03º Domingo da Páscoa – Ano C
ANO C
3º DOMINGO DO TEMPO PASCAL
Tema do 3º Domingo do Tempo Pascal
A liturgia deste 3º Domingo do Tempo Pascal recorda-nos que a
comunidade cristã tem por missão testemunhar e concretizar o projecto
libertador que Jesus iniciou; e que Jesus, vivo e ressuscitado, acompanhará
sempre a sua Igreja em missão, vivificando-a com a sua presença e orientando-a
com a sua Palavra.
A primeira leitura apresenta-nos o testemunho que a comunidade de
Jerusalém dá de Jesus ressuscitado. Embora o mundo se oponha ao projecto
libertador de Jesus testemunhado pelos discípulos, o cristão deve antes
obedecer a Deus do que aos homens.
A segunda leitura apresenta Jesus, o “cordeiro” imolado que venceu
a morte e que trouxe aos homens a libertação definitiva; em contexto litúrgico,
o autor põe a criação inteira a manifestar diante do “cordeiro” vitorioso a sua
alegria e o seu louvor.
O Evangelho apresenta os discípulos em missão, continuando o
projecto libertador de Jesus; mas avisa que a acção dos discípulos só será
coroada de êxito se eles souberem reconhecer o Ressuscitado junto deles e se
deixarem guiar pela sua Palavra.
LEITURA I – Actos 5,27b-32.40b-41
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Naqueles dias,
o sumo sacerdote falou aos Apóstolos, dizendo:
«Já vos proibimos formalmente
de ensinar em nome de Jesus;
e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina
e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem».
Pedro e os Apóstolos responderam:
«Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens.
O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus,
a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro.
Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador,
a fim de conceder a Israel
o arrependimento e o perdão dos pecados.
E nós somos testemunhas destes factos,
nós e o Espírito Santo
que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem».
Então os judeus mandaram açoitar os Apóstolos,
intimando-os a não falarem no nome de Jesus,
e depois soltaram-nos.
Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria,
por terem merecido serem ultrajados
por causa do nome de Jesus.
o sumo sacerdote falou aos Apóstolos, dizendo:
«Já vos proibimos formalmente
de ensinar em nome de Jesus;
e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina
e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem».
Pedro e os Apóstolos responderam:
«Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens.
O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus,
a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro.
Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador,
a fim de conceder a Israel
o arrependimento e o perdão dos pecados.
E nós somos testemunhas destes factos,
nós e o Espírito Santo
que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem».
Então os judeus mandaram açoitar os Apóstolos,
intimando-os a não falarem no nome de Jesus,
e depois soltaram-nos.
Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria,
por terem merecido serem ultrajados
por causa do nome de Jesus.
AMBIENTE
Entre 2,1 e 8,3, o Livro dos Actos apresenta o testemunho da Igreja
de Jerusalém acerca de Jesus. Os comentadores costumam chamar aos capítulos 3-5
a “secção do nome”, pois eles incidem no anúncio do “nome” de Jesus (cf. Act
3,6.16;4,7.10.12.30;5,28.41), isto é, do próprio Jesus (o “nome” era uma apelação
com que os judeus designavam o próprio Deus; designar Jesus dessa forma
equivalia a dizer que Ele era “o Senhor”). Esse anúncio, feito em condições de
extrema dificuldade (por causa da oposição dos líderes judeus), é, sobretudo,
obra dos apóstolos.
No texto que nos é proposto, apresenta-se o testemunho de Pedro e
dos outros apóstolos acerca de Jesus. Presos e miraculosamente libertados (cf.
Act 5,17-19), os apóstolos voltaram ao Templo para dar testemunho de Cristo
ressuscitado (cf. Act 5,20-25). De novo presos, conduzidos à presença da
suprema autoridade religiosa da nação (o Sinédrio) e formalmente proibidos de
dar testemunho de Jesus, os apóstolos responderam apresentando um resumo do
kerigma primitivo.
MENSAGEM
A questão principal gira à volta do confronto entre o cristianismo
nascente e as autoridades judaicas. A frase de Pedro “deve obedecer-se antes a
Deus do que aos homens” (vers. 29) deve ser vista como o tema central; define a
atitude que os cristãos são convidados a assumir diante da oposição do mundo.
Quanto ao resumo doutrinal dos vers. 30-32, ele não apresenta
grandes novidades doutrinais em relação a outras formulações do kerigma
primitivo acerca de Jesus (apresentado de forma mais desenvolvida em Act
2,17-36, 3,13-26 e 10,36-43): morte na cruz, ressurreição, exaltação à direita
de Deus, a sua apresentação como salvador e o testemunho dos apóstolos por
acção do Espírito. Neste contexto, apenas se acentua – mais do que noutras
formulações – a responsabilidade do Sinédrio no escândalo da cruz e a contraposição
entre a acção de Deus e a acção das autoridades judaicas em relação a Jesus.
De resto, a oposição humana põe em relevo a realidade sobre-humana
da mensagem, a sua força que não pode ser detida e o dinamismo dessa comunidade
animada pelo Espírito. Se Jesus encontrou oponentes e morreu na cruz, é natural
que os apóstolos, fiéis a Jesus e ao seu projecto, se defrontem com a oposição
desses mesmos que mataram Jesus. No entanto, os verdadeiros seguidores do
projecto de Jesus – animados pelo Espírito – estão mais preocupados com a
fidelidade ao “caminho” de Jesus do que às ordens ou interesses dos homens –
mesmo que sejam os que mandam no mundo.
ACTUALIZAÇÃO
Para reflectir e actualizar a Palavra, considerar os seguintes
dados:
• A proposta de Jesus é uma proposta libertadora, que não se
compadece nem pactua com esquemas egoístas, injustos, opressores. É uma
mensagem questionante, transformadora, revolucionária, que põe em causa tudo o
que gera injustiça, morte, opressão; por isso, é uma proposta que é rejeitada e
combatida por aqueles que dominam o mundo e que oprimem os débeis e os pobres.
Isto explica bem porque é que o testemunho sobre Jesus (se é coerente e
verdadeiro) não é um caminho fácil de glória, de aplausos, de honras, de
popularidade, mas um caminho de cruz. Não temos, portanto, que nos admirar se a
mensagem que propomos e o testemunho que damos não encontram eco entre os que
dominam o mundo; temos é de nos questionar e de nos inquietar se não somos
importunados por aqueles que oprimem e que escravizam os irmãos: isso quererá
dizer que o nosso testemunho não é coerente com a proposta de Jesus.
• Qual a nossa atitude, em concreto, diante daqueles que
“assassinam” a proposta de Jesus e que constroem um mundo de onde a lógica de
Deus está ausente: é de medo, de fraqueza, de submissão, ou de denúncia firme,
corajosa e desassombrada? Para nós, o que é mais importante: obedecer a Deus ou
aos homens?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 29 (30)
Refrão 1: Eu vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.
Refrão 2: Aleluia.
Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer à cova.
Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
vivificastes-me para não descer à cova.
Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira.
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
e a sua benevolência a vida inteira.
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede Vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.
Senhor, sede Vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.
LEITURA II – Ap 5,11-14
Leitura do Livro do Apocalipse
Eu, João, na visão que tive,
ouvi a voz de muitos Anjos,
que estavam em volta do trono, dos Seres Vivos e dos Anciãos.
Eram miríades de miríades e milhares de milhares,
que diziam em voz alta:
«Digno é o Cordeiro que foi imolado
de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força,
a honra, a glória e o louvor».
E ouvi todas as criaturas
que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar,
e o universo inteiro, exclamarem:
«Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro
o louvor e a honra, a glória e o poder
pelos séculos dos séculos».
Os quatro Seres Vivos diziam: «Ámen!»;
e os Anciãos prostraram-se em adoração.
ouvi a voz de muitos Anjos,
que estavam em volta do trono, dos Seres Vivos e dos Anciãos.
Eram miríades de miríades e milhares de milhares,
que diziam em voz alta:
«Digno é o Cordeiro que foi imolado
de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força,
a honra, a glória e o louvor».
E ouvi todas as criaturas
que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar,
e o universo inteiro, exclamarem:
«Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro
o louvor e a honra, a glória e o poder
pelos séculos dos séculos».
Os quatro Seres Vivos diziam: «Ámen!»;
e os Anciãos prostraram-se em adoração.
AMBIENTE
A segunda parte do Livro do Apocalipse (cap. 4-22) apresenta-nos
aquilo que poderíamos chamar “uma leitura profética da história”: o autor vai
apresentar a história humana numa perspectiva de esperança, demonstrando aos
cristãos perseguidos pelo império que não há nada a temer pois a vitória final
será de Deus e dos que se mantiverem fiéis aos projectos de Deus.
O texto que nos é proposto faz parte da visão inicial, onde o
“profeta” João nos apresenta as personagens centrais que vão intervir na
história humana: Deus, transcendente e omnipotente, sentado no seu trono,
rodeado pelo Povo de Deus e por toda a criação (cf. Ap 4,1-11); depois, o
“livro” onde, simbolicamente, está o desígnio de Deus acerca da humanidade (cf.
Ap 5,1-4); finalmente, é-nos apresentado “o cordeiro” (Jesus), aquele que detém
a totalidade do poder (“sete cornos”) e do conhecimento (“sete olhos”); só ele
é digno de ler o livro (ou seja, de revelar, de proclamar, de concretizar para
os homens o projecto divino de salvação).
MENSAGEM
A personagem fundamental deste pequeno extracto que nos é proposto
como segunda leitura é “o cordeiro”. É um símbolo usado pelo autor do Livro do
Apocalipse para falar de Jesus.
O símbolo do “cordeiro” é um símbolo com uma grande densidade
teológica, que concentra e evoca três figuras: a do “servo de Jahwéh” – figura
de imolação – que, qual manso cordeiro é levado ao matadouro (Is 53,6-7; cf. Jr
11,19; Act 8,26-38); a do “cordeiro pascal” – figura de libertação – cujo
sangue foi sinal eficaz de vitória sobre a escravidão (Ex 12,12-13.27;24,8; cf.
Jo 1,29; 1 Cor 5,7; 1 Pe 1,18-19); e a do “cordeiro apocalíptico” – figura de
poder real – vencedor da morte (esta imagem é característica da literatura
apocalíptica, onde aparece um cordeiro vencedor, guia do rebanho, dotado de
poder e de autoridade real – cf. 1º livro de Henoc, 89,41-46; 90,6-10.37;
Testamento de José, 19,8; Testamento de Benjamim, 3,8; Targum de Jerusalém
sobre Ex 1,5). O autor do Apocalipse apresenta, portanto, de uma maneira
original e sintética, a plenitude do mistério de imolação, de libertação e de
vitória régia, que corresponde a Cristo morto, ressuscitado e glorificado.
O “cordeiro” (Cristo) é entronizado: ele assumiu a realeza e
sentou-se no próprio trono de Deus. Aí, recebe todo o poder e glória divina. A
entronização régia de Cristo, ponto culminante da aventura divino-humana de
Jesus, desencadeia uma verdadeira torrente de louvores: dos viventes, dos
anciãos (vers. 5-8) e dos anjos (vers. 11-12). E todas as criaturas (vers. 13),
a partir dos lugares mais esconsos da terra, juntam a sua voz ao louvor. O
Templo onde ressoam estas incessantes aclamações alargou as suas fronteiras e
tem, agora, as dimensões do mundo. É uma liturgia cósmica, na qual a criação
inteira celebra o Cristo imolado, ressuscitado, vencedor e faz dele o centro do
“cosmos”.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão desta leitura pode prolongar-se a partir das seguintes
linhas:
• A mensagem final do Livro do Apocalipse pode resumir-se na frase:
“não tenhais medo, pois a vossa libertação está a chegar”. É uma mensagem
“eterna”, que revigora a nossa fé, que renova a nossa esperança e que fortalece
a nossa capacidade de enfrentar a injustiça, o egoísmo, o sofrimento e o
pecado. Diante deste “cordeiro” vencedor, que nos trouxe a libertação, os cristãos
vêem renovada a sua confiança nesse Deus salvador e libertador em quem
acreditam.
• Esta “liturgia” celebra Cristo, aquele que venceu a morte, que
ressuscitou, que nos apresentou o plano libertador de Deus em nosso favor e
que, hoje, continua a dar sentido aos nossos dramas e aos nossos sofrimentos, a
iluminar a história humana com a luz de Deus. Ele é, de facto (como esta
liturgia no-lo apresenta), o centro, a referência fundamental à volta do qual
tudo se constrói? Temos consciência desta centralidade de Cristo na nossa
experiência de fé? Manifestamos a nossa gratidão, unindo a nossa voz ao louvor
da criação inteira?
ALELUIA
Aleluia. Aleluia.
Ressuscitou Jesus Cristo, que criou o universo
e Se compadeceu do género humano.
EVANGELHO – Jo 21,1-19
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos,
junto do mar de Tiberíades.
Manifestou-Se deste modo:
Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo,
Natanael, que era de Caná da Galileia,
os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus.
Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar».
Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo».
Saíram de casa e subiram para o barco,
mas naquela noite não apanharam nada.
Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem,
mas os discípulos não sabiam que era Ele.
Disse-lhes Jesus:
«Rapazes, tendes alguma coisa de comer?»
Eles responderam: «Não».
Disse-lhes Jesus:
«Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis».
Eles lançaram a rede
e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes.
O discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro:
«É o Senhor».
Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor,
vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar.
Os outros discípulos,
que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem,
vieram no barco, puxando a rede com os peixes.
Quando saltaram em terra,
viram brasas acesas com peixe em cima, e pão.
Disse-lhes Jesus:
«Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora».
Simão Pedro subiu ao barco
e puxou a rede para terra,
cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes;
e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comer».
Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe:
«Quem és Tu?»,
porque bem sabiam que era o Senhor.
Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho,
fazendo o mesmo com os peixes.
Esta foi a terceira vez
que Jesus Se manifestou aos seus discípulos,
depois de ter ressuscitado dos mortos.
Depois de comerem,
Jesus perguntou a Simão Pedro:
«Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?»
Ele respondeu-Lhe:
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros».
Voltou a perguntar-lhe segunda vez:
«Simão, filho de João, tu amas-Me?»
Ele respondeu-Lhe:
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas».
Perguntou-lhe pela terceira vez:
«Simão, filho de João, tu amas-Me?»
Pedro entristeceu-se
por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava
e respondeu-Lhe:
«Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus:
«Apascenta as minhas ovelhas.
Em verdade, em verdade te digo:
Quando eras mais novo,
tu mesmo te cingias e andavas por onde querias;
mas quando fores mais velho,
estenderás a mão e outro te cingirá
e te levará para onde não queres».
Jesus disse isto para indicar o género de morte
com que Pedro havia de dar glória a Deus.
Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».
Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos,
junto do mar de Tiberíades.
Manifestou-Se deste modo:
Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo,
Natanael, que era de Caná da Galileia,
os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus.
Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar».
Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo».
Saíram de casa e subiram para o barco,
mas naquela noite não apanharam nada.
Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem,
mas os discípulos não sabiam que era Ele.
Disse-lhes Jesus:
«Rapazes, tendes alguma coisa de comer?»
Eles responderam: «Não».
Disse-lhes Jesus:
«Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis».
Eles lançaram a rede
e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes.
O discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro:
«É o Senhor».
Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor,
vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar.
Os outros discípulos,
que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem,
vieram no barco, puxando a rede com os peixes.
Quando saltaram em terra,
viram brasas acesas com peixe em cima, e pão.
Disse-lhes Jesus:
«Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora».
Simão Pedro subiu ao barco
e puxou a rede para terra,
cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes;
e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comer».
Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe:
«Quem és Tu?»,
porque bem sabiam que era o Senhor.
Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho,
fazendo o mesmo com os peixes.
Esta foi a terceira vez
que Jesus Se manifestou aos seus discípulos,
depois de ter ressuscitado dos mortos.
Depois de comerem,
Jesus perguntou a Simão Pedro:
«Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?»
Ele respondeu-Lhe:
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros».
Voltou a perguntar-lhe segunda vez:
«Simão, filho de João, tu amas-Me?»
Ele respondeu-Lhe:
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas».
Perguntou-lhe pela terceira vez:
«Simão, filho de João, tu amas-Me?»
Pedro entristeceu-se
por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava
e respondeu-Lhe:
«Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus:
«Apascenta as minhas ovelhas.
Em verdade, em verdade te digo:
Quando eras mais novo,
tu mesmo te cingias e andavas por onde querias;
mas quando fores mais velho,
estenderás a mão e outro te cingirá
e te levará para onde não queres».
Jesus disse isto para indicar o género de morte
com que Pedro havia de dar glória a Deus.
Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».
AMBIENTE
O último capítulo do Evangelho segundo João não faz parte da obra
original (a obra original terminava com a conclusão de 20,30-31); é um texto
acrescentado posteriormente, que apresenta diferenças de linguagem, de estilo e
mesmo de teologia, em relação aos outros vinte capítulos. A sua origem não é
clara; no entanto, a existência de alguns traços literários tipicamente
joânicos poderia fazer-nos pensar num complemento redigido pelos discípulos do
evangelista.
Neste capítulo, já não se referem notícias sobre a vida, a morte ou
a ressurreição de Jesus. Os protagonistas são, agora, um grupo de discípulos,
dedicados à actividade missionária. O autor descreve a relação que esta
“comunidade em missão” tem com Jesus, reflecte sobre o lugar de Jesus na
actividade missionária da Igreja e assinala quais as condições para que a
missão dê frutos.
MENSAGEM
O texto está claramente dividido em duas partes.
A primeira parte (vers. 1-14) é uma parábola sobre a missão da
comunidade. Utiliza a linguagem simbólica e tem carácter de “signo”.
Começa por apresentar os discípulos: são sete. Representam a
totalidade (“sete”) da Igreja, empenhada na missão e aberta a todas as nações e
a todos os povos.
Esta comunidade é apresentada a pescar: sob a imagem da pesca, os
evangelhos sinópticos representam a missão que Jesus confia aos discípulos (cf.
Mc 1,17; Mt 4,19; Lc 5,10): libertar todos os homens que vivem mergulhados no
mar do sofrimento e da escravidão. Pedro preside à missão: é ele que toma a
iniciativa; os outros seguem-no incondicionalmente. Aqui faz-se referência ao
lugar proeminente que Pedro ocupava na animação da Igreja primitiva.
A pesca é feita durante a noite. A noite é o tempo das trevas, da
escuridão: significa a ausência de Jesus (“enquanto é de dia, temos de
trabalhar, realizando as obras daquele que Me enviou: aproxima-se a noite,
quando ninguém pode trabalhar; enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo”
– Jo 9,4-5). O resultado da acção dos discípulos (de noite, sem Jesus) é um
fracasso rotundo (“sem Mim, nada podeis fazer” – Jo 15,5).
A chegada da manhã (da luz) coincide com a presença de Jesus (Ele é
a luz do mundo). Jesus não está com eles no barco, mas sim em terra: Ele não
acompanha os discípulos na pesca; a sua acção no mundo exerce-se por meio dos
discípulos.
Concentrados no seu esforço inútil, os discípulos nem reconhecem
Jesus quando Ele Se apresenta. O grupo está desorientado e decepcionado pelo
fracasso, posto em evidência pela pergunta de Jesus (“tendes alguma coisa de
comer?”). Mas Jesus dá-lhes indicações e as redes enchem-se de peixes: o fruto
deve-se à docilidade com que os discípulos seguem as indicações de Jesus.
Acentua-se que o êxito da missão não se deve ao esforço humano, mas sim à
presença viva e à Palavra do Senhor ressuscitado.
O surpreendente resultado da pesca faz com que um discípulo o
reconheça. Este discípulo – o discípulo amado – é aquele que está sempre
próximo de Jesus, em sintonia com Jesus e que faz, de forma intensa, a
experiência do amor de Jesus: só quem faz essa experiência é capaz de ler os
sinais que identificam Jesus e perceber a sua presença por detrás da vida que
brota da acção da comunidade em missão.
Os pães com que Jesus acolhe os discípulos em terra são um sinal do
amor, do serviço, da solicitude de Jesus pela sua comunidade em missão no
mundo: deve haver aqui uma alusão à Eucaristia, ao pão que Jesus oferece, à
vida com que Ele continua a alimentar a comunidade em missão.
O número dos peixes apanhados na rede (153) é de difícil
explicação. É um número triangular, que resulta da soma dos números um a
dezassete. O número dezassete não é um número bíblico… Mas o dez e o sete são:
ambos simbolizam a plenitude e a universalidade. Outra explicação é dada por S.
Jerónimo… Segundo ele, os naturalistas antigos distinguiam 153 espécies de
peixes: assim, o número faria alusão à totalidade da humanidade, reunida na
mesma Igreja. Em qualquer caso, significa totalidade e universalidade.
Na segunda parte do texto (vers. 15-19), Pedro confessa por três
vezes o seu amor a Jesus (durante a paixão, o mesmo discípulo negou Jesus por
três vezes, recusando dessa forma “embarcar” com o “mestre” na aventura do amor
que se faz dom). Pedro – recordemo-lo – foi o discípulo que, na última ceia,
recusou que Jesus lhe lavasse os pés porque, para ele, o Messias devia ser um
rei poderoso, dominador, e não um rei de serviço e de dom da vida. Nessa
altura, ao raciocinar em termos de superioridade e de autoridade, Pedro mostrou
que ainda não percebera que a lei suprema da comunidade de Jesus é o amor
total, o amor que se faz serviço e que vai até à entrega da vida. Jesus disse
claramente a Pedro que quem tem uma mentalidade de domínio e de autoridade não
tem lugar na comunidade cristã (cf. Jo 13,6-9).
A tríplice confissão de amor pedida a Pedro por Jesus corresponde,
portanto, a um convite a que ele mude definitivamente a mentalidade. Pedro é
convidado a perceber que, na comunidade de Jesus, o valor fundamental é o amor;
não existe verdadeira adesão a Jesus, se não se estiver disposto a seguir esse
caminho de amor e de entrega da vida que Jesus percorreu. Só assim Pedro poderá
“seguir” Jesus (cf. Jo 21,19).
Ao mesmo tempo, Jesus confia a Pedro a missão de presidir à
comunidade e de a animar; mas convida-o também a perceber onde é que reside, na
comunidade cristã, a verdadeira fonte da autoridade: só quem ama muito e aceita
a lógica do serviço e da doação da vida poderá presidir à comunidade de Jesus.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar, para reflexão e actualização, as seguintes indicações:
• A mensagem fundamental que brota deste texto convida-nos a
constatar a centralidade de Cristo, vivo e ressuscitado, na missão que nos foi
confiada. Podemos esforçar-nos imenso e dedicar todas as horas do dia ao
esforço de mudar o mundo; mas se Cristo não estiver presente, se não escutarmos
a sua voz, se não ouvirmos as suas propostas, se não estivermos atentos à
Palavra que Ele continuamente nos dirige, os nossos esforços não farão qualquer
sentido e não terão qualquer êxito duradouro. É preciso ter a consciência
nítida de que o êxito da missão cristã não depende do esforço humano, mas da
presença viva do Senhor Jesus.
• É preciso ter, também, a consciência da solicitude e do amor do
Senhor que, continuamente, acompanha os nossos esforços, os anima, os orienta e
que connosco reparte o pão da vida. Quando o cansaço, o sofrimento, o desânimo
tomarem posse de nós, Ele lá estará, dando-nos o alimento que nos fortalece. É
necessário ter consciência da sua constante presença, amorosa e vivificadora ao
nosso lado e celebrá-la na Eucaristia.
• A figura do “discípulo amado”, que reconhece o Senhor nos sinais
de vitalidade que brotam da missão comunitária, convida-nos a ser sensíveis aos
sinais de esperança e de vida nova que acontecem à nossa volta e a ler neles a
presença salvadora e vivificadora do Ressuscitado. Ele está presente, vivo e
ressuscitado, em qualquer lado onde houver amor, partilha, doação que geram
vida nova.
• O diálogo final de Jesus com Pedro chama a atenção para uma
dimensão essencial do discipulado: “seguir” o “mestre” é amá-l’O muito e,
portanto, ser capaz de, como Ele, percorrer o caminho do amor total e da doação
da vida.
• Na comunidade cristã, o essencial não é a exibição da autoridade,
mas o amor que se faz serviço, ao jeito de Jesus. As vestes de púrpura, os
tronos, os privilégios, as dignidades, os sinais de poder favorecem e tornam
mais visível o essencial (o amor que se faz serviço), ou afastam e assustam os pobres
e os débeis?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 3º DOMINGO DO TEMPO PASCAL
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 3º Domingo do Tempo Pascal,
procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma
leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação
comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo
de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a
semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. O RITO DE ASPERSÃO E A LEITURA DO EVANGELHO.
§ Privilegiar o rito de aspersão… Durante todo o tempo pascal, que é
um tempo baptismal, procurar privilegiar o rito da aspersão: bênção da água,
aspersão para lembrar o nosso Baptismo, pedindo a Deus que nos mantenha fiéis
ao Espírito que recebemos…
§ O Evangelho dialogado… A cena descrita no Evangelho de hoje
presta-se a uma leitura dialogada: narrador, Jesus, Pedro, os discípulos, o discípulo
que Jesus amava.
3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar
o acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
Deus de nossos Pais, Tu que ressuscitaste o teu Filho Jesus, nós Te
damos graças pelo testemunho do teu Espírito Santo e dos Apóstolos, que são os
fundamentos da nossa fé em Jesus, nosso Salvador.
Nós Te pedimos: pelo teu Espírito, fortalece a nossa consciência
para que tenhamos sempre a coragem de Te obedecer mais a Ti do que aos homens.
No final da segunda leitura:
Pai, nós Te damos graças com as multidões que estão junto de Ti:
àquele que está sentado no Trono e ao Cordeiro, poder, sabedoria e força, bênção,
honra, glória e louvor para sempre.
Nós Te pedimos pelos nossos irmãos e irmãs que sofrem e perdem a
coragem, nas provações e nas perseguições. Que a visão do Cordeiro vencedor
lhes permita erguer a cabeça.
No final do Evangelho:
Jesus ressuscitado, nós Te damos graças pelo perdão concedido a
Pedro, pela continuação da pesca que confias à tua Igreja e pela refeição que
nos preparas na outra margem, junto de Ti.
Quando Te declaramos «vamos contigo», mantém-nos firmes na nossa fé
e fiéis a seguir-Te, nos caminhos onde Tu nos precedeste.
4. BILHETE DE EVANGELHO.
A vida retomou o seu ritmo para os apóstolos: reencontram a sua
profissão, o seu barco e as redes, mesmo se a vida já não é como antes. Viram o
Ressuscitado, Ele apareceu-lhes, reconheceram-n’O, o Espírito foi derramado
sobre eles, mas a passagem do ver ao reconhecer não é evidente. João, já diante
do túmulo vazio, viu e acreditou. É necessário o seu acto de fé proclamado – “É
o Senhor!” – para que Pedro se lance à água para a pesca. Encontramos a espontaneidade
tão humana de Pedro e, ao mesmo tempo, a sua espontaneidade de crente. Os
discípulos fazem, nesse dia, a experiência da prodigalidade do amor de Deus:
não conseguem arrastar as redes, dada a quantidade de peixe. Fazem também a
experiência da universalidade da salvação: havia 153 grandes peixes, número que
evoca, segundo S. Jerónimo, todas as espécies de peixes enumerados na época. É,
então, graças a um sinal que os discípulos reconhecem o Ressuscitado. Jesus
Cristo não tem mais necessidade de dizer quem Ele é… Eles sabem que Ele é o
Senhor.
5. À ESCUTA DA PALAVRA.
Este relato da última manifestação de Jesus ressuscitado aos seus
apóstolos une três elementos: uma pesca milagrosa, uma refeição, a
“investidura” de Pedro como pastor das ovelhas de Cristo. Este último capítulo
do Evangelho de João é importante, porque nos faz voltar para o tempo da
Igreja. Este relato da pesca milagrosa está mesmo no final do Evangelho, como
que a dizer que as palavras de Jesus a Pedro, no texto de Lc 5,10, vão realizar-se
agora: sem medo, doravante será pescador de homens. E no final do Evangelho de
Mateus, Jesus diz para irem a todas as nações e fazer discípulos. No simbolismo
dos 153 peixes, João quer dizer que é à totalidade das nações que os apóstolos
são enviados. O tempo da missão apostólica começa. A refeição reenvia à
refeição eucarística, mesmo se não há vinho. Mas não se faz sempre menção do
vinho. Os discípulos de Emaús reconhecem Jesus apenas na fracção do pão. Os
primeiros cristãos chamavam à Eucaristia a “fracção do pão”. Mas Jesus oferece
peixe. Sabemos que este se tornou bem cedo o símbolo de Cristo. Em grego, as
primeiras letras da expressão “Jesus, Filho de Deus, Salvador” formam a palavra
“peixe” (“ichtus”). Desde então, oferecendo-lhes peixe, Jesus ressuscitado diz
aos discípulos que é verdadeiramente com Ele, o Filho de Deus, o único Salvador
de todos os homens, que estarão doravante em comunhão, cada vez que partirem o
pão eucarístico. Enfim, Jesus sabia bem que a comunidade dos discípulos reunidos
à sua volta deveria ter, depois da sua partida, um ponto visível de ligação, de
autentificação. É a missão que Jesus confia a Pedro de ser o servidor e o
garante da unidade da sua Igreja, de ser o pastor das suas ovelhas, a Ele, o
Cristo. E este serviço só pode ser vivido no máximo amor. Pedro é escolhido,
ele que negou três vezes o seu Mestre, para mostrar que, através de todas as
fraquezas humanas dos pastores que se sucederão ao longo da história da Igreja,
é Jesus que os guiará, o garante na fidelidade no nome do Pai.
6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística I, onde se alude à admissão
na comunidade dos bem-aventurados Apóstolos e Mártires, de Pedro e de João, de
João Baptista…
7. PALAVRA PARA O CAMINHO.
Manifestar a minha fé de baptizado… Crer em Jesus ressuscitado
implica testemunhá-l’O. Isso era verdade há 2000 anos. Ainda hoje continua a
ser verdade… No concreto da minha vida quotidiana: família, trabalho, escola,
escritório, fábrica, bairro… o que ouso arriscar em nome da minha fé em Cristo?
Esta semana, se a ocasião se apresentar, com que palavra e com que acção vou
manifestar o meu compromisso de baptizado? «Pedro, tu amas-Me verdadeiramente?»
Crer é verdadeiramente uma história de amor no quotidiano!
https://youtu.be/G9TKpD-ZK2M
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org
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