15/06/2015
Tempo Comum -
Anos Ímpares - XI Semana - Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: 2 Coríntios 6, 1-10
Irmãos: como colaboradores de Deus,
exortamo-vos a não receber em vão a graça de Deus. 2Pois Ele diz: No tempo
favorável, ouvi-te e, no dia da salvação, vim em teu auxílio. É este o tempo
favorável, é este o dia da salvação. 3Não damos em nada qualquer motivo de
escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado. 4Ao contrário,
em tudo nos recomendamos como ministros de Deus, com muita paciência nas
tribulações,nas necessidades e nas angústias, 5nos açoites e nas prisões, nos
tumultos e nas fadigas,nas vigílias e nos jejuns, 6pela pureza e pela ciência,
pela magnanimidade e pela bondade, pelo Espírito Santo e pelo amor sem
fingimento, 7pela palavra da verdade e pelo poder de Deus, pelas armas
ofensivas e defensivas da justiça; 8na honra e na desonra, na má e na boa fama;
tidos por impostores e, no entanto, verdadeiros; 9por desconhecidos e, no
entanto, bem conhecidos; por agonizantes e, no entanto, eis-nos com vida; por
condenados e, no entanto, livres da morte; 10por tristes, nós que estamos sempre
alegres; por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no
entanto, tudo possuindo.
Paulo, como colaborador de Deus, declara agir
«como embaixador de Cristo», como se Deus exortasse servindo-se dele (cf. 2 Cor
5, 20.). Estas palavras do Apóstolo deixam-nos entrever o seu método de
evangelização: não actua por iniciativa própria, mas porque foi habilitado por
Deus. A robustez do seu serviço ao evangelho vem da autoridade de Deus, e
amadurece no brio com que o exerce. A autoridade e o brio do Paulo estão
patentes no esboço autobiográfico do «servo do Evangelho».
Evangelho: Mateus 5, 38-42
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 38«Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente. 39Eu,
porém, digo-vos: Não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na
face direita, oferece-lhe também a outra. 40Se alguém quiser litigar contigo
para te tirar a túnica, dá-lhe também a capa. 41E se alguém te obrigar a
acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas. 42Dá a quem te pede e não
voltes as costas a quem te pedir emprestado.»
A quinta antítese consiste na chamada «lei de
Talião» (Ex 21, 24; Lv 14, 19s.; Dt 19, 21). Essa lei, que já encontramos no
Código de Hamurabi (séc. XVIII a. C.), foi necessária numa cultura em que a
vingança não tinha limite. Baseava-se no princípio da retribuição e na
exigência de reparação. Quando foi dada, era uma lei «progressista», pois punha
freio à retorsão (cf. Gn 4, 23s.). Não deve ser julgada à luz do Evangelho. Os
próprios judeus se sentiam embaraçados perante tão horrendo princípio. Por
isso, em vez de a aplicarem à letra, substituíam-na por sanções pecuniárias.
Jesus ensina a ser longânimes, a não responder com a vingança ou com a intolerância às ofensas. Assim se quebra a espiral da violência e da prepotência. Isto vale também quando é posta em causa a nossa integridade física e a integridade dos nossos bens, a começar pelo tempo: a capa (v. 40) servia para se defender das intempéries e para cobrir o corpo durante as horas de repouso; a milha (v. 41) era o caminho permitido em dia de sábado. Paulo retomará este ensinamento de Cristo e escreverá: «Não pagueis a ninguém o mal com o mal… Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem» (Rm 12, 17.21).
Estas exigências de Jesus não são contrárias à ordem que deve existir na sociedade. Ele próprio dá o exemplo: pede explicações a quem lhe bateu (Mc 14, 48; Jo 18, 23) e sofre a humilhação; Paulo, para se defender da injustiça, invoca a sua qualidade de cidadão romano, recorrendo mesmo ao supremo tribunal, a César. Uma coisa é a defesa dos próprios direitos, outra é a violência, a intolerância.
Jesus ensina a ser longânimes, a não responder com a vingança ou com a intolerância às ofensas. Assim se quebra a espiral da violência e da prepotência. Isto vale também quando é posta em causa a nossa integridade física e a integridade dos nossos bens, a começar pelo tempo: a capa (v. 40) servia para se defender das intempéries e para cobrir o corpo durante as horas de repouso; a milha (v. 41) era o caminho permitido em dia de sábado. Paulo retomará este ensinamento de Cristo e escreverá: «Não pagueis a ninguém o mal com o mal… Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem» (Rm 12, 17.21).
Estas exigências de Jesus não são contrárias à ordem que deve existir na sociedade. Ele próprio dá o exemplo: pede explicações a quem lhe bateu (Mc 14, 48; Jo 18, 23) e sofre a humilhação; Paulo, para se defender da injustiça, invoca a sua qualidade de cidadão romano, recorrendo mesmo ao supremo tribunal, a César. Uma coisa é a defesa dos próprios direitos, outra é a violência, a intolerância.
Meditatio
Paulo apresenta-se como um homem de
contrastes, simultaneamente lutador e hipersensível. Os seus escritos são, por
vezes, bastante difíceis de compreender exactamente por causa da insistência nos
contrastes, nos paradoxos, com que não só procura evidenciar o aspecto
desconcertante do mistério de Cristo, mas também como apresenta a sua vida de
discípulo e de apóstolo. No texto que escutamos aparecem-nos vários desses
contrastes referentes à sua vida e acção apostólica: somos tidos por impostores
e, no entanto, verdadeiros; por desconhecidos e, no entanto, bem conhecidos;
por agonizantes e, no entanto, eis-nos com vida; por condenados e, no entanto,
livres da morte; por tristes, nós que estamos sempre alegres; por pobres, nós
que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo (vv.
8-10). É assim a vida do cristão, particularmente daquele que mais directamente
se empenha no apostolado. O temperamento de Paulo era especialmente adequado
para ilustrar a situação extraordinária do cristão neste mundo, situação tantas
vezes marcada por contrastes e oposições. Em todas essas situações, o Apóstolo
revela transparência, sabedoria, tolerância, sinceridade, amor. É o estilo do
homem evangélico vencedor, capaz de perder algo de si mesmo, ou que lhe
pertence, para beneficiar a muitos. É a “cultura” do discípulo de Jesus, que
sabe carregar a cruz como momento favorável, como dia de salvação.
No evangelho, Jesus convida os discípulos a viveram de modo desconcertante. Em vez de responderem ao mal com o mal, que é a reacção mais espontânea, até codificada no Antigo Testamento (“Olho por olho, dente por dente”), os discípulos devem contrapor ao mal o bem. É o contraste fundamental. «Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra» (v. 39). Pode parecer uma atitude estúpida. Mas é profundamente cristã. S. Paulo vê-a como coisa divina.
«Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado» (v. 42). Quando damos algo aos outros, não o retiramos da nossa riqueza. Poderíamos orgulhar-nos ou fazer pesar a nossa “generosidade” sobre aqueles a quem damos. Damos da nossa pobreza. Assim mantemo-nos humildes, pois, se ajudamos os outros, é por graça de Deus que o fazemos. É o paradoxo da vida apostólica e espiritual. O Senhor deixa-nos na nossa pobreza, na nossa humildade. Mas é aí, em mais uma situação paradoxal, que se manifesta o seu poder! Embora «pobres, enriquecemos a muitos», porque deixamos Deus actuar na nossa pobreza. Quem é pobre, não é pobre só porque reduz ao mínimo as suas exigências, mas porque tem muito para dar aos outros. A generosidade do dom é a medida da nossa pobreza. Permanecer pobres, usando muitos bens, é o testemunho de muitos santos, que realizaram obras grandiosas; é um dos testemunhos mais necessários na nossa sociedade de bem-estar, onde a abundância dos bens, em vez de abrir os corações à generosidade, muitas vezes os fecha, encerrando cada vez mais os homens no seu egoísmo.
Há religiosos que, por especial vocação, se sentem impelidos a servir Cristo Pobre, partilhando a condição social dos pobres (cf. Cst 50), e contentando-se com o que os pobres têm. Partilhando a vida dos sem recursos, a sua insegurança, as suas privações, demonstram que nenhuma situação social é pobre de bens espirituais e que a bondade de Deus até se inclina sobre os pobres com predilecção. Realiza-se, deste modo, a palavra do Senhor: «Bem-aventurados, vós, os pobres...» (Lc 6, 20). Será um anúncio credível e convincente, se o religioso que o proclama, demonstra, com a sua pobreza, que é bem-aventurado, porque é testemunho vivo de Cristo Pobre, que tem predilecção pelos pobres e se faz uma só coisa com eles. «A nossa predilecção irá para aqueles que têm maior necessidade de ser considerados e amados: estamos todos solidários com os nossos irmãos que se consagram ao seu serviço» (Cst 51).
No evangelho, Jesus convida os discípulos a viveram de modo desconcertante. Em vez de responderem ao mal com o mal, que é a reacção mais espontânea, até codificada no Antigo Testamento (“Olho por olho, dente por dente”), os discípulos devem contrapor ao mal o bem. É o contraste fundamental. «Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra» (v. 39). Pode parecer uma atitude estúpida. Mas é profundamente cristã. S. Paulo vê-a como coisa divina.
«Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado» (v. 42). Quando damos algo aos outros, não o retiramos da nossa riqueza. Poderíamos orgulhar-nos ou fazer pesar a nossa “generosidade” sobre aqueles a quem damos. Damos da nossa pobreza. Assim mantemo-nos humildes, pois, se ajudamos os outros, é por graça de Deus que o fazemos. É o paradoxo da vida apostólica e espiritual. O Senhor deixa-nos na nossa pobreza, na nossa humildade. Mas é aí, em mais uma situação paradoxal, que se manifesta o seu poder! Embora «pobres, enriquecemos a muitos», porque deixamos Deus actuar na nossa pobreza. Quem é pobre, não é pobre só porque reduz ao mínimo as suas exigências, mas porque tem muito para dar aos outros. A generosidade do dom é a medida da nossa pobreza. Permanecer pobres, usando muitos bens, é o testemunho de muitos santos, que realizaram obras grandiosas; é um dos testemunhos mais necessários na nossa sociedade de bem-estar, onde a abundância dos bens, em vez de abrir os corações à generosidade, muitas vezes os fecha, encerrando cada vez mais os homens no seu egoísmo.
Há religiosos que, por especial vocação, se sentem impelidos a servir Cristo Pobre, partilhando a condição social dos pobres (cf. Cst 50), e contentando-se com o que os pobres têm. Partilhando a vida dos sem recursos, a sua insegurança, as suas privações, demonstram que nenhuma situação social é pobre de bens espirituais e que a bondade de Deus até se inclina sobre os pobres com predilecção. Realiza-se, deste modo, a palavra do Senhor: «Bem-aventurados, vós, os pobres...» (Lc 6, 20). Será um anúncio credível e convincente, se o religioso que o proclama, demonstra, com a sua pobreza, que é bem-aventurado, porque é testemunho vivo de Cristo Pobre, que tem predilecção pelos pobres e se faz uma só coisa com eles. «A nossa predilecção irá para aqueles que têm maior necessidade de ser considerados e amados: estamos todos solidários com os nossos irmãos que se consagram ao seu serviço» (Cst 51).
Oratio
Louvado sejas, Senhor, porque nos mostras que,
todo e qualquer momento, toda e qualquer situação é favorável ao amadurecimento
da tua graça. Louvado sejas porque estás connosco, tanto nas situações e nos
tempos de alegria, como nas situações e tempos de sofrimento.
Ensina-nos a proclamar sempre a tua misericórdia para com todos. Ajuda-nos a viver de tal modo que jamais demos escândalo a quem quer que seja, para que não criemos obstáculos à eficácia do teu amor e da tua palavra.
Que tudo quanto dermos seja fruto e expressão da nossa pobreza solidária e da tua graça providente e generosa. Amen.
Ensina-nos a proclamar sempre a tua misericórdia para com todos. Ajuda-nos a viver de tal modo que jamais demos escândalo a quem quer que seja, para que não criemos obstáculos à eficácia do teu amor e da tua palavra.
Que tudo quanto dermos seja fruto e expressão da nossa pobreza solidária e da tua graça providente e generosa. Amen.
Contemplatio
Dai facilmente, diz-nos Nosso Senhor, e emprestai
também facilmente. A perfeição será mesmo quando vos não lamentardes se sois
roubados (Mt 5, 42). Amai mesmo aqueles que vos perseguem e vos caluniam e
rezai por eles. Se amardes apenas aqueles que vos fazem bem, os pagãos também
fazem isso. Sede perfeitos como o vosso Pai celeste, que é bom para com todos,
mesmo para com os ingratos e os maus; e faz levantar «o sol e descer a chuva
sobre todos, sobre os bons e sobre os maus», sobre os injustos e sobre os
pecadores (Lc 6). Não deis a ninguém o mal pelo mal, diz-nos S. Paulo, tende
cuidado de fazer o bem, não somente diante de Deus, mas diante de todos os
homens. Vivei em paz, se isso for possível e tanto quanto dependa de vós, com
todos os homens… Se o vosso inimigo tiver fome, dai-lhe de comer… (Rm 12, 17).
Dai esmola sem ostentação. Sabeis, diz S. Paulo, qual foi a caridade de Nosso
Senhor Jesus Cristo, o qual, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, a fim de
vos enriquecer com a sua pobreza (2Cor 8, 9). É o Coração de Jesus quem fala em
todas estas prescrições e todos estes conselhos sobre a caridade fraterna. Aí
está todo o espírito do Evangelho que é totalmente oposto ao do paganismo. A
revelação do Sagrado Coração veio dar ainda um incremento novo à fraternidade
cristã. (Leão Dehon, OSP4, p. 67s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra
«Não recebais em vão a graça de Deus» (2 Cor 6, 1).
«Não recebais em vão a graça de Deus» (2 Cor 6, 1).
Nenhum comentário:
Postar um comentário