SÃO MATIAS – SÁBADO 14/05/2016
1ª Leitura Atos 1, 15 – 17. 20-26
Salmo 112 (113), 8 “Entre os príncipes, fazê-lo
sentar junto aos grandes do seu povo”
Evangelho
João 15, 9-17
Ás vezes
quando me deparo com o evangelho de São João, apelo para o meu imaginário grupo
de debates onde o Maneco, membro de uma comunidade das mais simples, replica,
logo após a conclusão “Eta que esse tal de João gosta de complicar, porque não
vai direto ao assunto?” Já o Ernesto, que é encarregado em uma empresa, gosta
de ver o jeito de Jesus falar com os discípulos nesse evangelho, “Esse Jesus é
dos meus, lá na fábrica é assim que eu digo para a minha turma “Se quiser ser
meu amigo, faça o que eu mando”. Confesso que tomei um susto, não tinha
reparado que o versículo 14 é exatamente assim “Vós sois meus amigos, se
fizerdes o que vos mando”.
Esta não é
uma frase solta no meio do texto, mas há sempre o perigo de se fazer uma
leitura fundamentalista da Palavra de Deus, pois o meu irmão de grupo gosta de
ser mandão na comunidade, porque é essa a sua rotina na empresa, e assim ele se
identifica com Jesus, que nessa frase parece mesmo ser “mandão” e autoritário,
bem do tipo, se não for pra fazer do meu jeito, então não quero. Entretanto o
ensinamento é outro... Foi quando Dona Maria, que trabalha de doméstica há
muito tempo, fez uma observação interessante, que eu nem havia pensado. “O
senhor me desculpe, pode ser que vou falar bobagem, porque não tenho estudo de
teologia, mal fiz o antigo ginásio, mas parece que Jesus diz aí, que ele nos
trata como amigos e não como servos, mas o gozado é que ele mesmo falou em um
outro evangelho, que veio para servir e não para ser servido, quem serve é
servo”.
Dona Maria não
quer nem saber se o jeito de João escrever seu evangelho é diferente dos
sinóticos, mas parece que “matou em cima” a questão intrigante. Na relação de
trabalho, quem serve é quem é mandado, na comunidade enquanto igreja, quem
serve é aquele que ama. Diante dessa observação feita ao grupo, levantou-se o
“Mota” pessoa que na paróquia é o responsável em buscar as hóstias e partículas
no Mosteiro das irmãs. “Óia gente, andei contando por curiosidade e vi que só
nesse evangelho, João escreveu nove vezes o verbo amar, acho que isso quer
dizer alguma coisa” Parece que o Mota “mordeu a isca” -- pensei com meus botões
- Quem experimentou tão intensamente e de maneira profunda, o amor de Deus
manifestado em Jesus de Nazaré, não vai mais falar de outra coisa na vida, que
não seja desse amor, não é atoa que o evangelho o chama de “Aquele discípulo
que Jesus amava”, não porque o Senhor o amava mais que aos outros, mas porque
ele, o discípulo, compreendeu que Jesus é o Amor do Pai manifestado entre os
homens, não só compreendeu, mas experimentou, e esta manifestação não é
exclusiva para alguém, mas a todos os homens.
Roseli, uma
jovem que também integra o nosso grupo, e que anda nas nuvens porque está
namorando um catequista da comunidade, fez um comentário belíssimo “Então a
gente pode dizer que Jesus é o amor ESCANCARADO de Deus para os homens!”.
Escancarado é aquilo que não se tem como esconder, não dá para disfarçar, como
os olhos brilhantes da Roseli, quando está perto do namorado. Quem se sente
amado por alguém, não tem como disfarçar a alegria, o bem que a outra pessoa
lhe faz, só de estar perto, e aqui dá para entender a expressão “Eu vos digo
isso, para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja plena”.
A descoberta
de que Deus nos ama tanto, e de maneira apaixonada em Jesus, faz a gente se
tocar, a vida ganha um novo sentido, um novo horizonte se descortina, pois há
uma palavra chave em João, que nos permite sonhar esse sonho realizável, que é
ser feliz plenamente. Permanecei em mim. Permanecei no meu amor. Quem ama quer
o outro sempre junto, e aqui, o poder de Deus torna-se frágil diante da
liberdade humana, Deus não pode nos manter junto dele, sem o nosso
consentimento, sem a nossa vontade! Cá entre nós, sei que é isso que acontece
com a Roseli, que se encantou com o moço da catequese, eles até estão
namorando, mas a verdade é que ele, embora muito sério, não está muito afim da
coitada, mas para não magoá-la, mantém o namoro, e o pior é que um dia, uma amiga
confidenciou à Roseli essa verdade, e para espanto da outra, a Roseli disse
simplesmente “Não tem problema, eu só quero amá-lo, não precisa que ele me
ame”.
Pronto,
chegamos a um ponto culminante da nossa reflexão, Deus quer e sempre quis, e
sempre vai querer nos amar, mesmo que não seja correspondido, o seu amor Ágape
é o amor oblativo, é o verdadeiro e único amor, enquanto que o nosso jeito de
amar é ainda tão pequeno, não passa do amor Filia. Afinal, quem é que
conseguiria retribuir a altura, todo esse amor e ternura, que Jesus Cristo tem
por cada um de nós? Esta é uma dívida impagável...
Entretanto
há algo que podemos fazer, que está ao nosso alcance, e que faz com que Deus se
sinta correspondido em seu amor... “Amais-vos uns aos outros, assim como eu vos
amei”. O “ASSIM COMO...” não é uma exigência que o nosso amor seja perfeito
como o dele, mas se refere a gratuidade e incondicionalidade, se amarmos desse
jeito as pessoas, já está de muito bom tamanho.
Amar assim é
ir além da FILIA, é meio caminho andado para o AMOR ágape. Permanecer em Cristo
e no seu amor, é viver de tal forma a comunhão com ele, que o nosso jeito de
ser, de viver e de amar, acaba refletindo para o próximo, o próprio Cristo. E
assim, em nosso amor tão frágil, as pessoas descobrirão a fonte do verdadeiro
amor, que é Jesus Cristo, foi isso que aconteceu com João, e que revolucionou a
sua vida, ele olhou para Jesus, e descobriu nele o Amor de Deus, por isso deu
com a boca no trombone e saiu falando aos quatro cantos.
Diácono José
da Cruz
Paróquia
Nossa Senhora Consolata – Votorantim SP
E-mail
cruzsm@uol.com.br
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