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segunda-feira, 30 de maio de 2016

A doação da viúva-Dehonianos

04/06/2016
Tempo Comum - Anos Pares
IX Semana - Sábado
Lectio
Primeira leitura: 2 Timóteo 4, 1-8
Caríssimo: 1Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há-de julgar os vivos e os mortos, peço-te encarecidamente, pela sua vinda e pelo seu Reino: 2proclama a palavra, insiste em tempo propício e fora dele, convence, repreende, exorta com toda a compreensão e competência. 3Virão tempos em que o ensinamento salutar não será aceite, mas as pessoas acumularão mestres que lhes encham os ouvidos, de acordo com os próprios desejos. 4Desviarão os ouvidos da verdade e divagarão ao sabor de fábulas. 5Tu, porém, controla-te em tudo, suporta as adversidades, dedica-te ao trabalho do Evangelho e desempenha com esmero o teu ministério. 6Quanto a mim, já estou pronto para oferecer-me como sacrifício; avizinha-se o tempo da minha libertação. 7Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel. 8A partir de agora, já me aguarda a merecida coroa, que me entregará, naquele dia, o Senhor, justo juiz, e não somente a mim, mas a todos os que anseiam pela sua vinda.
Paulo sente-se no crepúsculo da vida: «avizinha-se o tempo da minha libertação» (v. 7). O testo que hoje escutamos é a parte mais comovedora do testamento espiritual, que muitos vêem na Segunda Carta a Timóteo. O Apóstolo, por um lado, está consciente dos perigos que rondam a comunidade, e por outro, como dissemos, sabe que o seu fim se aproxima. E então esconjura o seu discípulo Timóteo a que nada deixe ao acaso, para anunciar a todos o Evangelho: «Tu, porém, controla-te em tudo, suporta as adversidades, dedica-te ao trabalho do Evangelho e desempenha com esmero o teu ministério» (v. 5). Timóteo deve sentir-se responsável pelo anúncio da Boa Nova, porque é da escuta da Palavra que vem a salvação (cf. Rm 10, 17). Os tempos são difíceis, é verdade. A Palavra corre o risco de ser sufocada por «fábulas». O prurido das novidades pode prevalecer sobre a escuta da verdade. Mas Timóteo, e todo aquele que está à frente de uma comunidade cristã, não podem baixar os braços. Devem, sim, vigiar, saber suportar, insistir, avisar, repreender, cumprir a missão de arautos do Evangelho até ao fim, até dar a vida, como Paulo.
O Apóstolo sabe que o seu fim se aproxima. Mas isso não o entristece. Como um atleta que já avista a meta, e a vitória, Paulo está cheio de alegria. A sua vida vai ser oferecida em sacrifício de amor a Deus, tal como a vida de Jesus. É bom viver e morrer em oblação pela salvação dos outros. É bom regressar ao Pai depois de ter realizado a missão recebida. Paulo faz da sua fidelidade um veemente apelo à de Timóteo. Se conservar fielmente o depósito da fé que lhe foi confiado, receberá «a merecida coroa», resposta de amor do Senhor àqueles que «anseiam pela sua vinda» (v. 8). Todas estas exortações de Paulo brotam, como verificamos, de uma experiência profunda e dolorosa: está prestes a ser sacrificado e tem a consciência tranquila, porque observou as regras de combate expostas a Timóteo.

Segunda leitura: Marcos 12, 38-44
Naquele tempo, 38continuando o seu ensinamento, Jesus dizia: «Tomai cuidado com os doutores da Lei, que gostam de exibir longas vestes, de ser cumprimentados nas praças, 39de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes; 40eles devoram as casas das viúvas a pretexto de longas orações. Esses receberão uma sentença mais severa.»
41Estando sentado em frente do tesouro, observava como a multidão deitava moedas. Muitos ricos deitavam muitas. 42Mas veio uma viúva pobre e deitou duas moedinhas, uns tostões. 43Chamando os discípulos, disse: «Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou no tesouro mais do que todos os outros; 44porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo quanto possuía, todo o seu sustento.»
Jesus aponta duas atitudes erradas nos escribas: a vaidade e a hipocrisia. A vaidade revela-se nas longas vestes, no prazer em ser cumprimentados publicamente, na presunção de ocupar sempre os primeiros lugares. A hipocrisia revela-se em ostentarem grande devoção, prolongando os tempos de oração comum, só para darem nas vistas. A sua pretensa religiosidade torna-se ainda mais escandalosa quando não revelam qualquer pudor na opressão dos fracos e dos indefesos. Os escribas são homens impuros, incapazes de fazerem dom de si mesmos a Deus e ao próximo. Mesmo quando oferecem avultadas quantias ao templo, apenas revelam o seu egoísmo e a convicção de que são indispensáveis à causa de Deus. A viúva pobre, pelo contrário, lançou no tesouro do templo duas moedinhas, uns cêntimos. Mas «deitou tudo quanto possuía» (v. 44). Não julgava fazer uma grande oferta, nem «ajudar» a Deus. Mas tinha um coração puro. Amava a Deus e entregava-se a Ele completamente. É por isso que Jesus a apresenta aos discípulos como exemplo.

Meditatio
A primeira leitura e o evangelho, que hoje escutamos, completam-se reciprocamente. Paulo põe de sobreaviso Timóteo, e a comunidade a que preside, para o perigo de se deixarem levar por «mestres que lhes encham os ouvidos, de acordo com os próprios desejos» (v. 3). Por outras palavras, Paulo previne Timóteo, e a sua comunidade, contra a vã curiosidade nas leituras, nos divertimentos e nas doutrinas. No evangelho, Jesus fala de mestres que procuram satisfazer a própria vaidade, buscando honras, cumprimentos nas praças e «os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes» (v. 39).
Também nós, hoje, corremos o risco de nos deixar levar pelas «fábulas» dos falsos mestres, que nos batem à porta, que encontramos na rua e que, sobretudo, vemos, ouvimos e lemos nos meios de comunicação social. Tanto a primeira leitura, como o evangelho, nos alertam para esse perigo.
Mas há mais: tanto em Paulo como na viúva pobre, encontramos a coragem de amar e de viver aquilo em que crêem, até às últimas consequências. É por essa razão que Paulo está na prisão, e continua a anunciar o Evangelho, enquanto espera a morte. É por isso que a viúva pobre oferece a Deus tudo o que tem, nada reservando para as suas próprias necessidades. As duas leituras exaltam a fé dos apóstolos e dos mártires, a fé dos simples e humildes, mas também a força da própria fé e a sua coerência, fruto de uma paixão interior, que, unida à convicção da mente, é actuada na vida prática. Paulo está devorado pela sua paixão pelo Evangelho e pelo seu anúncio, tal como a viúva pobre está totalmente presa pela centralidade e pelo primado de Deus na sua vida. E, quando a fé se torna paixão, que envolve a mente, o coração, a vontade, os sentidos, a emotividade, as mãos, os pés, todo o seu ser, o crente já não teme dar tudo e entregar a si mesmo a Deus, por amor, e só por amor. Paulo oferece a sua vida em sacrifício de amor a Deus, tal como Jesus oferecera a sua. O Apóstolo sabe que é bom viver e morrer em oblação pela salvação dos outros, que é bom regressar ao Pai, depois de ter realizado a missão recebida. A viúva pobre também sabe que, dando tudo o que tem, ainda que sejam apenas «uns cêntimos» (v. 42), dá «mais do que todos os outros» (v. 43), por era «tudo quanto possuía, todo o seu sustento» (v. 44).
Cristo deu-se inteiramente ao Pai e aos homens com um amor sem reservas (Cst 41). Como cristãos, e particularmente como dehonianos, havemos de estar dispostos, não só a dar tudo, mas também a dar-nos totalmente, sem reservas Àquele que tudo deu por nós. Numa carta escrita aos seus missionários, o Pe. Dehon mostrava-se orgulhoso por esses filhos, porque iam para terras longínquas, entregando tudo, e entregando-se inteiramente, à missão de alargar o Reino do Coração de Jesus, a viver a vida de reparação e de imolação, que a sua vocação exige. E, acrescenta o Fundador, «devem desejar morrer na missão, para que o sacrifício seja mais completo e sem reservas, para fazer conhecer e amar o bom Deus e o amor do Coração de Jesus, especialmente na Eucaristia».

Oratio
Senhor, quanto me sinto semelhante aos doutores da Lei, na minha vaidade, na minha auto-suficiência, que me tornam presumido diante de Ti e hipócrita diante dos meus irmãos. E quanto me sinto longe, mas também atraído, pelo exemplo de Paulo e da viúva pobre. 
Dá-me, Senhor, a coerência de Paulo, aquela coerência que o levou à prisão, mas que também lhe deu força, e autoridade moral, para pedir a Timóteo coragem no anúncio do Evangelho. Dá-me a fé corajosa e linear da viúva, que te deu tudo, e confiou na tua Providência. 
Interceda por mim a Virgem Maria, a humilde serva que se ofereceu a Si mesma Contigo, pela salvação do mundo. Amen.

Contemplatio
Desde o primeiro instante da sua vida humana, Jesus formula no seu coração os sentimentos que exprimiam os antigos sacrifícios. Substitui-se a todas as vítimas, que não eram senão figurativas. Oferece-se ao seu pai, dá-se. Torna-se hóstia, oblação, holocausto e vítima. Começa o sacrifício da obediência e da submissão à vontade de seu Pai; adora, dá graças, reza, repara.
Ecce venio! Eis aqui, ó meu Pai, para suprir às vítimas imperfeitas do passado; eis-me aqui para vos oferecer doravante e sem interrupção a homenagem perfeita da adoração, do amor, da oração, da reparação.
Estes actos formam o Coração espiritual de Jesus. Está deles penetrado, identifica-se com eles.
Mas a nossa fraca inteligência não se dá conta da perfeição desta oblação senão supondo actos sucessivos.
Vemos primeiro no Coração imolado de Jesus um acto de adoração e de amor, e para exprimir esta adoração, aniquilamentos infinitos.
Jesus confessa a absoluta dependência na qual está diante da absoluta Majestade de seu Pai.
Proclama que lhe deve tudo, e para lhe fazer um sacrifício de tudo o que é, abaixa-se até ao nada, como o explica S. Paulo (Fil 2, 6); porque foi bem o nada que esta natureza humana tomou na sua pobreza, na sua infinita pequenez, com a carga de todos os pecados dos homens.
E este coração humilhado funde-se no amor da infinita beleza divina.
Mas mais o Verbo de Deus se abaixa, mais devemos exaltá-lo com os nossos louvores (Leão Dehon, OSP 4, p. 414).

Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Estou pronto a oferecer-me em sacrifício» (2 Tm 4, 6).

| Fernando Fonseca, scj |


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