15 Abril
2019
Lectio
Primeira leitura: Isaías 42, 1-7
1 «Eis o meu servo, que Eu amparo, o meu
eleito, que Eu preferi. Fiz repousar sobre ele o meu espírito, para que leve às
nações a verdadeira justiça. 2 Ele não gritará, não levantará a V04 não clamará
nas ruas. 3 Não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha que ainda fumega.
Anunciará com toda a fidelidade a verdadeira justiça. 4 Não desanimará, nem
desfalecerá, até estabelecer na terra o direito, as leis que os povos das ilhas
esperam dele. 5 Eis o que diz o Senhor Deus, que criou os céus e os estendeu,
que consolidou a terra com a sua vegetação, que deu vida aos seus habitantes, e
o alento aos que andam por ela. 6 Eu, o Senhor, chamei-te por causa da justiça,
segurei-te pela mão; formei-te e designei-te como aliança de um povo e luz das
nações; 7 para abrires os olhos aos cegos, para tirares do cárcere os
prisioneiros, e da prisão, os que vivem nas trevas.
A liturgia apresenta-nos, hoje, a figura do
Servo de Javé, que nos ajuda a entrar no mistério pascal, que celebramos com
particular intensidade. A eleição, a missão e o sofrimento desta misteriosa
figura, são profecia do destino de Cristo. De facto, a sua missão é de capital
importância, mas extremamente difícil. Por isso, o próprio Deus o apoia. Este
Servo é consagrado com o espírito profético, para levar a todas as nações «a
verdadeira justiça», isto é, o conhecimento dos juízos de Deus. A missão do
Servo é descrita tendo como pano de fundo os costumes de Babilónia, onde o
«arauto do grande rei» era encarregado de proclamar pelas ruas da cidade os
decretos de condenação à morte. Se, ao terminar a volta, ninguém se erguesse
para defender o condenado, o arauto quebrava a cana e apagava a lâmpada que
levava, para indicar que a condenação se tornara irrevogável.
Mas o Servo do único verdadeiro rei, que é Deus,
não quebra a cana, nem apaga a lâmpada. Sendo portador do juízo de Deus, não
vai para condenar, mas para salvar. Com a força da mansidão e com a firmeza da
verdade, cumpre a sua missão, levando às mais remotas paragens a Lei que todos
esperam (cf. v. 4).
A figura do Servo realiza-se em Cristo,
simultaneamente servo sofredor e libertador da humanidade, escolhido para
realizar a salvação, iluminar os povos, e estabelecer a nova e eterna aliança
(cf. v. 6), selada com o seu sangue.
Evangelho: João 12, 1-11
1 Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a
Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos.
20fereceram-Ihe lá um jantar. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam com
Ele à mesa. 3 Então, Maria ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de
nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com os seus cabelos. A casa encheu-se
com a fragrância do perfume. 4 Nessa altura disse um dos discípulos, Judas
Isceriotes. aquele que havia de o entregar: 5 «Porque é que não se vendeu este
perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?» 6 Ele, porém, disse
isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como
tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava. 7 Então, Jesus disse:
«Deixa que ela o tenha guardado para o dia da minha sepultura! 8 De facto, os
pobres sempre os tendes convosco, mas a mim não me tendes sempre.» 9Um grande
número de judeus, ao saber que Ele estava ali, vieram, não só por causa de
Jesus, mas também para verem Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. 10
Os sumos sacerdotes decidiram dar a morte também a Lázaro, 11 porque muitos
judeus, por causa dele, os abandonavam e passavam a crer em Jesus.
o cuidado de João em referir a cronologia dos
acontecimentos com preosao permite-nos reviver pontualmente a graça dos últimos
eventos que prepararam a páscoa de Jesus. O jantar de Jesus, em Betânia, é
prelúdio da Última Ceia. A refeição, tomada em grupo, era um gesto sagrado
porque indicava comunhão de sentimentos e de vida, e era ensejo para dar graças
a Deus por todos os seus dons, a começar pela vida. No episódio que o evangelho
de hoje refere, esse aspecto era realçado pela presença de Lázaro,
«ressuscitado dos mortos- (v. 9). Mas, na cena descrita por João, tem
particular realce Maria, com o seu gesto de amor adorante, sem cálculos nem
medida. Essa mulher derrama sobre os pés de Jesus um perfume que podia custar o
salário recebido por um trabalhador manual durante dez meses. E, anota João, «a
casa encheu-se com a fragrância do pertume. (v. 3). Maria é imagem da
Igreja-Esposa, unida ao sacrifício de Cristo-Esposo, que contrasta com a
esquálida figura de Judas. O amor dilatou o coração de Maria, irmã de Lázaro,
enquanto a mesquinhez fechou irremediavelmente o de Judas Iscariotes.
Meditatio
Ao meditar sobre o texto evangélico que a
liturgia hoje nos oferece, o Pe. Dehon começa por nos convidar a contemplar
Maria Madalena que «traz aos pés de Jesus o perfume simbólico do seu amor e da
sua reparação». É belo deter-nos nesta cena, tão cheia de afecto e de amizade,
numa página carregada de presságios e interrogações. O nosso seguimento de
Jesus pode desenrolar-se como caminho da morte à vida, como aconteceu a Lázaro,
ou como solicitude atenta e cuidadosa no serviço ao Mestre e aos seus, como
aconteceu com Marta; mas pode também assemelhar-se a um caminho de amor
adorante, como aconteceu com Maria, ou a um caminho de resistências e de
calculismos, que acabam por sufocar quem os segue, como aconteceu com Judas.
É importante estar com Jesus, escutar a sua
Palavra, partilhar a sua vida. Mas, mais importante ainda, é reconhecer e
acolher o amor que Ele tem por nós, o amor que Ele é. Judas não o soube
acolher. Por isso, condenou o «desperdício» de Maria, e fez cálculos, a
pretexto de ajudar os pobres. Maria, pelo contrário, fez desse amor a sua vida.
O Pobre, por excelência, é Jesus, que nos dá tudo quanto possui, tudo quanto é.
Por isso, só Ele deve ser o centro da nossa vida, sem qualquer espécie de
cálculos. O Mestre dá-nos tudo! Há que dar-lhe tudo, sem cálculos nem reservas.
A nossa entrega total a Cristo acaba por beneficiar toda a Igreja: «a casa
encheu-se com a fragrância do perfume>>{v. 3) .
Maria estava longe de se aperceber da
profundidade do seu gesto. Mas Jesus encarregou-Se de lha revelar: era já uma homenagem
pelo sacrifício que estava para realizar: «Deixa que ela o tenha guardado para
o dia da minha sepultura!» (v. 7). Jesus está para dar a sua vida, para
derramar o seu sangue: «Isto é o meu corpo entregue ... este é o meu sangue
derramado por VÓ9> (cf. Mt 26, 26s.). Era justo que Maria honrasse esse
corpo oferecido, derramando sobre ele o perfume precioso. Participemos nessa
homenagem de Maria. Vivamos esta semana em grande espírito de gratidão, de
recolhimento, na emoção de sermos amados, e amados até à mo
rte. Sejamos generosos com o Senhor que deu tudo e Se deu todo por nós. Correspondamos ao seu amor. Deixemo-nos amar. Tornemo-nos, cada vez mais, profetas desse amor.
rte. Sejamos generosos com o Senhor que deu tudo e Se deu todo por nós. Correspondamos ao seu amor. Deixemo-nos amar. Tornemo-nos, cada vez mais, profetas desse amor.
Oratio
Senhor Jesus, concede-me a graça de viver
estes dias da tua Paixão perto de Ti, de ser excessivamente generoso contigo,
como foi Maria que «desperdiçou» um perfume tão precioso para Te honrar. Que
jamais ceda à tentação de pensar que, aquilo que faço por Ti, podia ser útil
para outros fins mais ou menos «piedosos» ... Dáme a graça de compreender,
quanto é possível neste mundo, o teu amor por mim. Então compreenderei também
que, tudo quanto faço por Ti, é pouco, ainda que pareça muito. Como Maria, e
como o teu servo, Pe. Dehon, quero procurar-te assídua e fielmente, colocando-me
na tua presença no começo de cada acção, vivendo junto de Ti e para Ti. Dá-me,
Senhor, esta assiduidade que será alegria para o teu Coração, que será a minha
santificação. Amen.
Contemplatio
Santa Madalena é o modelo de um amor sincero e
verdadeiro, saído do mais perfeito arrependimento. Desde o momento da sua
conversão, Madalena é generosa. Ela lança-se aos pés de Nosso Senhor, derrama
abundantes lágrimas, afronta o respeito humano, consagra a Nosso Senhor
perfumes de um grande preço. É já uma alma amante. Dá-se sem reservas a Nosso
Senhor, e doravante o seguirá, fielmente o servirá.
Nosso Senhor é tudo para ela. Mantém-se aos
seus pés e é tudo. Em Betânia, não se agita para servir Nosso Senhor,
contempla-o, escuta-o. Quem tem Jesus tem tudo.
Quando Lázaro morre, que fé e que confiança
ela testemunha! Marta agita-se ainda e Maria diz somente: «Mestre, se aqui
tivésseis estado, e/e não estaria mortos, Marta e Maria são ambas amantes, mas
testemunham o seu amor de um modo diferente: Marta é activa e Maria é contemplativa.
Ambas são nossos modelos, devemos todos unir a contemplação à acção (Leão
Dehon, OSP 3, p. 81).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«A fé opera por meio da caridade» (cf. Gal 5,6).
16 Abril
2019
Lectio
Primeira leitura: Isaías 49, 1-6
l«Ouvi-me, habitantes das ilhas, prestai
atenção, povos de longe. Quando ainda estava no ventre materno, o Senhor
chamou-me, quando ainda estava no seio da minha mãe, pronunciou o meu nome. 2
Fez da minha palavra uma espada afiada, escondeu-me na concha da sua mão. Fez
da minha mensagem uma seta penetrante, guardou-me na sua a/java. 3Disse-me:
«Israel, tu és o meu servo, em ti serei glorificado.» 4Eu dizia a mim mesmo:
«Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as minhas forças.» Porém, o meu
direito está nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recompensa. 5 E agora o
Senhor declara-me que me formou desde o ventre materno, para ser o seu servo,
para lhe reconduzir Jacob, e para lhe congregar Israel. Assim me honrou o
Senhor. O meu Deus tornou-se a minha força. 6 Disse-me: «Não basta que sejas
meu servo, só para restaurares as tribos de Jacob, e reunires os sobreviventes
de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue até
aos confins da terre.»
o Servo de Javé pede a todos atenção porque
tem uma declaração a fazer: a sua missão deverá alargar-se até aos confins do
mundo (v. 6b). E narra a sua história, resumindo-a em alguns momentos
particularmente significativos: a sua vocação, momento em que também recebeu os
dons para realizar com eficácia a missão de proclamar a palavra de modo eficaz
(v. Is.): o oráculo com que Deus o confirma na sua identidade e na missão (v.
3).
A missão começa por ser um fracasso, o que
leva o Servo a exclamar: «Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as minhas
forças». Mas reconhece que a sua causa não está perdida: «o meu direito está
nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recompense». Animado pela confiança
no Senhor, o Servo, acolhe e transmite um novo oráculo de Deus: «Não basta que
sejas meu servo, só para restaurares as tribos de Jacob, e reunires os
sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha
salvação chegue até aos confins da terre».
A missão do Servo é universal. Por meio dele,
Deus quer fazer chegar o dom da salvação aos mais remotos confins da terra. A
missão do Servo entre os seus compatriotas é insignificante, se comparada com a
sua vocação missionária.
Evangelho: João 13, 21-33
21 Tendo dito isto, Jesus perturbou-se
interiormente e declarou: «Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me
há-de entregar/» 220S discípulos olhavam uns para os outros, sem saberem a quem
se referia. 23 Um dos discípulos, aquele que Jesus amava, estava à mesa
reclinado no seu peito. 24 Simão Pedro fez-lhe sinal para que lhe perguntasse a
quem se referia. 25 Então ele, apoiando-se naturalmente sobre o peito de Jesus,
perguntou: «Senhor, quem é?» 26 Jesus respondeu: «É aquele a quem Eu der o
bocado de pão ensopado.» E molhando o bocado de pão, deu-o a Judas, filho de
Simão Iscariotes. 27 E, logo após o bocado, entrou nele Satanás. Jesus
disse-lhe, então: «O que tens a fazer fá-lo depressa.» 28Nenhum dos que estavam
com Ele à mesa entendeu, porém, com que fim lho dissera. 29 Alguns pensavam
que, como Judas tinha a bolsa, Jesus lhe tinha dito: 'Compra o que precisamos
para a Festa; ou que desse alguma coisa aos pobres. 30Tendo tomado o bocado de
pão, saiu logo. Fazia-se noite. 31 Depois de Judas ter saído, Jesus disse:
«Agora é que se revela a glória do Filho do Homem e assim se revela nele a
glória de Deus. 32 E, se Deus revela nele a sua glória, também o próprio Deus
revelará a glória do Filho do Homem, e há-de revelá-Ia muito em breve.»
33 «Filhinhos, já pouco tempo vou estar
convosco. Haveis de me procurar, e, assim como Eu disse aos judeus: 'Para onde
Eu for vós não podereis ir; também agora o digo a vós. 36 Disse-lhe Simão
Pedro: «Senhor, para onde vais?» Jesus respondeulhe: «Para onde Eu vou, tu não
me podes seguir por agora; hás-de seguir-me mais tarde.» 37Disse-Ihe Pedro:
«Senhor, porque não posso seguir-te agora? Eu daria a vida por til» 38Replicou
Jesus: «Darias a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: não cantará o
galo, antes de me teres negado três vezes!»
Terminado o lava-pés, Jesus alude à traição de
que está para ser vítima: «um de vós me há-de entregar!» (v. 21). Estas
palavras de Jesus, com a perturbação que Lhe vêem estampada no rosto, deixam os
apóstolos espantados. Tentam identificar o traidor. Pedro reage por primeiro,
manifestando a autoridade que lhe era reconhecida e o bom entendimento que
havia entre ele e João. Jesus revela a infinita delicadeza que O distingue:
enquanto indica o traidor, oferece-lhe um bocado de pão envolvido em molho,
sinal de honra e distinção entre comensais. Uma última e amorosa provocação!
Judas nega-se a corresponder a esse gesto, mostrando que a sorte de Jesus
estava traçada. Recebendo o bocado, mas recusando o Amigo que lho oferecia,
Judas saiu. «Fazia-se noite. (v. 30b), anota o evangelista. Judas já não podia
ficar no grupo dos amigos de Jesus. Deixara-se envolver pela noite da mentira,
do ódio, pelo reino de Satanás.
«Nenhum dos que estavam com Ele à mesa
entendeu» (v. 28). Mas, no exacto momento em que Judas saía para atraiçoar o
Mestre, era glorificado o Filho do homem. Com Ele, era glorificado o Pai que,
ao entregar o Filho, revela o seu imenso amor. A hora da morte e a hora da
ressurreição são, juntas, a hora da glorificação, da manifestação de Deus-Amor.
Depois, Jesus inicia o discurso de adeus (v.
33). O vazio que deixa, e que nada nem ninguém pode preencher, não é
definitivo. Pedro, sempre impetuoso, não quer nem tem paciência para esperar e
quer partir imediatamente com o Mestre: «Senhor, porque não posso seguir-te
agora? Eu daria a vida por ti! (v. 36)>>. Mas, nem Pedro nem mais ninguém
pode seguir Jesus só com a sua boa vontade, ou com as suas forças. É preciso
Espírito Santo, o grande dom pascal, que é preciso aguardar.
Meditatio
Num mundo que nos enche de angústias e nos
pode tornar pessimistas, porque nos parece que "tudo ... jaz sob o poder
do malignd' (1 Jo 5, 19), Cristo, "Homem novd' (Ef 4, 24) dá-nos coragem,
ilumina-nos, pacifica-nos e dá-nos alegria (Cf. Jo 20, 20-21), porque nos
mostra o poder do Pai em transformar, para sua glória e nosso bem, todas as
situações, mesmo as mais difíceis. Contemplando a Cristo, e unidos a Ele,
verificamos que "apesar do pecado, dos fracassos e da injustiça, a redenção
é possível, oferecida e já está presente (Cst. 12). As leituras de hoje
mostram-nos esta verdade.
O Servo de Javé, de que nos fala Isaías, vive
um momento dramático. Está profundamente desanimado. A sua missão tornara-se um
retundo fracasso. Por isso, exclama: «Em vão me
cansei, em vento e em nada gastei as minhas forças». Mas não se deixa cair no desespero. Continua a confiar no Senhor, que o escolheu desde o ventre materno e o chamou: «Porém, o meu direito está nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recompensa». Mantendo-se fielmente atento à Palavra do Senhor, acaba por verificar que as presentes dificuldades, no meio do seu povo, são caminho para um horizonte de missão muito mais alargado e radioso: «Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terrz» (v. 6).
cansei, em vento e em nada gastei as minhas forças». Mas não se deixa cair no desespero. Continua a confiar no Senhor, que o escolheu desde o ventre materno e o chamou: «Porém, o meu direito está nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recompensa». Mantendo-se fielmente atento à Palavra do Senhor, acaba por verificar que as presentes dificuldades, no meio do seu povo, são caminho para um horizonte de missão muito mais alargado e radioso: «Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terrz» (v. 6).
Esta profecia realiza-se plenamente em Jesus.
Também Ele passa por um momento dramático e é atraiçoado por um dos seus. Está
profundamente perturbado e declara: «um de vós me há-de entregar.!» (v. 21). A
sua missão parece redundar num completo fracasso, numa tremenda derrota. Mas
Jesus também se deixa iluminar pela Palavra do Pai e exclama: «Agora é que se
revela a glória do Filho do Homem e assim se revela nele a glória de DeU9>
(v. 31).
Tanto o Servo de que fala Isaías, como Jesus,
o verdadeiro Servo, conseguem ver para além das aparências. Mesmo nas situações
mais dramáticas, descobrem a poderosa acção de Deus que tudo transforma. Os
maiores sofrimentos, aceites na fidelidade a Deus, para realizar os seus projectos,
transformam-se em glória. Ao aceitar a Paixão, para redenção do mundo, Jesus
realiza a profecia de Isaías, para glória do Pai.
Situações semelhantes podem surgir na nossa
vida de cristãos, de consagrados, de sacerdotes. A Paixão de Jesus irradia uma
luz poderosa para lermos essas situações e reagirmos à maneira do Senhor,
acolhendo-as como ocasiões para glorificar a Deus. Este acolhimento confiante
não depende unicamente da nossa boa vontade, da nossa generosidade. É o que
Jesus declara a Pedro: «tu não me podes seguir por eçore» (v. 36). É preciso
ser chamado por Ele, e receber a força do seu Espírito. Pela vocação e pelo
carisma, somos unidos a Cristo e tornados capazes de participar na sua missão,
mesmo no meio das maiores hostilidades e sofrimentos. Unidos a Cristo, podemos
participar no seu mistério pascal, para nos transformarmos a nós mesmos e
transformarmos o mundo.
Oratio
Senhor Jesus, Tu conheces todas as
possibilidades das nossas traições, das nossas repentinas reviravoltas, das
dissimuladas e insinuantes afirmações, que ferem o coração da comunidade e
ferem o teu coração, sempre em agonia, até ao fim do mundo. Judas, traidor,
continuou a ser, para Ti, um amigo, a quem ofereceste um último gesto de
delicada predilecção. O Amor, que és Tu, não retira o que ofereceu, não renega
o que é. Prefere consumir-se no sofrimento e na morte! Todos levamos em nós as
trevas de Judas, a impulsividade de Pedro, o amor de João. E por todos Te
ofereces, porque nos amaste até à morte. É a tua glória. É a glória do Pai! O
seu amor eternamente fiel, revela-se no teu rosto desfigurado pelo sofrimento.
A Ele a vitória! A Ele a glória para sempre! Amen.
Contemplatio
Satanás tinha tomado posse de Judas, um
apóstolo! E foi-se encontrar com os príncipes dos sacerdotes para conspirar a
sua traição com eles. Disse-lhes: «Que quereis dar-me, se vo-to entreçer?».
É introduzido no Sinédrio, escutam-no com
alegria, uma alegria digna do inferno. Discutem o preço. Oferecem-lhe trinta
moedas de prata. Aceita, o pacto é concluído. A moeda de prata valia quatro
dracmas antigas, cerca de cinco francos. Trinta moedas, era o preço habitual de
um escravo.
Eis até onde Jesus quis descer para nos
resgatar.
Judas empenhou a sua palavra, e desde aquele
momento procurava a ocasião para lhes entregar Jesus fazendo com que Ele
ficasse fora dos encontros populares: spopondit et quaerebat opportunitatem ut
traderet eum sine turbis (Lc 22,6).
Como é que Judas chegou àquele ponto? Tinha
sido pouco a pouco e cedendo, primeiro, a alguns movimentos de avareza.
Oh! Como a inclinação para o pecado é
escorregadia! Não estou eu em perigo, pela minha tibieza actual, de cair bem
baixo?
Depois do seu pacto criminoso, Judas e os
Fariseus tiveram ainda vários dias para se arrependerem, mas em vão. O
endurecimento é o castigo do sacrilégio. Como devo temer chegar até lá! Trato
muitas vezes Nosso Senhor com tão pouco respeito nas minhas comunhões
impregnadas de tibieza e de rotina! - Nosso Senhor dizia ao bispo de Éfeso:
«Decaíste do teu fervor, toma cuidado! Se não fizeres penitência, voltarei,
derrubarei o teu candelabro e darei a outro o teu lugar» (Ap 2,5) (leão DEhon,
OSP 3, p. 257s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«E agora que se revela a glória do Filho do
Homem; e assim se revela nele a glória de Deus» (Jo 13, 31).
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