2 Março
2019
Lectio
Primeira leitura: Ben Sirá 17, 1-13 (gr 1-15)
O Senhor criou os homens a partir da terra, e
a ela de novo os faz voltar. 2Determinou-lhes um tempo e um número de dias, e
deu-lhes domínio sobre tudo o que há na terra. 3Revestiu-os de força como a si
mesmo e fê-los à sua própria imagem. 4Fê-los temidos de todo o ser vivo, e
impôs o seu domínio sobre os animais e as aves. 5Eles receberam o uso dos cinco
poderes do Senhor; como sexto foi-lhes dada a participação da inteligência, e
como sétimo, a razão, intérprete dos seus poderes. 6Dotou-os de inteligência,
língua e olhos, de ouvidos e dum coração para pensar. 7Encheu-os de saber e de
inteligência, e mostrou-lhes o bem e o mal. 8Pôs o seu olhar sobre os seus
corações, a fim de lhes mostrar a grandeza das suas obras. 9E lhes concedeu que
celebrassem eternamente as suas maravilhas. 10Louvarão o nome de Deus Santo,
publicando a magnificência das suas obras. 11Concedeu-lhes a ciência, e
deu-lhes em herança a lei da vida. 12Concluiu com eles uma Aliança eterna, e
revelou-lhes os seus decretos. 13Viram com os próprios olhos a grandeza da sua
glória, os seus ouvidos escutaram a majestade da sua voz. 14Disse-lhes:
«Guardai-vos de toda a iniquidade» e impôs a cada um deveres para com o
próximo. 15Os seus caminhos estão sempre diante dele, não poderão ficar ocultos
aos seus olhos.
O autor sagrado, inspirando-se na tradição
bíblica, que remonta aos dois primeiros capítulos do Génesis, apresenta o homem
como vértice da Criação. Mas há uma infinita diferença entre Deus e o homem. E
não pode haver qualquer tipo de confusão que leve o homem a cair na tentação da
autonomia ou da auto-suficiência perante Deus. Deus é o Criador; o homem é
criatura. A maior parte dos verbos tem Deus por sujeito e elenca dons e
prerrogativas que tornam grandes e nobres os homens. É Deus que confia aos
homens o «domínio» da Criação. O vértice dos dons conferidos aos homens é
atingido na expressão: «fê-los à sua própria imagem» (v. 3). É a afirmação mais
singular e mais original da antropologia bíblica. Os homens levam impresso em
si mesmos algo de divino e são "familiares" de Deus. O v. 7 sugere a
ideia de que Deus como que nos emprestou os seus olhos para contemplarmos a
Criação com o Seu próprio encanto. Outro excelente dom é o da consciência (cf.
v 6b).
Todos estes benefícios de Deus exigem uma resposta. Os homens hão-de reagir a esses dons com o louvor (cf. v. 8). A Criação revela a grandeza e a magnificência de Deus, que o homem, dotado de inteligência, admira e celebra com amor.
Todos estes benefícios de Deus exigem uma resposta. Os homens hão-de reagir a esses dons com o louvor (cf. v. 8). A Criação revela a grandeza e a magnificência de Deus, que o homem, dotado de inteligência, admira e celebra com amor.
Evangelho: Marcos 10, 13-16
Naquele tempo, apresentaram a Jesus uns
pequeninos para que Ele os tocasse; mas os discípulos repreenderam os que os
haviam trazido. 14Vendo isto, Jesus indignou-se e disse-lhes: «Deixai vir a mim
os pequeninos e não os afasteis, porque o Reino de Deus pertence aos que são
como eles. 15Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um
pequenino, não entrará nele.» 16Depois, tomou-os nos braços e abençoou-os,
impondo-lhes as mãos.
A renúncia ao orgulho é outra característica
da comunidade messiânica. O episódio da apresentação de alguns meninos a Jesus
é significativo e claro a este respeito. Os discípulos pretendiam afastar as
crianças, não porque incomodavam Jesus, mas porque, como as mulheres,
representavam pouco ou mesmo nada. Segundo a mentalidade comum, de que os
discípulos naturalmente também partilhavam, o Reino não era para crianças, mas
para adultos, capazes de opções conscientes, de obras correspondentes e de
adquirir méritos. Para Jesus, era tudo ao contrário: o Reino é um dom de Deus,
que é preciso receber com disponibilidade. As crianças são as pessoas mais
disponíveis para acolher dons, porque são pequenos e pobres, sem seguranças a
defender ou privilégios a reclamar. Assim devem ser os discípulos de Cristo (v.
15), porque o Reino não é uma conquista pessoal, mas dom gratuito de Deus a
esperar e a acolher com simplicidade e confiança. Ao abraçar as crianças, Jesus
elimina toda a distância entre Ele e as crianças, e torna-se modelo daquela
vida a que se chama «infância espiritual». De facto, dirige-se ao Pai com a
palavra «abba», submete-se à sua vontade, abandona-se nas suas mãos.
Meditatio
A primeira leitura e o evangelho celebram o
valor do homem. Vêm, pois, ao encontro da mentalidade que se impôs na sociedade
moderna, que proclama os direitos humanos, realça a dignidade do homem e
defende a sua liberdade. Infelizmente, na prática, nem sempre assim acontece,
pois são ainda demais os atropelos a esses direitos. Na sociedade em que
vivemos há pessoas oprimidas e exploradas, que vivem em condições incompatíveis
com a dignidade humana: situações de pessoas singulares, de famílias, de
grupos. Devemos lutar, conforme as nossas possibilidades, a fim de que a
justiça se realize, afim de que o pecado social seja eliminado.
Mas o autor sagrado está interessado em apresentar o homem, não tanto em geral, mas na sua relação com Deus. Na lectio, notámos que o sujeito de quase todos os verbos é Deus. Como vemos também no Sl 8, é Deus que confere nobreza ao homem e o coloca no vértice da criação. A nobreza do homem é, pois, um dom recebido e não um fruto de sua conquistada. Tudo o que o homem é, tudo o que o homem tem, é dom do amor generoso e gratuito de Deus: a inteligência, língua e olhos, os ouvidos e o coração para pensar, a ciência... O Senhor, acima de tudo, «concluiu com eles uma Aliança eterna e revelou-lhes os seus decretos» (v. 12). O Sábio fala evidentemente da aliança com Moisés e da Lei das duas tábuas. Maior razão temos nós para nos espantarmos diante da bondade divina, ao pensarmos na Nova Aliança selada com o sangue de Cristo e na Nova Lei escrita nos nossos corações, que nos faz viver no Espírito Santo como filhos de Deus.
No evangelho, Jesus repete a este homem tão grande, por causa dos dons de Deus, que saiba acolher o Reino de Deus com a simplicidade de uma criança. Para sermos "crianças", em sentido evangélico, temos um caminho: ser filhos de Maria. Ela soube ser pequena e estar contente com essa situação: «O meu espírito exulta em Deus, porque olhou para a humildade da sua serva» (cf. Lc 1, 46-48). É difícil sermos felizes com as nossas limitações. O segredo consiste em ser humildes e magnânimos. Por isso, é que Maria pôde falar de si em termos de grandeza e de humildade.
Maria foi adulta na fé. Como diz o Sábio, soube usar o discernimento para raciocinar. Fez perguntas essenciais ao Anjo da Anunciação para obter respostas precisas. Mas também foi pequena, dócil e confiante para se abandonar a Deus e ao seu projecto, mesmo sem perceber tud
o.
Agradeçamos ao Senhor por nos ter dado Maria por Mãe e modelo, que nos ajuda a compreender a necessidade da pequenez e a crescer nela para recebermos as graças divinas.
Mas o autor sagrado está interessado em apresentar o homem, não tanto em geral, mas na sua relação com Deus. Na lectio, notámos que o sujeito de quase todos os verbos é Deus. Como vemos também no Sl 8, é Deus que confere nobreza ao homem e o coloca no vértice da criação. A nobreza do homem é, pois, um dom recebido e não um fruto de sua conquistada. Tudo o que o homem é, tudo o que o homem tem, é dom do amor generoso e gratuito de Deus: a inteligência, língua e olhos, os ouvidos e o coração para pensar, a ciência... O Senhor, acima de tudo, «concluiu com eles uma Aliança eterna e revelou-lhes os seus decretos» (v. 12). O Sábio fala evidentemente da aliança com Moisés e da Lei das duas tábuas. Maior razão temos nós para nos espantarmos diante da bondade divina, ao pensarmos na Nova Aliança selada com o sangue de Cristo e na Nova Lei escrita nos nossos corações, que nos faz viver no Espírito Santo como filhos de Deus.
No evangelho, Jesus repete a este homem tão grande, por causa dos dons de Deus, que saiba acolher o Reino de Deus com a simplicidade de uma criança. Para sermos "crianças", em sentido evangélico, temos um caminho: ser filhos de Maria. Ela soube ser pequena e estar contente com essa situação: «O meu espírito exulta em Deus, porque olhou para a humildade da sua serva» (cf. Lc 1, 46-48). É difícil sermos felizes com as nossas limitações. O segredo consiste em ser humildes e magnânimos. Por isso, é que Maria pôde falar de si em termos de grandeza e de humildade.
Maria foi adulta na fé. Como diz o Sábio, soube usar o discernimento para raciocinar. Fez perguntas essenciais ao Anjo da Anunciação para obter respostas precisas. Mas também foi pequena, dócil e confiante para se abandonar a Deus e ao seu projecto, mesmo sem perceber tud
o.
Agradeçamos ao Senhor por nos ter dado Maria por Mãe e modelo, que nos ajuda a compreender a necessidade da pequenez e a crescer nela para recebermos as graças divinas.
Oratio
Obrigado, meu Deus, por Te teres lembrado de
mim, me teres feito à tua imagem e semelhança, me teres coroado de glória e de
honra, me teres dado poder sobre as obras das tuas mãos. O teu nome é grande. É
santo e glorioso! Bendito sejas, agora e para sempre!
Que, iluminado pelo teu Espírito, eu saiba reconhecer a minha dignidade e a dos meus semelhantes, respeitar-me e respeitar os outros. Que, animado pela caridade que infundiste no meu coração, eu saiba amar-me e amar todos os meus irmãos, trabalhando pelo reconhecimento dos seus direitos, esforçando-me generosamente pela sua promoção humana e espiritual. Amen.
Que, iluminado pelo teu Espírito, eu saiba reconhecer a minha dignidade e a dos meus semelhantes, respeitar-me e respeitar os outros. Que, animado pela caridade que infundiste no meu coração, eu saiba amar-me e amar todos os meus irmãos, trabalhando pelo reconhecimento dos seus direitos, esforçando-me generosamente pela sua promoção humana e espiritual. Amen.
Contemplatio
A realeza de Jesus Cristo é ensinada por todo
o Evangelho. Deus uniu o Verbo incarnado à sua realeza e encarregou-o de
governar o céu e a terra: «Todo o poder me foi dado no céu e na terra. - Meu Pai
entregou-me tudo», diz Nosso Senhor em S. Mateus (Mt 28, 11). «O Pai ama o seu
Filho e colocou tudo nas suas mãos. - Meu Pai, os meus discípulos eram vossos,
mas vós mos haveis dado», diz ainda Nosso Senhor em S. João (Jo 3; 17). «O seu
Pai colocou tudo sob a sua dependência e colocou-o à cabeça de toda a igreja»,
diz S. Paulo em Efésios (1,22). «Não foi aos anjos que Deus submeteu o mundo
futuro, diz S. Paulo aos Hebreus (2,5). Mas é dito numa passagem da Escritura
(Sl 8): Que é o homem para que vos lembreis dele? E o que é o filho do homem
para que o visiteis? Por pouco tempo, o tornastes inferior aos anjos, e depois
coroaste-lo de glória e de honra, destes-lhe o domínio sobre a obra das vossas
mãos, colocastes todas as coisas sob os seus pés. Desde que Deus lhe submeteu
todas as coisas, acrescenta o apóstolo, nada deixou, portanto, que não lhe
esteja submetido». (Leão Dehon, OSP4, p. 185)
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele» (Mc 10, 15).
«Quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele» (Mc 10, 15).
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Subsídio litúrgico a cargo de Fernando
Fonseca, scj
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