O
martirológio jeronimiano do século VI coloca no dia 3 de Julho a transladação
do corpo de S. Tomé para Edessa, na atual Turquia. Este apóstolo, também
chamado Dídimo, é-nos dado a conhecer sobretudo por S. João evangelista. É Tomé
que convida os outros apóstolos a acompanharem Jesus para a Judeia, para
morrerem com Ele (Jo 11, 16). É a pergunta de Tomé que leva Jesus a definir-se:
“
Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida.” (Jo 14, 5s.). Finalmente, Tome, com a sua
incredulidade, ajuda-nos a fortalecer a nossa adesão a Jesus, por meio de uma
profissão de fé muito clara: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 24-29).Como
escreve S. Gregório Magno, “A incredulidade de Tomé foi mais útil à nossa fé do
que a fé dos discípulos crentes”. Após o Pentecostes, partiu em missão. Mas não
temos dados precisos acerca do seu apostolado.
Lectio
Primeira
leitura: Efésios 2, 19-22
Irmãos: Já não sois
estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa
de Deus, 20edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos
Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. 21É
nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo,
no Senhor. 22É nele que também vós sois integrados na
construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito.
Para Paulo, Cristo é a
nossa paz. Por isso, na Igreja, não fazem sentido as divisões, as
discriminações, as discórdias. Em Cristo, fomos todos reconciliados e unidos,
seja que tenhamos vindo de longe, como os pagãos, seja que tenhamos vindo de
mais perto, como os judeus. Já não existem dois povos, mas um só povo. Tudo
isto é dom de Deus Pai, por meio de Cristo Senhor, no Espírito Santo. A Igreja
é como que um grande edifício, um templo santo, onde habita Deus. Os Apóstolos
e os Profetas são fundamento desse edifício onde todos estamos e vivemos como
“concidadãos dos santos e membros da casa de Deus” (v. 19), e que tem Cristo
como “pedra angular”.
Evangelho:
João 20, 24-29
Naquele tempo, Tomé,
um dos Doze, a quem chamavam o Gémeo, não estava com eles quando Jesus veio. 25Diziam-lhe os outros
discípulos: «Vimos o Senhor!» Mas ele respondeu-lhes: «Se eu não vir o sinal
dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a
minha mão no seu peito, não acredito.» 26Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez
dentro de casa e Tomé com eles. Estando as portas fechadas, Jesus veio, pôs-se
no meio deles e disse: «A paz seja convosco!» 27Depois, disse a Tomé: «Olha as minhas mãos: chega cá
o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas
fiel.» 28Tomé
respondeu-lhe: «Meu Senhor e meu Deus!»29Disse-lhe Jesus: «Porque me viste, acreditaste. Felizes os
que crêem sem terem visto!»
A incredulidade de
Tomé, como referimos na introdução a esta festa, citando S. Gregório Magno, foi
“mais útil à nossa fé do que a fé dos discípulos crentes”. Aproveitando o
episódio, João abre diante de nós uma pista nova para chegarmos à libertadora
experiência da fé em Jesus ressuscitado. Na aparição seguinte aos seus
discípulos, Jesus convida Tomé a percorrer o caminho de busca, que os seus
colegas já tinham feito. Tomé, disponível e dócil à ordem de Jesus, chega a um
ato de fé claro e convicto: “Meu Senhor e meu Deus!” (v. 28). A
bem-aventurança, que Jesus proclama em seguida, dirige-se a nós que,
percorrendo um itinerário de fé, em atitude de completo abandono, chegamos a
Jesus morto e ressuscitado.
Meditatio
No episódio narrado no
evangelho, Tomé não é, certamente, um modelo para nós. Jesus di-lo claramente:
“Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!” (v. 29).
Mas, como já referimos, a sua incredulidade foi útil para nós.
O que mais impressiona
é que Tomé acompanhara Jesus, tal como os outros apóstolos. Conhecia bem o seu
rosto e as suas palavras. Mas, agora, para acreditar, quer ver os sinais da
Paixão: “Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo
nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito.” (v. 25). Mas,
exatamente nisto, Tomé torna-se modelo para nós, pois sabe discernir o que
carateriza Jesus. Depois da Paixão, Jesus é caraterizado pelas suas chagas.
Esses sinais do seu amor são suficientes para O reconhecermos. Por isso, as
conserva na sua carne gloriosa: “Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo!
Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.” (v.
27). Tomé, podemos dizê-lo, foi o primeiro devoto do Coração de Jesus. Quis
contatar, também fisicamente, com esse Coração trespassado por nosso amor.
Quantos cristãos contemplaram o Lado aberto e o Coração trespassado de Jesus. O
P. Dehon compara-o ao livro escrito por fora e por dentro, referido no
Apocalipse, e que nos fala só de amor.
A contemplação do Lado
aberto e do Coração de Jesus levou Tomé à sua fortíssima expressão de fé: “Meu
Senhor e meu Deus!” (v. 28). Que essa mesma contemplação do mais expressivo
sinal do amor do nosso Salvador nos leve a uma fé clara, decidida, forte,
apostólica.
Oratio
Meu Senhor e meu Deus!
Quero tirar das vossas chagas a bebida da salvação. Sede condescendente comigo
como fostes com S. Tomé. Emprestai-me as vossas mãos e os vossos pés para que
aí cole os meus lábios. Tenho tanta necessidade de forças. Ousarei mesmo
aproximar-me do vosso Coração para dele tirar o arrependimento e o fervor.
Perdoai-me! (Leão Dehon, OSP 3, p. 297).
Contemplatio
S. Tomé exprimiu a sua
fé: «Meu Senhor e meu Deus!». Meu Senhor, é o Filho do homem, é o Cristo, é o
Messias. Meu Deus, é o Filho de Deus, é o Verbo incarnado. A fé é completa e
explícita. «Tu és feliz, Tomé, diz-lhe Nosso Senhor, viste e acreditaste; mas
mais felizes, isto é, mais meritórios, serão os que acreditarem sem terem
visto». Eu devia ser destes, Senhor. Não vi as chagas, mas tenho tantos motivos
de fé: o testemunho do Evangelho, a Igreja e as suas graças, os santos, a ação
sobrenatural sempre viva na Igreja. E não toquei, por assim dizer, com o dedo a
vossa ação e a vossa graça, em mil circunstâncias da minha vida, seja em mim
mesmo seja nas almas com as quais estive em contacto? Não seria mais culpado do
que Tomé, se não tivesse uma fé viva? E porque é que a minha fé é ainda tão
fraca, tão inerte e quase morta? Creio, mas vivo como se não tivesse fé. Quero
hoje pedir o milagre da minha conversão às cinco chagas. Contemplo-as em
espírito. Aproximo delas os meus lábios. Queria beber nestas fontes de água
vivificante de que fala S. João. (Leão Dehon, OSP 3, p. 296s.).
Actio
Repete muitas vezes e
vive hoje a palavra:
“Meu Senhor e meu
Deus!” (Jo 20, 28).
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S. Tomé, Apóstolo (03
Julho)
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