09- Quarta
- Evangelho - Lc 6,20-26
Neste
Evangelho, Jesus proclama as bem-aventuranças, na versão de Lucas. Primeiro ele
“levantando os olhos para os seus discípulos”. Sinal que as bem-aventuranças
acontecem especialmente com os discípulos.
As
bem-aventuranças são Evangelho, alegre notícia dirigida aos pobres de Deus.
Elas vêm confirmar a transformação social anunciada no magnificat.
De
fato, os pobres são os preferidos de Deus em toda a revelação bíblica, e são os
primeiros destinatários da Boa Nova trazida por Jesus (Cf Lc 4,18-19).
Mt
5,1-12 traz oito bem-aventuranças. Lucas traz apenas quatro, mas acrescenta
quatro ameaças: “Ai de vós...” Essas ameaças esclarecem o sentido das
bem-aventuranças, tanto de Mateus como de Lucas. Porque muitos, ao explicar
esta passagem bíblica, dizem que a palavra “pobre”, para Jesus, significa
“desapegado”; e “rico” significa “ganancioso”. Na prática, isso é torcer a
Bíblia para que ela não me questione. Pobre aqui é pobre mesmo, e rico e rico
mesmo.
A
felicidade messiânica dos pobres, dos famintos, dos que choram e dos
perseguidos por causa da fé cristã comprometida, contrapõe-se à situação
perigosa dos ricos, dos que têm fartura, dos que riem e dos que são aplaudidos
por todos.
As
Bem-aventuranças são um caminho de felicidade diametralmente oposto ao
apresentado pelo mundo pecador. Os cristãos são felizes exatamente naquelas
situações que, segundo o mundo, trazem a infelicidade. Veja o contraste: para o
cristão, felizes os pobres; para o mundo, felizes os ricos. Para o cristão,
felizes os que agora choram; para o mundo, felizes os que agora riem... Por aí
vemos que dois milênios se passaram e a humanidade ainda não entendeu nem vive
o Evangelho de Jesus.
As
Bem-aventuranças estão baseadas em duas grandes verdades: 1) A vida cristã
autêntica, devido à oposição do mundo pecador, leva à pobreza, à aflição etc.
2) Deus assiste os seus filhos e filhas queridos, a ponto de inverter a
situação, transformando em felicidade o que seria infelicidade, em alegria o
que seria tristeza. Portanto, a felicidade dos cristãos não está nesses
tropeços (pobreza, perseguição...), mas na intervenção de Deus em favor dos
seus filhos queridos.
“Vede
que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E
nós o somos. Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai” (1Jo
3,1-3).
(Irmãos),
os que tiram proveito deste mundo, (vivam) como se não aproveitassem. Pois a
figura deste mundo passa” (1Cor 7,31).
Ao
contrário dos dez mandamentos, as bem-aventuranças não são leis, nem
mandamentos, nem sequer conselhos. São simplesmente a constatação e a descrição
de um fato que acontece todos os dias em nossas Comunidades e em nossas
famílias. A vida cristã no meio do mundo pecador gera tristezas, que Deus, em
seu poder, transforma em alegrias.
Jesus
não está também dizendo que ser pobre e ser odiado é bom. Nem que esses
tropeços da nossa vida são valores. Também não quis dizer que a felicidade está
em ser pobre, ser insultado etc. A felicidade está em ser filho de Deus.
Portanto,
não devemos procurar esses infortúnios (pobreza, ser odiado, insultado...). O
que devemos é ter paz em meio a todos esses contra tempos, vendo neles um sinal
de predileção de Deus e um sinal de que estamos no caminho certo, no seguimento
do Evangelho.
As
Bem-aventuranças são uma realidade que vemos todos os dias estampada no rosto
das Comunidades cristãs. Os cristãos enfrentam as maiores dificuldades, até o
martírio e, em meio a tudo isso, trazem no rosto um sorriso que ninguém
consegue imitar, e que é identificado até numa fotografia.
S.
Francisco de Assis, no final de sua vida, vivia angustiado com a seguinte
pergunta: “Será que Deus está contente comigo, com o que eu fiz?” Em suas
orações ele pedia todos os dias a Deus: “Senhor, dê-me um sinal, mostrando se
tudo o que eu fiz foi ou não do seu agrado!” De fato, o único desejo de
Francisco era agradar a Deus.
Numa
noite, quando ele acordou, percebeu que estava com as chagas. Parou a angústia,
porque ele viu nas chagas um sinal de amor de Deus por ele, unindo-o com o seu
Filho amado, Jesus Cristo. E daí para frente Francisco ria até às orelhas.
E
foram cinco feridas dolorosas: uma em cada mão, uma em cada pé, e uma no peito.
Elas deram trabalho para Francisco. Ele tinha de fazer curativos e um longo
tratamento. Inclusive, elas limitaram um pouco as suas atividades.
Que
paradoxo, não? Ver como presente de Deus e como sinal do seu amor, cinco
dolorosas feridas! Encontrar a felicidade em chagas! E isso que Deus fez com
Francisco, faz também conosco. Nós não procuramos a cruz, mas, quando ela vem,
justamente pelo fato de estarmos seguindo a Jesus, nós a vemos como um presente
de Deus. A festa de S. Francisco das Chagas é dia dezessete de setembro.
“Bem-aventurados vós que agora chorais, porque havereis de rir!”
Existe
uma Bem-aventurança que não está, nem neste texto de Lucas nem no capítulo
quinto de Mateus. Ela está em Lc 1,45, foi dita por Isabel e se refere à Mãe de
Jesus: “Bem-aventurada aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte
do Senhor será cumprido”. Que Maria nos ensine a amar e viver as
Bem-aventuranças.
Bem-aventurados
vós, pobres. Mas, ai de vós, ricos.
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