiorizemos
a lógica de Deus, para que não percamos a oportunidade de O encontrar, de
perceber os seus desafios, de acolher a proposta de vida que Ele nos faz…
• Um dos elementos questionantes no
episódio que o Evangelho deste domingo nos propõe é a atitude de fechamento a
Deus e aos seus desafios, assumida pelos habitantes de Nazaré. Comodamente
instalados nas suas certezas e preconceitos, eles decidiram que sabiam tudo
sobre Deus e que Deus não podia estar no humilde carpinteiro que eles conheciam
bem… Esperavam um Deus forte e majestoso, que se havia de impor de forma
estrondosa, e assombrar os inimigos com a sua força; e Jesus não se encaixava
nesse perfil. Preferiram renunciar a Deus, do que à imagem que d’Ele tinham
construído. Há aqui um convite a não nos fecharmos nos nossos preconceitos e
esquemas mentais bem definidos e arrumados, e a purificarmos continuamente, em
diálogo com os irmãos que partilham a mesma fé, na escuta da Palavra revelada e
na oração, a nossa perspectiva acerca de Deus.
• Para os habitantes de Nazaré Jesus era
apenas “o carpinteiro” da terra, que nunca tinha estudado com grandes mestres e
que tinha uma família conhecida de todos, que não se distinguia em nada das
outras famílias que habitavam na vila; por isso, não estavam dispostos a conceder
que esse Jesus – perfeitamente conhecido, julgado e catalogado – lhes trouxesse
qualquer coisa de novo e de diferente… Isto deve fazer-nos pensar nos
preconceitos com que, por vezes, abordamos os nossos irmãos, os julgamos, os
catalogamos e etiquetamos… Seremos sempre justos na forma como julgamos os
outros? Por vezes, os nossos preconceitos não nos impedirão de acolher o irmão
e a riqueza que Ele nos traz?
• Jesus assume-Se como um profeta, isto
é, alguém a quem Deus confiou uma missão e que testemunha no meio dos seus
irmãos as propostas de Deus. A nossa identificação com Jesus faz de nós
continuadores da missão que o Pai Lhe confiou. Sentimo-nos, como Jesus,
profetas a quem Deus chamou e a quem enviou ao mundo para testemunharem a
proposta libertadora que Deus quer oferecer a todos os homens? Nas nossas
palavras e gestos ecoa, em cada momento, a proposta de salvação que Deus quer
fazer a todos os homens?
• Apesar da incompreensão dos seus
concidadãos, Jesus continuou, em absoluta fidelidade aos planos do Pai, a dar
testemunho no meio dos homens do Reino de Deus. Rejeitado em Nazaré, Ele foi,
como diz o nosso texto, percorrer as aldeias dos arredores, ensinando a
dinâmica do Reino. O testemunho que Deus nos chama a dar cumpre-se, muitas
vezes, no meio das incompreensões e oposições… Frequentemente, os discípulos de
Jesus sentem-se desanimados e frustrados porque o seu testemunho não é
entendido nem acolhido (nunca aconteceu pensarmos, depois de um trabalho
esgotante e exigente, que estivemos a perder tempo?)… A atitude de Jesus
convida-nos a nunca desanimar nem desistir: Deus tem os seus projectos e sabe
como transformar um fracasso num êxito.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 14º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 14º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 14º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. BILHETE DE EVANGELHO.
Os ouvintes estão admirados, chocados… Como poderia Jesus fazer milagres quando se punha em dúvida as suas palavras de profeta e os seus actos de salvador? Com efeito, os seus conterrâneos olham-n’O apenas com os olhos de carne, só vêem n’Ele o filho do carpinteiro com quem tinham jogado, trabalhado, escutado a lei na sinagoga… Não reconhecem n’Ele o enviado de Deus. Falta-lhes o olhar da fé para ler no seu ensino a mensagem de Deus e nos seus milagres sinais do Todo-Poderoso. E quanto a nós, como está o nosso olhar de fé, ao vermos Jesus e os seus sinais de salvação?
Os ouvintes estão admirados, chocados… Como poderia Jesus fazer milagres quando se punha em dúvida as suas palavras de profeta e os seus actos de salvador? Com efeito, os seus conterrâneos olham-n’O apenas com os olhos de carne, só vêem n’Ele o filho do carpinteiro com quem tinham jogado, trabalhado, escutado a lei na sinagoga… Não reconhecem n’Ele o enviado de Deus. Falta-lhes o olhar da fé para ler no seu ensino a mensagem de Deus e nos seus milagres sinais do Todo-Poderoso. E quanto a nós, como está o nosso olhar de fé, ao vermos Jesus e os seus sinais de salvação?
3. À ESCUTA DA PALAVRA.
Testemunho profético… Afinal, o que é um profeta? A ideia mais espalhada é que é alguém que prevê e anuncia o futuro. Esses profetas não faltam hoje… Ora, como Ezequiel, o verdadeiro profeta está habitado, em primeiro lugar, pelo Espírito Santo, para ser em seguida enviado aos seus irmãos em humanidade e lhes anunciar a Palavra de Deus. Mas não se trata de uma missão de descanso! A Palavra de Deus inquieta sempre, porque convida os homens a descentrarem-se de si mesmos. Ezequiel é enviado a um povo de rebeldes, que têm o rosto duro e o coração obstinado. Nestas circunstâncias, não é fácil fazer-se ouvir. A missão do profeta não é prazer. Jesus fez a experiência… Basta ver a atitude dos seus conterrâneos… A própria família tinha tentado impedi-lo de falar. Ora, pelo nosso baptismo e confirmação, todos somos chamados a ser profetas, a deixarmo-nos habitar pelo Espírito, pela Palavra de Deus, para nos tornarmos arautos e testemunhas onde vivemos. O Concílio Vaticano II, recuperando esta missão profética dos baptizados, declara que estes últimos recebem todos o sentido da fé e a graça da palavra, a fim de que brilhe na sua vida quotidiana a força do Evangelho. Os cristãos não devem esconder este testemunho e esta palavra no segredo do seu coração, mas devem exprimi-lo também através das estruturas da vida do mundo. Há que tomar a sério esta missão profética!
Testemunho profético… Afinal, o que é um profeta? A ideia mais espalhada é que é alguém que prevê e anuncia o futuro. Esses profetas não faltam hoje… Ora, como Ezequiel, o verdadeiro profeta está habitado, em primeiro lugar, pelo Espírito Santo, para ser em seguida enviado aos seus irmãos em humanidade e lhes anunciar a Palavra de Deus. Mas não se trata de uma missão de descanso! A Palavra de Deus inquieta sempre, porque convida os homens a descentrarem-se de si mesmos. Ezequiel é enviado a um povo de rebeldes, que têm o rosto duro e o coração obstinado. Nestas circunstâncias, não é fácil fazer-se ouvir. A missão do profeta não é prazer. Jesus fez a experiência… Basta ver a atitude dos seus conterrâneos… A própria família tinha tentado impedi-lo de falar. Ora, pelo nosso baptismo e confirmação, todos somos chamados a ser profetas, a deixarmo-nos habitar pelo Espírito, pela Palavra de Deus, para nos tornarmos arautos e testemunhas onde vivemos. O Concílio Vaticano II, recuperando esta missão profética dos baptizados, declara que estes últimos recebem todos o sentido da fé e a graça da palavra, a fim de que brilhe na sua vida quotidiana a força do Evangelho. Os cristãos não devem esconder este testemunho e esta palavra no segredo do seu coração, mas devem exprimi-lo também através das estruturas da vida do mundo. Há que tomar a sério esta missão profética!
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
A cada um o seu chamamento… Cada um de nós pode reflectir qual é o chamamento pessoal do Senhor, à volta de três palavras: vocação – graça – dificuldades. Qual é a minha vocação, a que é que Deus me chama, aonde me envia? Como se manifesta em mim a sua graça? Quais as dificuldades que encontro, como as ultrapassar? Viveremos então, no recomeço do ano, um novo início de caminhada.
A cada um o seu chamamento… Cada um de nós pode reflectir qual é o chamamento pessoal do Senhor, à volta de três palavras: vocação – graça – dificuldades. Qual é a minha vocação, a que é que Deus me chama, aonde me envia? Como se manifesta em mim a sua graça? Quais as dificuldades que encontro, como as ultrapassar? Viveremos então, no recomeço do ano, um novo início de caminhada.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
scj.lu@netcabo.pt – www.dehonianos.o
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